História Brilhe como Sirius (jikook) - 07. O motivo tem nome

Como esperado, eu estava nervoso. 

Escondi minhas mãos dentro da manga comprida desse moletom que uso. Caminhava em passos curtos e lentos, olhando diretamente para as costas de Jeon Jungkook, e também as mechas escuras do cabelo dele, elas me impediam de ver sua nuca, por serem muito longas. 

Tão atraente... Como alguém pode usar roupas casuais, que se resumem a uma calça jeans justa e uma blusa de mangas curtas, sendo as duas vestimentas igualmente pretas, e ainda assim, ficar tão atraente? Apertei os olhos e balancei a cabeça; o foco não era esse. Jeon Jungkook queria falar comigo, e eu já imaginava o assunto. Céus, eu não tinha a mínima ideia de qual desculpa usar pelo meu afastamento. 

Até porque, eu não poderia dizer algo como: "faz dois anos que eu me sinto atraído por você. Acredito que o sentimento de atração tenha se tornado algo muito maior depois que me aproximei. Te ver com sua linda e gentil namorada me faz querer morrer toda vez, e, por isso, eu não poderia mais continuar vivendo assim. Peço que entenda. Com carinho, Park Jimin."

Quais as chances? Deu até vontade de rir, porque não tem uma chance sequer de eu dizer isso a ele.

Uma sensação nostálgica me atinge quando percebo que andávamos entre as colunas de livros sobre astronomia. Logo sinto uma brisa gélida passando por mim, e o frio que me abraça rapidamente faz todos os pelos do meu corpo eriçar. 

De repente, Jungkook para de andar. Ele fica no meio do corredor, e eu nervosamente parei também, um pouco mais atrás. A tensão aumenta. Abri a boca mas não saiu nada. E então, ele se vira e me encara no mesmo momento em que novamente estou abrindo a boca para tentar dizer algo. Obviamente, eu falho outra vez. E odeio a forma como as palavras parecem se perder no topo da minha garganta sempre que seu par de olhos grandes estão fixados aos meus.

Por que era tão fácil conversar com Jaebeom, mas tão difícil com Jeon Jungkook? Eu odeio que as coisas sejam assim.  

- Oi... 

- Oi. - mesmo com a voz quase inaudível, eu consigo respondê-lo.

- Está tudo bem, é... Você tá bem? - ele pergunta, e eu não digo nada, apenas faço que sim com a cabeça.

- Que bom.

Enquanto Jungkook me olhava, eu tive a sensação de que ele tinha muito a me dizer, mas, assim como eu, também não conseguia formular nada. Era uma sensação estranha. Incômoda. 

Quanto mais o tempo passava e ficávamos ali, encarando um ao outro, tudo o que me vinha à mente era algo me dizendo para ser sincero comigo mesmo e confessar em voz alta de uma vez que sinto falta dele. Que sinto falta das nossas conversas por mais aleatória que elas fossem. 

O vejo engolir em seco. Nessa hora também quero perguntar se está tudo bem com ele. Mas algo dentro de mim se nega a isso. O fato é que não quero mais seguir minha intuição, muito menos prestar atenção nos pensamentos que tenho sobre Jungkook. Levando em conta todas as vezes que errei... Eu só não quero me frustrar com esses pensamentos.  Não mais.

- Você sumiu. - ele diz.

- É, eu... Apenas precisei focar mais nos trabalhos do curso... - minha voz vai morrendo ao que vejo Jeon Jungkook arquear uma sobrancelha. - E...

- E?

- Jungkook, eu... - respiro fundo. - Eu não tenho costume de conversar muito com alguém, sabe. Até com o Hoseok, que é meu melhor amigo. Como eu disse, preciso focar nos trabalhos do curso, e as nossas conversas, elas tiravam minha concentração. 

Péssimo. Muito, muito péssimo. 

- Então é isso?

- Sim. É isso.

Sou um péssimo mentiroso.

- Jimin, isso não faz sentido.

Não disse?

- O que não faz sentido?

- Tudo? - franziu o cenho. - A gente se falava todos os dias, o dia todo. - 

- Jungkook, eu não

- Você não? - ele me interrompe, dando dois passos na minha direção. Eu automaticamente levanto o queixo. - É só que... Porque foi tão do nada? 

