Chuuya odiava o dia 1° de abril.
Por três anos, sofreu nas mãos de Dazai, que sempre piorava as surpresas do dia da mentira.
"Chuuya, veja só! Você cresceu!"
"Chuuya, atearam fogo no seu chapéu!"
"Chuuya, eu vou colocar uma bomba no seu carro"
Bom, a última não foi exatamente uma mentira, mas… O que deixava Chuuya louco não era apenas as merdas que ele falava, e sim as que ele fazia.
Todo ano nessa mesma data, ele tomava cuidado com qualquer passo, e mesmo assim, acabava caindo como um patinho nas brincadeiras de muito mal gosto que Dazai planejava para ele por meses.
Claro, tiveram os quatro anos que passou sem uma notícia de Dazai depois que ele saiu da máfia, e lá no fundo, Chuuya sabia que sentia falta das pegadinhas idiotas dele.
Por isso, agora ele decidiu se vingar. Por todas as vezes que teve quilos de farinha de trigo jogados em cima dele, por todas as vezes que teve leite derramado em seu cabelo, e pela vez que Dazai se atreveu a cortar metade de seu cabelo enquanto dormia.
Claro, depois que deu uma coça em Dazai, Chuuya disse para todos que tinha feito o corte no salão e que era estiloso(o que, estranhamente, concordaram, deixando Dazai um pouco frustrado por ver os outros babando pelo novo penteado de Chuuya).
E com isso, Chuuya fez uma descoberta.
A melhor vingança para uma pessoa emocionalmente constipada é fazer ela demonstrar o que sente. Então, no meio de janeiro, ele fez uma reserva no restaurante mais caro da cidade. Não havia vagas para o primeiro dia de abril, mas Chuuya conseguiu para 27 de março, um domingo em que os dois estariam livres do trabalho.
—Então, Chuuya, qual o motivo de ter me trazido aqui? -Chuuya ouviu Dazai perguntar, notando curiosidade genuína no rosto dele. Abrindo um sorrisinho, ele continuou cortando a carne em seu prato.
—Hm, não sei, Dazai. -Ele levou a carne até a boca com o garfo e mastigou. —Qual o motivo de você ter aceitado?
Dazai deu de ombros, desviando o olhar. Começou a mexer na sua comida com o garfo, evitando mostrar qualquer reação que não seja tédio.
—Comida cara, e que você tá pagando. Não é como se eu gostasse de passar tempo com você, lesma.
—Eu também odeio ficar perto de você, cavala.
Então comeram em silêncio, ouvindo apenas o barulho ambiente do restaurante, e ainda assim, Chuuya se sentia(pelo menos um pouquinho) vitorioso ao notar que Dazai estava menos irritante. Não quieto, mas definitivamente falava menos que o normal. Também parecia pensativo e, ousava dizer, envergonhado.
Dazai não ficava vermelho. Ele sempre foi -e ainda é- sem vergonha nenhuma na cara. Era sempre ele que cantava as mulheres e fazia elas corarem. Ele quem usava seus charmes para sair de qualquer situação que não o agradasse. Por isso, Chuuya não esperava muito ver algum tipo de coloração no rosto dele(além do tom arroxeado das olheiras embaixo dos olhos). Então, com o tom de voz mais falso que conseguiu forçar, Chuuya perguntou:
—Oh, Dazai, você está doente? -Fingindo preocupação, ele se levantou um pouquinho para deixar o tronco passar por cima da mesa e colocou as costas de sua mão na testa de Dazai, afastando a franja dele. —Comeu alguma coisa que te deu alergia?
—O que…? -Chuuya teve que segurar a risada quando viu Dazai claramente confuso e falando mais baixo.
—Você está vermelho, e seu rosto está queimando! -O ruivo disse, se afastando dele e se sentando de volta na cadeira de frente para Dazai.
—Eu tô me sentindo bem, eu acho. -Dazai passou as próprias mãos no rosto. Um pouco desconfortável, ele bebeu um pouco de água do seu copo. —Deve ser só cansaço.
