B L U E J E A N S
Faixa três
Blue jeans/White shirt/Walked into the room/You know you made my eyes burn/It was like, james dean, for sure/You so fresh to death and sick as ca-cancer/You were sorta punk rock, I grew up on hip hop/But you fit me better than my favourite sweater.
O som de algo raspando passou por debaixo da porta. Willa abriu o seu olho esquerdo, imediatamente desconectada de sua meditação. A brisa matinal não lhe incomodava. As cortinas de rendas antigas e pesadas frivolando no ar também não, muito menos a luz solar sobre sua pele. Esse último especialmente bem vindo para si. Lentamente ela olhou para a porta do quarto, numa breve análise encontrou o arquivo de cor creme parado sinistramente refletido por um feixe solar. Estranhando, ela resolveu ver do que se tratava, antes de continuar sua meditação diária.
Ela pegou o arquivo e sentiu seu peso considerável por entre os seus dedos. Abriu numa página central, encontrando algumas imagens desconexas de dados e uma folha inteira preenchida, no que parecia ser russo. Seu russo era tão ruim quanto o seu espanhol. Ela correu com as folhas por entre os seus dedos, não entendendo do que aquilo se tratava até que de alguma forma uma das folhas desprendeu do seu grupo e isso distraiu Willa a ponto de tudo desabar no chão.
— Merda!
Ela se agachou tentando juntar tudo num bolo dentro da pasta, evidentemente sem ordem alguma. Os seus olhos estatelaram numa particular foto presa à capa do arquivo. A qualidade da foto era péssima. Parecia ser um homem preso dentro de uma capsula. Com um olhar gentil sobre aquela foto. Ele podia muito bem ser confundido como alguém dormindo tranquilamente. Não era isso. Com um pouco mais de atenção, ela reconheceu aquele homem. E os seus olhos desceram e encontraram uma outra pequena foto, um pouco mais nítida, em sépia. A foto parecia ter sido cortada, destacando o rosto de belas feições e bem marcadas, com olhos claros e cabelos perfeitamente penteados. O quepe marcava sua patente, um sargento. Ela conhecia aquele olhar. Willa fechou os olhos. Era Bucky. Willa precisou sentar. Aquele arquivo pertencia ao Soldado Invernal. Ela não tinha o nível necessário na S.H.I.E.L.D para ter permissão de lê-lo, se ela bem lembrava, Natasha havia lhe dito que ninguém além de Fury e os diretores podiam ler aquele arquivo. Parece que as coisas não eram mais assim. Pegando as folhas do chão, Willa ia olhando uma a uma e separando em blocos para colocar dentro do arquivo.
Ela apenas confirmava algo que sabia: o russo dela era uma bosta. E isso foi o suficiente para frustrá-la e enraivecê-la. Ela largou a folha com má vontade e enfiou os dedos nos cabelos, encostando o queixo no joelho com um olhar despedaçado sobre aqueles papeis com anotações, tipografias de máquinas de escrever, dados científicos, testes, chapas, fotos da câmera de controle mental, os testes com Bucky, fotografias do que pareciam ser testes com técnicas nunca aceitadas pelos médicos e até mesmo imagens de dissecações em Bucky. Dissecações nele.
Bucky não podia ver aquilo. Ninguém deveria.
Então, seus olhos encontraram um conjunto de fotos de papeis diferenciados. Temerosa, Willa não controlou sua curiosidade e puxou a beirada cuidadosamente, se fosse algo que ela não quisesse ter gravado em sua mente, ela deixaria onde estava. Não era o que ela esperava, na realidade, não era nada do que ela esperava.
As fotos eram em preto e branco, com uma nitidez remasterizada. Pareciam fotos tiradas no período da Guerra, talvez pertenciam a propaganda política da época mostrando Steve e Bucky observando um mapa acompanhado de outros soldados, mas foram as outras duas fotos que marejaram os olhos de Willa. As fotos pareciam ter sido retiradas de uma filmagem, a primeira foto mostrava Bucky com um olhar charmoso para a câmera, como se estivesse implicando com o câmera e tinha um particular sorriso formando em seus lábios, Steve estava ao seu lado, com um largo sorriso espontâneo diretamente para a câmera. Willa nunca viu Steve sorrir assim antes.
