Kim Yerim nunca soube o que é pagar algo à prestação, isso é fato.
Nascida e criada em um berço de ouro, a pequena Kim sempre regozijou dos melhores prazeres que o dinheiro de seu pai poderia lhe dar. Ironicamente, não se tornou alguém esnobe, pelo contrário, Yeri levava alegria com seu jeito doce e leve por onde andava.
Um desses lugares era o Venus, um centro de beleza localizado em um bairro caro de Gangnam. A senhorita Kim passou a frequentá-lo desde os dezesseis anos — indicação da própria mãe, que garantia ser aquele o melhor salão de toda a Coréia do Sul. Yerim, de fato, pôde constatar do que a progenitora falara. O profissionalismo de toda a equipe do Venus fazia jus ao nome, parecia ser de outro planeta.
E alguém em especial lá também parecia ter vindo de fora da Terra…
Yerim já estava habituada a toda a equipe do centro de beleza, desde Seulgi, a maquiadora que parecia ter saído de um girlgroup, até Wendy, uma cliente espalhafatosa que fazia sua unha todas as quartas e não parava de falar um minuto. Então, assim que deu de cara com sua nova manicure naquele dia fatídico, estranhou. Era a primeira vez que via aquela linda mulher ali nos três anos de freguesa fiel do salão.
Yeri ficou intrigada, curiosa e encantada... Jamais se esqueceria do dia em que conheceu aquela mulher — quem bagunçou seu coraçãozinho de um jeito que... Minha nossa!
A estudante de Moda se dirigia mais uma vez até um de seus locais favoritos em Seul, como fazia a cada duas semanas. O dia estava quente e Yerim, coitada, corria pelas calçadas com medo de perder o seu horário no Venus. Havia saído atrasada de casa e nem fez questão de se arrumar decentemente para ir até o centro de beleza. Estava um farrapo.
De qualquer maneira, a intenção era sair deslumbrante de lá, afinal, as pessoas só procuram o médico quando estão doentes, certo? Pois naquele dia em particular, Yerim fazia bem em ir até o salão. Mas se soubesse o que a aguardava... Com certeza pensaria duas vezes antes de colocar a primeira roupa que viu pela frente.
Quando chegou, foi recebida pela rajada fria do ambiente com ar condicionado e fechou os olhinhos, suspirando aliviada por alguns breves segundos. A recepcionista assim que a viu, direcionou-a até o segundo andar e a pobre jovem subiu as escadas resmungando. Estava tão cansada pela corrida. Tinha suado mais do que seu irmão Sehun nas aulas de crossfit.
— Céus! — exclamou a pequena Kim depois de dar aquela cheirada básica debaixo do braço.
Fez uma careta ao lembrar que nem trouxera um perfume dentro da bolsa.
— Aguarde aqui que a manicure já vem te atender.
Yerim agradeceu à recepcionista e sentou-se na poltrona azul tão conhecida por si, pegando o celular para fuçar as redes sociais enquanto esperava. Nem notou a mulher sentar na cadeirinha à sua frente e começar a arrumar os materiais para tornar suas unhas tão belas como a verdadeira profissional que era.
— Olá, senhorita Kim. Eu sou Bae Joohyun e vou atendê-la hoje.
— Ah. — Yeri sorriu, guardando o celular na bolsa e se virando para olhar para sua manicure. — Clar-
Uau!
Poxa vida! Simplesmente a pessoa mais linda que havia visto na vida estava bem ali na sua frente. Yerim ficou de queixo caído e até pensou em fugir visto o seu estado à lá mendiga, mas já era tarde demais. A moça estava olhando para si e sorrindo, repito, sorrindo! Um sorriso pequeno e fofo que fez a Kim corar todinha.
— A senhorita Lee não pode lhe atender hoje. Desculpe-nos por não avisar antes, ela teve um imprevisto. — A mulher disse com a voz branda.
— Tudo b-bem. — Infelizmente, a voz de Yerim saiu mais esganiçada do que ela pretendia.
— Me dê sua mão. — Joohyun pediu, estendendo sua mão branquinha delicada.
Yerim engoliu em seco e colocou a destra sobre a semelhante, observando a Bae analisar cuidadosamente suas unhas. A única coisa que se passava na mente da cliente era "Help me, Jesus!", pois suas unhas estavam horríveis: o esmalte roxo todo lascado e acreditava até que tinha resíduo de terra embaixo de algumas delas.
