Não sabia ao certo se fazia um mês ou menos que a loucura começou, as pilhas de provas aumentavam gradativamente junto com os documentos que ficam em seu encalço. Por dias quis sair correndo e gritando por alívio, sua vontade é apenas chegar em casa e morrer em sua cama após um banho quente.
Maldita hora que confiou que aquele professor seria uma boa opção.
Será que realmente deveria ter deixado a sala de aula e assumido o cargo de coordenador do curso de Arte?
Agora ele era coordenador e novamente professor, porque a demanda precisou e não podia deixar seus alunos sem um ensino de qualidade. Se dividia em dois para dar conta de tudo na esperança de conseguir chegar o menos cansado possível em casa.
Claro que Anasui — genro e assistente — sempre o ajudava em tudo, mas não era o suficiente. O que mais o deixava irritado não era pelo excesso de trabalho e sim pela frustração de estar deixando seu casamento de lado inconscientemente.
Jotaro também estava trabalhando demais, sempre com algum projeto, consultoria ou aulas de mestrado para dar; a vida de ambos estava de ponta cabeça e o casal sentiu o impacto disso.
Claro que chegar em casa e dormir nos braços um do outro era confortável, mas a sensação de estranheza habitava em ambos. Odiavam ter crescido, Noriaki às vezes pensava que sua adolescência foi muito mais fácil que envelhecer e ter responsabilidade, Sentia-se um tanto quanto ingênuo por ter pensado que casar seus dois filhos o livraria de algumas responsabilidades.
De fato perdeu algumas, mas ganhou outras em troca.
Naquele dia em específico, teve uma discussão por mensagens com Jotaro, não sabia ao certo porque e muito menos compreendia como aquilo havia começado; se estranhar com seu marido era algo raro e não deixava de ser horrível. Queria ter tempo para correr até a sala dele e acertar a situação, beijá-lo por horas e até, quem sabe, ter uma noite de amor como deveria. Entretanto, tinha uma reunião e uma pilha de trabalhos para corrigir.
Ficou ainda pior quando percebeu que infelizmente sua vida profissional estava passando por cima de seu casamento e não tinha o que fazer, apenas resolver tudo de uma vez para conseguir chegar até Jotaro.
Nesse momento, teve certeza que matar vampiros psicopatas, ter usuários de stands atrás de si e seus amigos era muito mais fácil que a vida adulta.
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Chegou em casa irritado e batendo portas, enquanto seus dois braços seguravam suas bolsas e casaco, os tentáculos do Hierophant Green levavam três pilhas de provas não corrigidas que o incompetente deixou passar.
Fazia um mês que elas haviam sido aplicadas.
O semestre já estava finalizando e os alunos precisavam daquela nota para conseguir terminar a matéria.
Levou tudo para seu escritório e jogou ali, subiu para tomar um banho na tentativa de que aquele sentimento passasse.
E não foi o que aconteceu.
Estava cada vez mais irritado.
Entrar em mais uma sala fechada e dessa vez em sua casa, trancar a porta e resolver erros que não eram seus foi a pior coisa que poderia fazer naquela sexta-feira a noite.
Só queria ficar com Jotaro, correr para os braços confortáveis do marido e não sair nunca mais; desejou resolver a pequena briga que tiveram, deixar o trabalho de lado, se perder nos olhos verde-água e não em pilhas de papéis que pareciam nunca acabar.
Começou a corrigir as avaliações, o número de papéis diminuindo com o passar das horas e das xícaras de café que tomava e, apesar de estar conseguindo dar conta, uma sensação de inquietude ainda tomava conta do seu peito: Onde seu marido estava? Porque Jotaro não havia chego?
Praguejou novamente contra todas as divindades possíveis por estar odiando aquela época e a vida adulta, jurando a si mesmo que tiraria férias o mais rápido possível.
Foi então que olhou para frente e viu um papelzinho sendo passado por baixo da porta, franziu o cenho e invocou seu Stand para pegá-lo.
Com o bilhete em mãos, abriu rapidamente, ainda entretido com as coisas que corrigia…
E foi então que largou a caneta e acabou sorrindo.
Me chame de irresponsável,
sim, eu não mereço confiança.
Mas uma coisa é inegável,
eu sou irresponsavelmente louco por você!
Conhecia aquela caligrafia muito bem.
Não pensou duas vezes em deixar tudo de lado e sair daquele escritório que estava a horas.
Abrir a porta foi um susto agradável e bonito, pois Jotaro o esperava de terno e ainda usava um chapéu, como daqueles dos anos 40. Foi inevitável não rir, seu marido poderia protagonizar o próprio chefe da máfia ou um detetive de filmes antigos.
— Eu estou de pijama. — Olhou para o homem em sua frente, dando um sorrisinho de canto. — Quer que eu vá me trocar?
Sem responder a questão, Jojo o puxou pelas mãos o levando até a sala de casa, invocou o Star Platinum para ligar o rádio, fazendo ecoar uma melodia lenta e gostosa. Kakyoin se aproximou dele, colocando as mãos em seus ombros e o abraçando, sendo retribuído em seguida.
— Me desculpe. — Ouviu o sussurro em seu ouvido e suspirou, tanto pelo arrepio que percorreu seu corpo como pela situação difícil que se encontravam.
— Me desculpe também, eu estava sendo relapso conosco. — Noriaki confessou, sentindo os dedos de Jotaro perdidos em seus cabelos, em um carinho confortável.
— Nós estávamos e eu senti sua falta.
Noriaki o deixou terminar a frase para finalmente beijá-lo como tanto sentiu falta durante aqueles dias.
Quando terminaram, percebeu que foi um grande idiota por esquecer que seu casamento nunca mudaria, mesmo com todos os problemas da vida adulta. É, a alma dos dois adolescentes que se conheceram em circunstâncias inusitadas e se apaixonaram perdidamente vivia dentro deles, junto com o amor que tanto cuidaram durante todos esses anos.
Enquanto dançavam, encostou a cabeça nos ombros do marido e ficou por um longo tempo, acabou sorrindo sozinho e feliz, nada jamais abalaria o seu casamento.
Assim como Noriaki conhecia as circunstancias, Jotaro tinha certeza que sempre seria imprevisível e até fugiria de algumas responsabilidades apenas para vê-lo sorrindo e em seus braços; atrapalharia mil vezes o trabalho do ruivo quantas vezes fossem necessárias pelo prazer de sentir o perfume de cereja que tanto lhe trazia paz no meio do caos.
Então sim, aceitava o termo de irresponsável de muito bom grado.
Irresponsavelmente louco por Kakyoin.
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