Capítulo 4 - Verdades
“Eu já tive milhares de desejos, mas em meu único desejo de te conhecer, todos os demais se dissolveram.”
Rumi
Depois que Clarke partiu eu estava me sentindo nas nuvens e completamente entorpecida. Repetia o beijo uma e outra vez, certificando-me de que todos os detalhes entrassem na minha memória a longo prazo. O gosto da respiração dela que avidamente tomei para meus próprios pulmões. Oh... seus lábios, e a sensação de passar a ponta da minha língua através deles. E minha parte favorita... seus cabelos e quão doce era realmente o cheiro. Repeti a cena uma última vez antes de ter que levantar e tomar um banho frio.
Enquanto tomava banho resolvi que ia malhar em vez de tentar dormir. De qualquer maneira, não ia conseguir mesmo. Eu já tinha meu sutiã e shorts esportivos guardados lá, então eu poderia me trocar depois do banho.
Já vestida, fui até ao sistema de som da academia, dei play na minha longa playlist de exercícios e comecei o aquecimento com pesos.
Cerca de meia hora depois eu estava no meio do meu último set de agachamentos quando ouvi uma batida na porta principal. Claro, eu esperava que fosse Clarke, então quebrei minha própria regra e joguei os pesos no chão. Peguei minha toalha e minha água antes de responder.
Mesmo que minha mãe fosse muito religiosa, eu nunca acreditei em Deus. Isto é, até que abri a porta e vi Clarke parada ali. Então eu sabia que tinha que haver um ser divino em algum lugar e, por algum motivo, ele estava me favorecendo.
Seu cabelo quase na altura dos ombros estava molhado, como se ela tivesse acabado de tomar banho e ela estava vestindo uma blusa branca e uns shorts jeans desgastados. Assim que abri a porta, seus olhos se arregalaram quando me olhou de cima a baixo. Ela apontou o dedo para o meu abdômen, e lentamente trouxe seus olhos até os meus.
- Você... eu... uau. - Ela morde o polegar, dando-me um olhar culpado antes de tirar o dedo e deixar seus olhos vagarem pelo meu corpo novamente. Eu posso sentir algumas gotas de suor descendo pelo meu pescoço e peito, que Clarke percebe também. Seus olhos seguem sua lenta caminhada antes de desaparecer no tecido do meu sutiã. Então ela estende a mão e coloca no meu estômago. - Oh. Uhh. É exatamente como eu imaginei que eles fossem. - Ela diz, antes de dar um tapinha nos meus abdominais. - Bom trabalho.
- Obrigada. Quer entrar, Clarke? - Perguntei, divertida.
Ela olha de volta para a minha barriga antes de encontrar meus olhos novamente. - Não consegui dormir. Eu sei que disse que precisava ir para casa, mas de alguma forma, aqui estou.
Percebo que ela tinha um caderno na mão e um pequeno estojo.
- Bem, você pode ficar um pouco aqui. Eu não vou incomodar você, posso continuar meu treino e você pode desenhar. - Aponto para seu caderno.
- Oh, não, eu estou fazendo umas listas. - Eu coço minha cabeça um pouco em confusão. - Prós e contras. - Ela não elabora, mas decidiu ficar, já que passa por mim e entra na academia.
- Você gostaria de ficar e trabalhar melhor nessas suas listas?
Ela me olha com cuidado. - É... pode ser que ajude.
Eu dei a ela um sorriso suave. - Está bem. Sinta-se à vontade para mudar a música ou desligá-la. O controle está bem ali. - Eu aponto para a parede. - Você pode ir até o meu escritório se quiser, ou ficar aqui mesmo. - Ando de volta até aos pesos que deixei cair e guardei-os. Eu podia sentir seus olhos em mim quando peguei minha corda de pular. - Me diga se você precisar de alguma coisa. - Eu digo a ela. Ela fixa os olhos em mim e apenas assente.