Não tinha culpa se nutria paixão por jardinagem, afinal.
Mas o que aquela doce profissional ia pensar?Pelos deuses! Yerim tinha cagado sua primeira impressão com a moça.
E então Joohyun — sem dizer nada ou esboçar qualquer reação — começou todo o seu serviço, iniciando a remoção do esmalte velho. A Kim, nervosa, sentiu-se na obrigação de justificar o caos que se encontrava sua mãozinha.
— Hm... — Ela pigarreou, dando um sorriso trêmulo. — Eu estava mexendo com plantas hoje mais cedo e mesmo usando luvas, às vezes entra terra debaixo da unha e é difícil de tirar porque são longas.
— Oh, você gosta de plantas? — A Bae direcionou a si um sorriso junto de uma expressão surpresa tão fofa que Yerim sentiu vontade de morrer. Assentiu, envergonhada. — Eu adoro plantas, tenho várias espalhadas pelo meu apartamento.
— Sério? — A Kim sentiu-se mais confortável. Ajeitou a postura na poltrona. — Eu faço jardinagem no meu tempo livre. Ajuda a não me estressar, sabe?
E ali se iniciou um papo agradável envolvendo plantas, flores e natureza. Yerim sentia-se meio idiota por ficar hipnotizada na moça, mas não tinha culpa. Joohyun era linda demais, tinha o cabelo com pontas rosa que lhe conferiam um ar bem jovial e os traços de seu rosto eram harmônicos e tão delicados que despertava na Kim a vontade de ficar olhando para ela por uma hora inteirinha — e foi o que fez.
O trabalho da Bae era maravilhoso; ela possuía uma delicadeza e cuidado de uma fada! Fazia tudo pacientemente e com perfeccionismo. Joohyun também era muito organizada com seus materiais.
Sua conversa não ficava para trás: era reconfortante. Ela falava baixinho e era tão educada... Yerim acabou descobrindo pela mulher que a mesma era novata ali e estava em período de teste — por isso a Kim nunca a vira antes no Venus.
Mal a conhecia e já queria fazer as unhas todas às vezes só com ela!
— Muito obrigada. — Yerim agradeceu assim que a outra terminou, admirando o trabalho da mais velha. — Ficaram lindas! — A cliente estava mais do que satisfeita com suas unhas carimbadas com bichinhos, sugestão da própria manicurist.
Levantou-se catando a bolsa, uma pena que teria de descer para arrumar o cabelo, pois sua vontade era de ficar ali com a outra e conversar até cansar-se.
— Obrigada a você. Que bom que gostou, senhorita Kim. — Joohyun curvou-se com um sorriso discreto no rosto.
— Pode me chamar de Yerim. E sem formalidades, por favor. — A mais nova comentou, já caminhando em direção as escadas. Olhou para trás uma última vez.
Joohyun a encarava sorridente também e isso aqueceu o coração da cliente.
(...)
— Unnie eu 'tô te falando! Ela é linda demais. — Yerim comentou com Sooyoung, sua melhor amiga. Ambas estavam jogadas no tapete felpudo no chão da sala de estar da Park. — Eu vou te mostrar uma foto dela, espera aí.
Yerim pegou o celular e Sooyoung revirou os olhos. Já se encontrava a quase uma hora inteira escutando a mais nova falar sobre sua nova crush em potencial. Não via problema nenhum na outra ficar falando e falando da mesma coisa por tanto tempo, mas qual é, acabara de chegar de viagem e queria matar um tempo com a melhor amiga. O que custava Yerim ficar calada um pouquinho e assistir o filme?
— Chama ela pra sair logo, garota. — A Park sugeriu enfiando um monte de pipoca na boca. Sua paciência era meio curta mesmo.
— Aqui! Achei! — A Kim exclamou, ignorando o que a outra dissera. Quase enfiou o telefone na cara de Sooyoung, atrapalhando ela a assistir o que se passava na TV. — Essa é a Joohyun, amiga.
— Omo! — Sooyoung quase se engasgou com a pipoca. Pegou o celular da mão de Yeri e rolou pelo feed da manicure da outra, impressionada.
— Entende agora do que estou falando?
