São noves horas da manhã de uma quarta-feira. Eu sei que não faz muito sentido mas estou pensando sobre a letra "B" enquanto misturo minha comida no prato.
Uma palavra com a letra B: baderna.
Sinônimos de baderna: bagunça; desordem; universidade a qual curso astronomia; confusão e etc.
Não costumo pular as refeições, mesmo que não coma muito, o almoço é importante para mim. Gosto de almoçar enquanto assisto algum episódio aleatório de "The Big Bang Theory". No entanto, é impossível fazer isso no refeitório da universidade, porque os alunos são barulhentos demais.
Uma coisa que preciso dizer, é que a biblioteca principal é o meu lugar favorito nesta universidade, e é uma pena não poder almoçar lá, porque obviamente é proibido. Eu poderia almoçar no campus, não é má idéia, mas sinto meu corpo sedentário doer só de me imaginar saindo do refeitório para caminhar até lá.
Acabo de perceber que eu enxergo muito o problema nas coisas, e que não faço nenhum esforço por mim mesmo. Talvez isso me ferre bastante em um futuro não tão distante.
Quem exatamente estou tentando enganar? Não dou a mínima para tudo isso, a verdade é que estou pensando em ninguém menos que Jeon Jungkook.
Sobre ele e eu, bem, não existe. O que posso dizer é que passaram-se dois dias desde o ocorrido na biblioteca, e nesse período de dois dias, eu não tive mais nenhum contato com ele. Contudo, meus últimos pensamentos o pertence, porque eu simplesmente não consegui tirá-lo da cabeça desde então.
Cheguei a vê-lo com seus amigos e Lee Jieun, sua linda e perfeita namorada. Jungkook não me viu em nenhum momento, mas não é que isso seja algo fora do normal. De toda forma, devo ficar feliz, pelo menos não me sinto na obrigação de ir à festa organizada por ele. E falando nesta festa, pedi a Hoseok que tentasse não insistir mais nesse assunto, porque realmente não pretendo ir.
Diferente de mim, Hoseok se aproximou bastante de Jungkook, e eles vêm se falando quando não estou por perto. Sei disso porque o próprio Hoseok me contou, somos melhores amigos, afinal. Não chego a ficar perguntando sobre o que eles tanto conversam, mas é claro que ouço com atenção quando Hoseok, por vontade própria, começa a falar.
Bem, houve um dia em que Hoseok começou a falar, foi então que descobri que o sonho de Jungkook era na verdade cursar música. Sempre soube que ele cursava direito, mas o que direito tem a ver com música? São cursos complemente distintos. Nunca passou pela minha cabeça que ele possa gostar de cantar, ou sei lá, dançar. Será que ele dança?
Meu Deus, eu não posso pensar a respeito disso. É muito para absorver!
Porém, é inevitável, pego-me pensando sobre o quão sortuda Lee Jieun é, por ganhar melodias de Jungkook, que certamente deve cantar para ela em momentos propícios. Eu pagaria muito para vê-lo cantando, quem sabe dançando também, ou os dois de uma vez só.
Talvez eu realmente deva parar de ter esse tipo de pensamento.
Retirei meus fones e pude ouvir que a maioria dos universitários conversavam sobre a tal festa que aconteceria na noite de sexta-feira. Parece que todos, menos eu, irão a esta festa. Não me acho melhor que ninguém por preferir passar uma sexta em casa, lendo um livro ou assistindo algum filme de época. Na realidade, estou ciente de que, para um garoto que está "vivendo" o auge da adolescência, isso é bem deprimente.
Sei reconhecer minha decadência, e assumo porque gostaria de ser uma pessoa mais sociável, que tem facilidade em iniciar uma conversa sem ficar sentindo que absorveu todo o nervosismo das pessoas da terra para o próprio corpo. É como eu me sinto sempre que tento falar com qualquer pessoa que não seja o Hoseok, ou minha mãe.