A foto seguinte era a sequencia daquela e era linda. Por algum motivo, Bucky abaixou o rosto e ria, abertamente, com ruguinhas em seus olhos e uma felicidade capaz de transpassar através da fotografia e o olhar e sorriso de Steve sobre o amigo, comoveu Willa.
Aquilo era um amor fraterno que sobreviveria ao tempo e além.
Willa guardou o arquivo no fundo da sua mochila. Por outro lado, as fotos ficaram separadas e foram guardadas dentro do seu caderno de anotações, juntinho com a sua única e antiga foto com sua família: Uma jovem Willa abraçada ao seu irmão mais novo, apertados num abraço amoroso pelos pais, era natal, o penúltimo juntos; Fairchild acabou sendo sugada pelas lembranças de suas poucas fotos, acabando por observar sua foto com Jessica na adolescência e Willa estava muito grata pela prima ter largado a franjinha de Katy Perry, o que lhe fez muito bem. Ela tinha um Polaroid recente delas acompanhadas de Trish num bar de Hell’s Kitchen e por fim, não menos importante, uma foto de Willa acompanhada dos seus colegas Vingadores num jantar anfitriado por Tony na Torre dos Avengers. A foto foi tirada por Rhodey, logo só dava para ver seus olhos e testa, ao fundo estavam todos os amigos com sorrisos largos e poses divertidas. A californiana estava abraçada a russa, afastando com a mão um Barton chocado por estar sendo excluído da dupla. Steve estava ao lado da russa, sorrindo discretamente e Sam estava com a mão erguida com um aceno paralisado no tempo. Do outro lado da mesa estava Wanda, Visão, Maria, Thor e Tony.
Relembrar da alegria naquela particular noite deixou Willa saudosa. Como tudo poderia ter mudado num estalar de dedos? Observar a alegria de estar dentre amigos, como Natasha lhe preencheu de saudades de sua companhia. Ela foi a sua primeira amiga dentre os Vingadores e ela não estar ali era... Sua escolha. Fairchild despertou ao se dar conta que ela não estava ali, por acreditar na visão de Tony... Só de pensar em Tony e sua ideologia, no pensamento retrogrado do governo, Willa sentiu um nó acido em sua garganta e fechou o caderninho com as fotos ali guardadas, enrolando a sua fitinha vermelha rapidamente e o enfiando no bolso do seu moletom, deixando o quarto.
Ela precisava falar com Steve.
Por segurança, o grupo tinha abandonado o motel de estrada há quase três dias e estavam agora isolados num casarão abandonado no meio do interior de algum estado que ficava basicamente no meio do nada. De acordo com Barton aquele lugar era fora de rastreio, era uma casa utilizada pelos agentes da S.H.I.E.L.D quando eles precisavam de um esconderijo, após uma missão perdida e abortada. Ele acreditava cegamente que o lugar era seguro. Na opinião de Willa: eles não morreriam nas mãos da Hidra e de Tony e seu time, mas a casa poderia vir a despencar sobre eles a qualquer instante. Tinha seu lado positivo. A cidade não ficava muito distante, logo eles podiam comprar suprimentos e dar uma respirada, alias eles estavam agindo como precavidos e não fugitivos. Outro ponto positivo é ter uma cozinha a disposição e foi lá que Willa encontrou Steve. Ele preparava algo que lembrava um sanduíche, só que com muita maionese e pouca alface. Não morria por causa dos transgênicos, mas morreria de um ataque cardíaco pela gordura saturada em alguns anos.
— Hey, bonitão. – Ela anunciou sua chegada à cozinha e Steve repousou o sanduiche no prato, limpando os lábios. - Era você mesmo quem estava procurando.
— Algum problema? – Willa entortou os lábios, odiando a sensação de que Rogers estava sempre aguardando um problema a espreita para arrancar-lhe sua momentânea paz. Pegou na geladeira creme de avelã e a garrafa de leite.
— Tirando o ninho de aranhas que encontrei atrás do que um dia foi o armário do meu quarto? – Willa sentou a frente de Steve, pegando o pacote gigante de pão de forma e preparando um sanduiche para si, - Não.
— Você precisa de... – Ele pegou dois copos, servindo-os com leite.
— Ajuda? – Ela completou sua linha de raciocínio, chupando as pontas dos dedos desastradamente sujas de creme de avelã e grata, aceitou o copo de leite. - Não, eu posso aguentar um ninho de aranhas, mas não posso aguentar você comendo um quilo de maionese com toda essa naturalidade.