— Completamente! — Sooyoung devolveu o celular para a amiga, deixando o balde de pipoca de lado. — Chama ela pra sair, larga de ser medrosa, Ye.
— Não dá! Eu não sou de tomar a iniciativa, você sabe. Sou tímida demais pra isso. — Yerim se remexeu no lugar, desconfortável. — E vai que ela é hétero? Deus me livre dessa vergonha!
— Então joga umas indiretas, ué.
— Mais do que eu já joguei? — Yerim perguntou incrédula. — Minha filha, eu estou indo lá de quatro em quatro dias e faço questão de marcar as unhas só com ela. A senhorita Lee 'tá até de cara feia pra mim. Me sinto uma traíra por ter trocado de manicure na cara de pau. — A loirinha abraçou uma almofada. Estava inconformada. — Eu converso com aquela unnie sobre qualquer besteira, já até perguntei se ela namora e esse tipo de coisa, mas ela é tão reservada e discreta que não entra muito no assunto e me sinto invasiva.
— Ai amiga. — Joy passou a mão pelo braço de Yerim em um carinho singelo. — É o jeitinho dela, não fica assim não, meu bem.
Não adiantou muito as palavras de consolo e a Park odiava ver a mais nova daquele jeito. Quando o assunto era paquera, Yerim era péssima e se não fosse pela amiga estaria perdida.
— Vamos fazer assim... — Sooyoung sorriu travessa e Yerim olhou para ela com expectativa, porque sabia muito bem o que aquele sorrisinho significava. Joy tinha um plano. — Eu vou começar a fazer as unhas lá também, com ela. Vou aos poucos tentar descobrir mais informações e ao mesmo tempo, você vai investindo na gata até o momento perfeito pra dar o bote e chamar ela pra um rolê, pode ser?
Yerim riu do jeitinho meio doido da Park, ficando mais animada. Amava aquela unnie demais.
— Pode ser.
(...)
— Você vai colocar carimbo nas unhas dessa vez? Tenho uns novos muito bonitinhos. Se quiser, têm adesivos também. — Joohyun perguntou como de praxe.
Yeri, por culpa da Bae, passou a gostar de enfeitar as unhas com carimbos e adesivos.
— Claro, unnie. — Yerim sorriu com as mãos estendidas. — Como dizer não a você?
Joohyun riu, colocando a mão na frente da boca — o que significava que estava envergonhada. Yerim acabou aprendendo a "ler" a outra naquele tempo e sabia de alguns dos seus trejeitos e suas manias também.
— Amiga, vamos dar uma volta hoje? — perguntou Sooyoung, que estava ao lado da Kim fazendo as unhas com a senhorita Lee. — Eu chamei a Seulgi e a Jieun para irem conosco, não é?
Senhorita Lee, ou Jieun, assentiu concordando.
— Sim. Ótima ideia, estou mesmo precisando espairecer. — Yeri falou tentando conter sua empolgação.
Bom, tudo consistia em um plano da Park e da Kim.
Com muito sucesso, Joy descobriu informações cruciais sobre a Bae naquelas três últimas semanas fazendo a unha com a crush da amiga. Ao contrário de Yeri, a Park não tinha medo de perguntar e acabou arrancando algumas coisinhas da outra como, por exemplo, sua falta de interesse em homens.
Descobriu também que ela tinha uma cachorrinha chamada Irene e esse mesmo nome era um apelido de infância seu, dado por sua falecida avó; que Joohyun cursou Estética, fazia bicos de massoterapeuta em alguns spas chiques por Gangnam e tinha, pasmem, vinte e sete anos.
Ah! E Joohyun era fã de Super Junior que nem Yerim.
Conforme a Park ia descobrindo mais sobre a manicure, Yerim ia investindo nos pontos certos com os assuntos certos. Certo dia, Kim e Bae passaram a tarde inteira aos risos conversando sobre o boygroup Suju e na hora de Yeri ir embora, Joohyun ficou abalada chegando a dizer que estava ansiosa em revê-la.
Yerim ganhara o dia.
Já que tudo estava dando certo, Yeri resolveu dar o próximo passo. Contudo, precisava da ajuda de sua melhor amiga mais uma vez. E ali estava ela; marcou um horário junto com a mais nova para que pudesse executar seu plano.