Resumindo tudo, eu gostaria de ir à festas organizadas por pessoas da minha idade, me divertir com elas como uma pessoa normal. Enquanto não descubro uma maneira de ser assim, ficarei em casa.
- Posso me sentar com você? - não preciso olhar para saber quem é. Eu consegui memorizar a voz de Jungkook melhor do que gostaria, e antes que consiga responder algo, Jungkook já está sentado no banco.
Ao meu lado.
Isso está mesmo acontecendo? Jeon Jungkook veio sentar comigo por pura, livre e espontânea vontade? Okay... Claro que fiquei nervoso, mas desta vez não quero parecer um idiota, por isso, me esforço a dizer algo:
- Oi, Jeon Jungkook.
Arrisco olhá-lo, e a primeira coisa nele que ganha toda a minha atenção são seus olhos; grandes, bonitos, admiráveis. Sou obrigado a desviar no mesmo instante, porque aparentemente há algo no olhar dele que me prende sem que eu ao menos possa perceber que estou encarando-o demais.
- Você acreditaria se eu dissesse que é a primeira pessoa a me chamar pelos dois nomes? Normalmente me chamam só de Jungkook.
- Acho que sim... - minha voz sai quase pausada, e eu me xingo por isso.
Pisquei fortemente os olhos, dizendo a mim mesmo que está tudo bem. Certo, eu posso fazer isso. Só preciso agir como eu mesmo.
- Por acaso é algum costume, hm... você gosta de chamar as pessoas pelos dois nomes?
Sabe aquele momento em que seu cérebro faz uma pausa de repente? Não no sentido literal, claro. É como um aviso prévio de que você receberá um toque do universo nos próximos cinco segundos.
Acontece amigo.
Meu rosto inclina levemente para lado e, BOOM: não está nada bem.
Há algo muito errado acontecendo aqui, pelo simples fato de o garoto que gosto está puxando assunto comigo na maior naturalidade. Me fazendo companhia no almoço por pura, livre e espontânea vontade? Como isso foi acontecer? Preciso de alguns minutos para encontrar as respostas.
E novamente, a quem quero enganar? É impossível agir como eu mesmo. Não quando Jungkook entra em questão. Meu olhos estão bem abertos, minha boca está seca, uma expressão que se for analisada por um alguém do lado de fora dessa "bolha" entre ele e eu, diria que eu estou quase entrando em colapso.
E o motivo disso? Imagine-me respondendo a pergunta dele com sinceridade, dizendo que gosto da forma como seu nome soa ao sair pela minha boca. Ele se assustaria se eu confessasse que poderia passar horas repetindo "Jeon Jungkook" "Jeon Jungkook" "Jeon Jungkook"?
Conseguiu imaginar? Eu também. Por isso estou nervoso e quente.
- S-sim, é um costume.
- Gosto disso. - ele sorri enquanto me olha.
Se aproximou devagar, como quem não queria nada. Arriscaria dizer que ele se aproximou disfarçadamente, só para sorrir e me olhar de perto. Não... Talvez seja apenas coisa da minha cabeça. Sempre foi um feitio idealizar tudo como do meu agrado, deste modo, é provável que jungkook se aproximou por qualquer outro motivo. Só que então, com a voz baixinha, ele simplesmente diz:
- Suas bochechas ficam vermelhas facilmente.
Assim como da última vez, Jungkook abaixou a cabeça rente ao meu rosto e procurou pelo meu olhar. Ele não só o acha, mas como também o ganha. E não está nada bem! Jungkook me encara. Ele me encara com esses grandes, bonitos e admiráveis olhos
Pedi a Hoseok que me deixasse sozinho hoje, porque a cada dez frases que ele elaborava, nove envolvia a palavra "festa", o que acabou me irritando. O jogo certamente virou. Neste momento, eu rezo para que ele apareça.
Espera, eu preciso responder algo. Por que não consigo?
- Hoseok me contou que você não quer ir à festa.