— Estou em fase de crescimento. – Ele rebateu, sarcástico dando uma boa mordida no seu sanduíche e Willa apenas arqueou as sobrancelhas grossas e bem delineadas, claramente questionando a sanidade de seu amigo.
— Ou pedindo por um ataque cardíaco. – Ela retrucou mordendo generosamente o seu sanduíche e soltando um gemido de satisfação. Não tinha comparação: creme de avelã sempre seria o seu calcanhar de Aquiles. - Já te aviso, se você morrer antes dos meus quarenta, eu fico com o seu apartamento. – Ela apoiou os cotovelos sobre a ilha da cozinha, roubando uma folhinha de alface despencando do sanduíche dele e Steve não escondeu o seu desagrado.
— Vou parar de pagar os impostos, assim você terá uma enorme surpresa se isso acontecer. – Ele resmungou crispando os lábios.
— Bobo. – Ela implicou, bebericando o seu leite, percebendo o silêncio na sala principal e nas proximidades do lado externo da casa. - Onde está o pessoal? Fugiram e nos deixaram como isca?
— Não. – Ele abafou um riso, pensativo. - Sam está com Barton na cidade. Wanda está no quarto. E Bucky está no celeiro.
— Hmm... – Ela murmurou, mastigando o seu sanduiche com um olhar perdido na geladeira, pensando se deveria ou não trazer a mesa o assunto maquinando em sua mente sadiamente analisadora e insanamente imaginativa.
— Ele me contou, sobre os pesadelos dessas últimas noites e como você o ajudou nessas horas. – Steve apoiou os cotovelos na ilha da cozinha, cortando um pouco o espaço entre eles, assim tornando aquele assunto intimo. Ele não precisou nomear, Willa sabia muito bem que Rogers falava de Bucky e ela lhe lançou um olhar cuidadoso, reprimindo sua surpresa; ela não esperava que Barnes fosse falar disso com ele, nem em um milhão de anos. - Obrigado por estar tentando ajudá-lo.
— Não fiz nada demais, Steve. – Willa encolheu os ombros, repousando seu sanduiche no prato, sentindo Rogers tocar sua mão carinhosamente.
— Eu imagino como deve ser difícil para você falar sobre isso com alguém, depois do que aconteceu com a sua prima, mas quando ele me contou, eu percebi que alguma coisa na conversa de vocês, abriu os olhos dele. – Steve dividiu tais emoções com a amiga e ela pode perceber como aquela sua discreta e altruísta atitude havia tocado Rogers e também Barnes. - Ele está lutando, Willa.
— Isso é muito bom, mas não posso levar créditos por algo decidido inteiramente por ele. – Willa argumentou com uma candura em forma de sorriso. - Pouco conversamos nesses dias. Ele não é muito de falar e...
— É algo que vocês têm em comum. – Steve comentou lançando um tímido e contido olhar para Fairchild. - Ele disse que você parece a Peggy só que loira e bem mais intimidadora.
— Vou colocar no meu currículo. – Ela empertigou a coluna, com um biquinho nos lábios.
— Posso te perguntar uma coisa pessoal? – Steve empertigou um pouco os ombros, mordendo o canto dos seus lábios pela duvida e embaraço.
— Sim, meus cabelos são naturais. – Ela se aproximou com profunda seriedade o que quebrou Steve e ele rasgou os lábios numa gostosa risada. - Pergunte.
— Era meio da noite, todos estavam dormindo. – Steve estabeleceu a situação, arqueando uma sobrancelha com seus olhos azuis analisando a postura de Fairchild, brincando com seu sanduiche de creme de avelã quase terminado. - Por que você o ajudou?
— Por que não ajudaria? – Ela rebateu a pergunta num muxoxo sem se atrever olhar para Rogers.
— Ele tentou te matar, Willa. Duas vezes. Aos meus olhos você, acima de todos aqui, tem motivos para querê-lo distante de você ou muito menos acreditar numa recuperação. Todo mundo age como se ele fosse...
— Eu não sou todo mundo. – Willa não o deixou concluir tal pensamento, meneando pesadamente a cabeça em negativa. Ela o olhou entortando os lábios para Rogers, com um sentimento desgostoso aquecendo o seu coração.
— Eu tenho me questionado se eu tomei a decisão certa. – Steve murmurou, segurando as mãos com um olhar perdido sobre a ilha da cozinha, pensativo e então olhou Willa, com temor e pesar passeando em seus olhos azuis claros e brilhantes. - Se fosse a sua prima, no meu lugar, você agiria diferente?
