“Eu só queria que você pudesse sentir o que diz
Mostre, nunca diga
Mas eu te conheço muito bem
Tipo de humor que você gostaria de vender
Se as lágrimas pudessem ser engarrafadas
Haveria piscinas cheias por modelos
...
Se “eu te amo” fosse uma promessa
Você iria quebrá-lo, se você fosse honesto?
Diga ao espelho que você sabe o que ele ouviu antes
Eu não quero mais ser você
— Idontwannabeyouanymore, Billie Elish
Uzumaki Kawaki estava acostumado com o fato de que não importa o que fizesse, ele sempre seria um dos centros das atenções na escola e na cidade. Ser o filho de uma pessoa importante lhe dava isso de brinde.
Não achou que seria diferente depois do término do seu namoro, mas pensou que as pessoas se concentrariam um pouco mais nas suas vidas do que em problemas alheios e logo esqueceriam.
No entanto, pelo visto teria que aguentar os olhares e julgamentos das pessoas por mais algum tempo. Até encontrarem outra fofoca para falar sobre.
O moreno comia tranquilamente o bentô preparado por sua mãe, usando seus hashis e escutando a conversa de seu amigo, Kagura.
— Enfim, estou bastante preocupado com as provas de fim de ano. Não tenho certeza se estudei o suficiente – dizia o loiro ao seu lado. — Como você consegue ficar tão tranquilo? Estamos nos últimos meses do Ensino Médio e temos que nos preocupar com o que vamos fazer depois de nos formarmos...
Kawaki olhou para o amigo despreocupado. Eles tinham acabado de começar o último trimestre do terceiro ano e o Karatachi já estava uma pilha de nervos para ser aceito em uma das faculdades de prestígio do país.
— O que você disse que queria cursar mesmo Kagura? – perguntou o moreno enfiando um bolinho de arroz na boca, feito pela Sra. Uzumaki, uma cozinheira de mão cheia.
Até hoje, Kawaki se lembrava da primeira refeição que fez na casa Uzumaki, e o quanto tinha sido surpreendido pela comida deliciosa que havia provado. Nunca esqueceria aquela lembrança.
— Serviço Social. — Os olhos rosados dele encararam Kawaki esperando desdém, até porque Kawaki certamente ou iria para o exército ou viraria um agente secreto do governo com a personalidade que tinha.
— Não deve ser tão difícil assim passar em Serviço Social – respondeu o garoto com o olhar vago.
Kawaki por muitos anos não soube o que deveria seguir em sua carreira, se sentia até pressionado no momento a escolher algo, mesmo na maioria do tempo sendo tranquilo quanto a isso. Mas tinha pensado seriamente em ser policial.
Assim poderia manter a cidade segura, de criminosos e pessoas como o seu pai.
Não era carismático e extrovertido como Naruto que sabia exatamente o que dizer, ele sabia tocar o coração das massas. Por isso tinha virado prefeito, e era ótimo na sua profissão. Ele se inspirava em Naruto, mas não queria seguir os mesmos caminhos que ele.
— Você que pensa, preciso estudar muito Sociologia e História, além de Ciência Política e Antropologia — enumerou o garoto, levantando os dedos a cada matéria que teria que estudar. — Eu não tenho certeza se passei os tópicos para estudar direito.
— Relaxa Kagura, de qualquer jeito ainda faltam três meses, por que se preocupar? — respondeu com naturalidade.
— E você Kawaki? Não está preocupado com as provas infernais? — perguntou sobre as temidas provas que os estudantes do final do Ensino Médio deveriam prestar, e que foi carinhosamente apelidada de “infernais”.
— Eu vou ser policial, só preciso passar no exame nacional e passar pelo treinamento depois. Por enquanto, está tudo certo — disse convicto sobre isso.
Esperava que seu preparo físico fosse o suficiente para ser um bom policial, além disso Kawaki aprendia rápido.
Quando terminou a comida do bentô, constatou em seu celular que ainda faltavam mais algum tempo para o final do recreio. Até que a cantina não estava tão lotada, isso era bom, pois Kawaki não gostava quando o encaravam demais.