O tom da voz dele soa completamente diferente agora. De um segundo para o outro, Jungkook torna entre nós o clima antes tenso a algo mais descontraído. É impressionantemente fascinante a forma como ele faz isso tão rápido. Tão rápido que nunca vou conseguir compreender o que ele quis dizer ao falar sobre minhas bochechas.
Droga, Jung Hoseok!
- Ele contou, foi? Bem...
- Quero muito que você vá. - ele me interrompe.
Por quê? Qual a diferença se eu for ou não?
- Oh... - eu começo. E então...
- Jungkook, eu estava te procurando!
E então Lee Ji Eun chega. Ela avança nos lábios de Jungkook antes que ele consiga racionar e responder algo, mas ele corresponde. É claro que ele corresponderia. São namorados e se amam.
Infelizmente, mesmo sem querer, sou obrigado a presenciar uma enrolação de línguas e mordidas. Posso ver em câmera lenta o momento em que Jungkook desliza uma das mãos até a cintura dela.
Não é nada novo, já tive o desprazer de vê-los assim outras vezes. Só que, de alguma forma, isso parece mexer comigo como nunca antes. E é aí que eu não quero ver mais nada. Quero sair deste banco e, posteriormente, deste refeitório o mais rápido possível. Deixei a bandeja no canto e guardei na mochila os livros que estavam sobre a mesa.
Posso sentir meu rosto se contorcendo enquanto faço esforço para me levantar. Mas eu continuo estático, com a respiração pesada e com as mãos suando. Eu quero xingá-los e dizer que aquilo foi a maior falta de respeito, e então eu seria denominado como a pessoa mais deprimente da universidade. Como um adolescente super reprimido, porque aquilo não é nada mais que duas pessoas que se amam, trocando carinho e afeto.
Ainda assim, não é algo que eu concordaria.
Eu consigo tirar a primeira perna para fora do banco, e coloco a mochila em minhas costas enquanto tiro a outra. E finalmente estou de pé, caminhando para fora deste lugar.
⁂
"...Eu te amo. Você me ama."
Relaxei meus ombros e suspirei. Estava sentado na beira da cama, assistindo a uma série norueguesa.
- Eu vou vomitar se você não tirar essa merda.
Ah, Hoseok está aqui. Ele decidiu que eu iria ajudá-lo a escolher suas vestimentas para a festa. Depois de tantos anos de amizade, acho que ele ainda não entendeu que não sou muito bom no quesito "looks conceituais".
É só olhar para mim: o suéter que uso durante a semana toda está tão surrado que até mudou de cor. Sério, ele era azul, agora está cinza. Sobre meu all star... coitado! Há anos não sabe o que é uma lavagem, tão desgastado que é impossível identificar sua verdadeira cor. Preto ou verde? Ninguém saberia dizer.
Vi Hoseok tirar uma pilha de roupas da mochila e colocando-as em cima da cama. Ignorei sua fala, porque é o que faço de melhor, e voltei minha atenção para a série.
"...Diga que devemos ficar juntos."
- Nossa que... Hoseok!
Sim, ele alcançou o controle e simplesmente desligou a televisão.
- Que baboseira, sério. Quantas vezes você assistiu Skam?
- Uma. Duas, já que estou revendo.
- Vou te dizer quantas vezes - ele balança a cabeça. - Só nesse mês, você assistiu Skam cinquenta vezes, Park Jimin.
- Tsc.
- Não faz "Tsc", seu merdinha. Preciso que me ajude! - choramingou dramaticamente. - Não sei qual roupa usar.
- Por isso trouxe o guarda-roupa inteiro na mochila? - apontei para as várias de suas roupas espalhadas pela minha cama.
Me levantei da cama fui até onde ele estava, pude ver seu sorriso convencido, mas o sorriso se desmanchou quando tomei o controle de suas mãos e voltei a ligar a televisão. Feito isso, voltei para cima da cama e me cobri dos pés até o queixo com o edredom macio e quente. Nada melhor do que passar uma noite de sexta-feira assim.