- Por que você tá me questionando essas coisas?

- É que eu realmente não consigo entender. Não faz sentido dizer que está focado nos estudos e que foi por isso que se afastou. Até porque - ele hesita. -, você fez outro amigo, não fez?

Eu só queria entender o porque dele me procurar somente para questionar o motivo de eu ter me afastado. Jeon Jungkook tem tantos outros amigos, então, qual seria a diferença se eu me afastasse ou não? 

- É diferente...

- Por quê?

Eu não devia ter dito isso. Mas agora já foi, e eu simplesmente não tenho uma resposta. Na verdade, é claro que tenho. O problema é que ele não pode saber.

- Sua nova amizade não tira sua concentração, como eu tiro? - de uma forma que não consigo explicar, sua fala me irritou.

Custava ele continuar vivendo sua vida perfeita com sua namorada perfeita? Sim, eu estava irritado. Porque, sinceramente, é irritante pensar que Jeon Jungkook possa estar confuso, e que talvez ele ache que sou eu a pessoa que irá resolver todas as suas confusões. Eu não sou a droga de uma à mostra grátis, teste drive ou qualquer outra merda do gênero. Eu estava irritado. Contudo, é o sentimento de tristeza que me domina e que me deixa completamente decepcionado com ele.

- Por que tá fazendo isso? Você sabe, não sabe?

- O quê? - sua expressão séria deu lugar a uma confusa. 

- Céus... Por um acaso você se faz? - pergunto, com uma expressão incrédula. - Eu juro, Jeon Jungkook, se você souber...

- Souber de que, Jimin? - bradou, se aproximando. - Por Deus, eu só quero entender se o problema é só comigo? Você simplesmente parou de responder minhas mensagens e foi se afastando aos poucos, como se eu não fosse notar - ele falava enquanto gesticulava com as mãos. - Antes eu pensei que você estivesse precisando de espaço, e eu busquei entender isso. Mas então você aparece com uma outra amizade... Caramba! 

- Qual a diferença se eu me afastei ou não? - acabo me exaltando também. - Jeon Jungkook, você tem vários amigos...

- E desde quando isso importa? Eu queria a sua amizade! - enfatizou. - A sua.

- Por quê? 

- Porque!

- Está vendo? Você nunca tem uma resposta plausível pra mim.

Jungkook trinca a mandíbula, e eu desvio o olhar para os livros. 

- Jimin...

- Você não vai querer minha amizade, Jeon Jungkook - digo, olhando para ele. - Eu sou o tipo de pessoa que coloca expectativas em tudo, você é o tipo de pessoa que não corresponderia às minhas expectativas. - desviei o olhar, de novo. Eu não poderia passar mais de dois minutos olhando para ele.

Jungkook demora a responder. Demora o suficiente para eu revisar o que acabei de dizer a ele. Quando o encaro, vejo que seu olhar ainda está em mim. E eu conheço bem aquele olhar. Eu sei porque já estive ali no lugar dele várias vezes. Jungkook estava completamente frustrado.

- Vai ser isso mesmo? - ele pergunta. - Jimin...

- Jimin? - ouço a voz de Jaebeom. - Esse cara tá te incomodando? - ainda olhando Jungkook, vejo ele fechar os olhos e suspirar baixinho.

- Não... - respondo, sem desviar minha atenção de Jungkook, que agora pressionava a língua em sua bochecha. - Estamos apenas conversando. - olho Jaebeom e tento sorrir para ele, mas tenho certeza que saiu como uma careta.

- Tem certeza? - perguntou Jaebeom, colocando a mão em meu ombro.

- Você é surdo ou o quê?

- Jeon Jungkook! - eu esbraveço, olhando-lhe seriamente. 

Minha expressão era séria, mas não tanto quanto a de Jungkook, que estava com o maxilar cerrado enquanto olhava para Jaebeom. Nunca o vi tão zangado quanto parecia naquele momento. Seus olhos, gigantes e escuros, estavam semicerrados, mas ainda semelhantes a um buraco negro, e pareciam querer sugar Jaebeom.