— Você podia ir também, Joohyun unnie. — Sooyoung sugeriu e Jieun incentivou junto de Yerim. — Nós vamos dar uma volta por aí, beber soju e jogar conversa fora.
— Não sei se devo. Tenho várias coisas pra fazer. — Joohyun disse incerta, concentrada em deixar os carimbos certinhos nas unhas de sua cliente mais assídua.
Yerim adorava o quão focada era a Bae. Sua expressão de concentração se convertia em algo sexy; as sobrancelhas unidas, seu rosto sério e para completar, os lábios levemente crispados.
A Kim era muito apaixonadinha naquele anjo…
— Por favor, Joohyun-ssi. — Yeri pediu, tocando sutilmente no ombro da manicure com sua mão livre. A citada a encarou, parando por um momento seu serviço, vendo que a Kim tinha um bico involuntário nos lábios. Tão fofa.
Os olhos grandes da mais nova lhe lembravam um gatinho e com aquele jeito pidão se assemelhava ainda mais a um felino.
— Como dizer não a você? — Irene perguntou com um sorriso e voltou a carimbar as unhas da cliente.
Yerim deu um sorriso vitorioso em direção a melhor amiga e Sooyoung lhe mostrou os polegares para cima.
A loira não podia estar mais feliz e ansiosa por aquela noite.
(...)
— Conseguiu falar com elas, Yerim? — Joohyun perguntou para a mais nova, um tanto preocupada.
— Não. O celular da Sooyoung está desligado. — respondeu, checando o celular mais uma vez.
— O da Seulgi e o de Jieun também estão. — Bae garantiu, ligando para as colegas mais uma vez.
Ambas estavam em plena Hongdae, no meio da rua, ligando para as outras três que ficaram de encontrá-las ali.
Claro que tudo fazia parte do plano da Park, mas Yerim nem imaginava que a melhor amiga ia simplesmente largá-la com a crush em potencial e dar um bolo nelas. Provavelmente, Joy havia mandado o endereço errado para as duas de propósito e saído com Seulgi e Jieun para outro local, deixando-as enfim sozinhas.
Um plano inteligente, mas custava avisar a Kim?
— Desiste, unnie. — Yerim disse, sentindo-se um pouco culpada pela preocupação da outra.
Joohyun desligou o telefone e deu de ombros.
— Vamos aproveitar mesmo assim. Esse tempo que estamos aqui esperando por elas podia ter sido usado para outra coisa. — A Bae sorriu e Yeri concordou tentando não maliciar a fala da mais velha. — Que tal andarmos? Qualquer coisa, elas irão ligar.
— Certo. — A Kim deu um sorriso pequeno e começou a caminhar lado a lado com Irene.
As ruas eram movimentadas por jovens naquele horário, mesmo o clima não estando muito favorável. As pessoas trajavam gorros e casacos quentinhos, os casais até andavam mais colados que o normal e Yeri achava aquilo tudo muito fofo. Um passeio por Hongdae era um encontro perfeito para ter uma boa conversa — ainda que aquilo não fosse um encontro, Yerim desejava que pudesse ser um passeio tão proveitoso quanto um.
— Ali, olha! — Joohyun segurou no braço da outra depois de alguns minutos de caminhada, tirando-a de seus devaneios. Apontou para um aglomerado de pessoas, que se reuniam em volta de um grupo de garotas dançando. — Vamos até lá. — A Bae disse animada e puxou a mais nova, passando pelo meio das pessoas na calçada.
Pararam em frente à pista, conseguindo enxergar com clareza as meninas dançando algum girlgroup famoso que tocava. Joohyun nem pensou duas vezes e sacou o celular para filmá-las, como diversas outras pessoas faziam. Yerim observou a mais velha com atenção, pois nunca a vira tão animada como naquele instante. O único contato que tinha com ela era dentro do Venus e vê-la fora de seu âmbito profissional, sem todo aquele ar profissional e formalidade, era excitante. Sorriu abobalhada.
— São artistas de rua. — Joohyun virou-se para falar com a Kim, flagrando-a a encarando.
— Oh, não sabia. — Yeri comentou, depois de desviar o olhar de uma forma bem suspeita. Não sabia disfarçar. As meninas realmente dançavam muito bem e a Kim sentiu-se contagiada, começando a bater palmas no ritmo da música. — Elas são muito talentosas!
