Ela me observava, mas não como eu esperava. Eu esperava que ela me olhasse incrédula e me apontasse o dedo dizendo que eu a havia enganado, mas não foi isso que ela fez. Ela me olhou como se tentasse entender como eu pensava, como se pudesse ler minha mente e estivesse tentando montar uma jogada impensável contra mim. Eu gostava da maneira em que ela agia.
- Vamos parando por aqui, ok? – falou o Gray com voz de tédio, e em seguida, para completar deu um longo bocejo.
Lucy encarou o moreno com desprezo.
- Gray, o trabalho é sobre jogos, se é que você ainda não entendeu.
O moreno revirou os olhos.
- Loirinha, o negócio é: Eu não sei jogar.
Eu fiquei quieto pensando em qual seria a próxima frase da loira e então ela semicerrou os olhos e depois os revirou.
- E não revire os olhos para mim desse jeito! – falou o moreno. – a loira revirou os olhos – Esta bem, que tal fazermos o trabalho?
Todos nós assentimos e começamos a trabalhar. Como em todo reformatório, aqui não era possível usar internet e coisas do tipo, então começamos a pesquisar em livros e mais livros que encontramos. Depois de mais ou menos 2 horas, terminamos o trabalho e pedimos para a bibliotecária imprimir.
Ela nos olhou de cara feia, era uma senhora de mais ou menos 70 anos, com óculos redondos que pendiam na ponta do nariz, seus cabelos brancos eram meio ondulados e curtos e ela vestia um Suéter bege sobre a blusa branca. Ela lia um livro chamado: A dominação dos gatos sobre o mundo. Presumi que ela não tinha namorado ou marido, ou seja, nenhum relacionamento com base amorosa.
E quando ela falou havia um sotaque Francês forte.
- Vocês querrém que eu imprimá ? – perguntou levantando os óculos para cima do nariz, o mesmo caiu para a ponta quase que instantaneamente.
O Gray revirou os olhos.
- Béém, nós querremos que você imprima. Se forr posíverru. – Falou com o sotaque Francês dela, e devo admitir, soou bastante parecido.
A Senhora não deve ter notado a ironia pois imprimiu de prontidão e deu até um sorrisinho simpático quando nos entregou as folhas.
Durante o percurso rumo aos dormitórios, andamos lado a lado e o Gray assoviava alegremente enquanto a Lucy observava as estrelas creio eu, afogada em pensamentos... Mas que pensamentos? Eu apenas andava com as mãos postas dentro dos bolsos da calça, para esquentá-las do frio.
Eu nem havia percebido que tínhamos chegado na porta do dormitório feminino quando nós chegamos. A Lucy olhou para a porta e depois olhou para o Gray, andou até ele e lhe deu um longo abraço, eu os fitei ainda com as mãos nos bolsos, e ela me observava enquanto abraçava o Gray, de forma desconfiada. Assim que separaram o abraço, ela me olhou desafiadoramente.
- Eu ainda vou vencer você, Natsu Dragneel.
Eu sorri de maneira maliciosa e dei as costas rumando ao dormitório, mas não antes de prosseguir as seguintes palavras.
- Quando estiver disposta a me vencer, é só me procurar, e você já sabe onde me encontrar, não é, Heartfilia?
E continuei andando para o dormitório sentindo o seu olhar fuzilar as minhas costas.
***
Quando cheguei ao apartamento, fiquei olhando as cobertas por um breve minuto, depois tirei os sapatos e me deitei, colocando o travesseiro na nuca, certo de que não iria conseguir dormir.
Era sempre assim, como um karma.
Como um sobrevivente da Segunda Grande Guerra Mundial, mas não, era apenas uma guerra interna, a minha guerra interna, uma guerra onde só existiam eu e minhas vítimas, uma guerra de um lado só, uma guerra de uma morte.
Grande partes das vezes que tentava dormir, pesadelos invadiam minha mente, como várias pessoas que matei, era como se eu sentisse o sangue me escorrer pelas mãos, era como se eu pudesse ouvir os gritos esganiçados e os últimos gemidos, era como se voltasse ao dia que matei.
Meus sonhos eram apenas sombras...
Eu me revirei novamente na cama e encarei o teto, fazendo amizade com as sombras que se alojavam no quarto escuro, brevemente iluminado pela lua minguante, a noite toda ouvindo as vozes... Eu deveria dormir, penso. Amanhã pode ser por pra alguma coisa, talvez.
Eu pego o travesseiro e joga na parede, como se aquilo fosse tirar parte dos pesadelos. Eu estava a ponto de ter um ataque nervoso, e eu não sabia o por que.
Hoje de manhã eu pude sentir todos os olhares das pessoas sobre mim, eu fingi não ligar tanto, mas era como se todas aquelas pessoas estivessem me atirando uma pedra, como se aqueles olhares vissem minha alma e soubessem de tudo que eu fiz, odeio chamar atenção, odeio ter atenção.
Eu podia os ouvir sussurrar, assim como eu ouço as pessoas sussurrarem uma oração antes de morrerem, as pessoas dos corredores, tampouco falavam orações, elas falavam de coisas fúteis como a cor de meu cabelo ou a forma como eu andava.
E isso me enraivecia.
De certa forma, aquele jogo me animou um pouco, por que me fez perceber que eu sou bom em alguma coisa fora ser ruim e acabar com a vida das pessoas.
Mas mal sabem as pessoas que eu não sou tão bom quanto aparento ser.
E então, por mais estranho que pareça ser, eu adormeço e dessa vez, as sombras apenas me observam, nada de atacar meus sonhos.
***
Acordo por volta das Três horas da manhã e ouço uma mistura de gritos e crepitar de fogo e ouço também o Gray abrir com força a porta do dormitório, eu abro os olhos e observo o que ele tem a dizer.
Ele apenas aponta para a janela e minha primeira reação é não acreditar no que vejo e depois eu o vejo correr, depois vou atrás dele, mas não corro, apenas caminho pelo corredor ainda tentando processando o que havia visto.
O Dormitório feminino estava em chamas.
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