"I know I'll fall in love with you, baby. And that's just what I'll do."
—Cry baby, The Neighborhood
Assim que saio, depois de pagar o Uber, avisto Brooke que veste uma jaqueta de couro preta por cima de uma blusinha amarela, sua calça e tênis quase os mesmos que os meus, mas de cores diferentes. A mesma acena para mim que nem uma louca.
— Vamos Flora! Eles vão tocar daqui a cinco minutos. — ela fala super animada e me puxa pela mão para dentro do bar. — Olha o pessoal ali! — aponta para uma mesa com dois casais, três meninas e um menino, todos da nossa faculdade. Eu conhecia todos, mas Brooke era mais próxima, graças ao seu jeito ela faz amizades muito fácil. Eles acenam para nós nos juntarmos a eles.
— Ainda bem que você chegou, a banda do Jay vai subir no palco a qualquer momento! — Zoe exclama com o braço envolta do pescoço de sua namorada, Ruby.
— Só não vai babar em, a banda do Jay é conhecida por tirar suspiros de todas. Todo menina que vê eles tocando sai apaixonada. — Lizzie fala, mas logo complementa sua frase quando seu namorado a olha bravo — Toda menina menos eu, claro! — todos nós rimos enquanto a mesma da um selinho em Caleb para se desculpar.
Antes que pudéssemos falar mais alguma coisa uma voz soa nos alto falantes do lugar.
— Agora, sem mais delongas, a banda que vocês esperaram a noite toda! Dêem as boas vindas à galera do Straight Vodka! — o dono do bar fala e desce do palco logo em seguida fazendo as pessoas gritarem o nome da banda, principalmente meninas.
Enquanto eles se preparam e agitam a galera, eu percebo que se trata de uma banda de quatro pessoas. O vocalista, provavelmente o Jay, fica na frente e no centro. A esquerda dele uma menina se posiciona atrás do teclado, com uma cara não muito boa para as meninas que gritam da plateia. O baterista fica no fundo, quase escondido. E o guitarrista, a direita de Jay, parece tentar afinar seu instrumento, então não posso ver muito de seu rosto.
— Aquele na frente é o Jay, futuro pai dos meus filhos. — Brooke diz me fazendo rir — Do lado esquerdo dele é a Jasmine, pela cara dela você pode perceber que não é muito fácil estar numa banda com caras gatos. No fundo o Toby, o baterista. E por último mas não menos importante, o Collin. — como numa cena de filme, no mesmo momento o guitarrista termina de afinar sua guitarra e olha para a platéia de um jeito quase que em câmera lenta, ah fala sério!
Da onde estou, não posso ver muitos detalhes da aparência de cada um, mas pelos gritos ensurdecedores que as meninas emitem eu acredito que sejam todos bonitos. Finalmente, depois de tudo pronto, Jay pega no microfone fazendo os gritos aumentarem.
— Boa noite galera! Obrigado por estarem aqui hoje, espero que façamos a vinda de vocês até aqui valerem a pena. Nós somos o Straight Vodka e vamos começar logo esse show! — ele termina e abre um sorriso que por um momento me faz entender o por quê de tantos gritos.
Foco nas músicas, que eu conheço e gosto também. Eles são uma banda boa, muito boa pra falar a verdade. O vocalista não é o único que canta, algumas vezes vejo o tal do Collin se aproximar do microfone e canta alguns versos.
A noite vai passando, cada vez mais bebidas chegam à nossa mesa e a conversa fica cada vez melhor. Algumas vezes paramos pra ver o show, como estamos fazendo agora.
Provavelmente por conta da bebida, eu agora observo mais os integrantes da banda. A voz do Jay é realmente linda, assim como ele. Ele é moreno com uma franja loira e tem o sorriso mais lindo que eu já vi, é justificável o tanto de fãs que tem. A Jasmine já não sustenta a mesma cara de ódio que estava no começo do show, ela dança junto com as notas que toca no teclado, balançando seus cabelos negros que contrastam com sua pele branca e seus olhos azuis. O Toby mesmo que no fundo do palco não passa despercebido, ele balança seu cabelo castanho que já gruda em seu rosto, graças ao suor. Finalmente eu noto o guitarrista, Collin. Seu cabelo castanho claro em conjunto com seus olhos que brilham à luz do palco complementam sua beleza de um jeito magnífico. Uma coisa que percebi desde o começo do show é o seu jeito de olhar para o público, ao mesmo tempo que ele olha para todas as pessoas, ele não olha para ninguém, e isso me intriga por mais que eu resista. Ele é o que mais me chama atenção ali. Bem, não só a minha atenção mas a de todas ali presentes, principalmente quando abre um sorriso, não me admira tantas admiradoras aos seus pés.
