S U M M E R T I M E S A D N E S S
Kiss me hard before you go/Summertime sadness/I just wanted you to know/That baby you're the best.
Do alto, Sam observava a paisagem da cidade, com suas asas cerradas, repousando a mão sobre os seus óculos de Falcão. Sobre os prédios, ele assistia e acompanhava o comboio dos agentes especiais do governo cruzando as principais avenidas de Bucareste por quase dez minutos. Ele esperava alguns agentes, mas aquilo parecia muito mais sob o seu olhar atento, aquilo parecia muito mais com um exercito o que apenas lhe colocou em alerta máxima de preocupação com Fairchild.
- Capitão, A força especial alemã está se aproximando do prédio. – Sam exclamou com seu dedo pressionado no ponto de escuta. - Algum sinal de Barnes ou Fairchild?
No apartamento, Steve investigava a cozinha. O escudo engatado em seu antebraço e os seus olhos verificando cada detalhe daquele pequeno e inóspito apartamento, encontrando duas xícaras na pia, ainda para serem lavadas. Isso era a cara de Willa.
- Nada. – Ele respondeu, seus olhos encontraram o balcão e alguns utensílios bagunçados ali. A geladeira não tinha nada além de uma garrafa de leite estragado e uma manteiga rançosa. Era uma surpresa Willa não ter jogado aquilo fora por conta do cheiro. Sobre a geladeira, Steve encontrou dois pacotes de biscoito sobre um caderno de capa azul. Ele folheou, lendo os textos em inglês e russo ali, até encontrar o panfleto do Smithsonian com o seu rosto em destaque. Pertenciam a Bucky.
- Alerta, Cap! A Força Especial alemã está se aproximando, a sul. – Sam complementou.
- Compreendido. – Steve respondeu, ainda olhando o caderno.
Então, Rogers sentiu um peso sobre seus ombros. Ele conhecia tal sensação. Ele estava sendo observado.
- Você me reconhece? – Steve questionou, não sabendo bem com quem estava lidando ali: era o Bucky ou o Soldado Invernal.
- Você é Steve. – Bucky respondeu num sussurro, cuidadoso e olhando Steve com extrema atenção. - Eu li sobre você num museu.
Steve não demonstrou isso, mas ele não compreendeu. Bucky mostrou tal cerimônia cuidadosa com ele, como quando ele o reencontrou há semanas atrás. Desconfiado e alerta, Bucky pisou em cascas de ovos, não revelando o que sabia, o que lembrava, o que planejava em seus primeiros momentos na companhia de Steve. O Capitão não esperava uma atitude diferente. Bucky tinha vivido o inferno e ele desconfiaria até mesmo da própria sombra. Até ele conseguir confiar em Steve, levou dias, Sam e Willa? Semanas. E agora ele estava ali, naquele apartamento pequeno, a frente do seu melhor amigo, e aquele olhar perturbado e desconfiado de Bucky, atingiu Steve: eles pareciam desconhecidos.
- Eles estabeleceram um perímetro. – Sam falou na escuta e Steve buscou não transparecer isso.
- Onde está a Willa? – Steve questionou deferindo um discreto olhar pelo apartamento. Bucky não quebrou o seu olhar de Rogers e também, não respondeu. - Eu sei que você está nervoso e tem toda a razão de estar, mas você está mentindo para mim. – Steve resolveu desafiar as emoções de Bucky. Se ele se encontrava temeroso, ele precisa reconquistar sua confiança no amigo.
- Eu não estava nas Nações Unidas, eu não faço mais isso. – Bucky respondeu suavemente.
- Eles estão entrando no prédio. – Sam alertou através da escuta e Steve deu um passo a Bucky continuou inexpressivo e imóvel.
- Tem pessoas que acham que você fez isso e elas estão vindo para cá agora. – Ele lhe avisou com preocupação. Eles tinham pouco tempo para escapar, como também, ele tinha pouco tempo para conseguir compreender o que acontecera com Bucky.
- Eu sei. – Bucky sussurrou, franzindo levemente o seu cenho, endurecendo o seu semblante.
Durante o retorno ao prédio, Willa lhe avisou sobre isso. Havia um helicóptero se aproximando, um comboio com agentes armados até os dentes indo diretamente para aquela rua e ela se sentia estranhamente vigiada. Ele acreditou que era a Hidra, Willa tinha outra suposição. Bucky desconfiava que ela sabia de Sam e Steve no apartamento. E para quem estava desconfiando de si mesmo, sua desconfiança com a atitude de Willa não era inesperado.
- E eles não pretendem levá-lo vivo. – Steve completou duramente.
- Isso é inteligente. – As palavras de Bucky deixaram os seus lábios friamente. - Boa estratégia.
- Eles estão no telhado, eu fui comprometido. – Sam alertou claramente correndo. – Espera. Eu não estou sozinho. Justice está aqui.
- Isso não precisa terminar em luta, Buck. – Steve afastou sua atenção de Bucky por alguns segundos, tranquilo por saber que Willa estava com Sam. Ao olhá-lo Bucky estava retirando a luva de sua mão mecânica com um olhar pesado.
- Sempre termina em uma luta. – Ele respondeu descrente.
- Cinco segundos. – Sam anunciou e Steve podia escutar com clareza uma luta acontecer.
- Você me tirou do rio, você aceitou a minha ajuda e então fugiu. – Steve proferiu sentindo as suas palavras comoverem um discreto Sargento, acentuando os seus sentidos para a movimentação externa grave e pesada. - Por quê?
- Eu não sei. – Sua resposta foi incerta, mas o seu olhar profundo revelava o contrário.
- Três segundos. – Sam comunicou através da escuta.
- Sim, você sabe. – Steve respondeu Bucky com firmeza. Ele afastou sua atenção da entrada alternativa, por onde veio, lançando um olhar atento a Rogers. - E é por isso que você fugiu. – Rogers acusou e Bucky endureceu seu semblante.
- Entre! Entre! – O líder do grupo exclamou para os seus subordinados.
Os vidros implodiram pesadamente. Duas latas negras foram arremessadas para dentro do ambiente, atraindo a atenção da dupla; era gás lacrimejante; Steve não precisou de muitos movimentos com o escudo para atingir e desativar as latas com o seu escudo, mas isso foi apenas uma distração. Uma granada foi atirada quebrando uma janela, caindo entre Bucky e Steve. Em milésimos, o Sargento empurrou com seu braço mecânico, a granada para os pés de Rogers e ele rapidamente, fechou o escudo sobre a bomba, que implodiu, de imediato contra o vibranium, não causando danos a eles.
Ao lado de fora, os agentes buscavam derrubar as portas. Por sua vez, Bucky maquinava modos de defesa. Em milésimos, ele ergueu o colchão e um tiro irrompeu da janela, penetrando na espuma. Ele abandonou o objeto. A maçaneta da porta principal começou a mexer pesadamente e pegando a mesa de centro, girando-a no ar e tacando no corredor da entrada principal, onde ela ficou engatada. Pela janela onde o tiro penetrou, um homem adentrou carregando com si o vidro e pronto para atingir Bucky com um golpe, mas ele foi rápido, escapando do seu ataque e o puxando para dentro, pela corda e o puxando de volta, acertando com um golpe, assim o desabilitando. Steve também estava tendo problemas. Um agente abriu uma porta desconhecida aos olhos de Rogers e mirou sua metralhadora no Capitão. Ele segurou o cano erguendo para o ar, assim ganhando mínima distância do agente. Bucky veio em seu auxílio, acertando um chute no peito do homem de preto e lhe derrubando para a varanda.
- Buck, para! – O Capitão exclamou agarrando o capuz do Sargento. Eles ainda podiam evitar uma batalha contra aqueles homens. Bucky rodopiou, conseguindo escapar da posse de Rogers. – Você vai matar alguém.
Ele apenas lhe lançou um olhar e arremessou o Capitão contra o chão de madeira, deferindo um soco com o seu braço mecânico. Contra o taco puído. Arrancando dali a sua mochila.
- Eu não vou matar ninguém.
Steve olhava Bucky sem compreender o que se passava na cabeça dele. Sem cerimônias, Bucky arremessou a mochila pela porta e ela voou alto, direto para o telhado do prédio ao lado.
Ele só não contava que uma certa ninja tivesse sua atenção atraída a isso, sobre o topo do prédio.
No apartamento, um novo agente invadiu a sala e atirou com sua metralhadora, com a intenção de acertar Steve, mas Bucky o empurrou para trás, colocando seu braço mecânico a frente, onde os tiros ricochetearam, mas um segundo agente se aproximou da janela da cozinha e temendo o pior, Steve se pôs a frente dele, Bucky repousou seu braço sobre seu ombro e o escudo protegeu suas cabeças contra a ofensiva de tiros.