—Então vê se dorme bastante depois que eu te deixar em casa, bastardo. -Chuuya falou, deixando Dazai ainda mais confuso pelo tom afetuoso que Chuuya usou ao falar isso, mas um momento depois, o moreno já estava colocando seu sorriso provocador.
—Meu cachorrinho vai me levar em casa? Muito lindinho da sua parte, Chuu, mas eu não gosto muito daquela sua moto, não…
—Cala sua boca!
O plano não deu exatamente certo, mas Chuuya se contentou com as reações tão sinceras que Dazai mostrou à ele. Claro, a expectativa era ouvir Dazai falando com todas as palavras que sim, era apaixonado por Chuuya. E o ruivo começou a ter certeza disso depois que descobriu que O guia completo de suicídio era, na verdade, um diário disfarçado. Depois disso, fez total sentido Dazai sair com aquele livro para todo canto.
Depois do restaurante, Chuuya ligou para ele durante toda a semana. Okay, ele realmente estava se divertindo toda vez que ouvia Dazai ficar nervoso no outro lado da linha sempre que ele o provocava.
"Dazai, se cuida"
"Eu tô preocupado com você, coma direito"
"Chegue seguro em casa"
"Não vejo a hora de te ver"
Não era coisas que ele falaria normalmente, e teria muita vergonha de admitir, mas valia a pena se isso fosse fazer Dazai ficar constrangido. Até seus subordinados já estavam sabendo do plano dele, e Chuuya torcia para que Akutagawa não abrisse o bico para o garoto-tigre, que com certeza iria abrir o bico para o Dazai de bosta.
Além das ligações, não tinha nada que Chuuya conseguisse fazer para convencer Dazai a se declarar, tanto que, na sexta feira não ligou para ele. Era 1° de abril, claro que qualquer coisa que falasse iria entrar por um ouvido e sair pelo outro. Chuuya estava de saco cheio pela demora.
E cansado, sem nenhum plano de ouvir declarações de amor, Chuuya foi andando até a casa de Dazai, levando uma sacola. Com facilidade, invadiu o apartamento pequeno que ele morava e fechou a porta, indo até a sala.
Dazai estava deitado no sofá, mas se sentou no momento que sentiu a presença de Chuuya. Os dois se olharam por um tempo, até que Chuuya decidiu quebrar o silêncio.
—Comprei um caranguejo enlatado pra você. -Chuuya disse, sério. Dazai pareceu um pouco surpreso, mas riu depois.
—Sério? Chibi está bem generoso hoj-
—Primeiro de abril, é mentira.
—Ah.
Então, os dois ficaram em silêncio. Chuuya ficou com dó do desapontamento estampado no rosto de Dazai, então jogou a sacola no colo dele.
—Não comprei um, comprei dois. -Chuuya riu da cara perplexa de Dazai, que encarava as latas dentro da sacola boquiaberto.
—Eu amo você. -Dazai respondeu baixinho, mas sua voz ecoou pelo apartamento, mesmo com o barulho da televisão ligada sendo um pouco mais alto.
Chuuya arregalou os olhos, surpreso, enquanto Dazai levantava seu olhar para ele, ainda um pouco atordoado.
—Eu amo tanto você. -Dazai repetiu, então tirou as latas de dentro da sacola para olhar melhor.
—É sério? Eu te levo pro melhor restaurante de Yokohama, e o que faz você confessar é caranguejo enlatado? -Chuuya franze as sobrancelhas, gesticulando com as mãos, indignado. Dazai se levanta do sofá e abraça ele, esfregando a bochecha contra a dele depois de se abaixar até a altura do ruivo.
—Eu amo muito você, chibikko. Consegui passar o dia da mentira inteiro sem mentir! Eu amo você hoje, amanhã, e sempre!
—Cala essa sua boca. -Chuuya se afasta dele, apenas para se aproximar dele novamente e o puxar para um beijo, então sussurrou para ele no momento em que se separaram de novo. —Eu amo você também, Osamu.
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