Estava me sentindo confiante ao ver que Clarke era quem estava constrangida desta vez, então eu não rompi o contato visual com ela quando comecei o próximo exercício. Eu era muito boa com a corda, fazia movimentos pequenos e rápidos. A observei me observando. Comecei a levantar os dois pés levemente do chão enquanto a corda acelerava rapidamente em volta da minha cabeça e abaixo dos meus pés. Depois de alguns minutos mudei para apenas pular em um pé, mas alternando-os a cada cinco saltos ou mais enquanto eu girava em um círculo lento.
- Ok. Chega! - Ouvi Clarke falar, o que me fez parar e me virar para olhar para ela. - Não está ajudando, Lexa. Eu tenho que ir.
"Boa, Lexa! Você tenta provocar e impressionar Clarke e olha o que fez... você é uma idiota!", repetia para mim mesma.
Ela se prepara para dar as costas, mas eu a chamo tentando pará-la.
- Clarke, espere, eu estava terminando! Não vá embora. - Coloquei a corda no chão e peguei minha toalha, limpando todo o suor antes de pegar meu casaco com capuz preto e o vestir, fechando-o antes de caminhar na frente de Clarke.
Seus olhos ainda estavam em minha barriga agora coberta, e ela olhou para mim balançando a cabeça. - Estamos no meio do verão, assim você vai apanhar alguma espécie de insolação. - Sua mão vem até o meu casaco e abre o zíper, e em seguida abre cada lado.
- Clarke. Por favor, fica? - A urgência na minha voz fez com que ela olhasse de volta nos meus olhos.
- Você não está nem um pouco sem fôlego.
- O treino é feito para me ajudar a manter a resistência.
Ela morde ambos os lábios, balança a cabeça lentamente e se vira. Posso ouvi-la soltar um suspiro. - Aham. Imaginei que sim. - Ela se volta para mim. - O que mais você faz quando não está esculpindo esse corpo?
Eu sorri, mas sem parecer vaidosa demais com o elogio. Eu quase a fiz ir embora por causa da minha arrogância, não ia deixar acontecer de novo.
- Eu leio.
- Ler? Isso parece mais seguro. - Ela diz isso suavemente enquanto se vira procurando por algo. - Você quer ler enquanto eu trabalho nas minhas listas? Podemos sentar no ringue.
- Acho que tenho um livro algures lá em cima. - Subo os degraus até o meu escritório, dois de cada vez, e pego o livro e dois travesseiros que tinha lá. Vi um panfleto de uma pizaria que fazia entregas ao domicílio e decidi pegar isso também. Era a única pizaria aberta vinte e quatro horas. Assim que eu me virei tive um vislumbre de Clarke através do vidro. Ela corre os dedos pelos cabelos antes de alisar a blusa. Foi a coisa mais fofa que eu já vi... e ela estava fazendo isso por minha causa! Eu não vou dizer o quão boba isso me fez ficar, porque já me envergonhei o suficiente! - O que você gosta em sua pizza, Clarke? - Perguntei a ela uma vez que eu voltei lá embaixo depois de me recompor.
Clarke olhou o relógio. - São quatro da manhã.
- E? Você gosta de fiambre e cogumelos? - Joguei o resto das coisas para dentro do ringue e peguei meu celular para fazer o pedido.
- Peça o que quiser, eu não estou tenho muita fome.
- Você vai me fazer comer tudo sozinha? Eu não consigo comer uma pizza inteira… na verdade eu consigo, mas isso me deixa muito desconfortável depois. - Eu termino de pedir a pizza online, e rolo para dentro do ringue ao invés de subir pelas escadas. Minha teatralidade ganhou um sorriso de Clarke. Não me incomodo em me levantar, em vez disso, apenas pego o travesseiro e deito. Clarke está sentada ao meu lado com seu caderno na frente dela. - Então, o que são essas listas que você está escrevendo? Posso ajudar em algo?
Ela hesita um pouco, mas suspira e acaba cedendo. - São os meus prós e contras... sobre nós... sobre você.
Eu deveria ter percebido antes quando ela disse isso, mas não percebi. - Oh, entendi. - Tentei manter minha voz tão neutra quanto pude.