Hoseok, super revoltado, se jogou em cima do meu corpo e me abraçou.
- Não faz isso com você, por favor. - ele diz, e eu já sabia a que se referia.
Tinha contado sobre o meu curto momento com o Jungkook, o que não saía da minha cabeça desde então. Minha interação com ele na biblioteca foi tão rápida que, para mim, era certeza não nos falarmos novamente. Ele fez amizade com Hoseok, mas não quis procurar por mim. Estive certo disso até certo tempo, só que então, de forma repentina, ele senta do meu lado e puxa assunto. Pior, ele diz querer muito me ver em sua festa.
Descobri que é difícil desvendar o que Jungkook quer. É muito difícil.
- Por que ele me atrai tanto? - pergunto a Hoseok, que fazia um cafuné em meus cabelos enquanto olhava-me nos olhos. - Sentir atração em alguém compromissado me torna uma má pessoa? - Hoseok balança a cabeça negativamente diante de minha pergunta. - Por que não?
- Porque você não faz por querer, e porque eu sei que nunca teria coragem de fazer algo para separá-los - ele diz, sorrindo. - Mesmo gostando muito dele.
- Eu não gosto muito dele - enfatizo. - Eu só acho seu nome muito bonito, e gosto como os fios pretos de seus cabelos caiem sobre sua testa. Acho atraente que seu lábio superior seja fino, quando o inferior é mais cheinho. - começo a falar, sem perceber que estou olhando para um ponto fixo de meu quarto, enquanto penso sobre cada detalhe de Jeon Jungkook. - Acho linda e delicada a pinta que ele tem bem abaixo de sua boca, às vezes me pego imaginando como seria beijar bem ali... Bem naquela pintinha. Recentemente descobri que vivem várias pequenas estrelas em seus olhos, que são grandes e parecem querer dizer muita coisa, através deles. O problema é que eu ainda não consegui decifrar.
Eu finalizo e respiro fundo, soltando o ar que sequer notei ter prendido. Hoseok minha olhava com as sobrancelhas erguidas e um sorriso ladino.
- O quê? - pergunto, estranhando suas expressões.
- Ainda pergunta? Você, Jimin, está apaixonado pelo Jungkook.
- Deixa de ser idiota, Hobi - eu rio. - Não estou apaixonado.
- Ah, você está, sim! - ele reafirma. - E muito.
- Já te falei sobre o que sinto por Jungkook, Hobi, se chama atração - eu o lembro. - Estou trabalhando em por um fim nessa atração toda, porque como você mesmo disse, eu não posso fazer isso comigo. Não posso viver gostando de uma pessoa que... - as próximas palavras estão no topo da minha garganta, prontas para serem proferidas. Mas parece que tudo se tornou difícil de dizer, porque, infelizmente, é o que me deprime. - Enfim... ele a ama.
É meio amargo dizer isso. E embora seja errado me sentir assim, não posso evitar. Acabo perdendo a vontade de terminar o episódio de Skam, então desligo a televisão e me volta a Hoseok. Percebi que ele preferiu se manter calado, e é melhor assim. Diante desta situação a qual eu mesmo me coloquei, não há nada que possa ser dito e nada que possa ser feito.
Se eu entrei nela, somente eu poderei me tirar. E terei de fazer isso sozinho.
O primeiro passo será esquecer que gosto da forma como Jungkook abaixa sua cabeça para procurar meu olhar. Depois, terei de esquecer sobre o que senti em relação a ele me querer em sua festa, pois isto foi o que mais me deixou intrigado. E, por fim, esquecerei as estrelas que vivem em seus olhos, que são tão gigantes e que me atrai.
Está é minha nova meta: esquecer Jeon Jungkook e todos os seus detalhes.
- Vamos - me livrei dos braços de Hoseok e sentei na cama. - Meu melhor amigo tem uma festa para ir, e ele precisa ser o mais bonito de todos.