— São. — Irene concordou, parando de filmar e guardando o celular no bolso para apreciar melhor a apresentação. Chegou mais pertinho da dongsaeng, inclinando um pouco a cabeça para o lado a fim de ser escutada em meio a tanto barulho: — Geralmente esses artistas de rua que se apresentam por Hongdae são trainees de empresas de entretenimento.
— Que legal! — Yerim cobriu a boca dando uma risada animada. Joohyun encarou os olhinhos bonitos da Kim concentrados no grupo de garotas, se perguntando como ela conseguia ser tão fofa.
— Eu morei em Hongdae assim que vim de Daegu para Seul. — Irene comentou depois de um tempo com um sorriso pequeno e a mais nova focou-se totalmente nela. Era raro a Bae falar sobre si mesma ou sobre sua vida sem que fosse perguntada, e aquela atitude tão espontânea causou cócegas na boca do estômago de Yeri. — Às vezes eu parava para assistir aos artistas de rua, mas acabei me mudando para Gangnam e perdi o hábito. — Joohyun encarou a mais nova, que nem se deu conta do olhar admirado que direcionava à Bae. — Minha prima é trainee e se apresentava nas ruas naquela época. Eu ia assisti-la de vez em quando.
Joohyun parecia nostálgica, com o olhar perdido em lembranças enquanto suas mãos estavam enfiadas no casaco grosso de lã que vestia. Yerim observou o rosto pálido e tão bonito de sua unnie se perguntando o que mais aquela mulher guardava. Quantos segredos? Quantas informações mais que a surpreenderiam como aquela? Ansiava conhecer cada pedacinho de Bae Joohyun, a mulher reservada e misteriosa, a manicure bonita e dedicada, que tinha roubado seu coração tão rápido quanto uma estrela cadente cruza o céu.
— Já que você conhece tão bem Hongdae, por que não me mostra um pouco mais? — Yeri sugeriu e Joohyun concordou dizendo ser uma boa ideia. — Estou com fome, que tal me apresentar um lugar com boa comida, unnie?
— Têm tantos... — Bae franziu o cenho olhando para o chão tentando se lembrar de um local em especial. Sua expressão se abriu e ela sorriu, fitando a outra que não havia tirado os olhos de Joohyun. — Aqui perto tem umas barraquinhas muito boas.
— Fechou. — Yeri sorriu aproximando-se de maneira sutil da outra, ao passo em que aplaudiam o grupo de garotas que terminou de dançar, começando outra música.
(...)
— Eu nunca comi comida de rua. — Yerim confessou com um sorriso sem graça encarando o Tokkebi no palito em sua mão.
Parecia uma delícia mesmo tendo sido preparado em uma barraquinha simples encostada na beira da calçada movimentada.
— Para tudo há uma primeira vez. — Joohyun falou, sentando-se à mesa de plástico que estava disponibilizada ali exclusivamente para os clientes da barraca.
Irene deu uma mordida grande no hot dog e Yerim a imitou, em seguida ficando surpresa pelo sabor.
— Uau isso é muito bom! — A mais nova exclamou de boca cheia, dando outra mordida e em consequência de sua gula, Irene riu. — Unnie, como nunca comi isso antes? Deveriam servir nos restaurantes, sério!
— As coisas simples são boas também. — Joohyun comentou, tomando um pouco do refrigerante de melancia que havia comprado em uma lojinha de conveniência ali perto. — Não é só nos restaurantes chiques de Gangnam que há graça. Também existe comida boa nas esquinas das ruas.
— Verdade. — Yerim concordou, já no último pedaço do Tokkebi. — Quer dizer, agora eu sei disso, porque antes não tinha nem noção. — Ela largou o palito em cima da mesa, batendo as mãos uma contra a outra para retirar a sujeira. — Você sabe, eu sou uma burguesinha. — piscou brincalhona para a Bae que riu, cobrindo a boca do jeitinho que Yerim achava a coisa mais linda do mundo.
— Eu acabei me tornando uma também. — A mais velha falou, terminando de devorar o hot dog e largando o palito ao lado do da dongsaeng. — Mas é bom não esquecer das raízes. Em Daegu tinha bastante comida boa e simples também, por isso gosto tanto. Me faz lembrar de lá.