- Eu realmente não sei o que fazer, Lexa. Você do nada invadiu minha vida. Eu criei aquelas regras para me proteger, proteger outras pessoas... e você rompeu tudo. - Ela não parecia chateada, apenas confusa.
- Eu sinto muito... - Comecei, mas ela negou com a cabeça.
- Não é sua culpa. Se você fosse como qualquer outra pessoa, eu nem estaria fazendo isso. Seria fácil simplesmente ir embora, ou… eu não sei. Mas você não é como a outras pessoas Lexa, você é você. - Ela pega o outro travesseiro e deita de lado virada para mim. Há muito espaço entre nós, e não posso evitar a atração que sinto em estar mais perto. Ela deve sentir também, porque se aproxima um pouco mais de mim, mas ainda longe o suficiente para que não nos toquemos. - Você já me mostrou como é gentil, engraçada e doce. Você é inteligente e forte. - Ela solta um suspiro frustrado antes de virar de costas e jogar o braço sobre os olhos. - Por que você não pode ser apenas uma idiota babaca?
Não sei porquê, mas senti que precisava ajudá-la a tomar uma decisão mais facilmente. O que estaria indo contra minha própria vontade de querer estar com ela. Loucura, não é? Sim, ela estava me deixando louca.
- Eu consigo ser uma idiota babaca. Eu sou, muitas vezes.
Clarke joga o braço para baixo e começa a rir antes de se sentar. - Sério? Conte-me.
Eu decidi me sentar também, o que também não ajudou muito, porque eu fui forçada a encarar aqueles malditos olhos azuis que sempre me sugavam.
- Bem, para começar, desde o colegial eu não fiz nada. Eu tenho vivido uma vida desmotivada.
Clarke revirou os olhos. - Ok, em primeiro lugar, onde é que isso é diferente da maioria das pessoas depois do colegial? E em segundo lugar... - Ela agita o braço ao redor do ginásio. - Você literalmente comprou uma academia para ajudar as crianças e seu primo para que ele possa treinar. Tente outra coisa.
Droga! Ok, então esse não foi o melhor exemplo.
- Uhh, tudo bem. Que tal isso... Eu era muito galanteadora. Conhecia garotas nas baladas, levava-as para a cama e depois não queria saber mais delas.
Ela olha para mim por alguns segundos. Eu podia ver um pequeno rubor subindo por seu peito antes de ela revirar os olhos novamente.
- O único sexo que eu já tive foi de uma noite, ou quando algum idiota pagou por isso. - Estendi meu braço para pegar a sua mão, como se precisasse daquele contato, e de novo tive um vislumbre de suas cicatrizes. Havia várias mais pequenas que iam desde seus pulsos até o meio do antebraço. Havia também uma única, profunda, longa e vertical que tinha o mesmo comprimento. Quando eu movo meus olhos de volta para os dela há lágrimas ameaçando descer pelo canto dos olhos. - Eu te disse, sou quebrada. - É tudo o que ela fala.
Eu balancei minha cabeça em negação. - Não acreditei nisso nem por um segundo, Clarke.
Raiva brilhou em seus olhos e eu pensei que ela ia puxar a mão para trás, mas ela apenas apertou minha mão com mais força. - Porque você não me conhece.
- Mas eu quero. Eu quero saber tudo, Clarke. - Estendo minha outra mão, e deslizo levemente sobre suas cicatrizes. - Não importa o que eu descubra, não vai mudar nada. Desde o dia em que nos conhecemos, você tem sido esse mistério, esse quebra-cabeça. Você me deu pequenos pedaços de você e eu sei que há muitos mais... alguns deles provavelmente polidos, lisos e tão coloridos quanto o seu cabelo. E alguns são provavelmente irregulares, afiados e escuros. Mas eu sei que se eu pegasse todas as peças e as colocasse todas juntas... a foto final seria a coisa mais linda que eu já terei o privilégio de ver. - As lágrimas finalmente caem e eu estendo a mão para limpá-las. Ela não desvia o olhar dos meus olhos e eu também não ouso desviar. Precisava que ela soubesse que eu falava a verdade. - Eu gosto muito de você, Clarke. Me desculpe, mas eu gosto. Eu sei que ainda tem pouco tempo, e sim, ainda há muitas coisas que ainda tenho que descobrir... mas eu preciso que você saiba, eu não me assusto fácil. Eu não julgo. Somos todos humanos. Todos nós temos segredos e cicatrizes. Todos nós fazemos coisas terríveis às vezes. Tem uma citação que eu li há um tempo e eu quero que você ouça e que entenda. Dizia assim: "Nós chegamos a amar não por encontrar uma pessoa perfeita, mas por aprender a ver uma pessoa imperfeita perfeitamente." - Eu estendo a mão para enxugar mais lágrimas que caíram. - Então, o que quer que te deixa tão assustada em deixar as pessoas entrarem na sua vida, não importa. Não para mim.
