Ok, como começar a escrever sobre este dia?
Não tenho noção, ou idéias.
Então… vou começar com a descoberta de uma dor que eu não havia sentido desde então.
Eu, posta sobre a minha cama, com as pernas entrelaçadas, de ponta cabeça, roupa incrivelmente desleixada, cabelo completamente embaraçado, e com dor insuportável dentro da minha cabeça.
O que era aquilo?
Não sei.
Era um desconhecido, doía muito, meus olhos pareciam querer explodir a cada vez que eu subia as minhas pálpebras.
A luz parecia muito mais forte do que o comum.
Loren disse que era uma tal de ressaca. Eu nunca havia ouvido falar daquilo.
Ocorre quando você bebe demais. Mas eu não me recordo de ter bebido vinho.
Sadie disse que tinha visto eu beber um pouco.
Ah, ok, a primeira ressaca eu nunca esquecerei.
O que foi? Ah, pelo amor de Deus! Você já está lendo isso no século XXI! Abra sua mente! Eu fazia e tinha noção das reações, correto?
Bem, voltemos ao assunto, já que me dispersou.
As minhas irmãs faziam caretas a cada estalo que meu pescoço fazia, doía um pouco, mas era igualmente satisfatório.
No outro lado do quarto, Sadie dizia que estava extremamente ansiosa para escolha das vestes para o casamento de Loren. Devo dizer que não era um bom dia para aquilo. Por que? Oras! Imagine alguém sem paciência alguma ter que escolher dentre milhares de jóias, diferentes cortes de vestido, cor, sapatos, penteados. Não gostaria de ir ao casamento de minha irmã com roupas inadequadas ou de estilo incômodo.
Queria deixá-la contente, mas não tinha a mínima animação para mantê-la bem. Estava começando a ficar depressiva pela tamanha atenção que seu noivado ali estava recebendo. Eu sabia que Loren não gostava da ideia, mas não dizia à nós, não queria que ficássemos preocupadas. Eu fiquei.
É claro, seria arrancada de perto de mim, sem ao menos poder dizer um “A”. Era injusto, meu pai devia ter mais consideração. Se ao menos me escutasse um pouco, já seria bastante.
Estúpido. Nojento. Insensível. Ignorante. Mau-caráter. Bruto. Cínico. Covarde. Arrogante. Atrevido. Autoritário. Avarento. Puff, posso ficar o dia todo aqui.
Me dá enjoos só de pensar na possibilidade de Loren não ficar mais conosco. Sinceramente, qual era o problema dele?
Ah, sim, o problema dele era sedentarismo por dinheiro.
Acho que estava ficando doente. Após ter uma crise de espirros e tosses na aula de história dada pela minha mãe. Ela ficou brava. Brava mesmo. Tanto que me expulsou da sala e disse para eu colher flores.
Entendi tudo. Estão todos estressados com essa ideia incoerente de casamento do nada.
Ah, mas meu pai era totalmente ignorante quanto aos problemas de todo o resto. Não poderia esperar nada dele. A não ser, algo ruim. É claro que ele não se importava com a reação que a ação dele poderia causar.
Enfim; Fui ao campo fazer absolutamente nada. A casa já estava cheia de flores. Então o que diabos eu iria fazer lá?!
Perdoem-me, eu só reclamo, devo admitir que sou uma chata. A esta altura, deve estar querendo jogar este livro pela janela, ou quem sabe até queimá-lo.
Mas se ainda crê no meu desenvolvimento, por favor, não o jogue pela janela. Gosto muito de você.
Está bem! Não te conheço, mas só por tê-lo em sua estante fico feliz! Me deixa alegre saber que alguém consome esse tipo de leitura. Extremamente informal e adoram!
Voltando à linha, do que estava dizendo mesmo?!
Ah, sim. O campo.
Estava bem cheiroso nesse dia. As flores, claro. As plantas não tem cheiro… Eu acho.
Esperei mais alguns minutos até Sadie e Loren saírem da aula, e assim que foram dispensadas, mostrei-lhes a ideia de ir no centro. Era perto demais, íamos andando, além de nos exercitar fisicamente, exercitava a comunicação. Não iria ser alienada.
Puff… isso é tão século III.
As duas foram pegar suas moedas, quem sabe poderíamos ajudar alguém.
Fomos andando.
Uma coisa que eu sempre soube, mas nunca a compartilhei. O que ocorre em Paris é uma injustiça à cidade. O local é lindíssimo. Totalmente romântico, bonito, aconchegante. O que estranha são os homens. As mulheres são sempre traiçoeiras, ou, sei lá, recatadas, e os homens são todos religiosos e se intrometem em tudo.