Os tiros partiram de duas posições distintas e Bucky se atreveu a arriscar. Ele usou da sua força e abaixou o corpo, protegendo contra o balcão e empurrando Steve e seu escudo contra o agente. Ele, por sua vez, seguiu contra o outro agente, estendendo o seu braço mecânico e usando como seu escudo contra aqueles tiros. O agente veio em busca de confronto e Bucky não poupou esforços em golpeá-lo com seu punho e contra uma estante com bases de tijolo, agora parcialmente despedaçada. O agente deu uma cambalhota para trás, levantando, mas antes de se quer pensar em acertá-lo com um tiro, Bucky pegou o tijolo e o socou contra o agente. Na varanda, Steve buscava desarmar o agente. Na entrada principal, um dos agentes agora quebrava a porta utilizando uma escopeta contra as trancas de metais. Se eles esperavam uma entrada furtiva, eles foram os surpreendidos.
Bucky tirou tudo do seu caminho e deferiu um soco contra a porta de madeira, e num empurrão, derrubou-a contra os dois agentes atrás da porta. Na beira da escada, outro buscou se aproximar, mas ele acertou um chute nele, o derrubando escada abaixo, não conseguindo ser contido pelos seus colegas. Um colega veio pela retaguarda e Bucky lutou contra ele, arrancando a arma de sua posse e o rodopiando no ar, derrubando contra o chão.
Da claraboia de vidro, um agente foi arremessado preso uma corda. Ainda perdido, ao ver Bucky, ele tentou atirar com sua metralhadora, mas Bucky agarrou a arma e o empurrou contra o corrimão, o derrubando. Ele pegou o peso, para derrubar portas e usou contra um agente na escada, que desabou, feito uma bola de boliche pelos degraus.
Então, Willa surgiu na claraboia. Ela sentiu a essência de Bucky, sabia que o encontraria ali. O agente estava desmaiado, balançando em sua corda claraboia abaixo. Pegando impulso, ela se agarrou na corda. Escorregou rapidamente e desceu, saltando como uma felina sobre as costas um dos agentes atingidos pela porta, que agora, buscava acertar Bucky covardemente. Ela agarrou suas pernas contra as costas do agente, jogando seu corpo para trás, ela impôs força nas pernas e repousou as mãos no chão, conquistando assim equilíbrio e força, ela trouxe o homem contra o chão com suas pernas e ele não ousou levantar. O sargento numa posição animalesca e alerta, viu mais e mais agentes armados subindo rapidamente pelos lances de escada. Seus olhos assistiram Willa rapidamente derrubar aterrissar e derrubar aquele homem, sozinha. E ela olhou por sobre o ombro encontrando Bucky.
- Vai embora! – Ele exclamou exasperado e claramente possesso.
- Nunca. – Ela rebateu com uma risada escarnecedora.
Bucky olhou para o homem preso sob a corda, dependurado na claraboia. Os agentes estavam a se aproximar e ele pensou rápido, saltando contra o corpo do agente desmaiado. Ele balançou e caiu por sobre um agente, um andar abaixo. Willa bufou afastando uma mecha de cabelos de seus olhos, indo a seu auxílio. Do seu lance, um agente mostrou confusão em atacá-la, mas ele optou descer as escadas para atacar Bucky, para seu azar. Bucky o acertou com alguns socos, arremessando contra alguns degraus acima. Willa analisou a situação. Bucky estava derrubando todos os agentes em seu caminho, descendo os lances de escada rapidamente, e mais cinco se aproximavam de seu caminho, como os lances das escadas estavam apinhados deles se aproximando mais e mais. Se ela conseguisse impedi-los de alcançá-lo, talvez ele conseguisse ter uma chance de escapar... É, ela estava optando por ele escapar!
Ela imitou Bucky e usou o agente desacordado como pendulo, saltando contra a corda, balançando e saltando um lance abaixo, bem no caminho dos agentes a caminho. Para tornar as coisas fáceis, Willa dava nomes aos inimigos. No caso, ela decidiu chamar os agentes de Dó, ré, mi, fá, sol. Ela saltou de uma perna a outra, movendo os seus punhos em ondulações. Wing Chu e a arte da incerteza, era tiro e queda contra o inimigo.
Dó era afobado, tentou acertá-la com um soco afoito, mas ela foi mais rápida, agarrou seu punho antes de acertar seu rosto e deferiu um tapa em seu nariz, sentindo o osso quebrar na palma de sua mão e assim, dando uma joelhada em seu estômago e deferindo um tapa em sua garganta. O corredor entre as escadas e apartamentos era pequeno, então Mi teve dificuldade de conseguir uma mira em Willa e Sol parecia completamente perdida. Willa desconfiou que ela nem sabia que estava em Bucareste, quisá numa briga!
Fá veio para defender Dó, mirando sua arma contra o peito de Willa, mas ela segurou o cano, rodopiou, puxando a arma com força contra a posse do agente e pegando ela para si. Foi tão rápido que o homem ficou perdido, apenas recobrando entendimento, quando Willa jogou a arma para o térreo e arqueou uma sobrancelha para Fá, enfiando os seus polegares contra os olhos dele e empurrando por alguns milésimos. Ao soltar, ele urrou de dor e apoiando um pé na parede, Willa saltou e ganhou não apenas altura, mas também impacto ao deferir um soco contra a cara de Fá, agora desmaiado. Mi conseguiu mira, mas Capitão América aterrissou atrás de Willa, arremessando o seu escudo contra o agente. O metal quicou no homem, no chão, na parede, acertou o distraído Sol e voou direto para Fairchild que pegou o escudo com o antebraço, rodopiou e arremessou no ar para Rogers. Ele guardou o escudo nas costas e assentiu, reencontrando Bucky um lance abaixo, entravado numa briga com dois agentes. Sem medir consequências, Barnes se desvencilhou de um deles e arremessou o outro contra o corrimão, por centímetros, o homem cairia prédio abaixo, contudo, Rogers saltou do lance onde estava, conseguindo aterrissar e salvá-lo.
- O que você está fazendo? – Ele esbravejou para Bucky. Bucky arfou e nada respondeu.
Steve levantou o agente e o jogou contra a parede, assim o nocauteando. Willa não perdeu seu tempo. Olhou para o lance abaixo e dependurou no corrimão, saltando para baixo e agarrando sua mão contra o corrimão com seus pés fixados firmes neles. Ela virou o corpo, analisou e saltou novamente mais um nível abaixo, alcançando Steve. Ela agarrou suas mãos no corrimão e deu um mortal, passando por sobre o corrimão e aterrissando ao lado de Steve. Então, assistiram Bucky arrebentar o corrimão a sua frente e usando como suporte para despencar, assim descendo dois andares.
- Agora é oficial. – Willa anunciou claramente irritada, olhando Bucky furiosa. - Eu perdi a paciência com ele.
Sem ter consciência da frustração de Willa, com os dois pés, ele acertou o peito de um agente e a porta atrás de si despedaçou com o impacto de seu corpo, e Bucky passou livremente pelo corredor, se preparando para o próximo ataque a sua espreita.
- Steve! – Willa exclamou, olhando para Bucky e Rogers entendeu, nocauteando um agente vindo pelo corredor leste.
Willa conteve a aproximação de dois agentes deferindo um soco contra o primeiro e um chute contra o segundo. Ela utilizou das paredes como apoio, conseguindo ganhar altura nos saltos com chutes. Bucky estava a dois andares abaixo e tal distância não lhe agradava. Steve deveria estar na cola de seu amigo, mas ele se enfiou no meio do embate de Fairchild, lhe ajudando com sua força ao prensar os agentes contra a parede e erguê-los um pouco do chão. Com suas mãos rápidas, Willa prendeu o cinto um do outro como um só e entendendo seu plano, Steve os puxou e dependurou no corrimão. Se um mexesse um pouquinho demais, seria bom eles aprenderem a voar...
Steve desceu rapidamente pelas escadas, buscando alcançar Bucky. O que veio a tempo. O Sargento não contou um agente a espreita que por pouco lhe acertaria com uma bala de escopeta, mas Rogers lançou seu escudo contra ele, o nocauteando e enterrando seu escudo contra a parede. Os amigos trocaram um intenso olhar, mas Bucky não se comoveu por esse gesto e por ter menos de dez andares abaixo de si, ele se arremessou pelo corrimão, para o centro do térreo. Ele só não contou com o seu braço engatilhando num dos corrimões e urrou de dor. Willa lançou seu corpo sobre o corrimão, buscando visão do que ocorrera e viu Bucky dependurado.
- Para de fugir. – Ela sussurrou com pesar, retornando a descer os lances de escada com o máximo de agilidade que as suas pernas lhe permitiam.
Steve arrancou o escudo da parede, com um pouquinho de sacrifico e Bucky içou do corrimão, desprendendo sua mão dali. Willa ouviu os seus passos pesados retumbarem no chão e um chute ser deferido contra uma madeira, em segundos, uma porta desabou contra o chão e a audição de Willa zuniu dolorosamente.