Eu não sei dizer qual é a pior parte disso tudo. Poderia ser o risco de testemunhar uma briga aqui mesmo, entre as colunas dos livros de astronomia. Mas a aura raivosa de Jeon Jungkook... aquilo era extremamente perigoso. E as sensações que me causaram, ainda mais. Me fez sentir coisas. Coisas estranhas.

Eu me sentia quente, e eu sentia todo o meu sangue se concentrando em um único lugar do meu corpo. 

Eu estava... excitado. E muito. O que não faz sentido, faz?

- Já terminamos aqui. - engulo em seco depois de dizer. 

- Terminamos?

A parte sensata da minha consciência pede que eu ignore as sensações que ainda me atingiam, e que eu arrume um jeito de sair logo daqui.

- Por favor. - sussurro só para que ele escute.

Sem dizer mais nada, Jeon Jungkook me olhou nos olhos uma última vez antes de sair do meu campo de visão. A pergunta que não saía da minha cabeça era: Que porra aconteceu?

Eventos inesperados têm acontecido nesta biblioteca desde minha primeira interação com Jeon Jungkook. Costumava ser um lugar tranquilo, mas agora sou forçado a me lembrar dele. Impossível não se lembrar dele assim que passo pela porta de entrada, ou assim que ando pela coluna de astronomia. 

- O que rolou? - perguntou Jaebeom, rindo soprado. E eu não tenho uma resposta para dar a ele.

Se eu soubesse que olhar Jeon Jungkook de longe seria melhor que tentar me aproximar, eu nunca teria ido à biblioteca naquela segunda-feira. Por não ir, obviamente eu não teria aquela crise de tosse. Jeon Jungkook nunca teria ido falar comigo. 

Tive que descobrir da maneira mais difícil que era muito melhor olhar de longe. Eu não era frequentemente atingido por sentimentos de frustração, ou por sentimentos que me faziam ter sensações estranhas. Minha vida continuaria como de costume: ocupando meus pensamentos com livros, séries/filmes e trabalhos de curso... 

Poderia ser considerado deprimente, como Hoseok tanto gostava de sempre me lembrar. Mas ei... Eu estava vivendo bem assim.

Eu estava.

Antes de Jeon Jungkook chegar como um tornado, daqueles que vem sem aviso, causando uma bagunça não só em minha mente.

No meu coração também. 

É, eu realmente estava vivendo bem.

[...]

- Jimin, a visão que você tem de mim é muito errada! - Hoseok me olhava incrédulo, por eu não ter acreditado em suas palavras ditas segundos atrás. - Eu juro que estou falando sério! Yoongi e eu ainda não transamos. - o olhei com desconfiança, o que fez ele estalar a língua. - Pensei que me conhecesse.

- É justamente por te conhecer que não acredito - bati no ombro dele. - Okay, eu posso até acreditar, mas tenho certeza absoluta que se vocês não fizeram nada, certamente foi porque Yoongi ainda não cedeu - ele abriu a boca minimamente - Acertei? - perguntei enquanto buscava meu celular na cama.

- Aish!

Jaebum

Comprei a tinta

[15h12]

Na minha casa ou na sua?

[15h12]

Obrigado, Jae :) 

Pode ser na minha?

[15h14]

É você quem manda!

[15h14]

- Cuidado pra não rasgar as bochechas.

- O quê? - olhei Hoseok, que sorria travesso. - Deixa de ser idiota! E dá pra você tirar esses esmaltes de cima da cama, eu quero me deitar.

- Ele é bonito... Tá aí sua oportunidade de perder o cabaço. 

Arregalei os olhos, espantado.

- Hoseok, por Deus! Você só pensa nisso?

Eu me sentia mal sempre que Hoseok tocava nesse assunto. Não por achá-lo incoveniente, até porque eu já estou acostumado. Mas sim pela mentira por trás...

Não tinha nada para ser perdido. Sendo mais exato, eu não sou nenhum virgem, eu já tive a minha primeira vez. Mas isso é um fato que nem mesmo Hoseok sabe. 

Nunca consegui dizer.

Foram incontáveis as vezes que tentei falar com ele, dizer que não era mais virgem. Dizer que já tive a minha primeira vez, e que foi tão horrível que, durante um bom tempo, eu não consegui me relacionar com outras pessoas. Que ela foi a causa de eu privar meus sentimentos. A causa de eu ser essa pessoa que nunca tenta fazer nada por si mesmo. Tudo pelo medo de me arriscar e sair magoado no final.