Seu lábio treme, antes de começar a chorar um pouco mais forte. Ela me deixou puxá-la para o meu colo, para que eu pudesse consolá-la enquanto ela chorava. A segurei firme enquanto suas lágrimas caíram no meu ombro.
- Não há pressa aqui, Clarke. - Eu disse a ela uma vez que seus soluços se aquietaram. - Eu não quero que você se torture, essa nunca foi minha intenção. Eu sinto muito por ter beijado você, e se isso de alguma forma fez você se sentir como se precisasse decidir algo agora. Eu não vou a lugar nenhum.
Eu a senti levantar a cabeça do meu ombro e se afastar para olhar para mim. - Eu não sinto muito por termos nos beijado. Foi o melhor beijo que já tive.
- Foi para mim também. - Admito com um sorriso suave. Ela olha para os meus lábios, antes de olhar de volta para os meus olhos.
- Eu... eu quero continuar beijando você.
A vontade de tomar os lábios dela naquele segundo era tão forte que causou um arrepio em todo o meu corpo. Eu tenho que engolir o nó em minha garganta para fazer minha voz funcionar.
- Também quero continuar beijando você. Mas mais do que isso, quero que você cuide de si mesma. Eu não quero que você se sinta pressionada a tomar uma decisão, ou enfatize os prós e contras de tudo isso. Não há absolutamente nenhum mal em nos conhecermos realmente antes de decidirmos qualquer coisa.
O azul dos olhos de Clarke rapidamente se tornou minha cor favorita, seguida pelo rosa pastel e roxo de seu cabelo. Mas estando tão perto de todas aquelas cores bonitas, junto com o cheiro de seu cabelo, eu comecei a ficar incrivelmente tonta. Não ajudou que seu peito começasse a subir e a descer mais rápido, enquanto seus olhos alternavam para entre meus olhos e lábios. Eu estava tentando não olhar para ela, sabendo que toda a minha determinação seria jogada para o alto se eu o fizesse. Mas então…
- Lexa. - Meu nome nunca soou tão agradável como quando sussurrado por seus lábios. O som fez meus olhos se fecharem, e quando os abri os olhos de Clarke tinham se tornado mais escuros. - Eu quero continuar beijando você. - Eu sou uma pessoa forte, mas ninguém em sã consciência poderia negar dar a Clarke Griffin o que ela queria naquele tom de voz que ela usou em mim.
Então eu não me amaldiçoei muito quando agarrei sua nuca e a puxei para um beijo ardente. Clarke gemeu quando nossos lábios fizeram contato duro, ela agarrou meu capuz e me puxou, nos fazendo cair. Minha cabeça já estava boiando, então ela envolveu as pernas em volta da minha cintura quando caí sobre ela e aí eu simplesmente me afoguei. Essa pode ter sido a razão pela qual eu perdi a batida na porta do ginásio. Seus pequenos gemidos quando o beijo aqueceu ainda mais deve ter me feito perder a segunda rodada de pancadas. Mas nada poderia me fazer perder a terceira, porque o babaca decidiu bater na porta da garagem de alumínio do ginásio.
- Ei, vocês pediram uma pizza ou o quê? - Nós duas pulamos com o barulho e a voz do entregador. Clarke cai na gargalhada quando eu olho para a porta atrás dela várias vezes. Ela provavelmente poderia sentir minha indecisão sobre ir atender ou não. Outra pancada forte soa. - Esta merda sai do meu salário se você não comprar! - O garoto gritou e eu gemi. Quem foi o gênio que achou uma ótima ideia pedir uma pizza?