- Não vou mais - agora é ele quem está todo coberto pelo meu edredom. - Vou ficar aqui com você. Vem - Hoseok liga a televisão. -, vamos assistir essa série idiota. Podemos ver os filmes clichês que você gosta, o que acha?
- Faria isso por mim? - pergunto, sorrindo para ele.
- Você sabe que sim. - ele lia as sinopses dos filmes de romance que havia na minha lista.
- Sim... eu sei que ficaria.
Eu realmente gostaria que ele ficasse, seria mais uma das noites adentro que passamos assistindo a filmes, ou falando sobre algo que esquecemos de contar um ao outro. Não importa, tudo o que fazemos juntos é sempre bom e memorável. Porém, não posso aceitar que ele deixe de se divertir para ficar comigo.
- Você vai a essa festa, e irá se divertir por nós dois.
- Mas, não...
- Você vem falando dessa festa desde o dia em que anunciaram sobre ela no mural da universidade. Hoseok, por favor, levanta dessa cama, me deixe te ajudar com suas roupas e vá. Ou eu vou ficar chateado com você.
- Tem certeza?
- Sim, eu tenho.
Comecei a separar algumas peças de roupas, enquanto Hoseok se levantava da cama e ia até o banheiro do meu quarto. Quando ele voltou, eu já havia separado as que mais achei que combinaria, e havia dobrado as outras.
- Demorou.
- Escovei meus dentes três vezes.
- Pra que isso? - minha risada foi inevitável. - Você pretende beijar ele?
- Óbvio? O Yoongi é tão lindo que eu quero passar as próximas quatro horas beijando ele.
Hoseok começou a tirar as roupas que usava, ficando completamente nu em minha frente. Posso dizer que isso se chama anos de amizade; uma intimidade sem igual. Ele vestiu primeiro uma cueca box preta e depois colocou o short de cetim da cor amarelo claro, sendo branco somente nas bordas. Ele deixou por último o moletom preto, que era estampado por um único e enorme emoji de carinha feliz, bem na parte da frente.
- Você sempre me salvando. - ele diz, olhando o próprio reflexo no espelho.
- Sempre quando? Incrível como tudo fica perfeito em você - me aproximei, o analisando de cima abaixo. - Essas roupas roupas estão pedindo um Nike.
-Sempre, sempre. E All star combina com tudo. - começou a colocar alguns acessórios, como anéis e cordões.
Hoseok é extravagante, o tipo de pessoa que não sai de casa para não ser lembrado de alguma maneira.
- Sim, eu sei. Mas ainda sugiro que você use este - mostro a ele um sapato da Nike que não costumo usar muito.
- Branco e vermelho? Acha que combina?
- Confie em mim. Quem está sempre te salvando? - com isso, ele calçou os sapatos.
- Acha que o Yoongi vai querer me beijar?
- Beijar, casar, ter filhos... - eu brinco, e Hoseok franze o nariz
- Filhos não - ele diz, rindo também. - A não ser que sejam dois filhotes de gatinhos.
- Isso! - concordo com ele. - Se casem e adotem um casal de gatinhos fofos.
Hoseok deixou um beijo em cada lado das minhas bochechas: - Eu amo você. Sei que não será nada fácil para ti, mas saiba que eu apoio sua decisão de esquecer o Jungkook.
- Hm. - tudo o que faço é engolir em seco, não estava esperando por essa mudança de assunto.
- Não quero ver meu melhor amigo machucado por causa de um sentimento não correspondido - ele me segura os ombros. - Você sabe, né?
- Hobi... Eu sei - eu rio de forma descontraída, demonstrando que estou bem. - Te amo, okay? - devolvendo o ato de carinho, beijei suas bochechas. - Não faça absolutamente nada do que eu não faria, ou seja, nada de transar nesses quartos de desconhecidos! Nada de exagerar na bebida - fui empurrando ele até a porta de entrada. Passamos pela minha mãe, que assistia no sofá da sala de estar. - Deixa eu ver... - fiquei pensando se não estava esquecendo mais nada. - Não aceite bebidas de estranhos, hm... Não transe...