- Apartamento, Steve. – Sua voz ecoou com dor e ela enterrou as mãos contra os ouvidos, sentindo um embargo.
Sua distração custou muito. Ela levou um soco no rosto e outro contra seu tórax, o que lhe arrancou o ar. Willa focou seus olhos embaçados no agente a sua frente e buscou acertar-lhe um soco, mas ela errou e ele conseguiu lançá-la contra a parede. Willa virou de lado, erguendo o braço e deferindo o cotovelo contra a sua mão. Girando, ela acertou um chute no peito dele, mas o agente segurou sua panturrilha e lhe deu uma rasteira. Willa não calculou o espaço e a queda, e bateu a cabeça contra o corrimão, desabando no chão. A última coisa que ouviu foi um murmurar alemão e então, sua visão escureceu.
08 anos atrás.
Morada da Casta
Localidade secreta.
CHINA
Uma musica calma e serena com leves toques de flauta e instrumentos típicos chineses tocava por toda a sala. O cheiro de patchouli era inebriante. O chão era tabuas de madeira com um tatame ao centro. Não haviam paredes, eram passagens abertas por onde as pessoas transitavam livremente para os outros cômodos com a natureza e uma bela fonte ao centro de um pequeno pátio como paisagem. Naquele instante havia algumas pessoas presentes na sala de treinamento. Alunos em kimonos vermelhos, cada um com uma faixa em sua cintura com uma cor distinta representando o seu nível como aprendiz, e até mesmo, alguns professores dispuseram de seu tempo para assistir aquele treinamento, como Stick. Ele podia ser cego, mas ele não precisava dos olhos para assistir o desenrolar do treinamento.
Aquilo era um evento.
- O único som que importa nesse momento, é o som de minha voz. – Stone proferiu em chinês a poucos metros de Willa. Ela estava ao centro do tatame. Em silêncio. Concentrada. Vestia um kimono vermelho, com as mãos enfaixadas com gases brancas, os pés calçados com sapatilhas negras e os olhos vendados com uma faixa vermelha. Os seus cabelos loiros presos num rabo de cavalo lhe destacava no mar de vermelho sangue.
Stone estava a sua frente. Ele vestia uma calça negra com uma faixa vermelha amarrada. Os punhos estavam enfaixados e ele possuía um largo tórax exposto. Com quase dois metros e meio de altura, o nome Stone não veio apenas de sua força e impenetrabilidade, mas amedrontadora altura. Sua idade era desconhecida, mas a sua aparência sugeria que ele não passava dos quarenta anos. Seus punhos podiam partir o metal mais pesado do mundo com um soco. Sua pele não era penetrada por laminas. Balas ricocheteavam e não o feriam. Existiam lendas com o seu nome. Existiam poemas com sua história. Existiam verdades sobre quem ele era. Stone não era apenas o homem mais respeitado da Casta, o clã milenar Chinês. Ele era uma lenda. Alguns até ousavam a acreditar que ele não existia, era fruto da imaginação de crentes obsessivos. Outros acreditavam que ele era tão real ao ponto de ser imortal. Então, quando a 8 anos ele decidiu treinar pessoalmente a jovem Yanagi, não houve um mestre do clã que não mostrou surpresa. E temor. O último aluno treinado por Stick tornou-se seu co-lider e um dos mais temíveis assassinos da dinastia atual, Stone. O que aquela garotinha de grandes olhos azuis e cabelos loiros poderia se tornar em alguns anos?
Oito anos de treinamento incansável mostrava não apenas aos lideres, mas também professores, alunos e inimigos que a pequena Yanagi poderia ser muito maior do que Stick e o seu criador.
Ali estava ela, em mais um dos seus testes. Stone tinha suas crenças com Yanagi. E ela era apenas a sua pequena pardal, obediente em seus comandos, mas curiosa com o mundo além da montanha.
- Sem sua visão, eles querem que você acredite que você é nada. Mas você pode enxergar tudo, com a sua mente. – Stone rodopiou na lateral do seu corpo o Bo, uma espécie de vara feita de carvalho no comprimento médio do seu tronco. O rodopio produziu uma brisa e Willa assistiu em sua mente a vara girar uma, duas e três vezes no ar, ganhando estabilidade. A brisa cessou, então abruptamente uma lufada de ar veio a direção do seu lado esquerdo do corpo, o que a fez proteger aquela região de seu corpo com os seus braços e deslizar para a direita, mantendo os seus pés em movimento. - Sua visão é um luxo. Sua audição é uma regalia. Seu tato é inútil sem habilidades. Sem uma arma para lutar, o que te resta? – Com agilidade, o Bo rodopiou e Stone arqueou com tal movimento. Sentindo a brisa em suas canelas, Willa saltou sentindo o Bo passar a centímetros dos seus pés. Ao reencontrar o tatame, Stone estava a sua frente, com seu pé dominante a frente e apoiando no outro pé, com o Bo deferido contra a cabeça de Willa segurou o bo por entre as mãos, com os joelhos arqueados.
- Eu. – Yanagi respondeu em chinês. Com firmeza ela agarrou o Bo e o empurrou para trás, acertando o ombro de Stone. O impacto não lhe feriria, mas causaria um dano esperado ao Bo. A ponta se despedaçou, esfarelando pelo ar, até suas partes encontrarem o tatame. Com o lado exposto de seu corpo, Yanagi lhe acertou dois chutes baixos, trouxe o Bo para trás de suas costas e deferiu um tapa contra o rosto de Stone, forte e pesado, com os seus dedos dobrados como uma pata de tigre.
Sem o Bo em suas mãos, ele tinha maior destreza para golpeá-la com socos e tapas ágeis e fortes. Ele também despedaçou o Bo com um golpe de sua mão esticada. Conhecendo a sua força, ela estava treinada para sustentar o seu impacto, como também entrar no ritmo de sua agilidade, movendo no tatame com graciosidade entre acrobacias para ganhar distância dele, como também para enganá-lo sobre o seu próximo ataque. Stone era imponente, como uma montanha. Ele ensinou os seus golpes a Yanagi. Ele ensinou seu domínio com Katana a Yanagi. Ele ensinou a sua língua e filosofia a Yanagi. E era ela agora quem lhe ensinava uma importante lição.
Distraído com os golpes de suas mãos, Yanagi acertou sua canela com um pé, ao menos três vezes. Ele buscou desvencilhar de tal golpe, agarrando-lhe a coxa para atira lhe contra o tatame para lhe prender, num golpe característico do Jiu Jiutsu. Ela esperava por isso, portanto quando ele segurou sua perna, ela prendeu a outra contra seu corpo, atingiu sua mandíbula e nariz com os cotovelos, por fim acertando o seu indicador e dedo médio em seus olhos. Ele inclinou o corpo, buscando arrancá-la de si, mas com sua perna livre, ela deferiu um golpe com seu joelho, lhe empurrando contra o chão. E o feitiço foi contra o feiticeiro. Ela estava lhe contendo contra o chão, com o golpe ao qual ele planejou contê-la.
O incenso acabou. A música parou. Ninguém ousou emitir um som. O barulho da madeira batendo contra a madeira e a água correndo por um cano, até alcançar a fonte ecoou, cortando o ar com sua musicalidade. Stone bateu sua mão no tatame, demonstrando rendição e Yanagi lhe liberou prontamente. Eles se afastaram. Juntos, um curvou diante do outro, respeitosamente. Ereta, Yanagi retirou a venda dos seus olhos, com uma estranha emoção percorrendo pelos seus olhos azuis brilhantes e expressivos. O carvalho destruiu a pedra. Ela havia conseguido derrotar Stone. Isso era... preocupante. Era isso que havia no olhar de Stone preocupação. Não o entenda mal. Ele nunca buscou se afeiçoar por ela. Na realidade, ele sempre julgou Stick por sempre demonstrar um carinho e afeto desnecessário pelos seus pupilos. Foi assim com o cego, foi assim com a grega. Stone nunca se apegou aos seus pupilos. Eles iam e vinham em seu treinamento. Vinham, aprendiam ou não e morriam. Mas Yanagi, desde o primeiro instante, era...
- Diferente. – Stone não precisou escutar a voz prepotente de Stick falando em inglês, batendo o seu bastão no tatame, fingindo querer anunciar sua chegada. Stone se manteve sentado no tatame: pernas cruzadas e as palmas sobre os joelhos, focado em sua meditação. – Agora você me compreende?
- Eu busco tal façanha, Stick. – Ele proferiu em inglês, inexpressivo, todavia sarcástico. - Nem sempre consigo.
- Você me mandou afastar do garoto e da garota, apenas para acabar culminando em seu próprio veneno. Qual foi a sensação de ter o Carvalho destruindo a montanha? – Stick apontou com a cabeça para Yanagi, sentada na fonte, admirando hipnoticamente a água descer límpida e lentamente.