— Se você diz... — O loiro também acabou sua comida, que consistia no prato da cantina que Kawaki não gostava muito. Mesmo sendo bem saudável, pois as escolas japonesas priorizam isso. Mas não tinha o mesmo gosto que a comida da Hinata.
Naquele momento, como se tivesse programado por algum gênio maligno de Descartes, que definitivamente não gostava de Kawaki, Ada, sua ex-namorada entrou na cantina.
Ela era linda, pelo menos era o que a maioria da escola Academy de Konoha concordava. Seus longos cabelos azuis ondulados emolduram seu rosto e corpo, com mechas rosas e uma franja. Além de seus olhos azuis, que tinham um formato da lua minguante que transmitiam seus desejos mais profundos, eram decorados ainda com cílios proeminentes e ela estava sempre maquiada e bem-vestida.
Até no frio de janeiro, ela usava a saia da escola que mostravam suas coxas sem meia-calça, e o moletom da escola parecia combinar perfeitamente com seus tons de azuis.
Tudo isso seria uma visão muito agradável para o Uzumaki, se a garota não estivesse acompanhada, e seu acompanhante era Otsutsuki Code, o ruivo irritante da sua turma.
Não que Kawaki tivesse algo contra ele, mas nunca teve nada a favor. Já que ele sempre fez questão de deixar claro que era a fim de Ada e que não gostava dele.
Eles passaram pela cantina rindo juntos e atraindo olhares por onde passavam, o moreno fixou o olhar na mão de Code se posicionando no ombro de Ada.
— Aquela não é a Ada e o Code? — perguntou retoricamente o amigo encarando os dois se distanciarem para uma das mesas do refeitório. — Caramba, ele é rápido.
— Não me diga... — Kawaki respondeu seco.
Não fazia nem uma semana que eles tinham terminado, até agora o garoto não estava tão preocupado com isso.
Se a Ada queria terminar, então tudo bem. O que mais ele poderia fazer?
O motivo? Kawaki não tinha dito que a amava de volta, e por isso Ada simplesmente jogou um ano de namoro fora.
Ele esperou que ela o entendesse, que demonstrar carinho fosse uma coisa difícil até para os familiares que convivem com ele dia após dia, por anos.
Contudo, Ada não sabia do passado de Kawaki, não era onisciente afinal. E o garoto tinha uma ligeira impressão de que se soubesse, Ada talvez ainda assim terminaria.
O garoto estava cansado de suas cobranças, ela dizia que eles não pareciam ser namorados, que ele nunca dizia palavras fofas ou comprava presentes para ela toda semana. Que não pegava na sua mão para andarem juntos, que não gostava de abraçar e a lista se seguia infinitamente.
Até eles terminarem no fim. Porque Kawaki não podia dar o que ela queria.
Ter problemas de família não foi algo que Kawaki pediu, ele era só uma criança. Uma criança que por muitos anos não conheceu o amor.
Kagura olhou para a expressão do amigo percebendo que ele não queria falar sobre o assunto, ele entendia muito bem. E também não obrigaria seu amigo a falar.
Mesmo que Kagura estivesse disposto a não falar sobre o assunto, outra pessoa estava muito disposta.
Yuino Iwabe, um garoto moreno e alto da mesma série que os meninos. Ninguém nunca soube como ele tinha conseguido passar de ano, pois nunca o viram estudar. Não que Kawaki fosse o exemplo de aluno aplicado, mas mesmo assim ele se esforçava nas provas.
Ao ver o novo "casal" passar pela cantina ele estava decidido a falar com seu amigão sobre o acontecimento.
E foi até ele andando despojadamente entre as mesas e comendo uma maçã.
O garoto se sentou entre o Karatachi e o Uzumaki tranquilamente e passou o braço pelo ombro de Kawaki, num ato de "brothers".
Kawaki, no entanto, olhou para ele com uma expressão nada amigável indicando que ele não era muito bem-vindo.
Kagura deu um sorriso constrangido.
— É, meu amigo, acho que você acabou de ser passado para trás pelo Code, quem diria? – proferiu Iwabe, fazendo com que alguns alunos olhassem para a mesa com cara de deboche.