Quis contar que eu não me importei se tinha quartorze anos, eu simplesmente quis entregar meu corpo a um alguém. Esse alguém que jurou me amar, mas que me abandonou depois do ato, e que fez eu me sentir a pessoa mais suja do mundo.

Eu nunca consegui dizer isso a ele.

- Por que não chama o Jae pro aniversário do Yoon? - perguntou enquanto testava as cores dos esmaltes que tinha comprado. - A gente faz umas brincadeirinhas... Rola um clima e pá! Tu senta.

-Eu desisto de você - fiz movimentos circulares em minhas têmporas. 

Hoseok pintava as unhas da mão, deitado na minha cama, e eu estava vendo a hora dele derramar esmalte no lençol. 

- Ele e Yoongi não se gostam, esqueceu?

- Oh, verdade. Eu não entendo o porquê... Qual dessas? - mostrou as cores pintadas no anelar e mindinho.

- Essa - apontei para a cor do anelar. - Você pode deixar tudo misturado, acho que ficaria legal.

- Você é brega. Ah!

- Lá vem.

-Vamos pintar as suas!

- Eu não! - nego, saindo de cima da cama.

- Por favor, Jiminie, por favor.

- Hoseok, não. E para de chamar de Jiminie, faz eu parecer uma criança.

- Você é criança!

- Não sei se lembra mas tenho 19 anos, e farei 20 daqui uns meses.

- E daí?

Fui até o espelho da cabeceira e arrumei para trás algumas mechas do meu cabelo.

- Se ficar feio, eu vou ter que raspar a cabeça. - falo baixinho, olhando meu reflexo.

- Desde quando tu fica feio? - Hoseok indaga enquanto terminava de pintar as unhas da cor do esmalte que eu não escolhi. 

- Por que me pergunta as coisas se vai fazer diferente? - ele me olha e sorri. - Aish! 

Afastei a maleta de esmaltes para o lado contrário de onde iria me deitar, ganhando alguns resmungos do meu amigo, e me joguei na cama. Meu corpo pedia por descanso. Não só o meu corpo, minha mente também. 

Virei de costas pra Hoseok e fechei os olhos. Após isso, tudo o que vejo é Jeon Jungkook. Querendo ou não, eu continuo vagando para os acontecimentos de hoje mais cedo.  Voando diretamente para aquelas orbes escuras, o maxilar travado, a voz curta e rouca. Eu não conseguia para de pensar nos fios bagunçados dos cabelos de Jungkook cobrindo parcialmente os olhos dele... Não conseguia.    

Mais uma vez eu estava falhando na tentativa de esquecê-lo. Mas porque tinha que ser tão difícil?

- Você não vai dormir, né? - perguntou Hoseok, e eu me fingi de surdo. - Jimin... - me chacoalhou. - Ah merda! - nem precisei me virar para saber o que tinha acontecido.

- Nem pense em sair daqui sem antes lavar esse lençol, Hoseok!

⁂

Raramente eu me olhava no espelho e gostava do que via. Por mais que me achassem atraente, como já ouvi em alguns comentários, eu não conseguia achar beleza alguma em mim. Um dia eu me achava bonito, mas depois passava o restante do mês me sentindo a pessoa mais feia do mundo. Era como se existisse um poço e a minha auto-estima estivesse no fim dele.

Hoje era um desses dias em que eu me olhei no espelho e gostei do que vi no reflexo. Jaebeom lavava as mãos no banheiro do meu quarto, e eu olhava os fios tingidos de rosa do meu cabelo. É, eu podia dizer que estava sim, muito bonito. Jaebeom fez um bom trabalho. Eu só espero que possa continuar gostando da minha aparência pelo resto do mês.

Tirei uma foto e enviei a Hoseok, não demorou muito para que ele estivesse me mandando uma sequência de áudios.

- Pensei que não tinha como você ficar mais bonito - eu não estava nada acostumado a receber elogios de Jaebeom, por isso escondi o rosto com as mãos enquanto sorria.

- Pare com isso.

- É só a verdade. Você é muito lindo, Park Jimin! - ele continuou.