- Stick... – Stone abriu os seus olhos respirando profundamente.- Nós somos a única força entre o mundo e as forças místicas da escuridão e nós envelhecemos. – Ele explicou ponderando em sua postura com disciplina em suas palavras. - Nós precisamos de sangue novo, novos guerreiros. Nós não somos um orfanato.
- Você diz não me compreender, mas a verdade é que eu não compreendo as suas decisões. – Stick murmurou meneando a cabeça em negativa. - Tanto Matt quanto Elektra tinha potencial e você me fez desfazer deles.
- Não devemos falar sobre o futuro predestinado, Stick. – Stone manteve a sua compostura, repousando as palmas das suas mãos sobre os seus joelhos. - O fim pode parecer um ponto final, mas às vezes, é apenas uma reticência.
- O que o futuro nos reserva não é gloria, Stone. – Stick proferiu com soturnidade.
- Nessa geração nós temos apenas três verdadeiros adeptos nascidos. Matt Murdock, Riddle Jones e a garota, Elektra. – Stone inclinou o seu rosto para Stick com dureza e soberania emanando de suas palavras. - E como eu testemunhei, a garota Elektra foi infectada pelos caminhos do mal. Ela pode muito bem terminar recrutada pelo inimigo.
- O Tentáculo não chegará nela. – Stick negou com a cabeça, buscando contornar aquele fato. - Não enquanto ela for filha dos Natchios.
- Pessoas morrem, Stick. O Tentáculo não se incomodaria de matar dois humanos descartáveis para conquistar uma arma. – Stone levantou com desaprovação em seu olhar. Stick podia ser cego, mas os seus sentidos lhe davam o privilegio de sentir no ar exatamente o que ele buscava transparecer. - Quando o momento chegar, Matt Murdock será testado, como também a sua garota.
Stone assentiu decidido em partir da sala, pois ali ele não conseguiria mais meditar. E nisso, os seus olhos encontraram Yanagi sentada na fonte, como uma apaixonada pela natureza, ela ainda admirava a água e o reflexo do sol com encanto.
- E a Yanagi? – Stick questionou sibilante e Stone fechou os seus olhos, encolhendo os seus ombros com um peso a transbordar sobre suas costas.
- Não se preocupe quanto a ela. – Stone sussurrou sem esconder o seu pesar. - O seu destino está cada dia mais próximo de se concretizar.
- O seu papel na ordem... – Stick iniciou um dos seus discursos caminhando para estar ao lado de seu pupilo.
- É primordial e junto a Matt. – Stone completou olhando para Stick. Ele não precisava ser lembrado dos papeis de cada um na Casta, ele se lembrava disso, diariamente.
- Eu pensei que os próximos líderes da casta fossem uma tríade. – Stick proferiu com um semblante levemente confuso.
- A garota pertencerá ao mal, Stick. – Stone odiava ter que falar sobre Elektra. Isso sempre levava a brigas e nunca terminava com ele e Stick encontrando um ponto em comum sadio. Ele sabia como a garota Natchios conseguia desmantelar o equilíbrio de Stick, entretanto, Stone não podia guardar a verdade que ele conhecia por mais tempo. Se fosse o oposto e Yanagi estivesse no lugar de Elektra, ele iria querer saber, mesmo que fosse contra as regras, como era. - Eu senti a alma dela.
- Yanagi está pronta para a sua missão ultrassecreta?- Stick riu em escárnio.
- Não deboche. – Stone ralhou lançando um olhar duro sobre o mestre. - E sim, ela está. – Stone proferiu repousando suas mãos à frente do seu corpo com uma postura disciplinada. - E não, eu não a enviarei. – Stick inclinou seu rosto para Stone, surpreso. – Envie Elektra.
- Estamos sentimentais, não acha?- Stick esnobou a proposta com um sorriso no canto dos lábios.
- Eu vi mal em sua alma, mas eu também vi luz, quando ela estava com Yanagi. – Stone explicou lançando um olhar pesaroso sobre a figura de Yanagi. – Nós a afastamos e talvez, isso tenha sido um erro, para ambas. E eu acredito que exista a possibilidade do amor lhe tocar. – Stick assentiu compreendendo o ponto de vista de Stone. - Esse é o teste da sua garota.
- Espera um instante, Matthew era a missão de Yanagi? – Stone assentiu apenas uma vez e Stick ergueu seu rosto, pensativo. – E por que você voltou atrás? Ela claramente é perfeita para essa missão.
- Você me disse que ele é um bom garoto. Ela também é. – Stone ponderou inclinando o seu rosto, pensativo. - Ela nunca me perdoará por fazê-la fingir amor por alguém, mesmo que esse alguém seja o Matthew e para trazê-lo de volta para casa. – Stone crispou os lábios, franzindo o seu cenho com dureza. - Nós a perderemos se eu transformá-la numa arma.
- E Elektra me perdoará? – Stick questionou com sarcasmo.
- A garota sempre foi distorcida. – Stone conseguiu conter um sorriso. - A forma dela encontrar amor também será.
- Eu vou providenciar um encontro com ela. – Stick bateu a bengala contra o tatame e apontou com a cabeça para Yanagi, na fonte. - E quanto a ela, o que você fará com Yanagi?
- Acho que... – Ele respirou fundo, lentamente buscando a inexpressão e disciplinando sua postura. - Chegou o momento de cortar as cordas que a prende a mim. – É, havia chegado o momento para o ritual.
- Se importar é o nosso primeiro erro, Stone.
- E o que nos tornamos se não nos importamos? – Stone questionou enrugando o cenho, temendo a sua resposta.
- Imortais.
Stone curvou-se perante seu mestre e seguiu para o pátio, admirando a distância com seus olhos castanhos escuros a figura de Yanagi sentada à fonte. Ao sentir sua presença, ela levantou-se, pronta e obediente curvou-se a ele respeitosamente e apenas levantou o seu torso, quando ele ordenou e sentou na fonte, batendo a palma de sua mão na pedra fria, e assim, ela se sentou ao seu lado.
- É um belo dia, não? – Ele lhe questionou em chinês. Quando Yanagi chegou à montanha era um dia, como esse: num azul límpido com pouquíssimas nuvens e o sol irradiando belamente.
- Sim. – Ela respondeu prontamente, admirando o belo céu azul.
- Você foi exemplar hoje, Yanagi. – Stone elogiou resoluto e disciplinado.
- Aprendi com o meu mestre. – Ela aceitou o elogio, mas humilde não podia deixá-lo de fora dessa.
- Chegou o momento. – Ele precisou de alguns minutos para aceitar e então, revelar isso a sua primeira e única pupila.
- Qual momento? – Yanagi questionou com um olhar confuso sobre o seu mestre.
- De você seguir adiante. – Ele não podia. Ele não podia dar a ela esse destino.
- Eu não compreendo, mestre. – Yanagi mostrou confusão com tal resposta.
- Leve consigo apenas o necessário e parta imediatamente. – Stone ordenou levantando-se da fonte, se distanciando de Yanagi.
- Mas mestre, eu não compree...- Yanagi se levantou seguindo os seus passos com a confusão dominando o seu semblante.
- Eu fui claro. Arrume suas coisas e parta. – Ele parou de caminhar lhe lançando um olhar partido incompleto na inexpressão de seu semblante. - Nunca mais retorne a Casta.
- O que eu fiz para decepcionar-lhe? – Ela questionou, prontamente a se corrigir, mas Stone voltou sua atenção adiante. Sua dureza lhe responderia. Ele preferia que ela acreditasse que errou, ao saber que ela nunca, em nenhum dia, lhe decepcionou em quem se transformou. Ele continuou a seguir e respeitosamente, Yanagi se curvou, sentindo seus olhos encherem de lágrimas.
Ela partiu para o seu dormitório, para recolher seus pertences, mas ao virar uma pilastra, ela foi surpreendida com uma presença incógnita.
Uma faca perfurou um pedaço de carne. Um gemido de dor misturado a ar deixando pesadamente uma garganta. Stone travou seus passos. Ele sabia quem era, ele sabia o que acontecera. Ele passou por entre os alunos e mestres, agora aglomerados entorno do pátio. Ao centro, Stick com Yanagi segura em seus braços. A adaga estava perfurada em seu estomago. Sangue esvaia do ferimento e dos seus lábios. E os seus olhos azuis como céu num belo dia de verão enegreciam como uma repentina noite. Stone olhou para Stick, num pedido silencioso de piedade. O homem podia não enxergá-lo, mas podia senti-lo. E ele sorriu. Rodopiou Yanagi em seus braços, movendo a adaga num meio corte em sua cintura, expondo sua pele, seus órgãos e lhe entregando a agonizante morte. Seu corpo leve como uma pluma pendeu em seus braços. Com descaso, Stick atirou seu corpo na fonte. E Yanagi desabou sob a água esparramando para o chão e sobre alguns alunos próximos. O seu sangue contrastava com o vermelho vivo de seu kimono. A água límpida agora estava fortemente tingida do sangue de Yanagi.