Kawaki bufou, não era disso que ele precisava naquele momento.
— Será que dá para parar de encher o saco? – disse Kawaki com as sobrancelhas já franzidas e a uma linha de irritação se formando em sua testa. — Ninguém nessa escola sabe cuidar da própria vida?
Nesse momento, Ada e Code riem alto em duas mesas de distância dos garotos, chamando a atenção dos três.
Isso fez com que Kawaki olhe para eles, a garota olha com seus olhos azuis-esverdeados intensamente para Kawaki.
O moreno engoliu em seco, as olhadas da azulada sempre o faziam se sentir como se ela estivesse enxergando a sua alma. Mesmo assim, ele nunca conseguia absorver o que queria dizer com aquele olhar.
— Qual é Kawaki, está estressado só por que sua namorada arrumou outro? Se eu fosse você já estaria em outra também. Se bem que a Ada é mesmo linda – completou sonhador enquanto abocanhava sua maçã.
O Uzumaki tirou a mão do Yuino do seu ombro bruscamente.
— Por que não tenta a sorte com a Ada também, já que acha ela linda? — provocou, ele arrumou o bentô de Hinata cuidadosamente.
Sua bondosa e gentil mãe sempre pedia para ele cuidar direito das suas coisas, não podia ter certeza se tinha sucesso com seus próprios itens pessoais, mas com os de Uzumaki Hinata, com certeza teria.
— Não sabia que você era tão ciumento, e para a sua informação eu não sou talarico.
— Será que vocês poderiam se acalmar? – abrandou Kagura sentindo o clima esquentar.
— Eu estou calmo – disse Kawaki, cruzando os braços com uma expressão irritada e os olhos secando Code e Ada.
— Ele não quer admitir que está com ciúmes – continuou Iawabe.
— Iwabe, seja mais gentil com ele. Qualquer um ficaria nervoso e com ciúmes nessa situação, não vamos provocá-lo – falou o Karatachi.
O moreno olhou para ele indignando, até Kagura?
— Kagura!? – esbravejou Kawaki se levantando enfim da mesa, ele com certeza já tinha aguentado tempo demais.
Só faltava Boruto para completar a sua desgraça.
— Aonde você vai Kawaki? — perguntou o loiro.
Antes que ele pudesse responder que iria tomar um pouco de ar antes da aula começar, para que ele mesmo pudesse esfriar a cabeça.
Uzumaki Boruto, seu escandaloso irmão mais novo apareceu para completar a desgraça iminente.
— Eai mano, parece que a Ada já arrumou outro hein. – Boruto chegou se enfiando na mesa com seu hambúrguer contrabandeado, pois a escola não permitia fast food, somente comida de casa e salgadinhos e refrigerantes que fossem comprados nas máquinas da escola.
— Você viu? O pior é que ele não quer admitir que isso o afeta – Iwabe sussurrou para o loiro de olhos azuis, mesmo que Kawaki ainda conseguisse escutar tudo.
— Boruto, será que você não tem nada melhor para fazer não? Por exemplo, ir encontrar a sua namorada? – perguntou sarcástico.
— Nossa, que azedo. Agora que tá solteiro ele fica com inveja dos que estão namorando – Boruto disse, sorrindo malicioso e enfiando seu hambúrguer na boca.
Hinata não ficaria nada feliz se soubesse que ele não está se alimentando da sua comida saudável, mas sim de fast foods ultracalóricos.
Kagura passou as mãos no rosto ao ver os dois interagindo.
— Já chega, se quiserem continuar discutindo sobre a minha vida tudo bem, eu vou embora daqui – finalizou pegando o bentô, e andando o mais rápido possível para fora da cantina ignorando todos, até de Code e Ada com suas risadas.
Sabe-se lá Kami-Sama de onde essa amizade havia surgido, não que ele quisesse saber afinal.
O adolescente de dezessete anos saiu do refeitório com a cabeça baixa e olhando para seu tênis da Nike. Praguejou baixinho. Por pelo menos um dia ele queria não ser notado na escola.