Sabendo que o momento havia sido arruinado, Clarke deixou as pernas caírem ao meu redor para que eu pudesse me levantar, o que eu, infelizmente, fiz. Joguei meu capuz para cima e peguei o dinheiro da minha bolsa de ginástica. Quando abri a porta, o queixo do jovem caiu quando ele olhou para mim. Eu ainda estava de short e sutiã de treino, e o zíper do casaco ainda estava aberto.
- Puta merda... eh, aqui está a pizza. - Ele me entregou a caixa e eu dei a ele o dinheiro, sem nem mesmo saber quanto era. - Eita, isso é o dobro do preço.
- É pelo tempo de espera. - Disse a ele antes de fechar a porta. Eu tive que respirar fundo antes de encarar Clarke novamente. Quando me virei, ela ainda estava deitada de costas e suas mãos estavam sobre o rosto. Voltei devagar ao ringue, tentando pensar no que dizer, mas ela se antecipa quando deixa cair as mãos e vira a cabeça na minha direção.
- Eu gosto do jeito que você olha para mim. - Eu chego ao ringue e coloco a pizza sobre ele. Não subo até lá, mas eu coloco meus braços na corda inferior e dou a ela toda a minha atenção para que continue. - Você não olha para mim como todo mundo faz. Você me olha como... como se eu fosse algo mais do que realmente sou. E eu me pergunto se é porque você não me conhece e depois vai mudar uma vez que isso aconteça. Então podemos apenas seguir em frente e ser duas pessoas que têm algumas pessoas em comum em suas vidas.
- Ok, parece justo. - Eu não estava preocupada. Não havia nada que ela pudesse dizer que me fizesse olhar para ela de forma diferente.
Ela pegou um travesseiro e se levantou para se sentar alguns metros à minha frente. - Está bem. Então, pergunte-me qualquer coisa que você queira saber sobre mim e eu lhe direi.
- Qualquer coisa? - Eu levantei uma sobrancelha brincalhona.
- Qualquer coisa. - Ela confirma.
Eu dou um grande sorriso antes de perguntar. - Bem. Qual a sua cor preferida?
- Lexa! Sério isso?
- Muito sério, Clarke.
Se olhares matassem, eu estaria morta. - Tudo bem, é verde. Próxima pergunta, talvez queira saber algo um pouco mais pessoal?
- Qual é a sua comida favorita? - Eu segurei minhas mãos em sinal de rendição enquanto ela engatinhava os poucos metros para me dar um tapa no braço. - Essa é uma questão que eu considero pessoal!
Ela volta ao seu lugar, antes de soltar um pequeno rosnado. - Eu te odeio muito agora.
Eu olho para a pizza e deixo o sorriso se espalhar pelo meu rosto. - É pizza, não é? - Eu abro a caixa e vejo ela olhando para ela. Pego uma fatia e deslizo a caixa para ela.
- Sim, é pizza. - Ela se inclinou e pegou numa fatia. - Agora você vai falar a sério?
- Estou falando sério. Eu disse que queria saber tudo. - Eu me viro para pegar minha garrafa de água e ofereço a Clarke primeiro. - Eu quero saber sua música favorita, e se aquele Snickers que você deu para Aden é seu chocolate preferido... Você coloca ketchup nas batatas fritas ou prefere sem nada? Você gosta de filmes? Qual é o seu livro favorito?
Ela soltou um pequeno suspiro, antes de terminar sua fatia de pizza enquanto pensava. - Minha música favorita atual é provavelmente Havana. Snickers é o meu chocolate favorito, mas também tenho uma queda por Ferrero Rocher e... bem, por tudo o que seja doce. Eu gosto de batatas fritas com sal e às vezes coloco ketchup. Gosto de filmes, mas nem sempre consigo assistir até o fim, a menos que eles sejam realmente bons. - Ela faz uma pausa e respira fundo. - E... eu não tenho um livro favorito porque eu não li nada desde que saí da escola. - Minha boca cai aberta e ela levanta o travesseiro para cobrir o rosto. - Isso estraga tudo, não é?