- Eu sabia que você se acovardaria, que você quebraria a nossa lei: não se apegue, não se importe, não ame. – Stick proferiu com escárnio a Stone, limpando a sua adaga em seu cinto de pano. Os alunos lhe olhavam com temor, alguns com pouco caso da situação ou evidentemente com choque. Os outros professores estavam inexpressivos. Eles conheciam os motivos por trás de Stick para matá-la, mas também conheciam os motivos de Stone. Ele era muito intuitivo. E ele sempre acreditou naquela garota. Não importasse a situação. Através das décadas, de todos que ali chegaram Stone nunca mostrou tamanho respeito e sensibilidade perante aquela jovem. Ele nunca esteve tão certo que ela era a sua sucessora. Ela estava destinada a ter o seu poder, o seu legado. Mas, matá-la e acabar por descobrir que ele estava errado, era um risco a qual Stone jamais queria passar. – Agora está feito.
Sua morte não era desejada por ninguém ali, além de Stick.
- Você a matou. – Stone sussurrou com magoa dominando suas palavras. Com seus olhos se enchendo de lágrimas. Ele olhava para Yanagi boiando na fonte, com os seus olhos estatelados para os céus e ainda existia ali, um brilho de vida.
- Não me diga que você não está ouvindo as suas vozes lhe ordenando para salvá-la? – Stick debochou e sem mover um músculo de seu corpo, Stone retirou a katana de sua bainha, apoiando a lamina afiada para o pescoço de Stick. Inexpressivo, Stick não se moveu, mas deixou uma sobrancelha erguer lentamente. – Criatura contra criador? Porque não estou surpreso?
- Você não tem mais lugar aqui. – Stone proferiu, levantando-se lentamente, olhando-o profundamente ferido e com crescente fúria.
- Essa ordem pertence a mim tanto a você. – Stick proferiu resoluto.
- Você sabe que isso não é verdade. Eu sou o sucessor do Mestre Izo. – Stone proferiu sua voz ecoando pelos quatro cantos do Clã como um trovão numa floresta. - Você perdeu esse direito. – Stone acusou com sua postura alta e resoluta, como a montanha a que era, diante do magro e franzino Stick. - Eu tenho o legado dele em minhas veias...
- Como a Yanagi teria? – Stick perguntou debochado, rindo abafado.
- Vá embora ou eles lhe obrigarão. – Stone falou com frieza, lançando um olhar cerrado e doloroso sobre o seu mestre.- Eles se importavam. Eles se apegaram. Eles a amavam. Suas leis e as do Mestre Izo já não vivem aqui a décadas, como vocês que estão perdidos no tempo. – Sua conclusão ecoou pelo clã não como uma profecia, mas como uma declaração. – Nós somos o futuro.
Cada um dos alunos tinha um semblante pronto para o combate. Uns sabiam que não sobreviveriam, outros eram guerreiros natos. Os professores Shaft, Claw, Flame, Star e Wing estavam posicionados protetora e respeitosamente a Stone. Eles não apenas respeitavam sua decisão, como a defenderiam. Stick sabia quando era a sua hora de tomar um difícil decisão. Se ali não era mais o seu lar, também não seria de mais ninguém.
- Eu tenho uma missão a fazer. – Stick proferiu caminhando para partir. – E saiba, Stone que Mestre Izo saberá disso por mim. Nós somos o futuro? – Stick riu, abafado. – Nós veremos isso. Ah, boa sorte com a sua escolhida. Espero que ela não lhe decepcione com a sua nova vida, como você me decepcionou.
Stick partiu.
Ele estava jogando verde, ele não poderia saber que ele sentia a vida dela fluir em suas mãos.
Assim que ele partiu do prédio, Stone fez um movimento com seus dedos para os mestres para o corpo de Yanagi. Claw olhou para Stone com urgência, assistindo cuidadosamente Flame e Star segurar o grave ferimento de Yanagi, enquanto Shaft e Star a erguia e Wing mandava os alunos para seus dormitórios.
- Stick não deixará isso a limpo, Stone. – Claw proferiu com uma clara preocupação para o que sucederia daquela situação.
- Não me importo com isso agora. – Stone respondeu duramente, caminhando com decisão para o
- E ela? – Claw questionou com urgência, buscando saber se Stick tinha razão e Yanagi era apenas uma mortal. – É ela? – Mas pela postura de Stone não, Stick estava errado.
- É. Ela é a escolhida. – Stone revelou, assistindo os mestres carregando o corpo falecido de Yanagi para o templo. – Ela sempre foi, eu não percebi, pois estava cego com minhas emoções, mas agora posso ver claramente. Claw, se eu fizer isso... – Ele se calou, embargado em suas emoções, então ele dominou-as e lançou um olhar resoluto sobre o professor. - Eu preciso de um pergaminho, uma pena e marque uma reunião com o mestre Izo. Precisamos informá-lo sobre a renegação de Stick e o futuro de Yanagi.
- Sim, mestre Stone. – Stone assistiu Claw se curvar respeitosamente ao novo mestre da Casta e ele sentiu sobre os seus ombros o peso de tal responsabilidade, mas isso não pareceu nem de longe tão importante e apavorante do que perder Yanagi.
E esse foi o dia que a Rocha se curvou ao Carvalho.
Esse foi o dia em que Yanagi morreu e Willa Fairchild nasceu.
Os olhos de Willa piscaram furtivamente. Um grunhido abandonou a sua garganta. Sua cabeça latejava, como também, as suas costelas. Ela buscou abrir os olhos, mas a claridade incomodou sua vista. Com sua visão embaçada, ela não conseguiu identificar onde estava e o cheiro de sangue lhe entonteceu, mas ao se dar conta que o seu corpo era arrastado por dois homens nada mais parecia importar. Como ela sabia que eram homens? Os hormônios. Seu coração acelerou. Sua respiração agitou. Ela não tinha ideia do que estava a acontecer, sua incapacidade de enxergar estava prejudicada e ela só tinha uma chance. Willa fechou os olhos e retesou seu corpo, assentando os pés no chão e se tornando um obstáculo. Ela precisou de apenas um segundo para acertar um chute forte na canela de um, a pessoa envergou o corpo, mas manteve sua mão fechada entorno de seu pulso. Willa puxou o corpo para o lado oposto e dobrou o braço, enfiando o cotovelo na cara da pessoa. A comoção foi instantânea. Ela escutou uma aproximação furtiva e ágil, mas ela não se assustou. Abriu os olhos e mesmo com sua visão embaçada, ela deferiu um golpe com o polegar cerrado em punho na base do diafragma da segunda pessoa e agarrou seu braço, pronto para quebra-lo em três pontos, um dos seus golpes característicos...
- Willa! – Steve exclamou, ele deu um passo a ela, mas um agente o impediu. Willa seguiu o som de sua voz olhando-o com os olhos azuis arregalados e o ar escapando dos seus lábios pesadamente. Steve estava ao lado de Sam, caminhavam a alguns metros de distância dela, cercados pelos agentes especiais. E um pouco atrás deles havia um homem desconhecido aos olhos de Fairchild, mas ele também estava cercado por agentes. Onde estava Bucky? – Calma. – Sam mostrou desapontamento ao assistir Willa lentamente se acalmar. Aqueles caras mereciam uns chutes na bunda.
O que tinha acontecido? Willa respirou fundo lançando um olhar apavorado e sufocado, buscando reconhecimento. Ela desconhecia aquele lugar, mas sabia que devia ser a convenção dos Agentes Especiais, pois tinham dezenas deles, cinco deles, em especial, apontavam suas armas, aguardando o comando do líder, um homem baixo de cabelos louros, assentado para o lado com um olhar desdenhoso sobre Fairchild. Ela trocou um discreto olhar com Steve e ele assentiu singelamente. Então, obediente, ela abandonou o pulso do agente e levantou a mão, mostrando rendição.
- Isso não é necessário, Ross. – Stark proferiu ficando na linha de visão do líder, gesticulando negativamente para ele e descorajando os agentes. Willa seguiu o som de sua voz e encontrou Tony, não muito distante de Ross, Sharon buscando não demonstrar emoção, mas ela estava claramente preocupada. – Willa só está se sentindo acuada.
- E ela está desorientada, por conta do ferimento. – Steve comentou não apenas em explicação e defesa para sua amiga, mas também, com clara preocupação. – Ela precisa de um médico. – Willa teve coragem de levar os dedos à testa e sentiu a ferida arder em sua pele, recebendo um descorajador de Tony, mas era tarde: ela tinha sangue nos dedos e uma ardência queimante na testa.
