Lauren chorava para que eu não fosse embora, seus olhos estavam inchados e sua respiração falhava, seus lábios estavam secos, como se estivessem desidratados. Lauren vestia um vestido curto justo com costas nuas e decote em formato V, estava atraente. Olhei para trás e tudo estava pegando fogo, a fumaça fazia meus pulmões se contraírem e os carros de bombeiro até agora não estavam por perto, corri até Lauren e a abracei com força, percebendo que sua cabeça estava sangrando e o sangue deslizava nas suas bochechas e pingava no seu busto, sua cabeça sangrava demais e seu corpo estava pálido, suas unhas tomaram uma cor roxa e eu comecei a chorar junto a ela. Ela estava sufocando.
—É você que está indo embora Lauren. -Sussurrei sentindo a água dos meus olhos entrarem na minha boca e senti algo salgado ao fecha-la, meu coração batia acerelado. - Você está indo embora...
Entre soluços as palavras saíam e ela sangrava mais ainda, meu desespero era tanto que o fogo atrás de nós apenas aumentava e eu não percebia, até que Lauren olhou nos meus olhos.
—Você fez isso Camila... -Seus lábios tremiam e sua voz estava embargada, sua garganta devia estar dolorida e a impedida de falar. Ela apontou para a casa em chamas e apertou os olhos. - Você quem destruiu minha vida!
Lauren desabou como pena ao vento no chão e minhas mãos estavam vermelhas por causa do sangue e senti minhas pernas doerem, fui ao chão junto a Lauren, que permanecia de olhos fechados, comecei a gritar e a sacudir as mãos observando seu corpo e o fogo aumentando cada vez mais. A casa desabou e a poeria cobriu o local, cinzas e fumaças entravam pelas minhas narinas e me sufocavam, não estava conseguindo respirar, apenas abracei o corpo de Lauren e chorei mais ainda, gritando tão alto ao ponto de ficar surda com a altura.
—NÃO! -Gritei desesperada e fui ao chão, olhei em volta e vi meu quarto intacto, tudo estava no lugar, estava suando e meus cabelos estavam grudados no meu rosto, flashes do sonho que tive voltaram e eu grunhi, levantando e respirando agoniada.
Peguei meu celular e vi duas mensagens de Lauren, suspirei aliviada e lembrei-me de mais cedo, eu tinha a beijado e aquilo não fez muito bem, ocasionou justamente esse pesadelo.
"Oi... L."
"Você vai para a cafeteria mais tarde? L."
Não conseguia parar de lembrar-se do nosso beijo, era como uma parte de mim estivesse completa e outra entrando em colapso com ela, aquilo apenas fazia minha cabeça doer mais ainda. Desci as escadas lentamente e não tinha ninguém lá embaixo, fui até a cozinha e peguei um copo com água, tomando um comprido para dor. Sentei-me à mesa e abaixei a cabeça, suspirando lentamente, toquei nos meus lábios e visualizei Lauren na minha frente com um sorriso no rosto, automaticamente sorri e outra imagem apareceu, era ela esticada no chão com seu rosto sujo e todo vermelho.
—Droga. -Sussurrei para mim mesma e abaixei a cabeça, pegando o celular e a respondendo.
"Oi Lauren... Não parei de pensar em você desde cedo. Sim, vou trabalhar hoje a noite. C."
"Também não parei de pensar em você Camila... L."
"E no seu beijo... L."
Um sorriso se formou nos meus lábios e meu coração palpitou, estava uma mistura de sentimentos, dor e alegria, tudo estava misturado, nunca iria me entender.
"Lauren... É muito bom ler isso. C."
Bloqueei o celular e observei a tela, o fundo é uma foto com a seguinte frase "às vezes os sonhos que vêm verdadeiros são os sonhos que você nunca soube que você tinha" e lembrei que sempre sonhei com alguém correspondendo meu amor, mesmo sendo tão difícil ser aceito meu sonho era o mais ridículo, todos diziam naquela época, que alguém diferente não devia ser amado, mas agora eu sei, os verdadeiros sonhos são aqueles que eu nunca imaginei realiza-los, estava disposta a tentar e sair desse labirinto de problemas, eu vou me tornar uma nova pessoa e batalhar o máximo que puder para conquistar Lauren do mesmo jeito que ela quiser.
Nunca imaginei me apaixonar, nunca imaginei ter alguém ao meu lado. Minhas teorias do amor eram ridículas. O amor nunca seria prioridade para mim, o amor nunca estava nos meus sonhos e agora sinto que estou voltando para minha adolescência, tentando permitir para minha mente que sou livre para gostar e amar quem eu puder quem sabe no futuro, eu ame alguém tão profundamente que, com certeza, a segurarei com todas minhas forças nos seus piores, cuidarei dela como se ela fosse à pessoa mais importante da minha vida, viver todos os dias ao seu lado, até mesmo observar seus sorrisos todos os segundos possíveis, prevejo ser uma pessoa melhor e cheia de coisas especiais, subir na vida e parar de ter meus problemas com o amor.