- Você já disse isso.
- Eu disse? Pois bem, não transe!
- Pode transar sim, Hoseok. - ouvimos minha mãe dizer, e eu a olhei, incrédulo. - O quê? Veja a cara dele, Jimin, é óbvio que ele vai transar.
Voltei minha atenção para Hoseok, vendo-o erguer os ombros enquanto dava um daqueles sorrisos de quem iria aprontar.
- Hobi, por favor, apenas me prometa que irá se proteger.
- Eu prometo, mas só se... Se você prometer que vai se esforçar para esquecê-lo. - falou, e eu fiz uma careta.
- Hoseok...
- Promete? - me mostrou seu mindinho.
Confesso que hesitei, mas era isso, eu não tinha escolha.
- Prometo!
- Então eu prometo me proteger - sorriu. - Agora preciso ir, tchau e tchau. - me abraçou rapidamente antes de ir embora.
Fechei a porta, mas não consegui sair do lugar. Todas as palavras de Hoseok sobre Jungkook ainda gritavam em minha mente. É nessas horas que eu queria que tudo parasse por um momento. Eu queria poder sentir a sensação do silêncio absoluto por, pelo menos, dois míseros minutos. Já seria o suficiente para me manter calmo. Mas isso é impossível de acontecer, eu, infelizmente, preciso lidar com o peso daquelas palavras.
E eu preciso fazer algo a respeito, porque Hoseok está certo. Por mais duras tenham sido suas palavras, ele está completamente certo.
- Não vai à festa, meu amor? - consigo sair do transe quando escuto a voz da minha mãe. Eu nada digo, somente balanço a cabeça negativamente. - Vem cá, meu pintinho.
- Omma!
- O quê?
Ela me chama para sentar ao seu lado e eu vou. Será mais uma de nossas noites, em que passamos parte do início da madrugada maratonando séries, até que ela pegue no sono e durma na metade do episódio.
[...]
-Shio ou shoyu? - minha mãe havia pausado o filme quando eu disse que ia preparar ramen.
Se não me engano, estou há cinco minutos segurando dois pacotes de sabores diferentes e tentando lutar contra a indecisão. Posso ser muito indeciso às vezes e culpo meu signo por isso.
- Shoyu! - acabo escolhendo o sabor preferido da minha mãe.
A essas horas, Hoseok deve estar dançando feito louco, ou beijando Yoongi em algum lugar da casa - vai ver eles estão dançando enquanto se beijam. Sorrio com meu pensamento aleatório. Será que é divertido? Talvez eu deva experimentar, algum dia, quem sabe.
O que me traz de volta é o som do microondas anunciando que meu lamen estava pronto. Retirei e despejei uma quantidade generosa em duas tigelas. O cheiro está ótimo. Se minha mãe vacilasse, eu comeria o dela também.
- Estou atrasado? - deixei as duas tigelas sobre a mesinha de centro. - Pode dar o... play - mamãe dormia tranquilamente no sofá. Sorrindo para cena, me aproximei devagar e sussurrei: - Jinjoo... - seu sono ainda não era tão pesado, ela abriu os olhos assim que a chamei. - Vamos para cama?
- O filme...
- Terminamos outro dia.
Em passos arrastados, seguimos até o quarto dela, e não demorou mais que um minuto para que ela estivesse dormindo novamente. Deixei um beijo em sua testa antes de sair do quarto e fechar a porta, retornei à sala somente para desligar a televisão e pegar as duas tigelas de lámen - eu iria comer tudo no meu quarto.
Enquanto saboreava minha deliciosa comida, me lembro que já fazia umas duas horas que não checava meu celular, então deixei a tigela em cima da cômoda e fui buscá-lo na sala.