Quando saio do meu transe é a mesma hora que a introdução de uma das minhas músicas favoritas começa, “Cry Baby!”. Com a mistura da música e do álcool eu me solto mais e começo a cantar junto com eles, fazendo as pessoas da mesa rirem junto comigo. Quase no final da música, no meu trecho preferido o guitarrista assume o microfone:
— "I know I'll fall in love with you, baby. And that's just what I'll do". — o Collin canta sozinho e pela primeira vez na noite ele olha pra minha mesa. Não, ele está olhando pra mim.
Os segundos parecem horas até ele por fim desviar o olhar, mesmo que tenha sido algo banal, eu fico tocada pela forma que nossos olhos se encontraram. Subitamente sinto meu corpo esquentando e meu rosto ficando quente.
— Flora você tá bem? — Brooke vira para mim franzindo a sobrancelha. — Você tá vermelha, tipo pegando fogo! — ela fala e ri. Álcool álcool, olha o que você faz.
— Eu vou tomar um ar lá fora. Não estou me sentindo muito bem. — ela concorda com a cabeça e volta a conversar com nosso grupo de amigos.
Abro a porta e sinto o choque do ar frio contra o fervor das minhas bochechas. Pelo incrível que pareça, eu odeio essa sensação... Como conseguimos deixar outro alguém nos causar esses tipos de reações? Eu sou um ser humano dono do meu corpo, tenho direito de conseguir controlá-lo. Respira Flora!
Isso não foi causado por um outro alguém e sim pela bebida inesperada. Até porque, já faz bastante tempo que decidi ficar bem longe desse tipo de situação... esse sentimento — que evito citar o nome pra não atrair — consegue enganar a todos, mas comigo é diferente, tem que ser diferente. Ele me mostrou seu pior lado, o lado da dor, do sofrimento, do desespero e da decepção. Onde ele passa, deixa um rastro sombrio e é difícil escapar da próxima frustração. Ver meus próprios pais, até então apaixonados, passarem pelo o que eu também passei sem ao menos saberem, me fez sentir toda a mágoa do papai. Traição é uma coisa que machuca e desconcerta um ser humano e isso foi motivo suficiente para não querer se apaixonar novamente.
Volto para o bar e avisto a galera bem mais animada ao som de “Teenage Dirtbag”, aparentemente esse é o último da banda. Os universitários de plantão realmente estão dando o maior apoio ao grupo e parecem estar bem satisfeitos com o sucesso dos conhecidos na região.
Avisto a minha mesa e percebo que Zoe e Ruby já estão se despedindo, talvez seja um ótimo momento para chamar a Brooke também...
— Tchau pessoal, como sempre a companhia de vocês é maravilhosa, porém agora eu e a minha lady temos coisas mais importantes para fazer! — Ruby anuncia piscando pra parceira que reage de jeito tão safado quanto.
Rimos da sem vergonhice e nos despedimos, aproveito a deixa para fazer o mesmo. Guardamos as coisas não esquecendo de prometer mais encontros assim, todos nós já estamos meio alterados, o que faz as ações terem uma intensidade maior do que o normal.
Antes mesmo de sairmos, não consigo me conter e acabo olhando para o palco. A banda já tinha encerrado e neste momento estavam sorridentes conversando com algumas pessoas ao redor.
Meus olhos procuraram aquele guitarrista e piscaram lentamente ao se deparar com a cena: seu cabelo suado caído na testa sendo puxado para trás com um movimento calmo de sua mão e sua boca vermelha cobrindo um sorriso sincero ao observar o quanto tinham gostado do show.
Como se pudesse sentir, olhou em minha direção de forma tão rápida e repentina que quando virei não consegui evitar o garçom e acabei tomando um banho de cerveja. Ótimo, além de passar frio também vou ficar fedida... Que terça!
— Mil desculpas moça! — o garçom pede envergonhado.
— Tudo bem, fica tranquilo! A culpa foi minha. — sorrio em resposta ajeitando as pontas molhadas do meu cabelo. Só me dou conta da risada da Brooke quando enfim saio do transe pelo constrangimento. Seus olhos estão divertidos e ela está vermelha olhando para mim, razão a qual me deixa mais irritada ainda pela falta de consideração. Rolo os olhos e passo por ela, prometendo trancá-la para fora de casa.
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