- Ou isso é só uma tentativa de vocês de nós distrair, mais uma vez. – O homem, a quem Tony chamou de Ross resmungou com um olhar ameaçador sobre Willa e para os homens atrás de si. Por sua vez, Tony revirou os olhos. Claramente o Capitão e os seus amigos não estava com a melhor das famas.
- Ela tem um corte de um metro na testa. – Sam retrucou irritado com os braços cruzados. – Ela pode ter uma concussão. – Ele continuou gesticulando para a amiga, como se precisasse de uma maior clareza para a situação dela. - Ela pode até morrer.
- Ok. Não precisa ser tão dramático, Wilson. – Tony gesticulou em negativa para o homem, caminhando tranquilo até Willa. Os agentes especiais mostraram tensão a sua aproximação, mas Tony pouco caso fez, lançando um olhar desdenhoso a eles. – Mas, eles têm razão. Willa precisa de cuidados médicos. – Ele deu um tapinha nos dedos dela, afastando do desejo imperativo dela de tocar novamente a ferida e esperando liberação para os cuidados médicos. Como não ocorreu, ele lançou um olhar descrente ao General. - Ross, ela precisa ir à enfermaria.
- Paciência. Se não tivesse lutado contra os meus agentes, não teria se machucado. – Ele retrucou grosseiramente e Willa inclinou seu rosto com um olhar furtivamente de poucos amigos ao homem.
- Tony, eu não vou responder por mim. – Willa sussurrou tal aviso lançando um olhar sisudo ao bilionário, com um bico nos lábios.
- Ross, ela escolheu lutar contra os seus agentes, mas a escolha de não lhe dar tratamento, é sua. Se ela colapsar na sala de reunião, você terá sérios problemas, e não será só comigo. – Ross não se comoveu. Tony respirou pesadamente. - Se esse for o caso, fico com ela durante toda a consulta, com os seus G.I Joe’s ao lado de fora. – Ross gesticulou em aceitação, apontando para três agentes segui-los. – Então, assim está bom para o Sr. Emburrado. – Tony resmungou trocando um olhar desafiador com o general. - Vem, Kiddo. Eu te ajudo. – Cuidadosamente, ele levou Willa em sua posse.
- Willa? – Steve chamou com um leve alerta e Willa lhe lançou um olhar preocupado por sobre os ombros e Tony não parou, temendo que Ross voltasse atrás em sua decisão. Steve não proferiu nada audível, apenas moveu seus lábios num sussurro contido. – Fica calma.
Willa franziu o cenho, confusa com tal pedido. Ela só teve aquela reação exagerada por não saber onde diabos estava e claramente estar sendo arrastada por estranhos, com uma ferida dolorida em sua cabeça. Ela não planejava nenhum rompante. Não até ver Bucky.
Tony lhe guiava para deixar aquela região, acompanhados pelo trio de agentes armados, atentos e poucos amigáveis de Ross. Foi rápido demais para Willa conseguir administrar a sua reação. Agora ela compreendeu o pedido de Steve. Willa não conseguiu não reagir aquilo. Ela parou de caminhar, bruscamente. Bucky não conseguiu fugir. Ele estava contido numa espécie de prisão com bases de metal e vidros tão fortes quanto chumbo com uma faixa à frente, escrito D23. Com amarras contra seu tronco, Bucky não parecia nem um pouco aliviado. Para quem buscou fugir a todo custo, ali, ele parecia um animal acuado e crescentemente, apavorado. Os seus cabelos estavam caídos contra o seu rosto e ele estava extremamente atento aos movimentos dos agentes ao arredor de sua prisão. Com um olhar analítico, ele ergueu uma sobrancelha, movendo discretamente seu rosto e ele a encontrou, um pouco encoberta pelas pilastras e o metal de sua prisão. Seu semblante se transformou: antes focado, agora ele estava aliviado e subitamente, arrependimento. Por um instante, eles dividiram aquele momento, aquele silêncio, aquele instante e Willa podia jurar não ser capaz de respirar.
- Por qu... que ele está naquela coisa? – Willa questionou num suspiro a Tony e ele lhe impulsionou a seguir, mas ela parecia muito mais pesada do que ele recordava.
- Recomendações de Ross.
- Ele não é um animal. – Willa sussurrou para si, sentida e lançando um olhar duro sobre Ross que estava assinando alguns papeis na companhia de dois senhores. Alguns agentes cruzaram o caminho, carregando as asas do Falcão, sua katana e o escudo do capitão para compartimentos com logos do governo. Ela estava confusa. – Isso pertence a nós... Por que eles estão confiscando as nossas coisas?
- Willa, por favor. – Steve sussurrou, sabendo que apenas ela escutaria graças a sua audição aguçada e num piscar de olhos, ela lhe lançou um olhar e o capitão tinha os braços cruzados, escondendo a preocupação em seu semblante, mas seus olhos não mentiam. Tá, ficar calma. Ela respirou fundo. Aquilo era o que ele estava evitando o tempo todo e ele temia o pior – e a sua postura podia atrair esse pior.
Fairchild lançou um olhar para Bucky, enquanto ao fundo Sam resmungava para ninguém ousar usar suas asas. Os olhos de Willa se encheram de lágrimas com a sua imagem e Bucky meneou quase imperceptível a sua cabeça, movendo os seus lábios, sussurrando o nome dela. Willa engoliu em seco e fechando os olhos, reprimindo aquela emoção e obedecendo a Tony, ela seguiu o caminho indicado por ele. Só que o destino era curioso e eles passaram ao lado de Ross que fez questão de parar o que falava com Sharon, para lhe olhar e sem dar um motivo a ele, Willa apenas proferiu resoluta com um olhar ameaçador sobre o General:
- Bucky não é um animal.
Isso foi o bastante para Ross olhá-la com um novo interesse.
A caminhada pareceu bem mais longa do que o mapa indicava, Tony pensou. Podia ser sua ansiedade, mas o silêncio atípico de Willa estava lhe causando náuseas. Então, ele lutou para fazer conversa com Fairchild. Falou sobre a agilidade nos propulsores dos quinjet. Era admirável. De Bucareste a Berlin foram menos de meia hora. Incrível, não é? Willa nem o olhou. Tony informou que eles estavam em Berlin, na sede das Nações Unidas. Ela assentiu. Tony empertigou o corpo, respirando aliviado: ela estava viva.
Um enfermeiro se encontrava na pequena enfermaria do térreo. Prontamente, ele atendeu Willa, conferindo o ferimento, fazendo perguntas com um inglês pouco treinado e sem muita paciência, ela buscou ser o mais clara possível em suas respostas, para mostrar que estava bem, mas que também estava sem saco para responder uma tonelada de questões com três homens armados na entrada e Tony lhe observando inquisitivo. Ela não queria estar ali. Por Deus, se é que existia um, ela queria estar com Bucky!
O enfermeiro limpou o machucado, deu um pequeno ponto e colocou um esparadrapo fino nas pontas, recomendando repousar ali. Tony lhe informou que não seria possível, ordens do General Ross. O enfermeiro apenas assentiu, retirando-se da enfermaria, recebendo olhares inquisitivos dos agentes. Sem cerimônias, Tony gesticulou para Willa se manter sentada na maca. Obedecendo ao bilionário, ela assistiu ele ir até o lado de fora, com sua audição, ela escutou ele explicar as recomendações médicas e informar que Willa precisava de alguns minutos repousando, sem estresses, ou seja, sem homens armados a sua volta. É claro que eles não lhe obedeceram prontamente, mas depois de muita insistência, eles permitiram que a porta fosse fechada. Reparando nos olhares curiosos dos agentes pelas janelas, Tony arqueou as sobrancelhas e fechou a cortina privativa da maca.
- Como você está? – Tony soltou a pergunta, enfiando as mãos nos bolsos da calça de linho do seu fino terno.
- Não tem como ficar bem sem eu saber o que está acontecendo. Por que estamos aqui?
- Eu não tenho autorização para falar sobre isso. – Willa assentiu com um ar de quem não esperava uma atitude diferente. Então, Tony deu de ombros e sentou ao seu lado. – Ross quer prender vocês. Ele acredita que vocês não apenas conheciam o paradeiro de Barnes esse tempo todo, como foi o principal motivo para vocês terem partido do Complexo dos Vingadores após a apresentação do Acordo de Sokovia. E você, aparentemente não vai falar sobre, o que eu entendo... Você sempre foi muito mais apegada ao Steve do que a mim e eu não desejo que você o traia por causa dos meus lindos olhos castanhos, mas... Me escute e entenda o que está havendo: Ross tem provas o suficiente para levar vocês a julgamento por cumplicidade e pretende estrear o Raft com vocês. Eu estou tentando evitar isso. Steve pediu um advogado para Bucky e vocês-
- E o Bucky? Porque ele está naquela coisa, o que vai acontecer com ele?