— São casos diferentes. – Willa precisou de alguns segundos para compreender a profundidade por trás da questão de Steve; isso ia além do certo e errado, isso era uma questão de respeito e amor por um ente querido, pelo seu irmão. - Jessica não foi testada e manipulada por uma organização buscando por dominar o mundo, por décadas. Ela foi abusada física e mentalmente por um homem sádico. Um homem sádico e hoje, morto. Acho que a única coisa que eu faria diferente de você seria ter dado um soco no meio da cara do Tony quando ele disse que Barnes era um caso perdido. Ele não entende, ninguém compreende o que eles passarão. – Não só eles, Willa pensou com um olhar subitamente consternado e fechou, reprimindo algumas lágrimas buscando escapatória.
— Eu me pergunto se Bucky não estaria melhor sendo protegido pelos meios do Stark.
— No Raft? Numa prisão? Quando sabemos o tamanho da capacidade e domínio da Hidra? Steve, você está se ouvindo? Você mesmo disse com convicção que a Hidra é capaz de se infiltrar no congresso nacional... Você acha que o Raft é intocável? Eu duvido. – Willa respondeu resoluta. – Sabe o que acho? Estaríamos salvando ele de um monstro de sete cabeças e entregando-o ao homem de lata na sua eterna busca por consciência. – Rogers respirou fundo e Willa o olhou nos olhos enrugando levemente o seu cenho, com emoção. - Steve, confie em mim quando digo que enquanto Bucky estiver com você, ele estará em casa. Você fez a escolha certa.
Steve anuiu, ainda preso em sua mente, mas parecendo profundamente renovado. Então, mortificado, ele se deu conta de algo embaraçante.
— Eu acabei te confundindo com tudo isso, o que você queria falar comigo? – Ele perguntou com afeto e Willa precisou silenciar sua mente por alguns segundos, ligando um ponto a outro, ela se viu ali, no instante ideal para falar sobre Bucky, os arquivos e o passado, então ela mastigou o canto da bochecha e meneou a cabeça leve e charmosamente.
— Nada demais. Só que eu posso ficar com a vigília dessa noite. – E resolveu, pelo bem do calvário de Steve, descobrir o que buscava sozinha. Não importava quem lhe entregou aquele arquivo. Aquela, no final das contas, era a sua história, certo?
***
Não apenas aquela noite. Willa pegou as próximas vigílias também, aproveitando o silêncio e a solidão noturna para relembrar as suas lições básicas de russo e traduzir os textos do arquivo do Soldado Invernal. Vira e mexe ela abandonava a sua leitura ao escutar um ruído vindo do segundo andar ou do quintal. Normalmente era alguém indo ao banheiro ou só um esquilo, mas Willa era precavida ao extremo. Ela sempre optava por conferir, não seria a primeira vez que os seus sentidos falhariam, então ter certeza era apenas uma garantia de uma noite tranquila aos seus colegas. Quanto a Bucky, Willa chegava a seu quarto antes dele conseguir acordar a casa inteira com os seus gritos. Numa das noites, Steve surpreendeu com a rapidez que a jovem mulher subiu as escadas, chegando ao corredor dos quartos com um olhar preocupado sobre o quarto do ex assassino. Naquela noite, Steve ajudou o amigo e Willa voltou a sua vigília e leitura. Podiam ter passado minutos ou horas e Willa foi surpreendida com o som de clique do interruptor da cozinha, sentiu a vista coçar pelo impacto forte da luz em seus olhos claros e surpreendeu-se com a presença de Barton.
— Hey, kiddo. – A voz baixa e baritona de Barton trouxe conforto a Willa. - Como está a vigília?
— Tranquila. Tenho chá, tenho material de leitura e um cobertor. – Ela respondeu, apontando para a xícara de chá na mesinha de centro e levantando a ponta da sua manta. - Melhor do que isso, você sabe... – Ela deu uma piscadela charmosa, assistindo os movimentos contidos, porem sonolentos do arqueiro buscando por leite na geladeira e uma panela no armário.
— Uma viagem para o Hawaii para dois? – Ele questionou, acendendo uma das bocas do forno e colocando a panela com um pouquinho do leite ali.
— Tentador. – Willa murmurou, pensativa.