- Jaebeom, você tá me deixando com vergonha! - podia sentir minhas bochechas esquentando. Numa tentativa de fugir de seus comentários, saí do quarto e fui para sala. 

Ainda faltam algumas horas pra festa do Yoongi começar, isso significa que tenho um pouquinho de tempo antes de todo aquele estresse pra sair de casa. Sentei no sofá e liguei a tv da sala, logo Jaebeom apareceu, com o celular em mãos enquanto mirava-o em direção ao meu rosto.

- Ah não! Não, Jae, por favor! - tentei esconder meu rosto com a almofada do sofá, em vão, já que ele veio pra cima de mim. 

- Só uma, vai... 

Jae usava a mão desocupada pra tirar as minhas, que cobriam o meu rosto. Ele apelou para as cócegas, fazendo-as na lateral da minha barriga, o que me fez cair deitado no sofá. Derrotado, deixei que ele tirasse logo a foto. 

- Ya! Você disse que seria só uma! - reclamei após ouvir vários clicks seguidos. 

Ele sorriu ao olhar para a tela do celular, e eu sorri também. Mas meu sorriso morreu quando notei o jeito que estávamos. Com meu corpo quase todo deitado no sofá, eu me apoiava nos cotovelos. Jaebeom estava de pé, mas tinha um dos joelhos entre as minhas pernas. Arregalei os olhos e pude ter certeza de que minhas bochechas estavam vermelhas. E se eu pensei que não poderia ficar pior, ficou. Porque sem querer, num movimento rápido que deu muito errado, acabei fechando as pernas.  Meu ato assusta Jaebeom, que perde o equilíbrio e cai com o corpo em cima do meu.  

Sim, tinha como piorar ainda mais...

- Gente, o que eu perdi? - era Hoseok.

Olhei para a porta e o vi ali, parado como uma estátua. Yoongi estava junto a ele, do mesmo jeito. Ambos pareciam surpresos. Apesar de que Hoseok tinha uma sobrancelha levanta e um sorriso sacana.

- Desculpe. - Jaebeom disse enquanto me olhava, sorrindo fechado. Ele me deu a mão e me ajudou a levantar. 

- O que fazem aqui? - perguntei aos recém chegados. - Digo, vocês não avisaram que...

- Hm... - Hoseok começou. - Você não viu as minhas mensagens? Eu disse que estava vindo aqui pra pegar minha maleta. Até te liguei.

- Oh. - foi o que consegui dizer.

- Oh - ele repete. - Pareciam se divertir. - disse, apontando pra mim e Jaebeom.

Eu, já acostumado com as piadinhas de Hoseok, não senti a necessidade de perder tempo explicando que não era nada do que eles tinham visto.

- Sua maleta está lá no meu quarto, Hobi. Você sabe o caminho. - Hoseok seguiu pelo corredor, arrastando Yoongi. 

- Acho que já vou. - disse Jaebeom.

Eu até quis pedir a ele que ficasse mais um pouco, mas tudo que fiz foi assentir minimamente. Pela sua expressão, acho que ele não esperou que eu fosse concordar, e isso acabou me deixando constrangido.

- É...

- Prometi pra minha mãe que jantaria com ela hoje. - ele diz. 

- Oh... Legal - balancei a cabeça, sorrindo fechado. - Jae, hoje fui muito divertido. Eu gostei muito, é... Disso tudo - me referia a nova cor do meu cabelo, e pela companhia dele também. - Obrigado por hoje.

- Ya! Não precisa agradecer. - sorriu gentilmente. Ficamos olhando um para o outro, sem saber o que dizer.

Hoseok colocava muitas coisas em minha cabeça, dizendo que Jaebeom tinha uma queda por mim. Eu até tentei enxergar isso, mas não consegui ver nada que não fosse uma relação de amizade. Jaebeom é um homem bonito, bonito até demais. Porém, eu não o vejo de uma forma amorosa, e acho que é a mesma coisa com ele em relação a mim. Somos amigos, e isso é tudo.

- Eu não queria ter que usar um casaco... - esfreguei as mãos nos braços quando senti o frio da ventania. - Só tenho dois e, para o meu azar, os dois não combinam nadinha com a roupa que eu separei.