- O quê? Não, não mesmo. Mas posso perguntar porquê?
O travesseiro cai, seus olhos encontram os meus e ela encolhe os ombros. - É difícil me concentrar na leitura. Eu sempre me distraio e acabo tendo que ler a mesma coisa repetidas vezes.
- Você já tentou áudio? - Ela sacode a cabeça, e eu suponho que ela realmente não sabe o que quero dizer. - É como um livro em fita, mas é um aplicativo. Eles lêem para você.
Ela ri. - Não, eu nunca tentei. Mas acho que realmente teria que gostar da voz, para manter o foco.
Peguei meu celular, abri o aplicativo e dei play em um dos livros armazenados ali. O narrador tinha uma voz com a qual você realmente precisava se acostumar e eu esperava que ela achasse isso tão divertido quanto eu. Não fiquei desapontada quando ela jogou a cabeça para trás e riu. Oh, aquele lindo e maravilhoso som celestial que era a risada de Clarke.
- O livro é quase cinquenta horas disto.
Sua boca cai. - Eu acho que eu iria rir o tempo todo e não ouvir nada do que ele disse.
Eu desliguei o aplicativo e joguei meu celular de volta no meu bolso. - Sim, é preciso um pouco para se acostumar. Mas há outros narradores que soam melhor.
- Algum deles soa como você? - Isso me pegou desprevenida. - Eu provavelmente poderia te ouvir por cinquenta horas. Eu gosto da forma que você fala.
- Gosta? - Ela acena timidamente. - Eu poderia ler para você por cinquenta horas ou mais.
Ela rasteja de volta para o meio do ringue e pega meu livro, o jogando para mim. - Vamos ver. Que livro é esse?
Tive de me esforçar mais do que imaginei para desviar o olhar dela para o livro. Mas quando vi o que era, ri antes de segurá-lo.
- Harry Potter e a Pedra Filosofal. - Ela segura a mão na boca para esconder o sorriso. - Eu trouxe para Aden. Ele disse que a garota que ele gosta é obcecada por Harry Potter, então eu trouxe para ele. Mas ele queria o DVD em vez disso.
Ela ri enquanto eu subo os degraus para entrar no ringue. - Claro.
Eu me sento ao lado dela. - Você já leu isso antes? - Ela nega com a cabeça. - Viu os filmes? - Nega de novo. Eu fiz um trabalho muito melhor em esconder o meu choque desta vez. - Bem, na verdade é uma história muito boa.
- Então vamos ler. - Será que o sorriso dela sempre vai me afetar desse jeito? Eu esperava que sim.
- Você vai gostar, Clarke. - Eu abro a primeira página. - O Sr. e a Sra. Dursley, da unidade número quatro, se orgulhavam em dizer que eram "normais". Eles eram as últimas pessoas que você pensaria estarem envolvidas em qualquer coisa estranha ou misteriosa, porque eles simplesmente não suportavam tal absurdo...
Clarke estava ouvindo cada palavra enquanto lemos capítulo após capítulo. Foi um dos melhores momentos que eu já tive. E quando meu celular tocou logo depois de começarmos o capítulo quatro, seus olhos me imploraram para não responder. Era Aden, então ela imediatamente cedeu.
- Está tudo bem? Como está se sentindo? - Perguntei e ele diz que provavelmente teria que ir ao hospital para darem uma olhada em seu pulso. - Eu te levo. - Eu digo enquanto olho para Clarke, que tem uma expressão de alívio no rosto. - Estamos indo para aí.
Eu me apressei e corri para o meu escritório com minha bolsa de ginástica e vesti uma calça jeans justa e uma camiseta. Desliguei todas as luzes e encontrei Clarke já do lado de fora. Ela tinha o livro na mão, mas deixou seu caderno, e então saímos para a casa dela quando tranquei as portas da academia.