— Quer mais chá ou aceita leite com mel? – O arqueiro questionou, colocando uma colher de sopa de mel e mexendo lenta e estável na panela.
— Quem diria que você é um cara de tomar leite com mel na madrugada. – Willa comentou repousando o queixo nos antebraços, assistindo Clint na cozinha.
— Eu tenho o estômago sensível e um pouquinho disso ajuda a acalmá-lo e a dormir numa noite difícil. Um conselho da Laura. – Clint explicou com um sorriso terno brotando em seus lábios ao mencionar a esposa. Willa repousou a mão no rosto, passando os dedos em seus cabelos com um sorriso discreto. Um dia ela queria poder falar de alguém com tamanho carinho, respeito e amor como Clint falava de Laura.
— Tem notícias dela?
— Mandei uma mensagem hoje cedo. Nós temos um sistema de comunicação, quase tão secreto quanto código Morse. – Willa riu e Clint anuiu, desligando o fogão e servindo seu copo com o leite, o cheiro de mel tocando o olfato sensível de Fairchild. - Ela e as crianças estão bem. Ela está preocupada conosco.
— Você não deveria ter deixado a sua aposentadoria. – Willa murmurou pensativa e percebendo que Barton ficou confuso com sua colocação inesperada. - Você deveria ir embora, Clint. Ninguém vai lhe culpar ou lhe acusar de ser um traidor. Eles vão compreender se você partir e retornar para a sua casa, para a sua família.
— E? – Ele perguntou, repousando o copo na mesa com os ombros levantando singelamente. - O que eu faço com a minha crença, com a minha ideologia, com o que eu acredito ser certo para o futuro dos meus filhos?
— Guarda em seu coração e tem mais um dia ao lado da sua adorável esposa e os seus filhos. – Fairchild sugeriu com um sorriso discreto. - De todos aqui, você é o que tem mais a perder, C.
— E também o que ganhará mais se vencermos. – Willa anuiu, ela não tinha pensado por aquela perspectiva. - No meu lugar, você largaria sua crença para ir para o conforto da sua casa, enquanto os seus amigos lutam pelos seus direitos?
— Com a sua família? – Willa perguntou arqueando levemente a sobrancelha e estalando os dedos, enquanto Clint apoiou as costas no balcão da cozinha. - Num piscar dos olhos, meu caro.
— Eu não posso. – Ele meneou a cabeça negativamente, pegando o seu copo e bebendo um pouco mais do leite. - Não seria certo com vocês.
— Entendo, mas ao mesmo tempo, não entendo. – Ela encolheu os ombros com o cenho enrugado, pensativa.
— Eu também estou vivendo tal dilema com uma postura recente sua. – Clint revelou e Willa lhe lançou um olhar mesclado em surpresa e confusão. Clint caminhou tranquilamente até as costas do sofá onde Fairchild estava empoleirada e rapidamente num movimento ágil, saltou e sentou no braço do sofá, deferindo um discreto olhar para o segundo andar. - Você tem ideia do perigo que está correndo em ficar tão próxima do Bucky? – Clint sussurrou, preocupado. Willa abriu os lábios sendo dominada por compreensão. 1+1. O mistério foi solucionado.
— Foi você que me deu o arquivo, não é?
— Você precisa saber o que ele é. – Ele anuiu resoluto em sua postura com ela e Fairchild não conteve um suspiro em decepção.
— Ele não é o Soldado Invernal.— Ela proferiu com firmeza.
— Ele foi controlado mentalmente por mais de 70 anos, Willa. – Ela lhe lançou um olhar frio, trincando o seu queixo. Ele realmente achava que ela não tinha recebido autorização de Steve para ler o primeiro arquivo entregue por Natasha a algum tempo atrás? Ele realmente achava que ela era ingênua ao ponto de não saber quem ele foi e quem ele era agora? - Você tem noção do que é ser a marionete de alguém por tanto tempo, como isso afeta a mente de uma pessoa? – Willa fechou os punhos embaixo do cobertor. Ele não sabia de Jessica. Ele não sabia de Kilgrave. Ele não sabia o que ela tinha vivido. - Eu ainda não confio em mim mesmo depois do que o Loki fez comigo e isso tem mais de três anos!
— Na realidade, eu tenho sim. – Ela sussurrou pesarosamente e o olhar confuso de Barton lhe revelou que ele não havia lhe escutado. Era melhor assim.