- Duvido muito. Você deve ficar bonito usando qualquer coisa! - ele disse, fazendo-me corar outra vez.

Jaebeom e eu conversávamos enquanto eu ia deixá-lo na frente de  casa. O sol praticamente não foi visto hoje, e o céu já ganhava tons mais escuros, anunciando a chegada da noite. 

Eu estava distraído e fiquei surpreso quando Jaebeom me abraçou. Foi uma ação, digamos que, bastante inesperada. Pelo menos por mim, que não tive reação alguma, apenas fiquei parado, tentando raciocinar. Quando consegui, retribuí o gesto, abracei ele também. Amigos se abraçam. Nos afastamos quando ouvimos Hoseok e Yoongi saindo.

- Vá aquecido, por favor. Qualquer coisa, você já sabe, é só me escrever. - ele disse.  Sorri, assistindo-o subir em sua moto e ir embora.

- Por que demoraram? - perguntei a Hoseok e Yoongi.

- Hoseok demorou pra achar a maleta dele, e eu tive que usar o seu banheiro - disse Yoongi, e eu semicerrei os olhos.

- A maleta estava bem em cima da cama.

- Gostei do cabelo.

- Vou fingir que não notei a mudança de assunto. Muito obrigado, Min Yoongi.

- De nada. - deu de ombros. 

- Eu não preciso nem dizer que amei, porque isso você já sabe - disse Hoseok. - Está lindo! Combinou tanto...

- Aish! Parem de ficar me elogiando - choraminguei, envergonhado.

- Tá vendo, Yoon, agora o Jiminie só aceita elogios se eles vierem de Jaebeom.

- Yoongi - olhei para o mais velho. - Eu vou ignorar o seu namorado.

- E eu vou ignorar vocês dois - disse, caminhando até o carro estacionado a poucos metros do meu portão. - A essa hora o JK deve tá puto de tanto esperar lá dentro. 

- Minha nossa, o JK! - Hoseok me deu dois beijos na bochecha e saiu. - Depois olha as minhas mensagens, eu te mandei o endereço do Yoongi. Deixei meu delineador em cima da cômoda, e o... - ele falava alto enquanto andava até o carro, mas eu não consegui ouvir mais nada. 

Jeon Jungkook estava dentro daquele carro, e eu, de costas para ele, ainda tentando processar. Ainda bem que eu estava completamente vestido desta vez, mas fiquei um pouco envergonhado ao saber que existia a chance de ele ter visto Jaebeom e eu nos abraçando.  

Não que eu me importe com isso. Porque eu definitivamente não me importo.  

Só lembrei da nossa discussão na biblioteca e nem sei se devo nomear aquele momento como uma. Mas de qualquer maneira, eu ainda me sentia um pouco desconfortável.  Ficou claro que Jeon Jungkook não gostou de me ver com Jaebeom. Mas que nome posso dar a isso?

Ciúme? Fora de cogitação. Não tem porque ele sentir ciúme de mim, é até patético pensar assim.

- Gostoso! - Hoseok gritou.

Eu ainda permanecia estagnado na calçada de casa, parecendo um idiota, quando o carro em que eles estavam passou por mim. Passei a mão no rosto e respirei fundo. Tenho certeza que ainda vou perder a cabeça.

[...]

E se eu inventasse uma desculpa e não fosse à festa de Yoongi? Era o que eu pensava neste exato momento.

A festa começaria às 20h45. O relógio na parede do meu quarto já marcava 20h19, e eu estava deitado enquanto comia cereal com leite e assistia big bang teory. Bem, o presente de Yoongi eu já havia dado a ele, então, seria muita falta de consideração da minha parte não comparecer à festa?

- Aish! - uma colherada de ceral. - Posso dizer que estou cansado... - falava sozinho enquanto ponderava. - não seria uma nenhuma mentira. - mais uma colherada.

- Você não marcou de ir pra balada com seus amigos? - minha mãe apareceu na porta do quarto, fumando um cigarro.

- Festa de aniversário. E você não tinha parado de fumar? - questionei, apontando com a colher.

- Ah... Sabe como é... Cuida, vai logo!

- Porque quer tanto assim ficar sozinha, dona Park Jinjoo? - Perguntei, semicerrando os olhos. - Se eu bem te conheço...

- Tchau. - e saiu.