Não conseguia entender como poderia ser uma pessoa interessante se não era interessante nem para si mesmo. Por muito tempo, ele foi um adolescente problemático que dava problemas para seus pais adotivos, voltava da escola com roxos e arranhões das brigas que se metia.
Foi com muita paciência que Kawaki se integrou na escola e no seu novo ambiente social, Kagura foi um dos seus primeiros amigos e sempre foi compreensível com o garoto.
Andou pela escola até seu armário com portas de metais azuis, onde ele guardou cuidadosamente seu bentô na mochila para pegar depois, ele trancou seu armário e estava decidido a perambular pela escola sem um lugar necessariamente para ir.
Quando estava saindo até o pátio uma garota do primeiro ano se aproximou timidamente dele, ela tinha cabelos castanhos curtos e carregava uma caixinha vermelha com ela. Uma garota loira assistia a garota se aproximando
Kawaki ficou confuso com a aproximação, colocando as mãos no bolso e olhando para a garota com um ponto de interrogação invisível em cima da sua cabeça.
Ela levantou a caixinha embrulhada num laço vermelho e escondeu o rosto no cabelo com as bochechas coradas. Algumas pessoas no corredor encaravam a situação visivelmente intrigados.
Vendo mais de perto, Kawaki constatou que havia chocolates dentro da caixa. Ele suspirou, já sabendo o que aconteceria.
— Por favor aceite esse presente, Kawaki-kun — a menina falou esperando que o mais velho pegasse a caixa.
Ele também viu que a menina tinha uma carta junto da caixa, Kawaki levou as mãos a caixa, levando-a para junto do corpo da garota.
— Desculpe-me, mas não posso aceitar. — Ele negou com a cabeça, vendo a menina ficar mais vermelha ainda. — Entregue para um amigo...
Não gostava de ter que passar por isso, mas não podia aceitar um presente se não era capaz de retribuir os sentimentos.
— Mas... — ela tentou argumentar, mas Kawaki já tinha partido com as mãos no bolso da calça de moletom.
— Eu falei Mina, que você devia ter esperado o Dia dos Namorados. — Ouviu a loira falar em consolação para a amiga.
Kawaki andou sem rumos e sem falar ou encarar ninguém, a cena de Ada e Code não saía de sua mente, como uma cena repetida que fica rodando diversas vezes nos seus Divertidas Mentes.
O garoto se sentia culpado por não dar a Ada o que ela queria, ele queria de alguma forma mostrar a ela que poderia dar carinho e demonstrar afeto de alguma forma. Só não sabia como, e também não sabia como reatar o namoro.
Não tinha ligado muito para o fim do namoro até aquele momento, se pudesse apagar de sua memória com certeza o faria.
Na verdade, Kawaki não tinha nem a certeza de que amava Ada. Mesmo assim, o namoro que eles tinham era confortável.
Não havia falado com ninguém sobre o término, Kawaki se fechará em si mesmo dando respostas vagas sempre que perguntavam.
Até pensará em falar sobre isso com Hinata ou Naruto, mas eles eram tão ocupados que ele desistia antes mesmo de tentar.
Bufando pela escola, ele parou no pátio, o referido lugar tinha um jardim bonito cheio de inflorescências com flores de todos os tipos, como lírios e flores de cerejeira. Era lindo na primavera, onde os casais iam se encontrar e passar um momento juntos.
No entanto, agora no inverno e no frio era sem vida e sem cores. O piso de tijolos sem graça não chamava atenção de ninguém e ninguém se aventurava a ir até lá.
Pelo menos, não agora que o sinal estava quase batendo. Era o que o Uzumaki pensava, mas encontrou uma figura feminina pequena sentada num banco debaixo de um grande pé de Sakura, que tinha galhos secos e só alguns brotos nascendo.
A garota de cabelos arroxeados não fez suas tranças habituais, deixando parte dos cabelos cair pelo rosto pálido e bonito, enquanto se mantinha concentrada no caderno em seu colo.
Na hora que Kawaki a olhou, ela tirou uma mecha de seus cabelos colocando atrás da orelha para não atrapalhar sua visão. Kawaki se demorou algum tempo encarando a cena bonita da garota sentada e o sol do meio-dia batendo em seu cabelo.