— Ouvir histórias não é vivê-las. – Ele respondeu com candura, buscando mostrar-lhe que ele não estava ali para reprimi-la. Quem ele era para fazer tal coisa? Ele buscava apenas protegê-la do seu próprio coração bom.
— Eu sei. – Ela respondeu com os dentes trincados o que ressaltou o seu sotaque californiano e um olhar duro sobre Barton.
— Eu só quero que você tenha noção no que está se envolvendo. – Willa anuiu, ela tinha compreendido isso. Ela apenas não entendia como ela conseguia ver Bucky com cores e Barton, um homem tão esperto e experienciado o enxergava preto no branco. - Ele fez coisas terríveis em nome da Hidra. Ele tem um treinamento exímio em diversas artes marciais e armamento. Foi agente da Hidra e trabalhou como mercenário para pessoas ruins o bastante para nos fazer questionar o que nós ainda estamos tentando fazer buscando salvar a porcaria desse planeta... – É, ela não podia negar que o negativismo de Barton tinha lá um fundamento. - James Buchanan Barnes morreu no dia em que caiu daquele trem. O homem que dorme lá em cima agora é um John Doe.
“Agora ele está calmo e controlado, mas o que acontecerá se alguém apertar os nós dele e o lembrar detalhadamente de seu passado? E se alguém sussurrar a palavra gatilho e ele explodir no Soldado num estalo? Lembra o que aconteceu nas Nações Unidas? Durante a reunião do registro do Acordo de Sokovia, o prédio foi atacado. O rei de Wakanda e diversas outras pessoas morreram nesse ataque e Barnes foi visto nos arredores, poucos instantes antes. Faça a equação, Willa. A mídia quer saber quem é o Soldado Invernal. O povo quer a cabeça dele. O governo o quer morto. E se ele acordar, numa dessas noites em que você acaba por ajudá-lo a dormir, atormentado por um pesadelo e acabar lhe machucando ou pior? Ele é uma bomba relógio, Willa. E quanto antes você ver isso, melhor para a recuperação dele e para Steve tomar a decisão certa a ele.”
— O que você está insinuando, Clint? – Willa questionou resoluta, lançando lhe um olhar frio, entretanto cuidadosamente analisador.
— Não é possível salvar um homem incapaz de ser salvo. – Ele proferiu com pesar e por um instante, ela acreditou que pediria perdão por estar destroçando o seu natal ao revelar que o Papai Noel não existe.
— Quem disse a você que estamos tentando salvá-lo? – Ela rebateu, arqueando uma sobrancelha com um leve escárnio. – Nós estamos protegendo ele da Hidra, do governo e de pessoas que pensam como você. Ele merece uma chance de recomeçar, Clint. Como a Natasha, você depois do que o Loki lhe fez e como Wanda e Pietro. – Willa fechou os olhos, sentindo tal lembrança pesar em seus ombros e o ar lhe faltou. – Você me entendeu...
— Eu me importo com você, Willow. – Clint proferiu com carinho e ela engoliu em seco, assentindo e prendendo os seus olhos na estampa do sofá velho e puído.
— Obrigada, papai. – Ela agradeceu com sarcasmo, mas ele identificou a sua sinceridade através da sua doçura e sorrido contido. - Vou me lembrar com carinho desse nosso momento quando for lhe comprar um presente de natal.
Clint anuiu, sacudindo o indicador para Fairchild e deixando o braço do sofá, retornando para a cozinha com aquela sua tranquilidade quase meditativa e invejável naquele instante aos olhos de Willa.
— Você me lembra a Natasha, no inicio do treinamento na S.H.I.E.L.D. – Ele sussurrou estendendo o braço, pegando o seu copo de leite na ilha da cozinha e Willa fez um ‘ble’ com a sua língua, deixando uma careta marcar o seu semblante.
— Não sei se me sinto elogiada ou se chuto você no saco. – Ela retrucou com um olhar divertido sobre Barton.
— Um pouco dos dois. – Ele sugeriu com o seu olhar cansado e sarcasmo na ponta da língua. - Ela era uma vaca. – Ele relembrou com saudosismo.
— Era? – Willa a lembrou com amargura.
— Ela ainda é a nossa amiga. – Clint relembrou e Willa entortou os lábios. Será que era realmente?
— Eu sei.
— Boa vigília, Willow. – Ele desejou, depositando um beijo carinhoso na cabeça de Fairchild e ela sorriu discretamente, confortável com tal carinho.
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