Alec decidiu sair para a cidade depois do ocorrido. Não havia muito clima para continuar na corte, já que o único assunto que corria pelos corredores era o grande casamento do príncipe unseelie com a princesa seelie. Não que na cidade estivesse muito diferente, mas por lá ele poderia se distrair mais.
Ele não visitava muito a cidade, o que era suficiente para passar despercebido pelo menos por algumas fadas. Ainda usava a roupa de príncipe, o que chamava a atenção, mas, sem a coroa — que ele tinha deixado em um canto qualquer do palácio — podia agir como se fosse apenas um seelie com mais status, mas não um status tão alto quanto ele realmente tinha.
Era tarde, então as ruas estavam quase vazias, diferente dos bares, que estavam quase lotados. Alec entrou em um deles onde todos pareciam bêbados o suficiente para nem mesmo olharem para seu rosto.
Pediu uma bebida no bar e se sentou no banco de madeira retorcida, encantada para formar um assento.
Alec já estava acostumado com as bebidas seelies, que pareciam água perto do drink que ele havia bebido no mundo mundano, mas nem ele poderia se manter sóbrio depois da quinta dose, e ele honestamente não se importava.
Tudo que desejava era esquecer aquele dia, esquecer Magnus e seu anel idiota no dedo de Isabelle, esquecer a imagem dos dois se beijando… Queria esquecer até da lembrança de ele próprio e Magnus se beijando. Se não tivesse se envolvido, ele não estaria naquela situação.
Sua mãe tinha razão, ele não iria aguentar presenciar aquele casamento.
Se amaldiçoou mentalmente por ter rompido o noivado com Mark. Estava tudo tão bem, eles estavam tão felizes… e então Magnus chegou e estragou tudo.
Alec gemeu contra o cálice em sua boca, só queria dar um tempo daquilo tudo, queria acordar e perceber que tudo foi um sonho, que ele ainda estava noivo de Mark e que não havia ido para a cama com o noivo de sua irmã.
Seus pensamentos começaram a ficar turvos depois da sexta dose, e o príncipe acabou se debruçando sobre o balcão, já que nem sabia mais onde estava.
Alguns minutos se passaram, ou talvez fossem horas, Alec não saberia dizer. Ele sentiu seu corpo sendo cutucado, e então uma voz doce o chamando.
— Alec? Ei, você já bebeu demais. Me deixe te levar de volta para casa.
Alec ergueu o olhar e encontrou os olhos coloridos de Mark o olhando com preocupação.
— Não quero voltar para o palácio — Alec resmungou com a voz embargada.
— Está todo mundo te procurando, Alec — Mark disse pacientemente. — Isabelle está histérica.
— Mas isso não é novidade nenhuma.
Mark soltou uma risadinha e afastou o cálice que Alec ainda segurava das mãos do príncipe.
— Vem, você está podre de bêbado.
— Não, Mark, eu não quero voltar pra lá. Eu não quero vê-los.
Um suspiro calmo e paciente escapou dos lábios de Mark e ele se sentou no banco ao lado de Alec, apoiando um dos braços no balcão. Pediu um pouco de água para o seelie do outro lado, que logo veio com um cálice cheio.
Mark colocou o cálice nas mãos de Alec.
— Vamos, beba — pediu.
Uma vez que a garganta de Alec estava absurdamente seca, ele não protestou e apenas bebeu a água.
— Eu vi como você ficou quando ele fez o pedido — Mark comentou. — Você gosta mesmo dele, não é?
— Agora no momento eu só queria que ele voltasse para a corte dele e nunca mais aparecesse aqui — Alec resmungou com a voz ainda embargada. Mark tinha que se esforçar para entender o que exatamente ele estava falando.
— É, você gosta mesmo dele — Mark murmurou para si mesmo e então voltou a atenção para o príncipe. — Se eu te disser que ninguém vai te ver no palácio, você me deixa te levar para lá?
— Eu sou o príncipe — Alec retrucou. — Não vou passar despercebido, Mark.
— Nós entramos pela cozinha e eu te deixo dormir no meu quarto em vez de subir para o seu, assim ninguém te vê. Parece bom?
Alec pensou por alguns instantes, apenas encarando o rosto de Mark. Ele era tão bonito…
— Tudo bem — ele disse por fim. — Se for assim eu vou.
Mark se levantou e Alec tentou fazer o mesmo, mas acabou cambaleando. Antes que ele pudesse perder o equilíbrio totalmente, o braço forte de Mark envolveu sua cintura e o segurou.
Alec abriu um sorriso idiota.
— Você é forte.
Mark apenas riu e começou a tirar o príncipe dali.