Clarke era tão incrivelmente doce com Aden, e o pequeno demônio estava se aproveitando de tudo. Quando estávamos na sala de espera, Clarke colocou a cabeça dele no seu ombro, porque ele disse que seu braço estava realmente machucando-o. Ele olhou para o peito dela, depois para mim e piscou. O chutei quando Clarke se levantou para ir ao banheiro.
- O que foi? Eu te disse que ela seria minha futura esposa, Lex. - O sorriso dele se espalhou completamente em seu rosto, até que ele viu Clarke voltar para a sala de espera.
- Aden. - Uma enfermeira da emergência chamou seu nome e levou nós três para uma sala. Aden acabou adormecendo à espera do médico, salas de emergência são uma droga por aqui. Já tínhamos esperado uma hora e meia por uma sala, e outra hora antes que alguém nos viesse atender. Eu não estava nem brava, porque Clarke me pediu para continuar lendo para ela e também colocou a cabeça no meu ombro enquanto eu fazia isso. Talvez eu tenha (ou não) dado a Aden um sorriso arrogante quando ele acordou e viu. Ele apenas acenou com a cabeça e eu poderia dizer que ele estava realmente satisfeito com isso.
Vimos um dos especialistas em faturamento antes mesmo de vermos um médico e ele me avisou que eles precisavam do pagamento antes do atendimento, já que Aden não tinha seguro. Eu estava prestes a dar o fora dali, aquilo era ridículo e antiético, mas apenas peguei meu cartão de crédito e paguei. O garoto precisava do braço dele, então tudo bem. Eu realmente não me importei.
Clarke olhou para mim com os olhos arregalados. - Nós podemos pagar de volta. - Ela me disse rapidamente, mas eu balancei a cabeça.
- Não se preocupe com isso. - Eu tentei dizer a ela, mas algo me dizia que ela não iria ne ouvir.
Acabou que o garoto tinha o pulso quebrado e ele precisava ficar em repouso entre seis a oito semanas. Aden parecia extremamente preocupado, mas eu assegurei a ele que ainda poderíamos treinar.
Quando voltamos para casa de Clarke, saí do carro junto com eles. - Obrigado, Lexa. - Aden disse, depois de Clarke lhe dar um tapa na parte de trás da cabeça.
- Não se preocupe, Aden. Fico feliz em ajudar. Vamos começar a treinar em alguns dias, ok? - Ele assentiu e entrou, enquanto eu me encostei contra o meu carro e observei Clarke se mexer por um minuto ou dois. - Você provavelmente deveria dormir um pouco. - Disse a ela. Eu sabia que estava acordada fazia mais de vinte e quatro horas, então ela deveria estar na mesma situação.
- Provavelmente... - Ela respondeu, antes de caminhar até ficar na minha frente. - Obrigada... pela noite passada, esta manhã... Aden.
- Você não precisa me agradecer, Clarke.
- Eu sei. Mas eu quero. - Ela se inclinou para perto e me deu um beijo suave. - Então... obrigada.
- Disponha...
Ela recuou e olhou para sua casa. - Eu tenho que ir verificar como está minha mãe, mas talvez pudéssemos sair mais tarde?
- Eu adoraria. - Ela sorriu e eu também.
- Ótimo. Durma um pouco. Me mande mensagem mais tarde?
- Claro. - Com certeza estaria planejando as palavras da dita mensagem até então.
- Combinado, então. Adeus Lexa. - Ela se distanciou alguns passos antes de pensar, e então voltou rapidamente para outro beijo. Quando ela recuou daquela vez, eu não estava pronta para deixá-la ir, mas tive que fazê-lo. Haveria tempo para mais disso... ou não. Enquanto estivermos saindo eu não me importo.
Eu tinha agarrado a mão de Clarke quando ela me beijou e nós não nos soltamos até que ela recuou o suficiente para que eu tivesse que deixá-la ir. Para ser honesta, eu teria deixado ela arrancar meu braço se isso significasse que eu poderia segurar a mão dela por mais alguns segundos.
- Nos vemos depois. - Me disse antes que nosso olhar quebrasse e ela entrou.
Oh, o que essa garota está fazendo comigo?
...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.