— Você fica radiante assim. — Yerim comentou sem perceber e Joohyun a encarou soltando um “Como?”, curiosa. — Ah, é que quando você começa a falar de si mesma, sobre as coisas da sua vida, um brilho diferente ocupa seus olhos, unnie. — Yerim disse tímida, passando a mão suada na própria coxa por debaixo da mesa. — É bonito de se ver. Muito.
— Obrigada. — Joohyun sorriu, encarando a mais nova por longos segundos até a mesma desviar o olhar.
Um som de trovão atravessou o céu, assustando ambas.
— Acho melhor irmos andando. — A Bae levantou-se catando a lata de refrigerante quase cheia.
— Espera, eu quero mais um Tokkebi! — Yerim pediu e Irene assentiu indo até a barraca comprar outro hot dog no palito para a mais nova, por sua conta.
Enquanto caminhavam pela rua em silêncio, observando os vendedores ambulantes perto da estação de metrô, Joohyun estava perdida em seus próprios pensamentos. Pensamentos estes que envolviam Kim Yerim e no quanto sua companhia era deveras agradável.
— Olha. — Yeri apontou para uma vendedora de brincos artesanais e pararam para admirar as peças bonitas. Joohyun enfim fitou a outra e começou a rir. — O que foi?
— Sua boca está toda suja de açúcar e canela. — A mais velha disse, levando o polegar até o canto direito da boca de Kim e passando delicadamente para tirar os farelos. Os olhos grandes de Yerim quase drobraram de tamanho enquanto ela encarava a outra de pertinho. — Prontinho.
— Obrigada. — A loira sussurrou envergonhada, desviando o olhar para o chão. — Olha, unnie. — indicou um par de brincos caídos ao seus pés e Joohyun os pegou, erguendo na altura do rosto para olhá-los melhor. — São lindos.
— Devem ter caído por conta do vento. — A senhora responsável pela venda dos brincos, deduziu. — Experimente, querida.
— Deixa que eu coloco em você. — Yerim pegou os brincos da mão de Joohyun, retirando-os do papel e colocando um em cada orelha de sua unnie, com muito cuidado. A Bae encarou de pertinho o rosto concentrado da pequena Kim, sentindo seu coração se aquecer. — Ficaram lindos! — Ela sorriu se afastando e pegando o espelho que a senhora ofereceu. — Olha só que graça.
Joohyun encarou o próprio reflexo, admirando o par de brincos azuis que destacavam-se bem em contraste com suas mechas rosas. Em seguida notou suas bochechas levemente coradas — e não era pelo frio.
— Gostei. — concluiu, referindo-se tanto ao acessório quanto ao fato de seu coração estar agitado dentro do peito. Não se sentia daquele jeito há tempos.
— Sério? Pois irei levá-los. — Yerim disse pegando o dinheiro no casaco e entregando à senhora, ignorando os protestos de Joohyun dizendo que “não precisava”. — É um presente, unnie. Você sempre cuida tão bem de mim, está na hora de recompensá-la e mostrar o quão grata sou.
Joohyun ficou um pouco incomodada, de uma forma boa, pelo olhar tão intenso da mais nova direcionado a si.
— Mas Yerim, eu estou sendo paga para cuidar das suas unhas, não é justo. Não passa do meu trabalho. — Joohyun quis justificar.
A mais nova cruzou os braços semicerrando os olhinhos e erguendo o queixo.
— Fica pelo Tokkebi que comprou para mim então.
— Tá. — Joohyun riu, vendo que não valia à pena discutir com uma pessoa tão teimosa e voltaram a caminhar juntas até a estação.
O silêncio entre ambas era confortável e as duas compartilhavam de bons sentimentos a respeito daquela noite tão gostosa que passaram juntas. Quando chegaram na estação, sentaram-se lado a lado dentro do metrô, Yerim insistindo para ir do lado da janela.
A Kim encostou a cabeça no vidro gelado, observando tudo passar em um borrão confuso. No fundo estava confusa também, porém grata. Mesmo que Joohyun não correspondesse seus sentimentos, ainda assim estaria satisfeita em ter a amizade da mais velha.