Minha única intenção era pegar o celular e voltar diretamente para o quarto, porém, no que eu constato as dezesseis chamadas perdidas e inúmeras mensagens enviadas por Hoseok, não consegui fazer nada mais que ficar estagnado no meio da sala. Cliquei na barra de mensagens logo de imediato, nelas dizia:
"jjjmjjimi"
[22h47]
"meu corpo todo dói"
[22h48]
"vem me buscar"
[22h49]
As quatro primeiras mensagens são suficientes para me fazer correr até meu quarto. Retornei às ligações, e a primeira foi direto para caixa postal. Meu nervosismo subia a cada passo que eu dava, piorava quando mais uma ligação não era atendida, mas continuei tentando enquanto retirava ligeiramente um sobretudo no guarda-roupa, deixando alguns cabides cairem no chão.
Entrei no quarto da minha mãe sem fazer barulho, somente para buscar as chaves do carro. A última mensagem de Hoseok foi enviada há vinte minutos atrás, e no relógio pendido na parede da sala marcava às onze e vinte da noite. Foi inevitável não me sentir culpado, por ter demorado tanto a ver.
- Atende, Hoseok. - pedir era em vão.
Tirei o carro da garagem e não esperei o portão fechar, dei partida muito antes disso. Atento ao trânsito, que felizmente não estava nada agressivo, eu ainda ligava sem parar. Hoseok não chegou a especificar o que tinha acontecido, e por isso, minha mente barulhenta e negativa formava todos os tipos de pensamentos ruins.
Ainda assim, com o celular grudado na orelha, eu tentava e tentava algum contato com ele, ultrapassava sinais vermelhos perigosamente, na espectativa de chegar a tempo. A tempo de quê? Não faço ideia. Esse é problema. Minhas mãos tremiam no volante, enquanto tudo o que eu conseguia fazer era pedir aos céus que ele ainda estivesse lá. Deus, eu espero que ele esteja lá.
Quase não acreditei ao ver tantos carros e motos na rua em que a festa acontecia. Estacionei o carro da minha mãe a alguns metros de distância da casa, deixando-o qualquer jeito.
- Como vou achar você? - perguntei a mim mesmo. Era capaz de me perder naquele lugar.
A casa é enorme, e só na entrada havia uma aglomeração muito grande de universitários. Quase não consegui sair do lugar. Um cara desconhecido puxou meu braço, querendo que eu dançasse com ele. Abruptamente me soltei do aperto, o que fez ele me xingar. Idiota.
Não tive outra opção, comecei a empurrar todos que entravam no meu caminho, era a única forma de chegar a um outro cômodo da casa. Isso gerava mais xingamentos, mas pouco me importava, sequer consegui dar ouvidos.
Olhei para todos os lados, não encontrei Hoseok em nenhum deles. Cheguei a me abaixar para olhar em baixo de mesas, eu olhei até em lugares que não caberia uma pessoa. Já desesperado e sentindo minhas pernas vacilarem, eu vi uma menina sozinha em um canto afastado. Respirando fundo e tentando manter a calma, eu fui até ela.
- Com licença - chamei sua atenção, e ela me olhou. - Você viu algum garoto, hm... Mais ou menos desse tamanho - gesticulei com a mão, percebendo que ela estava trêmula. - Cabelo platinado e... Você viu?
- O quê? - a voz da garota estava embargada. Ela sequer entendeu o que eu falei.
- Perguntei se você viu um garoto... - comecei outra vez, mas um rapaz chegou de repente e puxou minha única esperança para longe de mim. Soltei um suspiro pesado e passei minha mão trêmula no rosto. Eu estava suando frio.
Tudo o que minha mente dizia era que eu nunca conseguiria me perdoar. Independente do que tinha acontecido com Hoseok, eu nunca iria me perdoar. Ele tinha desistido de vir a esta festa, mas eu insisti que ele viesse mesmo assim.
- Hoseok, por favor... - eu falava sozinho no meio de tantas pessoas, todas estavam bêbadas. A sensação era no mínimo desesperadora.