* * *
Como combinado, Mark levou Alec pela cozinha e o conduziu até seu quarto. Passou o caminho todo rindo das idiotices que o príncipe bêbado falava. Sentia falta de ter momentos assim com Alec, onde eram apenas os dois e muitas risadas.
Quando chegaram no quarto, Mark colocou Alec na cama e então sentiu seu braço ser puxado, fazendo com que ele caísse para frente, em cima de Alec.
No instante seguinte seus lábios estavam colados. Por alguns segundos, Mark realmente acabou se deixando levar por aquilo, afinal ainda era Alec, o homem pelo qual ele era completamente apaixonado… e que estava infinitamente bêbado.
Mark se afastou e balançou a cabeça.
— Alec, não.
Alec fez um biquinho e tentou puxar Mark de volta mas dessa vez ele resistiu e se levantou da cama.
— Eu sei que sente falta, Mark — Alec comentou com uma expressão irritada. — Eu também sinto.
— Não, você não sente, você só está de coração partido por conta do casamento — Mark respondeu sem irritação alguma na voz. A paciência dele estava quase deixando Alec louco. — Tente dormir um pouco, ok?
— Durma comigo — Alec pediu fazendo biquinho.
Mark riu e puxou sua colcha de algodão sobre o corpo de Alec para mantê-lo aquecido.
— Bons sonhos, Alteza — ele disse antes de sair do quarto. Os olhos de Alec estavam pesados, então não demoraria muito para que ele pegasse no sono.
Mark respirou fundo assim que se viu no corredor e então subiu as escadas em direção ao quarto de Isabelle. Bateu na porta uma única vez e precisou controlar um rolar de olhos quando a porta foi aberta pelo príncipe unseelie. Se Alec tivesse batido ali, ele ficaria ainda pior do que já estava.
Controlou sua língua afiada e fez uma reverência a contra gosto para o príncipe.
— Alteza. A princesa está?
Magnus abriu mais a porta e fez um sinal com a cabeça para que Mark entrasse, então ele o fez.
Isabelle estava parada na entrada da varanda, ainda com o vestido que usara mais cedo, abraçando o próprio corpo. O anel de noivado brilhava no dedo delicado. Ela se virou assim que Magnus fechou a porta.
— Achou ele? — ela perguntou com um semblante quase desesperado. — Diga que sim, Mark.
— Sim, ele estava em um bar se embebedando — Mark contou. — Ele não queria encontrar com nenhum de vocês, então eu o levei para o meu quarto.
— Precisava ser justo para o seu? — Magnus questionou com a voz fria. Mark respirou fundo e continuou encarando Isabelle.
— Que bom que foi para o meu, se ele decidisse que queria ver a irmã e encontrasse vocês dois aqui garanto que seria muito pior.
Magnus já estava pronto para responder mas Isabelle negou com a cabeça.
— Mark está certo. Eu estava tão preocupada que não pensei corretamente.
Mark estava tentado a dar um sorrisinho vitorioso para Magnus mas se conteve. Não era tão idiota a ponto de desafiar um príncipe.
— Como ele estava? — Isabelle perguntou.
— Triste — Mark respondeu. — É difícil para ele, como você deve imaginar.
Isabelle soltou um suspiro e caminhou até sua cama, se sentando na ponta.
— Também não é fácil para mim, Mark, eu não quero ver o meu irmão sofrer, ainda mais por minha causa — disse a princesa.
— Eu sei disso, Izzy, sei que jamais faria isso de propósito, mas vocês precisam conversar… vocês três — Mark deu um olhar de soslaio para Magnus e então voltou a olhar para Isabelle. — Ele não pode viver assim, é demais para ele. Vai acabar com ele todos os dias ver vocês juntos, mesmo sabendo que vocês não se gostam de verdade.
— E o que você sabe? — Magnus questionou revirando os olhos.
Mark o encarou com um olhar afiado.
— Alec e eu temos anos de história juntos, eu o conheço mais do que você pode sonhar conhecer um dia. Não importa se ele me deixou porque estava tendo sentimentos por você, isso não apaga o que vivemos e também não apaga o fato de que eu me preocupo com ele.
Isabelle pigarreou.
— Tudo bem rapazes, não precisam brigar — disse ela. — Não se preocupe, Mark, nós vamos dar um jeito nisso. Obrigada por trazê-lo de volta.
— Sem problemas — Mark fez uma reverência. — Se me dão licença, vou descansar também.
Quando se virou para sair, Magnus bloqueava a porta, olhando para Mark de forma questionadora.
— Irei dormir no quarto de minha irmã — Mark esclareceu. — Não sou esse tipo de homem.