Sumire tinha ido até o local para estudar para sua prova de Biologia, estudar somete à noite quando chegou do trabalho não foi suficiente e ela não se demorou em dispensar o almoço, dizendo que havia comido o suficiente no café da manhã para ir para o pátio vazio estudar.
Estudar nunca era de mais para a Kakei, ela se concentrava em suas anotações sobre Árvores Filogenéticas e Taxonomia, Biologia era uma matéria importante para sua futura carreira e entender como seres vivos se classificavam também.
Ela estava tão concentrada em sua tarefa que não notou e nem notaria um garoto estranho a olhando fixamente naquela hora.
Kawaki pensou em sair para não atrapalhar a arroxeada que parecia tão concentrada no que fazia. No entanto, se lembrou da conversa que tiverá com ela no dia anterior.
Sumire tinha se proposto a ajudá-lo, por um motivo que ele não entendia.
A garota era sempre gentil com ele, sempre falava coisas positivas e perguntava como estava sendo sua semana. Apesar de tudo, Kawaki tinha um jeito bruto e arrogante em momentos em que não estava com o melhor dos humores.
Todavia, ela sempre foi atenciosa. E isso, ele não podia entender. Não sabia se o que eles tinham era uma amizade, mas olhando agora Kawaki percebeu que até que gostava de Sumire.
E bom, ela é uma garota. Uma garota que podia ajudá-lo com Ada? Ele ponderou um pouco pensando que podia ser um absurdo, Kawaki odiava pedir ajuda.
Então ele se virou para ir embora, seu orgulho vencendo. Até a imagem de Ada e Code juntos nublar a sua mente novamente.
Em certas situações, sentimentos conflituosos podem falar mais alto que a nossa parte racional. Mas não dava para negar, sentimos o que sentimos.
E a pontada e o embrulho da barriga de Kawaki, não podia mais negar a verdade ignorada. Ele estava com ciúmes.
Por um momento a fagulha de irritação se exibiu em uma carranca, então ele se virou decidido mais uma vez caminhando para a garota de cabelos violetas que estava sentada no banco.
Caminhou até ela com uma expressão decidida, se convencendo de que situações desesperadas, exigem medidas desesperadas. E o pobre orgulho de Kawaki, se foi aos poucos conforme avançava.
Sumire lia suas anotações tranquila ao pé de Sakura, convencida de que ao fim poderia tirar uma boa nota em sua prova, pois já sabia quase todo o conteúdo.
— Roxinha, você estuda até no horário do almoço? Não ouviu falar de período de pausa? – Kawaki falou apoiado despojadamente no tronco da árvore em uma expressão de ironia.
A aluna aplicada se assustou com a voz e colocou a mão no coração.
— Kawaki! Você me assustou! – esbravejou assustada enquanto sem sua permissão suas bochechas se esquentavam.
— Foi mal roxinha, mas você precisa parar de estudar tanto – disse enquanto saía de seu lugar e arrancava o caderno da garota.
— Ei! Me devolve. – Sumire se levantou, tentando pegar seu caderno de volta.
Levantou seus braços curtos em comparação aos do Kawaki, enquanto ele segurava o caderno no alto.
Sem sucesso, o Uzumaki era muito mais alto do que ela.
— “Taxonomia é o estudo da classificação dos seres vivos, a classificação dos seres vivos contém sete categorias taxonômicas: Reino, Filo, Classe, Família, Ordem, Gênero e Espécie” – leu enquanto a indignada Sumire tentava pegar seu caderno de volta.
— Kawaki Uzumaki! – falou alto e em tom de reprimenda.
— Chato! Como você consegue passar uma hora estudando isso?
A garota deu um impulso pulando alto e arrancando o caderno dele, ao fim ela quase se desequilibrou caindo de cara no chão.
Infelizmente ou felizmente, Kawaki a segurou pelo braço que não segurava o caderno a trazendo mais perto de seu corpo.
