Já estava escuro quando Aomine Daiki deixou o pronto socorro, e para ajudar, tinha começado a chover. Para a sorte dele, uma das enfermeiras da recepção lhe entregou um guarda-chuva à pedido de “uma mocinha muito doce e bonita”. Sua mão ainda doía um pouco, não o suficiente para que o fizesse considerar procurar um hospital, porém, depois de tanta insistência por parte de Satsuki, ele acabou cedendo.
Aomine acabara se machucando numa partida de rua, iniciada devido a sua rivalidade com Kagami. Momoi havia falado tanto na cabeça dele, que ele quase — quase — se arrependera, mas toda oportunidade de derrotar Kagami Taiga era válida, mesmo que isso ocasionasse em eventuais puxões de orelha da garota.
Um torneio importante estava chegando, e Aomine entendia a preocupação de Satsuki com seu bem estar, afinal, o jogador era a alma do time, entretanto, um ferimento tolo como aquele jamais afetaria seu desempenho em quadra, e mesmo que afetasse, o máximo que poderia acontecer era ele ter um pouco de diversão, já que não existiam oponentes páreos para Daiki.
Aomine desceu a rampa do pronto socorro, seguindo em direção a sua casa. Tinha percorrido alguns quarteirões quando, sob a luz bruxuleante de um poste, reconheceu sua amiga de infância. Por um momento ele apenas pensou em deixá-la seguir seu destino, mas bastou que prestasse um pouco mais de atenção para que percebesse que Satsuki não estava sozinha. Um cara mais ou menos da altura dele interrompia a passagem dela, e por mais que Momoi tentasse se desviar, ele insistia em importuná-la.
O jogador suspirou, parcialmente irritado com o incômodo de ter que se desviar de sua rota por um idiota como aquele, que muito provavelmente nem valeria seu esforço. Começou a caminhar lentamente na direção deles, a mão no bolso do moletom cinza, então o desconhecido segurou Satsuki pelo braço, fazendo-a derrubar o guarda-chuva. No segundo seguinte o punho de Aomine — aquele pelo qual visitara o pronto socorro — já havia encontrado o rosto do rapaz, jogando-o no chão, direto numa poça d’água. Aomine apenas o encarou de cima, enquanto segurava o próprio guarda-chuva para Momoi, já um pouco molhada pela chuva.
— Dai-chan?!!! — exclamou ela, completamente surpresa.
— Achei que já estaria em casa numa hora dessas, Satsuki — comentou ele com sua voz anasalada, ainda encarando o rapaz que levava os dedos ao nariz, que demonstrava grandes chances de estar quebrado.
— Eu estava voltando, mas… — Momoi deu de ombros, já que a situação falava por si só.
O rapaz levantou-se, encarando Aomine. Parecia ter reunido alguma coragem naquele meio tempo, independente de sua situação patética. Um sorriso zombeteiro lhe ocupou aos lábios.
— Que droga de nome é Dai-chan?
— Do tipo que não é da sua conta, idiota.
— Você sabe com quem está falando?
Aomine suspirou, entediado demais e começando a ficar com frio. A chuva escorria por seu cabelo azulado, as roupas estavam praticamente encharcadas. Só queria dormir um pouco. Era pedir demais?
— Eu deveria? Talvez eu já tenha te derrotado alguma vez…?
Ele olhou questionadoramente para Satsuki, esperando que ela lhe respondesse aquela questão, afinal, era trabalho dela saber tudo sobre todos os jogadores pelo qual era responsável.
Satsuki encarou o rapaz de cima a baixo e negou com a cabeça, levando o indicador ao queixo.
— Não, ninguém digno de nota...
O rapaz enfureceu-se com o descaso de ambos, mas estupidamente decidiu direcionar sua fúria para Momoi. Aomine simplesmente entregou o guarda chuva para a amiga, enquanto avançava num movimento suave sobre aquele cara irritante que impedia a realização de seus planos de chegar em casa e descansar. Daiki lhe deu uma joelhada no estômago e o segurou pelo colarinho. O rapaz se curvava sobre o próprio corpo, exibindo uma expressão de dor.
— Dai-chan, pare!
— Nem comece Satsuki-...
— Sua mão! Pare de usar a sua mão!
Ah.
Aomine olhou para as faixas que envolviam sua mão que supostamente deveria evitar ser utilizada, considerando quanto estrago teria feito a ela enquanto a abria e fechava. O jogador não teve tempo de terminar sua análise, já que Momoi o agarrou bruscamente pela toca e saiu arrastando-o pela rua, praticamente o enforcando com a gola.
— Ei, Satsuki, você quer me matar, droga?!!
O rapaz virou assunto esquecido para os dois, que começaram uma discussão, seguida de sermões e reclamações, onde Aomine ainda tentava se livrar das garras de Momoi, entretanto, mesmo não recebendo atenção alguma, ele começou a gritar algo sobre se vingar, ganhando de Aomine no próximo jogo. A promessa de vingança não foi registrada — não que fizesse alguma diferença, já que aquilo nunca iria se cumprir.
— Como pôde fazer isso, Dai-chan?! — questionou ela, analisando a mão dele por conta própria, que agora, apresentava um leve sinal de inchaço. Eles haviam parado em frente a uma loja de conveniência, um local bastante iluminado, para que ela tivesse mais visão do ferimento. — Você precisa começar a tomar conta de si mesmo!
Aomine coçou a nuca, fingindo ignorá-la, embora ouvisse cada palavra. Ele olhou encarou o topo da cabeça dela, os cabelos úmidos, antes de respondê-la despreocupadamente.
— Não, eu preciso tomar conta de você.
Momoi encarou a mão dele, detendo seus movimentos por alguns segundos. Um leve sorriso — que que não permitiu que ele visse — brincou nos lábios dela. Deixou um dedo correr pela palma dele, diretamente sobre a pele morena, ao redor das faixas. Então agarrou-lhe a mão, arrastando-o rua acima.
— Venha comigo, eu vou cuidar disso desta vez.
Aomine a seguiu, meio curvado, meio tropeçando, ante o ímpeto da amiga. Sabendo que não tinha outra solução que não obedecê-la, tomou o guarda chuva de Momoi, rebocando-a para o seu lado, junto ao seu corpo, enlaçando-a sobre os ombros.
— Ao menos tente não se molhar no processo. Será que não posso te deixar sozinha por um minuto sequer?
Momoi o encarou por um momento, lutando contra a vontade de explicar quem de fato tomava conta de quem, entretanto, haveriam outras ocasiões para isso. Naquela noite, ela só se deixaria aproveitar da companhia e inusitada gentileza de Aomine Daiki.
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