Sentiu um peso recair sobre seu ombro de repente, levando um susto. Quando olhou para o lado percebeu ser Joohyun adormecida. Sorriu e ajeitou a cabeça da Bae em uma posição mais confortável, segurando em seu queixo para que ela não caísse.
(...)
— Muito obrigada por essa noite, unnie. — Yerim falou sorrindo.
Ambas estavam paradas em frente ao prédio onde a Bae residia, esperando pelo motorista da Kim que iria buscá-la e levá-la para sua casa — que não era muito longe dali, para a sorte de Yerim, pois poderia ir a pé visitar a unnie quando quisesse. Bom, Joohyun tinha convidado, pelo menos.
— Obrigada a você. — Joohyun sorriu de volta, com as mãos dentro do casaco. Olhou para o céu nublado e suspirou. Quando voltou a olhar para a Kim, percebeu que esta a encarava atentamente.
Joohyun riu.
— Por que está rindo? — Yerim indagou, também enfiando as mãos nos bolsos de seu casaco rosa.
— Você sempre fica me olhando assim. Desde o primeiro dia em que nos conhecemos e é engraçado que ainda não tenha se cansado.
Yerim primeiro ficou surpresa pela outra ter consciência de seus olhares descarados e em seguida sorriu, olhando para o chão. Deu um passo à frente.
— Não dá pra se cansar de você, Irene unnie. — falou em um tom doce e despreocupado, contradizendo o seu interior completamente em combustão diante da outra. Caramba, Yeri estava uma bagunça. — Sua beleza não me cansa os olhos e a vontade de saber mais sobre você parece não querer me abandonar tão cedo.
— Que poético. — Irene respondeu, olhando para o lado balançando o corpo de um lado para o outro involuntariamente. Ficava muito fofa daquele jeito, parecia uma adolescente.
— É a verdade. — Yerim suspirou, chamando a atenção da outra que a encarou séria. Joohyun não acreditava no que acabara de escutar. Yerim estava a cantando?
De qualquer forma, aquilo era o mais próximo de uma confissão no momento. A Kim não pretendia fazê-lo ainda.
— Oh! Meu motorista chegou. Até mais, unnie. — Ela acenou para a Bae, caminhando até o carro recém estacionado em frente ao prédio. Entretanto, teve seu braço segurado pela outra no meio do caminho.
Yerim se virou com os olhos grandes curiosos em direção à outra. Joohyun mordeu o lábio inferior, soltando a dongsaeng.
— Anota meu número. — Joohyun disse, por fim. — O meu número pessoal, não o profissional.
— C-claro. — Yerim concordou, pegando o próprio celular e dando para a Bae que anotou o contato rapidinho, devolvendo o telefone em instantes. — Obrigada.
— Me manda mensagem. Vamos sair mais vezes, Ye. — Joohyun falou com uma voz fofa, dando um sorriso verdadeiro.
Yerim nunca sentiu tamanha vontade de beijar aquela mulher como naquele momento.
Adorava o sotaque bonito de Joohyun, o seu jeito espontâneo e a forma como falava o que pensava sem ter medo. Depois de conhecer um pouquinho de Bae Joohyun naquela noite, teve a certeza: estava perdidamente apaixonada pela sua manicure.
E pelo visto, a outra tinha interesse em si também.
— Claro que vou ligar. — A Kim sorriu, acenando mais uma vez e correndo até o carro.
Jogou-se no banco de trás assim que o motorista deu a partida, tendo um surto interno. Foi repreendida pelo homem, quem a mandou colocar o cinto de segurança e outrora o faria resmungando, mas estava feliz demais naquele momento para tal.
— Ai nem acredito. — Yeri sussurrou sustentando um sorriso gigante no rosto. Mal via a hora de telefonar para Sooyoung contando tudinho.
Pegou o celular para fazê-lo, percebendo na sua lista um novo contato salvo.
“Minha Joohyun”.
Sorriu, abraçando o celular contra o peito e encostando a cabeça no vidro do carro, dando um suspiro.
Estava muito apaixonada pela moça que a apresentou coisas simples, porém tão bonitas, como artistas de rua, barraquinhas de comida caseira e carimbos e adesivos — que antes ela achava não combinar com qualquer cor de esmalte.
Yerim andara errada sobre muitas coisas pelo visto, mas uma coisa era certa: se dependesse de si, Joohyun seria mesmo só sua.
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