- É um compartimento de contenção. Vidros a prova de bala, um bom metal de revestimento e tecnologia de ponta. Se ele tentar fugir, mil volts vão impedi-lo de pensar nisso novamente. – Willa engoliu em seco, fechando os seus olhos. – Eu consegui um acordo para ele. – Willa lhe lançou um olhar surpreso e curioso. – Ross quer tacá-lo no Raft sem perguntas, sem investigações, eu pedi a ele para, ao menos, ele ser analisado por um psicólogo, escolhido pelas Nações Unidas, antes de um julgamento. Eu me lembro do que o Steve me contou sobre ele, sobre ele mostrar se lembrar do passado... Eu acho, não... Eu não acho, eu tenho certeza que ele não é o monstro que o Ross pinta. Mas eu não vou poder fazer muito por ele. Agora está nas mãos do psicólogo.
- É melhor nós voltarmos, antes que esse tal de Ross em pessoa venha me buscar pelas orelhas.
- Willa... Eu estou tentando fazer o que eu acho ser o certo.
- É, todos estamos.
Tony suspirou, assentindo com veemência e ela não soube dizer se ele assentia pelas suas palavras ou os seus próprios pensamentos. Eles deixaram a enfermaria, acompanhados a distância pelos agentes e Willa estava com os seus sentidos aguçadissimos. Um passo em falso e ela olhava por sobre seus ombros. O caminho agora era outro. Antes eles estavam numa espécie de hangar com veículos, agora eles caminhavam por longos corredores com escritórios administrativos, evitando elevadores e escadas, Tony seguia por caminhos exclusivos dos funcionários. Eles estavam bem longe da entrada principal e Willa se deu conta disso ao adentrarem no Centro de segurança das Nações Unidas.
Ali havia uma equipe de segurança, um identificador de metais encravado ao chão, a pessoa teria que passar por ele, para ser averiguado, mas não escaparia de uma análise mais profunda, através de uma aparelhagem tecnológica nas mãos de um dos seguranças. Havia também uma máquina, quem passasse por ali devia deixar seus pertences numa caixa de plástico e liberá-los para passar na maquina.
Há alguns metros, atrás de portas de vidros e contidos por seguranças tinham dezenas de repórteres munidos com celulares, tablets e câmeras. Não era a toa que o prédio estava adulado de seguranças. Tony nem pensou em entrar na pequena fila de funcionários e visitantes. Ele abriu caminho para Willa passar na sua frente no aparelho e ele não apitou. Tony colocou o celular num compartimento de plástico e passou. Willa parecia uma sirene. Tudo era um sinal de alerta a ela. Ela confiava em Tony cegamente, mas naquele instante, ela tinha uma estranha sensação em seu coração. Ela se sentia observada. Igualzinho ao que ela sentiu naquelas vielas em Bucareste. Era como ter uma coceira que seus dedos não podem alcançar. E ela ficou insuportável ao parar no balcão da segurança. Atrás do balcão estava atrás do balcão, ocupados checando as credenciais de um homem de óculos de aros castanhos e suéter por sobre uma camisa social bem arrumada, no ombro uma bolsa carteiro. Ele era tranquilo como as ondas num lago. Novamente, Tony não teve cerimônias. Ele mostrou suas credenciais de visitante e o olhar inquisitivo sobre Willa lhe fez imediatamente explicar quem ela era. E foi quando Fairchild percebeu. O coração do homem vacilou, minimamente. Ela levantou os seus olhos para ele com uma ruga no cenho, buscando compreender o motivo para seu sobressalto. Ele lançou um cuidadoso olhar sobre ela e retornou sua atenção ao balcão. Antes que Willa pudesse ater sua atenção nele, Tony lhe guiou e ela não se conteve em segui-lo. Mas, não ousando desobedecer a sua curiosidade, por sobre seu ombro ela lançou um discreto olhar para o homem, analisando sua postura e admirando sua feição. Ele agradecia em alemão aos seguranças com um singelo sorriso, enquanto recolhia os seus documentos e pertences, até que inesperadamente os seus olhos castanhos encontraram Willa e por um instante, eles se encontraram magnetizados pela suas mutuas presenças.
- Ele parece ter gostado do que viu. – Tony não podia conter sua malicia, nem naquele particular instante de tensão. Na realidade, esse não podia ser melhor momento para tal comentário ser colocado em prática com o seu melhor sorriso.
Imediatamente Willa se recompôs, retornando sua atenção ao horizonte em sua caminhada ministrada por Tony e acompanhada pelos agentes.
- Ele é casado. – Willa retrucou desgostosa. Tony arqueou as sobrancelhas, ele não tinha visto um anel.
- Você parece decepcionada e, mesmo casado, ele não está morto. – Fairchild olhou inexpressiva para Stark e revirou os olhos, suspeitando que eles cairiam no chão.
- Você sabe quem é ele? – Willa sussurrou tal pergunta a Stark. Eles seguiram até alcançar duas largas portas metálicas, onde um dos agentes tomou a frente com um cartão de segurança. Passando num compartimento e digitando rapidamente uma senha, as pesadas portas abriram, revelando o centro de segurança das Nações Unidas. Alguns olhares curiosos e alertas atingiram a dupla e finalmente, os agentes pararam de seguirem eles como sombras. A cada canto tinha uma televisão de plasma reportando telejornais e algumas, mostravam câmeras ao vivo de onde Bucky estava confinado. O estômago de Willa embrulhou. O centro de segurança era uma ampla sala, com diversas mesas comportando computadores e telefones, todos comandados por agentes. Ao menos, três salas de reuniões se encontravam ali no centro, todas com paredes de vidros, televisões e longas mesas para comportar muitas pessoas.
- Quer o telefone dele? – Tony rebateu debochado e Willa não conteve um olhar emburrado a Stark.
- Eu pareço desesperada a esse ponto? – Ela retrucou bicuda.
- Nós estamos jogando Perguntas? – Tony parou de caminhar, lançando a ela um olhar conflitante.
- Só perguntei por que hoje não parece ser dia de visitação nas Nações Unidas. – Willa buscou explicar suas intenções e conhecendo Tony, ela sabia que ele pescaria a sua preocupação ou ao menos, curiosidade, então para que embromações? - Ele parece ser importante. – Ela jogou verde, olhando para trás de Tony, vislumbrando Sam e Steve numa das salas de reunião.
- Ele deve ser o psicólogo do Barnes. – Stark sussurrou tal revelação, repousando delicadamente sua mão sobre o ombro de Fairchild.
- Tão rápido? – Willa proferiu o sussurro em conflito, enquanto ele lhe guiava para a sala de reuniões onde o Capitão e o Falcão se encontravam copenetrados em uma conversa.
- Qual parte do ‘Ross quer enfiar o Barnes no Raft o quanto antes’ você não entendeu? – Tony resmungou com deboche, lançando um olhar discreto por sobre os ombros, quando eles passaram por Natasha Romanoff em seu tailleur e olhar sisudo sobre a dupla e não muito distante, aquele homem desconhecido sentado numa das cadeira, cercado por seguranças, levantou seus olhos do celular, apenas para olhá-los e com pouco caso, retornou sua atenção ao celular.
- E quem é o geração Twitter ali? – Willa questionou, apontando com sua cabeça para o homem que se deu conta que ela mencionara ele a Stark e subitamente, mostrou curiosidade.
- Você precisa assistir mais televisão. – Tony retrucou, passando por entre alguns agentes e abrindo caminho para Willa passar.
- Eu não consigo assistir ao telejornal, entre salvar o mundo e colocar minhas séries em dia, você sabe onde bem as minhas preferências penderão. – Sua resposta bem humorada arrancou uma risada seca de Tony que não demorou a se perder.
Sua mão estava firme na maçaneta de metal, pronto para abrir a porta, mas ele reteve tal ação, retornando seu olhar analítico sobre Willa.
- Ele é a Vossa Alteza de Wakanda, T’Challa. Também conhecido como Pantera Negra. É uma longa história...
- E porque ele está aqui? O que ele tem haver com tudo isso?
- O pai dele está entre as vitimas do atentado em Viena, causado por Bucky. – Willa abaixou seu rosto, franzindo o cenho pensativa. - Ele foi atrás do Bucky, para acertar as contas. Mas os agentes chegaram a tempo de evitar... – Tony se calou abruptamente.
Willa reparou Ross caminhando pelo centro de segurança, acompanhado de Sharon. Arqueando uma sobrancelha, Fairchild lançou um olhar firme sobre Tony, decidida a adentrar na sala de reunião, mas subindo um degrau por vez...
- Não foi ele. – Willa sussurrou discreta e seriamente próximo ao ouvido de Tony, recebendo um olhar inquisidor de Stark. – Ele não cometeu esse atentado.
- E você supõe isso...? – Ele sussurrou tal pergunta, buscando a fonte de tal confissão.
- Eu tenho certeza. – Ela respondeu resoluta.
- Como?