Mas meus sonhos machucam meu coração profundamente, meus sonhos são inúteis, e se eu vesse o amor da minha vida morrendo nos meus braços? Se minhas visões nunca mais parassem de me atordoar?
O quesito da vida é amar e ser amado, é criar um caminho e vive-lo sem medo, mas eu sou cheia de medos, problemas e desavenças, tinha medo de não ser mais aceita e acabar com minha de vez, acabar com mais vidas como antigamente. E quando as pessoas fossem embora? Não saberia lidar com isso, não saberia lidar com a dor de perder pessoas que nem mesmo conheci ou aquela pessoa ser o amor da minha vida, no qual eu sempre sonhei.
Despertei dos meus pensamentos e balancei a cabeça, era tão cedo para pensar nessas coisas. Subi as escadas e tomei meu banho, vesti meu uniforme e fui para a cafeteria.
—Boa noite mama! -Beijei sua testa e adentrei ao meu local de trabalho.
—Boa noite Camila, parece estar cansada e ao mesmo tempo feliz.
Isso seria possível?
—Tive um dia maravilhoso, mas tive um pesadelo enquanto dormia, isso está me deixando atordoada. -Falei séria e mordi o lábio ao pensar no beijo de Lauren, tinha sido tão intenso e cheio de significados, parecia que ela tentava dizer algo por ali.
— Isso é uma droga filha, mas ainda bem que está bem. -Sorriu e entregou meu avental. —Pegue, hoje vamos lotar, está perto do Valentine Day's.
Sorri e o amarrei na minha cintura, respirei fundo e fui para dentro, peguei meu bloco de notas e a caneta na bolsa e fui atender os clientes.
—O que deseja? -Perguntei a uma adolescente, aparentavam ter uns dezessete anos e estava ao lado de uma garota, a mesma com a mesma ideia, talvez, a ruiva olhava para a garota com intensidade.
—Uma banana split duplo. -Sorriu e eu assenti anotando. A ruiva estufou o peito e colocou os cotovelos na mesa.
—Quero uma vitamina. Sabor especial. -Ela piscou e anotei.
—Qual seu nome? -Perguntei simpática.
—Jullie. -Respondeu observando a garota ao seu lado. —Com dois L.
Assenti e voltei para dentro, colocando o papel no barbante, Tina o pegou e foi fazer o pedido enquanto eu fazia a vitamina especial, o sabor era Ovomaltine com calda de morango. Peguei a bandeja e coloquei o copo já servido, escrevendo seu nome no copo com uma letra curva.
Voltei para as mesas e entreguei os pedidos, elas agradeceram e ficaram mais próximas. Voltei e fiquei encostada no balcão enquanto outras crianças pegavam balas e trufas, enchiam as mãos e corria até seus pais, o clima estava frio e lá fora a chuva começava a dar sinais de vida.
Uma garotinha se aproximou de mim, ela tinha cabelos dourados e olhos cor de mel.
—Você pode pegar uma trufa pra mim? -Olhou para cima e deu alguns pulinhos, tentando alcançar o vidro. —Não consigo... Alcançar. Minha mãe disse que eu podia pegar.
Seus olhinhos pequenos brilhavam e suas mãos foram estendias até mim.Comecei a rir e abaixei o vidro, ela sorriu e pegou duas trufas, voltando para sua mesa.
—Você pode me dar uma água? -Uma senhora perguntou e entregou dois dólares em minhas mãos, assenti e entreguei as notas para minha mãe, pegando a garrafa de água na geladeira e a entregando.
—Você está muito pensativa hoje. -Sinu falou limpando o balcão e ajeitando os vidros de doces em cima dele.
—Isso é ruim? -Entortei a boca e soltei um riso nasal.
—Não. Isso é muito bom. -Sentou e cruzou as pernas. Tinha orgulho da minha mãe, mesmo com todos os problemas que passou por causa de mim ela nunca desistiu. —Você está com um brilho ultimamente.
Ouvir aquilo fez meu coração apertar. Lembro-me de todas as vezes que a peguei chorando baixinho no quarto e sentia culpada por aquilo, todas as vezes que ela brigou com seus patrões e foi demitida dos seus trabalhos, mas nunca desistia porque precisava sustentar a casa, precisava pagar minhas sessões de terapia e psicologia que eram um absurdo. Sinu discutia com todos que queriam passar por cima de mim, ela me acolhia e permitia que eu chorasse no seu ombro, prometia para mim que nada iria machucar nós duas e principalmente a mim, que já estava começando a receber ameaças e todos não aceitavam mais minha existência, fazendo assim que ela deixasse sua filha trancada em casa, sem nenhuma janela aberta e sem amigos por perto, ninguém mais era confiável.
—Minha vida finalmente está melhorando, mesmo com minhas visões voltando, sei que estou bem melhor. -Falei com um sorriso no rosto e ela riu, assentindo com a cabeça.