Poderíamos ter passado a noite em minha casa, comendo do lámen, que a esta hora já deve ter esfriado. Poderíamos estar deitados em minha cama, assistindo a um dos filmes idiotas, como ele gosta de dizer. Mas não estamos. Hoseok está em algum lugar dessa enorme casa, machucado e precisando da minha ajuda, e eu nem sequer consigo encontrá-lo.
Eu olho para as escadas, e eu sei que acharei quartos lá em cima. Suspiro pesadamente, outra vez, porque não gosto de imaginar o que posso encontrar dentro de alguns daqueles quartos. Meu rosto se contorce a cada degrau que eu subo, e minhas mãos não estão mais apenas trêmulas, ela suam também. E eu não queria estar aqui. Eu queria voltar no tempo e nunca ter pedido que Hoseok viesse.
Por favor. Por favor. Por favor.
Começo a repetir várias e várias vezes em minha mente, enquanto chego ao último degrau da escada, que pareceu nunca ter fim. E eu continuo repetindo enquanto abro a primeira porta do corredor. Não há ninguém.
- Tudo bem... - é óbvio que essa é uma tentativa quase falha de me manter calmo.
Caminho quase parando em direção a próxima porta, sentindo a saliva descer rasgando pela minha garganta toda vez que engulo seco. Antes que eu possa tocar na maçaneta, a porta é aberta por um outro alguém, que está do lado de dentro.
E esse alguém se chama Jeon Jungkook.
- Jungkook - suspiro aliviado, por ter achado um rosto conhecido. - Graças a Deus.
Quero pedir a ele que me ajude, e quero abraça-lo só para buscar algum conforto, pois eu nunca estive tão desesperado e nervoso em toda a minha vida. Nunca precisei tanto de um abraço e de palavras que me deixassem bem, pelo menos por alguns minutos.
- Ji...
- Jeon Jungkook! - eu digo rapidamente - Me ajuda, por favor. O Hoseok está... - olhando por cima do ombro dele, vejo outra pessoa vindo na direção da porta.
É Lee Jieun. Ela vem até nós e abraça Jeon Jungkook por trás. Nesse momento, meu coração parece bater mais forte no peito, e por algum motivo, minha respiração falha. Eu simplesmente não consigo terminar o que queria dizer.
- Oi - ela diz, sorrindo amigavelmente. - Nos conhecemos?
Não... não nos conhecemos.
- Desculpem - peço a eles. Jungkook ainda me olha, e eu vejo preocupação em seu olhar. - Preciso achar o meu amigo.
Eu saio. Sem dizer mais nada, os deixo para atrás e volto a seguir pelo corredor. Não existe quaisquer expressões no meu rosto, apenas vazio, e o medo dentro de mim. Só que, de repente, eu me sinto triste, ainda mais triste. E antes que eu perceba, uma única lágrima escorre. Apenas uma, que logo em seguida se transforma em outras e outras, até que eu esteja de fato chorando.
- Jimin! Ei, espera - não paro e nem quero olhá-lo, pois sinto as lágrimas caindo em abundância pelo meu rosto. - Park Jimin! - ouço Jungkook correndo, ele toca em meus ombros e me faz girar nos calcanhares.
Estou de frente a ele.
- E-eu preciso... - soluço. - Preciso encontrá-lo.
Jungkook segurou meu rosto com as duas mãos e olhou no fundo dos meus olhos. Eu desviava, não queria que ele me visse assim tão vulnerável.
- Nós iremos, não se preocupe. - o timbre doce da voz dele consegue me manter calmo por certo momento.
Jeon Jungkook pôde presenciar o meu estado mais fragilizado, e eu me sinto quebrado por isso. Fico com medo de ele me achar instável, mas para minha surpresa, ele envolve meu corpo com seus braços, num abraço que faz meu choro e soluços aumentarem gradativamente, mas também, que me tranquiliza de certa forma.
E apesar de tudo, eu consigo retribuir o gesto. O abraço tão apertado quanto ele me abraçava.
- Vai ficar tudo bem, meu anjo.
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