Willa comprimiu os lábios e moveu os ombros sugestivamente, reprimindo a sua postura e palavras. Tony sustentou o seu olhar, porem respirou fundo e permitiu que ela cruzasse a linha tênue entre ele e a sala de reunião.
Willa entrou na sala, sob os olhares atentos de Steve e Sam. Ambos se dividiram entre perguntas preocupadas sobre o seu bem estar e ela os tranquilizou sobre seu estado. Não querendo se aprofundar na questão, Steve percebeu o olhar preocupado e questionador de Stark sobre Willa. Estranhando aquilo, ele resolveu que era o momento adequado para eles terem aquela conversa que tanto estavam evitando. Assim, ele pediu licença e deixou a sala de reunião. Fechou a porta atrás de si e Willa não soube o que Rogers dissera, mas Tony assentiu e os homens seguiram para uma sala privada.
Sam lançou um olhar preocupado a Willa e ela encolheu os ombros, largando o seu corpo na cadeira acolchoada. Seus olhos passearam pela sala, até encontrar a televisão ao lado de fora, bem a frente da sala de reunião, e Bucky em foco na sua prisão particular, sendo monitorado minimamente. Fairchild engoliu em seco, apoiando os cotovelos na mesa de mogno, assistindo cada detalhe de Bucky através daquela televisão. Ela reprimiu um silvo, abaixando a cabeça e apoiando as suas mãos em seu rosto.
Sam descruzou os seus braços, respirando pesadamente. Ele largou o seu corpo na poltrona e olhou a amiga, franzindo seu cenho com comoção ao vê-la tão frágil. Ele não lembrava se já havia lhe visto assim antes e sabia que não tardaria o dia em que ela se entregaria as suas emoções. Ela guardava muito para si. Um dia, todos esses sentimentos precisam irromper de seu coração. Ele só não esperava que lhe doesse tanto assim e que também doesse nele. Repousou gentilmente o seu braço sobre o ombro dela, trazendo-lhe para perto de si carinhosamente. Sem mascarar suas emoções, Willa assentiu, respirando fundo e levantando seu rosto, lançando um olhar a Sam. Ele lhe questionou se ela estava bem, se precisava de algo, como água ou chutar algumas bundas. Ela sorriu e esse era o sorriso que lhe garantia que ela ficaria bem novamente. Apenas meneando a cabeça em negativa, Willa pediu que ele relatasse breve e direto o que ela havia perdido entre o desmaio até aquele instante. E foi muita, muita coisa. Entre a chegada do Pantera Negra, ele levando uma rajada de tiros de um helicóptero e não levando nem um risco de bala, o Maquina de Combate prendendo o trio num túnel em Bucareste, e é claro a sensível captura das asas do Falcão. Willa tinha outras prioridades.
Steve interrompeu o clima recentemente instaurado pelos amigos com o peso por sobre os seus ombros e um olhar consternado. Contudo, ele não teve tempo de dividir a sua conversa com Tony, pois a consulta com o psicólogo foi iniciada pontualmente.
- Ola, Sr Barnes. Fui enviado pelas Nações Unidas para avaliar você. Você se importa se eu me sentar? Seu primeiro nome é James?
Aquela sensação incomoda lhe acometeu. Novamente. O sotaque carregado do médico fez Willa arquear uma sobrancelha.
- O recibo do seu equipamento.
- Obrigado.
Sharon entrou na sala de reunião, entregando um papel a Sam, ela trocou um olhar significativo com Willa e discretamente, olhou a sala de reuniões, seus equipamentos e apetrechos.
- Fantasia de pássaro? – Sam resmungou descrente. – Qual é?
- Eu não escrevi isso. – Sharon respondeu tirando o dela da linha e entregando a Willa um papel contendo os dados de sua katana. Ela fez pouco caso, buscando atenção para ouvir o som da televisão ao lado de fora.
Ela continuava inquieta, olhando por sobre os ombros como se estivesse planejando algo proibido. Então, discretamente, ela parou ao lado de Willa e singelamente apertou um botão no painel de controle na mesa, destravando a restrição e ligando o áudio e vídeo da transmissão da avaliação de Bucky na televisão. Steve olhou por sobre o ombro, surpreso por sua postura e também grato, mas disfarçou as suas intenções. Sam tomou atenção na televisão, enquanto Willa se manteve atenta às perguntas do psicólogo. Não conseguindo mais conter a sua inquietude, ficou de pé, caminhando pela sala, até alcançar a porta batucando os dedos sob a coxa.
- Você sabe onde está, James? – O psicólogo questionou sem alterar o seu tom de voz, mas ele mostrou estar começando a ficar cercado ali. - Eu não posso ajudá-lo, se você não falar comigo, James.
Por que ele não lhe respondia? Willa se questionou, mordiscando os lábios.
Então, ela escutou Bucky e seus olhos encontraram o seu rosto na televisão; a sua voz baixa e rouca buscava a inexpressão. Ela o conhecia: ele estava desconfiado, alerta, perturbado. O quarteto não produziu um pio.
- Meu nome é Bucky. – Ele proferiu resoluto e Willa trocou um olhar com Steve: preocupado, comovido, sentido.
Aquelas quatro palavras significavam tanto para eles.
- Por que a força tarefa liberaria essa foto na mídia? – Steve caminhou pela sala de reunião, deixando seus dedos folhear o arquivo com as fotos de Bucky deixando as Nações Unidas horas antes do ataque. Sua pergunta deixou seus lábios após pensar momentaneamente. Fairchild franziu o cenho, incomodada pelos sons de suas vozes lhe distraindo da televisão.
- Para divulgarem e conseguirem o máximo de testemunhas? – Sharon respondeu didaticamente.
- Certo. É uma forma de tirar um cara do esconderijo. Detonar uma bomba, tirar uma foto. 7 bilhões de pessoas procurando o soldado invernal. – Steve comentou cruzando os braços, enquanto Willa caminhou alguns passos, à frente, olhando dele a televisão. – Alguém o incriminou para encontrá-lo.
- Bucky desconfiou disso. – Willa proferiu, relembrando de sua conversa no beco.
- Nós procuramos ele por dois anos e não encontramos, Steve. – Sam o lembrou, arqueando as sobrancelhas.
- Não bombardeamos a ONU. Isso chamaria atenção.
- Isso não garante que quem o incriminou chegaria até ele, mas nós chegaríamos. – Sharon respondeu e então, as palavras fizeram sentido em seus lábios e ela semicerrou seus olhos. Sam parecia confuso com aquela linha de raciocínio e subitamente Steve parecia ter compreendido o que acontecia.
- Como também, quem planejou isso, não esperava você estar com ele.
- Sim. – A câmera focou na mesa do psicólogo. Willa se aproximou um pouco da televisão. Suas costas arqueadas por sobre a mesa, ele não parecia confortável em sua cadeira, com as pernas afastadas. Com os cotovelos sobre a mesa e um lápis na primeira linha, ele começou a fazer anotações. Era canhoto, como Willa percebeu, como também ela notou sua coxa direita batucar embaixo da mesa. Ele estava... inquieto. - Diga-me, Bucky, você já passou por muita coisa, não é?
- Eu não quero falar sobre isso.
- Você sente que se falar dos horrores, eles podem nunca mais parar. Não se preocupe. Só temos que falar sobre um.
- O que? – Willa sussurrou arqueando uma sobrancelha, confusa.
E então aconteceu. As luzes se apagaram num estouro. A comoção foi espontânea e assustadora. Os alarmes foram acionados com seus lampejos em vermelho e ressoaram ensurdecedoramente e Willa precisou de alguns segundos para lutar contra aquele ruído insuportável, entre um grunhido e um desejo de quebrar uma cadeira na cabeça.
- Ótimo. – Ross resmungou no centro de comando. – Vamos lá, pessoal. Fiquem de olho no Barnes. Vão. – Ele ordenou aos seus agentes.
As poucas luzes de emergência não serviam para absolutamente nada, mas por sorte, Willa fora domada a viver na escuridão e não demorou ao alcançar o antebraço de Steve, para lhe guiar.
Isso não era nada bom. Willa trocou um discreto olhar com Carter e inclinou seu rosto, num pedido silencioso de ajuda. E por sorte, naquele distinto instante, Sharon pensava como Fairchild: Havia algo de podre em Berlim. Steve se virou, pouco conseguindo ver das feições de Sharon e dos seus amigos, mas era o bastante para ele saber o que eles sentiam e o que eles pretendiam.
- Subnível 5, ala leste. – Sharon sussurrou com urgência.
Steve não perdeu um segundo. Willa puxou seu antebraço e assistiu Sam levantar da cadeira imediatamente. Na sala de reunião, Sharon ficou, torcendo por eles e por ter tomado a decisão certa. Enquanto isso, calmo e tranquilo, T’Challa afastou seus olhos do celular, percebendo o que acontecia na sala de reunião e assistiu-os correr pelo corredor ao seu lado, em direção ao subnível. Em resgate a Bucky.
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