O cristianismo era completamente inventado pela igreja e ainda achavam que era a vida e a lei.
Uma coisa política. Nesse momento era bom o estado laico. Misturar a religião e o estado político é egoísta. Eu via isso quando saia. Eram todos miseráveis nas ruas. Mal se via alguém com realmente condições boas. O que mais me doía era ver as famílias de rua. Eu sabia que a igreja tinha rios de dinheiro e não faziam o mínimo de esforço para ajudar quem precisava.
No canto da rua, havia uma família de cinco pessoas. Um homem, uma mulher, uma menina, um garoto e um bebê. Um pai, uma mãe, uma filha, um filho e um filho pequeno.
O homem pedia esmola desesperado, o bebê chorava enquanto a sua mãe tentava acalmá-lo. A garotinha despejava miúdas lágrimas e seu irmão mais velho a abraçava, e observava uma lixeira.
Me doía ter tanto e alguns não terem nada.
Fui até eles, me agachei e o homem protegeu seus filhos ficado um passo a frente.
—Por favor, não nos machuque! — Abaixou a cabeça e apertou os olhos. Com medo que eu pudesse fazer algo.
—Oh, perdão monsieur! Não queria assustá-lo!
Ele abriu os olhos devagar, mas continuou em torno de sua família. O bebê ainda chorava.
—Tenho dinheiro aqui, talvez possa lhe ajudar, monsieur. —Peguei a bolsa e abri, ele olhava desconfiado.
Peguei o pequeno saquinho de pano, pesado da tamanha quantidade de dinheiro, dei-lhe o saquinho, e ele sorriu realizado.
—Obrigado, linda moça, me salvou. E obrigado pelo respeito.
—Não entendi, poderia me explicar? — Perguntei confusa.
—Nos chamam de sangues repugnantes. Monsieur é ouro na minha mina.
Sorri para ele. Desejei boa sorte e ele agradeceu várias vezes.
Ajudar me deixou menos rabugenta.
Cheguei perto de Sadie e Loren. Loren me parecia orgulhosa e Sadie animada. “Novidade”.
—Parabéns. Fazendo o que papai não faz! — Disse Loren, rindo.
—Viu?! Não sou de todo o mal. —Respondi rindo, e Sadie gritava pelos colares na barraquinha.
Fomos até ela.
—Monsieur, eu quero esse, este, aquele ali, ESSE! MILLIE, ELE VEM COM PULSEIRA E ANEL, EU PRECISO! — Gritou e o moço ria.
Eu ri junto.
Inúmeras barracas, algumas vendiam tecidos, outras madeiras, carnes (que nojo), pães, enfim; um infinito de compras.
Havia vários ciganos. Faziam truques de mágica, vi até alguns roubando. Ora, não tinham visibilidade na sociedade, o que fariam além de roubar? O pior era que nem ficar pela cidade podiam. Não podiam nem tentar ganhar seu dinheiro. Sempre eram expulsos, mortos, tinham seus parentes mortos, e mais um monte de merda.
Às vezes me frustrava de ter nascido nessa época. Se bem que não teria conhecido Finn, então está tudo perfeito.
Ou estava.
Enquanto um gato miava e o barulho popular corria, fui ficando sem voz. Estava forte, mas a cada palavra que eu ditava piorava.
Em seguida, veio uma enorme dor de cabeça, assim como a de manhã. E veio com um aliado, a tontura.
Tudo girava, e eu comecei a perder a minha visão. Tudo escuro.
E ela veio.
A visão que eu rezava para não ter.
Uma garotinha, de cabeleira morena, olhos negros. Chorava enquanto a amarravam na madeira. E vinha o fogo.
Era aplicado na ponta de seu vestido. E foi subindo. Subindo. Subindo. Choro. Desespero. Eu estava caindo, mas alguém me segurou.
Olá, Noah!
Assim que a minha visão voltou, os vi — Sadie, Loren e Noah — olhando assustados.
— Quem foi agora? — perguntou Sadie.
—Uma criança inocente.
Noah ficou sem entender quando saímos às pressas do centro, indo para perto da igreja, pelo menos era por ali que ocorriam as mortes.
E chegamos a tempo.
Vi meu pai e lhe disse que já tinha visto a garota e que ela era completamente inofensiva. Só tinha fome e roubou um pedaço de pão, quando a pegaram-na, murmurou algo, e se enganaram.
Ps: história que eu ouvi de alguém no meio da “plateia”.
A garota foi solta. Mas teve de pagar com trabalho. Em minha opinião, é melhor do que falecer.
E com isso podemos concluir que:
Não há piedade em Paris.
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