Ela tem um namoradinho e jura que eu não sei disso. Sei bem que ela o chama quando não estou em casa. Não julgo, minha mãe ainda nova e tem o direito de se divertir. Não deixei de pensar que, ficando em casa, eu atrapalharia.

- Não quero ir - bati os pés na cama, o que fez eu derramar um pouco de leite no lençol. Deixei a vasilha em cima da penteadeira e fui ao banheiro.

Eu não queria ir por dois motivos. 

O primeiro é que, Yoongi é rodeado de amigos, ele e seu grupinho são bastante conhecidos na universidade. E também tem aquela coisa de convidados chamarem outras pessoas. Ou seja, muita gente em um lugar só.

O segundo motivo tem nome, se chama Jeon Jungkook. Acho que não preciso dizer mais nada, o nome já é auto-explicativo.

- Você consegue! É só não pensar nele, Jimin - fechei os olhos e suspirei baixo. - Viu? Não é tão difícil assim.

Coloquei uma música no volume baixinho, na tentativa de ocupar minha mente enquanto me arrumava. Parecia funcionar sempre que eu ouvia Lana Del Rey. Eu conseguia sistematizar meus pensamentos, e não focava em nada mais que não fosse no que a melodia passava para quem estivesse ouvido-a.

- Obrigado por existir, Lana Del Rey.

O problema foi quando abri meu guarda-roupa para procurar o casaco que usaria, pois a primeira coisa que vi foi o moletom do Jungkook. Eu me amaldiçoei de todos os nomes possíveis por não ter dado a ele na primeira chance que tive. 

Empurrei o cabide para o lado e peguei um casaco felpudo vermelho. Decidi que usaria este porque combinaria com o rosa do meu cabelo. Mas teria que escolher roupas diferentes das que já havia separado anteriormente. 

Por fim, acabei colocando uma blusa gola alta de mangas longas e uma calça jeans justa. As duas roupas são pretas. Vesti o casaco e fui para a frente do espelho.

- Hm... - olhei meus sapatos, sendo estes uma bota social de couro. - Argh! - voltei pra cama. Eu não iria a lugar algum.

Não sei exatamente quantos minutos fiquei ali deitado. Minha mãe entrou de novo no meu quarto e disse alguma coisa que eu nem ouvi. A música ainda estava tocando, mas eu não estava focado nela. Olhei para o relógio e vi que a festa já havia começado há muito tempo, e acabei percebendo que também estava deitado há muito tempo... São dez horas da noite.

Ouvi a música parar de tocar, dando lugar ao som do meu toque de ligação. Não me senti disposto a levantar e ir atender, então deixei que caísse na caixa-postal. Não demorou muito para que ele começasse a tocar outra vez, e eu só me levantei porque fiquei preocupado de ser Hoseok, e de ter acontecido alguma coisa com ele. Àquela noite me deixou muito traumatizado. 

E realmente era Hoseok.

- Onde você tá? - foi a primeira coisa que ele disse.

- Aconteceu alguma coisa?

- Aconteceu sim, mas nada comigo - a voz dele saía quase inaudível, a música alta no fundo se sobressai. - Me diz que você se atrasou mas que já está a caminho.

- Então... - suspirei, sentando na beira da cama. - Hobi, eu acho que não vou.

- O quê, por quê? Park Jimin, eu ordeno que tire essa bunda da cama e venha logo pra cá! 

- Como sabe que estou na cama? - joguei o corpo pra trás, voltando a me deitar. - Já sei, já sei, você me conhece... Sua voz está normal, não tá bebendo?

- Mudando de assunto, né - o ouvi bufar. - Não estou. Se tudo der certo, hoje Yoongi e eu vamos transar.

- Oh... 

- Eu não quero esquecer nada, por isso não vou beber.

- Quem é você e o que fez com o meu amigo? - ele riu.

- Pare de mudar de assunto e vem pra cá, por favor. Tá tudo tão legal. E ainda nem te contei a maior fofoca da noite... O JK e Ji-Eun brigaram, e, tá , essa parte não choca ninguém. Só que o mais interessante vem agora

- Hobi...