Magnus assentiu e então finalmente Mark deixou o quarto.
— Um pouco abusado, você não acha? — questionou Magnus após fechar a porta novamente.
Isabelle se levantou da cama e deu de ombros, as mãos alisando a saia do vestido.
— Mark é da família — disse ela. — Ele tem certas liberdades.
— Até onde eu sei ele não é mais noivo do seu irmão — ralhou Magnus.
Isabelle o olhou com os olhos cerrados.
— Mark era da família antes mesmo de ele e Alec sequer namorarem — disse ela. — Não é algo que espero que você entenda, mas é algo que espero que não se meta, afinal não é de sua conta.
Magnus deu um sorriso ladino e juntou as mãos atrás do corpo.
— Não há necessidade de ser tão afiada comigo, querida. Afinal de contas, teremos que nos aturar por bastante tempo.
Isabelle sorriu de volta e se virou novamente para a varanda de seu quarto.
— Eu não contaria tanto com isso — sussurrou baixinho, apenas para si mesma.
* * *
Alec acordou no dia seguinte com uma dor de cabeça infernal. Demorou um pouco para seus olhos acostumarem com a luz que banhava o quarto, e quando se acostumaram, o príncipe quase deu um pulo para fora da cama ao perceber que conhecia muito bem aquele quarto, mas que não deveria estar ali.
— Fique calmo, Mark só te trouxe aqui porque você não queria ir para o seu próprio quarto. Ele dormiu no quarto da irmã ou algo parecido.
Alec virou a cabeça e encontrou Magnus sentado na poltrona ao lado da janela. Ele estava com o traje costumeiro, mas dessa vez não usava nenhuma coroa.
— Você teve uma noite e tanto no bar ontem, pelo que eu soube — comentou o príncipe unseelie, encarando as próprias pernas que estavam cruzadas.
— O que você quer aqui, Magnus? — Alec perguntou com a voz fraca.
— Encher a cara não vai resolver essa situação, Alec.
Alec revirou os olhos e se sentou na cama, passando as mãos freneticamente pelo rosto. Não queria ter aquela conversa, não quando sua cabeça estava girando.
— Eu lhe disse que esse noivado não mudaria o que aconteceu entre a gente, por que não acredita em mim?
— Porque não estou tão interessado assim em ficar com você por baixo dos panos enquanto você beija e acompanha a minha irmã em público. Vocês serão rei e rainha das duas cortes em algum momento, Magnus, e eu serei o que? O príncipe que vive escorado na irmã? Que não teve a capacidade nem de arrumar alguém?
Magnus suspirou e se levantou da poltrona apenas para se sentar em frente a Alec na cama.
— Você sabe que não é Isabelle que eu realmente quero, Alexander.
Alec soltou uma risada amarga.
— Em primeiro lugar, você não tem escolha. Em segundo lugar, é a Isabelle, você já olhou para ela? Em algum momento você vai desejá-la assim como todo mundo o faz. E eu não quero estar por perto quando isso acontecer porque sei que vai doer e muito. Se já dói agora…
Por alguns instantes, Magnus apenas ficou em silêncio, e então se aproximou de Alec e colou seus lábios na bochecha dele.
— Eu entendo seus medos, mas eu ainda não estou casado.
Alec afastou o rosto minimamente.
— Mas logo estará, e vocês terão que consumar o casamento e gerar herdeiros. Por mais que você e Isabelle tentem adiar, isso irá acontecer uma hora ou outra.
— Mas enquanto não acontece… — Magnus suspirou contra a bochecha de Alec e começou a se direcionar para a boca.
Quando seus lábios se tocaram, Alec se afastou.
— Eu não posso.
— Não faça isso, Alec.
Alec respirou profundamente e negou com a cabeça.
— Vá embora, Magnus. Não quero mais ter encontros íntimos com você. O que aconteceu entre a gente no mundo mundano foi um erro… Você tem de focar em seu casamento e em fazer minha irmã o mais feliz que você puder, pois é isso que ela merece.
Magnus assentiu e se levantou da cama, atravessando o quarto em direção à porta de carvalho. Entretanto, acabou parando no caminho e se virou mais uma vez.
— Você se arrepende de ter rompido o noivado com Mark? — perguntou sem saber exatamente o porquê.
Alec ergueu os olhos azuis.
— De certa forma, sim, eu me arrependo. Eu não estaria sofrendo como estou se ainda o amasse como antes e ainda estivesse prometido a ele.
Tentando manter a expressão calma, Magnus assentiu mais uma vez e então deixou o quarto de vez, deixando para trás um Alec cansado, confuso e magoado.
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