A arroxeada sentiu seu estômago dar uma contraída ao olhar no fundo dos olhos cinzentos de Kawaki e sentir o calor de seu corpo, o garoto que ela havia conhecido no consultório. O garoto de olhos tristes, que carregavam tantos traumas como ela.
Pela primeira vez, Sumire percebeu o quanto Kawaki era absurdamente bonito de perto. Os olhos cinzas encaram a menina com o mesmo afinco e interesse.
Os olhos ametistas nunca pareceram tão bonitos como naquele momento. Ele percebeu o nariz arrebitado charmoso de Sumire, seus olhos desceram até sua boca...
A garota tirou o braço do aperto da mão de Kawaki, mal tendo tempo de pensar que ela parecia firme e grossa.
O Uzumaki saiu de seu transe momentâneo.
— Cuidado roxinha, você quase beijou o chão – ele alertou.
Sumire apertou o caderno fechando ele em um carranca. Não sabia que com o que ficava mais irritada, com o fato de seu estudo ter sido interrompido, de quase ter caído ou do fato de talvez por um momento ter achado Kawaki bonito demais.
Seu coração bateu apressadamente contra seu peito, implorando por ajuda. Mas ela encarou Kawaki à sua frente.
— O que você quer afinal? Você veio só para me provocar e falar que estudo demais? – Ela arrumou sua saia do uniforme. — Você nunca fala comigo na escola – acrescentou.
— Desculpa te interromper, mas ontem você... – Teve receio em falar a próxima frase.
Sumire olhou curiosa para o garoto, em silêncio ela esperou a resposta enquanto o vento frio soprava seus cabelos.
— Bom, queria saber se a proposta de ajuda com a Ada ainda está de pé? – perguntou receoso, era um imenso desafio para ele.
Kawaki não sabia o porquê de estar fazendo isso, na verdade sim, o ciúmes. Lembrou-se.
A garota abriu a boca surpresa. Uzumaki Kawaki estava pedindo ajuda para ela?
— Isso é... isso é sério? – perguntou desconfiada.
— Não confia em mim? Acha que nunca falo sério? – Kawaki olhou para ela questionador.
— Não é isso, eu só... fiquei surpresa – disse enquanto mexia na sua saia.
— Se ficou surpresa é porque não esperava isso de mim. – Ele levantou uma das sobrancelhas levando os dois piercings junto.
— É talvez seja isso mesmo – a garota admitiu.
— Eu posso te surpreender muito então, roxinha. Mas, enfim, vai me ajudar ou não? – perguntou por fim.
Kawaki podia ser orgulhoso, mas quando decidia uma coisa, iria até o fim com aquilo. Uma de suas qualidades, ou defeito, depende do ponto de vista.
— Eu disse que te ajudaria, então ajudarei – disse por fim. — Mas não agora, acho que o sinal está quase batendo.
Ela supôs, não havia levado seu celular até o pátio, então não sabia que horas era. Kawaki tirou seu celular do bolso para ver que horas era.
— É, faltam dois minutos. Você pode amanhã? – perguntou enfiando o celular no bolso de novo.
— Amado me pediu para ir trabalhar amanhã. Mas como assim posso amanhã? –perguntou curiosa.
O garoto do cabelo bicolor encarou a garota como se não tivesse entendido.
— Você não quer me ajudar? Então, eu presumo que temos que nos encontrar antes para você poder me ajudar.
— Mas eu preciso de detalhes, olha que tal domingo em um cafeteira pra' gente poder conversar primeiro? – propôs, Sumire precisava saber as causas do problema, antes de poder de fato ajudá-lo.
Não conhecia Ada muito bem, e esperava que Kawaki lhe desse todas as informações sobre a garota.
— Tudo bem, pode ser às 14 horas? Eu passo na sua casa.
A arroxeada acenou positivamente, não sabia ao certo se ter tido o ato altruísta de ajudar Kawaki daria certo. Mas ela faria o que podia. Só esperava não estar se metendo em encrenca.
Naquela hora, o sinal da escola tocou. O som estridente foi ouvido no pátio por Kawaki e Sumire, avisando que deveriam voltar para a sala e para os próximos horários de aulas.
