INTERLÚDIO I
H.K, 13 de agosto de 2016
Carta enviada para Grant Rogers, Sir para uma caixa postal em Boston, E.U.A.
H.K, 13 de agosto de 2016
Olá.
Tudo está bem.
Mas, às vezes, eu me pego precisando me lembrar disso.
Está se tornando algo corriqueiro, sabe?
Me pego respirando fundo e buscando por algo que eu não sei bem o que é.
Não estou vivendo refugiada na Casta minha casa. Eu saio, visito bibliotecas, tomo café em pequenas cafeterias, curto o sol, sento em bancos de parque e assisto as crianças e suas brincadeiras e me pergunto quando perdi essa ingenuidade. Sabe, às vezes, me dou ao luxo de dar aulas de inglês ou lutas marciais para chineses afeiçoados por nossa cultura. É bom, conversar com novas pessoas, ganhar uns trocadinhos... Não que eu precise, é só bom saber que posso me misturar.
Você entende isso.
Sinto esse constante nó em minha garganta. Já culpei as saudades, mas não é. Saudades tem um gosto diferente nos meus lábios. Também não é a solidão. Constantemente sou visitada por Piet e a sua energia. E eu sou grata por isso. Sou grata pela gratidão em sua presença. Sou mesmo, se ele soubesse como os meus dias melhoram com sua presença... Eu me sinto alegre com ele. Mas também, me sinto em constante alerta; não é fácil estar com ele. Não como era antes. Não sei te explicar o conflito que vivo agora.
Piet é... Ele é o tipo de pessoa fácil de gostar, de se estar, e isso tudo seria fácil se ele não tivesse morrido, mas agora...
Como se tira alguém do seu coração? Não se tira. Você me responderia isso e ainda completaria: Nós acomodamos essa pessoa confortavelmente num outro cômodo, menor, mas ainda arejado e bem cuidado, mas o melhor espaço, entregamos a um novo inquilino, que precisa daquele lar e cuidará bem dele. Só precisamos acreditar.
Eu não me pergunto mais quando verei ele novamente, o James, mas se algum dia...
Isso significa algo, não é?
Eu preciso constantemente me lembrar que essa foi a escolha dele, e só Deus sabe o quanto ele merece tamanho direito, mas não consigo deixar de repassar o que ele me disse, antes de retornar ao Cryo.
Parece uma lembrança masoquista brincando com minha mente. Ora me sinto sortuda por ele ter me dado o direito de me despedir e ter a oportunidade de seguir sem ele, ora quero ir para Wakanda, quebrar aquele Cryo com os meus punhos e falar uns trezentos discursos ensaiados na minha solidão, após a sua partida sobre porque essa decisão é tão idiota. É só uma vontade. É claro que eu não farei isso.
Eu me sinto tão incapaz. Pesquiso e repesquiso e não encontro sequer um caminho que me traga esperança de que conseguiremos quebrar esse gatilho.
Tudo bem, só passou dois meses e alguns dias, mas... Odeio essa incerteza. Estou acostumada a inércia. Estou acostumada a esperar e ter paciência. Agora viver na expectativa dessa incerteza certa?
No mais, eu estou bem.
Às vezes tenho essa sensação desconfortável, de olhos me vigiando, mas não tem ninguém, sabe?
Me sinto perseguida por uma sombra que não existe. Sinto que me falta algo, um motivo para mim.
Deve ser o meu espírito samurai buscando por uma missão.
Ou, talvez seja apenas eu sentindo falta da nossa conexão.
Sinto sua falta.
Sua irmã,
W.
P.S: Estou te enviando esse cd do Hurts, Exile. Encontrei num brechó, comprei, ouvi e lembrei de você. O nosso amigo falcão reclamaria do meu gosto indie, mas eu sei que ele gostaria também. Mande para ele depois!
Saudades dos meus garotos xx
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.