—É ótimo ver que você está feliz Camila. -Disse com um sorriso pequeno nos lábios minúsculos. —Lembro que você lamentava por não ter uma vida normal, por não poder mais ter amigos e sair como pessoa normal. Você sempre queria ir para festas e eu tinha medo que você fosse e não voltasse mais, era doloroso ver você chorando abraçada com Keana e fiquei tão feliz quando conheceu Dinah, são duas garotas que você tem sorte de tê-las perto de você.
—Você sempre quis o melhor para mim mamãe, você nunca deixou que eu desistisse da vida, mesmo ela estando naquele tempo tão inútil para mim, você sempre me deu motivos para sorrir.
Ela me abraçou e senti meus olhos lacrimejaram, apressei em enxuga-los.
—Agora vá trabalhar mocinha. -Riu. —Dinheiro não cai do céu. Muito menos amor.
Ela piscou e eu sorri, realmente, nada caia do céu, nem mesmo sonhos viravam realidade, era apenas questão de tempo para tudo ficar do jeito que queremos.
Fui fazer mais pedidos, mais pedidos e mais pedidos, hoje estava realmente lotado e cheio de casais, aquilo me animava, era incrível como ver as pessoas me ajudava bastante.
—Queria fazer um pedido... -Uma voz sussurrou ao pé do meu ouvido e senti meu corpo arrepiar. Era Lauren. Virei e foquei nos seus olhos, ela encarava meu rosto seriamente e eu sorri. Ela estava mais bonita hoje, ela estava com um short jeans branco desfiado, sua blusa era a mesma do primeiro dia em que a vi. E se aquele dia nunca tivesse acontecido? E se ela nunca tivesse pedido meu número? E se ela não tivesse sobrevivido a aquele incêndio? Às vezes, sinto que o destino mexe de uma forma intensa comigo, ele coloca as pessoas certas na hora certa na minha vida e algumas ele coloca para mexer em tudo dela, essa pessoa é Lauren, uma hora eu podia jurar que não quero nada com ela e outra é como se estivesse beijando seus pés.
—Lauren! -Me apressei em pegar o bloco de notas. —Sente aqui.
Guiei-a entre as mesas e ela sentou-se à mesa sete. Não pude notar de olhar para suas coxas, mas desviei o olhar rapidamente tentando concentrar no meu trabalho.
—O que vai querer? -Sorri com sinceridade e a fitei, não conseguia tirar os olhos dela.
—Você está radiante. -Ela disse e minhas bochechas coraram.
—Obrigada. -Olhei para baixo lembrando mais uma vez de mais cedo. —Seu pedido. Por favor.
—Ah, desculpa. -Mordeu o lábio descendo o olhar para meu corpo, minhas bochechas já estavam para explodir. —Quero nachos com cheddar.
—Bom gosto. -Sussurrei alto demais anotando o pedido.
—Também acho. -Piscou e eu tremi. Merda. Ela não para.
Voltei para dentro e me apressei em colocar o pedido no barbante, fiquei batendo os pés à espera dos nachos e dei um pulo ao escutar a voz de Lauren atrás de mim. Ela segurava os lábios com o dente olhando para baixo, certamente fitava minha bunda.
—O que você quer? -Arqueei as sobrancelhas e ela riu sarcástica.
—Um beijo. -Sussurrou ao se aproximar, sem querer topei para trás e taquei minha bunda no freezer.
—Você não pode entrar aqui. -Dei de ombros e ela bufou.
—Certo. -Disse rígida e deu meia volta. —Vai ficar me devendo um beijo.
Ela saiu e não respondi nada, fiquei encarando a porta, estava ferrada, estava totalmente ferrada.
—Duvido. –Resmunguei e mostrei o dedo para a porta, já que ela já tinha saído.
—Está pronto! -Tina falou e a olhei assustada, pegando os nachos e colocando ao lado do Milk shake.
Levei até a mesa e evitei ao máximo não encarar Lauren, ela começou a rir quando coloquei a bandeja na sua frente.
—Você vai resolver meu problema? -Perguntou pegando um nacho coberto de cheddar.
—Cala a boca. -Emburrei e empinei a bunda assim que virei, escutando ela engasgar atrás de mim.
É impressionante como o tempo pode passar tão rápido, a chuva lá fora tinha cessado e Lauren já tinha ido embora, alguns casais pagavam a conta e crianças dormiam em seus colos, se aproximava das nove da noite.
Fiquei pensando no quanto tudo podia mudar tão rapidamente, como uma pessoa podia significar na vida de outra. Essas coisas são nossa vida, uma hora podemos estar bem, na outra podemos estar acabados, como se o mundo estivesse contra nós.
Meu expediente estava acabando e tudo que eu queria era voltar para casa e descansar minha mente, assistir a alguns filmes na Netflix e dormir mais tranquila, sem ter que ter outros pesadelos como o de mais cedo. Sinto que estou entrando num buraco profundo e sem volta, sinto que estou caindo de cabeça e encarando meus problemas de frente. O buraco era fundo e perigoso, escuro e chegava a dar arrepios na pele, mas uma luz poderia ajudar e eu sabia quem e qual seria essa luz, só precisa correr até ela, sem volta.
Porque agora...
Não tinha mais volta.
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