— Mas... você não quer meu número de telefone para eu passar meu endereço? – perguntou confusa para o garoto que nem havia se mexido ao ouvir o sinal tocar.
— Eu não preciso – respondeu confiante.
A arroxeada levantou uma sobrancelha confusa. Mas como estava atrasada para a aula de Biologia, e como ela era a Represente de Turma e Representantes de Turmas têm muitas responsabilidades, ela resolveu apenas concordar.
Pelo visto, o Uzumaki podia mesmo surpreender muito ela. Sumire nunca imaginou ele pedindo ajuda, mas aqui estava ele afinal, e pediu ajuda com a ex-namorada para ela.
— Se você diz... eu vou indo como sou a Representante da Turma preciso chegar cedo para fazer a chamada e conferir se todo mundo está de uniforme. Oh... e ainda tem a prova – disse mais para si mesma, ela não tinha passado o último conteúdo, mas agora não tinha mais volta. — Até domingo então Kawaki, tenha uma boa aula.
Se despediu do mais velho acenando e andando apressadamente para o corredor. Mas no meio do caminho sentiu sua manga e seu braço ser segurado por uma mão firme.
A Kakei parou de dar o passo que daria e virou para trás encarando a mão musculosa de Kawaki em seu braço e sua expressão cotidiana.
— O que foi, Kawaki?
Seus olhos cinzas encararam os dela mais uma vez. E ela percebeu algo parecido com preocupação em seu olhar.
— Você não almoçou? – perguntou, e de perto Sumire pôde notar como sua voz era grave.
Suas bochechas se esquentaram e seu coração começou a bater mais forte. Mas em confusão encarou o garoto, por que ele estava perguntando isso? E por que se preocupava?
— Não, mas... eu já comi bem no café da manhã.
— Tem certeza que não está com fome?
— Tenho – respondeu convicta.
Seu estômago aparentemente pensava outra coisa e roncou forte à menção de comida.
Sumire sentiu seu sangue ferver para sua cabeça. Kawaki olhou debochado para ela, ainda segurando a manga azul de sua camisa, ele deslizou para a mão dela e tirou do bolso da calça uma barra de cereal, depositando em sua mão.
Os olhos ametistas fitaram as mãos deles se encostando com um pequeno arrepio. Um arrepio que percorreu seu corpo.
— Eu não preciso... – teimou.
— Coma, não é bom fazer uma prova com o estômago vazio e sem calorias. – Tirou a mão da dela e levou até seu bolso novamente. — Não seja tão dura consigo mesma roxinha.
A garota apertou a barra de cereal na mão que não carregava o caderno. Por um minuto, ela olhou para o garoto à sua frente, tão diferente do que negou veementemente a ajuda dela ontem no consultório.
E se perguntou, o que havia acontecido para fazê-lo mudar de ideia. E se perguntou, se já notará o lado gentil dele.
Kawaki olhou para a garota lhe observando, até que naquela direção e com o uniforme da escola, o sol batendo no cabelo violeta dela, ele achou Sumire bonita.
E suas bochechas coradas combinavam com ela, até a forma como apertava o caderno contra si parecia adorável.
Enquanto Kawaki admirava a garota, Sumire saiu de seus pensamentos, céus, o que ela estava pensando? E ainda estava atrasada para a aula.
Pigarreou fazendo Kawaki sair dos seus pensamentos também.
— Preciso ir mesmo Kawaki, até domingo. – Ela acenou gentilmente e saiu apressada do pátio apertando a barra de cereal e o caderno contra si.
Antes que suas ideias ficassem mais erradas ainda, Kawaki observou a pequena garota correr, com uma expressão divertida.
Sumire ficou se perguntando se havia tomado muito café de manhã.
Pois a forma como seu coração batia em seu peito, não parecia muito normal. E nem mesmo a forma como suas mãos suavam ou até o fato de ter achado Kawaki muito bonito.
“Sumire o que você está pensando?”
No fim, ela se convenceu que tinha sido o sol quente do pátio que causou um efeito estranho nela.
Ou ela só não queria admitir a realidades dos fatos. Mas Kawaki tinha superado um grande obstáculo ao pedir ajuda.
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