- Ela estava gritando com ele como uma louca na frente de todos. O surpreendente vem agora - ele continuou falando sem parar. -, o Jungkook simplesmente deu de ombros, saiu e a deixou falando sozinha.  Não é um babado? Yoongi disse que isso nunca aconteceu antes, e que Jungkook sempre a deixava falar e ouvia em silêncio.

- Hoseok... - eu ia pedir a ele que parasse de falar sobre aquilo. 

- Ele só pediu desculpas pro Yoon e depois foi embora. Graças a divindade não demorou nem dois minutos e todo mundo já tinha esquecido o barraco da Ji-Eun. Nunca vi tanta gente sequelada ocupando o mesmo espaço. Ah! Sabe aquele...

- Jung Hoseok! 

- Aish. Parei, parei - pigarreou. - Não quer mesmo vir pra cá? 

- Não... Me desculpa?

- Não precisa se desculpar, Minnie. Bom, eu queria que viesse e o Yoongi também queria, mas eu entendo você. Vou dizer a ele que não pôde vir.

- Obrigado, Hobi... - suspirei aliviado. - Depois eu mesmo falo com ele. Só diz que eu mandei um abraço e, feliz aniversário, de novo... Agora eu preciso desligar, okay? Se divirtam e, ah, não esqueçam de usar proteção, caso algo vá mesmo acontecer.

- E vai, sim! Qualquer coisa me liga. Beijo e tchau.

- Tudo bem. Tchau.

Eu me pergunto se algum dia acharei divertido ir a essas festas onde estão muitas pessoas da minha idade. Não é como se eu olhasse para esse tipo de evento e pensasse: Que jeito chato de se divertir. Não, não é o que eu penso. Na verdade, acho bastante interessante. O problema é que não consigo me ver no meio disso tudo. 

Eu queria saber de onde Hoseok tira tanta energia, porque ele sempre está em todas essas festas. E se deixar, ele só sai quando o dono da casa diz que está na hora.

Então é isso... Mais uma sexta-feira em casa. 

Me levantei da cama pra trocar de roupa, mas antes fui até o quarto da minha mãe, querendo saber o que ela tinha falado horas atrás. Bati na porta, mas ela não respondeu. Entranhei, ainda são dez e pouco, e ela costuma ficar acordada até onze e meia da noite. Abri minimamente a porta e olhei pela fresta, estava tudo escuro. Abri então tudo de uma vez para ter a certeza do que já imaginava. Ela não estava em casa.

- É, Park Jimin... Você é o único que fica em casa numa sexta à noite

Levando em consideração que com sono eu não estava, olhei em volta, pensando no que fazer. Então apenas voltei pro quarto e vi que a tigela com cereal ainda estava ali.

- Ew. - os cereais tinham virado papinha, isso me fez ansiar. 

Lavei a tigela pra colocar leite novinho e mais dos cereais crocantes. Estava decidido a passar o resto da noite assistindo algum filme, e já voltava para o quarto quando ouvi o som da campainha.

- Quê? - acabei por franzir o cenho. Jinjoo tem a chave do portão. Hoseok, ele sempre avisa antes de vir.

Tirei meu celular do bolso para ver se tinha alguma mensagem dele. Não havia nada. Eu não iria simplesmente abrir a porta da frente para ver quem era. Ok, não sou muito versado em filmes de terror, mas a esta hora? Quem poderia ser?

Um bandido? Um sequestrador, quem sabe?

Corri para o meu quarto e parei na porta. Pela primeira vez tive medo do corredor em que ele está (corredores podem ser assustadores em momentos como este).

De repente, tudo ficou silencioso. Não por muito tempo, logo o som da campainha soou outra vez. Por um momento, pensei em olhar pela janela do meu quarto, mas infelizmente ela não me daria a visão de que precisava.

Voltei para a sala enquanto discava o número da polícia no meu celular. Estaria preparado se realmente fosse algum ladrão. Reunindo toda a coragem que tinha dentro de mim, abri a porta da frente. O que eu vi foi uma pessoa andando até um Hyundai Creta preto, estacionado na calçada, muito próximo ao portão. 

O nome dessa pessoa é o segundo motivo de eu não ter ido à festa de Yoongi.

- Jeon Jungkook? 

Pronto para abrir a porta do carro, ele me olha no mesmo instante que chamo. E diz:

- Jimin.