Para InuYasha
Há essa altura, com certeza você já está em casa. Deve estar curtindo sua família e amigos, matando um pouco de toda a saudade que sentiu deles durante o período que ficou longe. Enquanto isso, eu estou no meu quarto ouvindo a mesma música sem parar e lhe escrevendo esta carta.
É início da noite, o horário que a gente costumava se encontrar, e, eu admito, estou com saudades, isso porque é apenas o segundo dia longe de você. E admito mais! Ontem, depois que você partiu, eu te olhei pela janela e pedi aos céus que cuidassem de você enquanto meus olhos se enchiam d'água.
Foi a despedida mais difícil que já enfrentei, afinal nunca é fácil dizer adeus a alguém importante, principalmente quando esse alguém é um grande amor.
Eu bem sei que você não aceita essa verdade, desde o início sempre deixou a nossa relação de amizade as claras, porém nós não mandamos no coração. Fui uma tola que se apaixonou sozinha e mesmo que não tenha sido sua intenção inicial, você me marcou e sempre terá um lugar especial dentro de mim.
Como você retornou para sua cidade natal e não nos veremos novamente, eu decidi lhe escrever para falar de maneira direta sobre tudo que senti ao seu respeito desde o primeiro momento que lhe vi.
É claro que estas palavras jamais chegarão até você, no entanto me fará bem expressá-las, porque aqui eu pretendo colocar um ponto final no sentimento que desenvolvi, irei virar essa página de uma vez por todas.
Bem, eu lembro de te ver pela primeira vez lutando contra a fechadura da porta do seu alojamento. Era o meu primeiro dia na faculdade, eu estava chegando no quarto destinado a mim e me deparei com você, um veterano e meu vizinho da frente, xingando a maçaneta emperrada.
Embora minha primeira reação tenha sido um susto pelos gritos exagerados, depois eu acabei rindo e até achei fofo por causa do seu sotaque, o qual demonstrava que você não era desta região. Reparando na sua fisionomia, acabei lhe achando bonito com o longo cabelo platinado, as sobrancelhas grossas, os olhos caramelados e os lábios carnudos.
Mesmo com um pouco de vergonha, eu respirei fundo e busquei coragem para me aproximar e lhe ajudar com a maçaneta. Você foi muito educado e descobri que conversar contigo era fácil, o assunto simplesmente fluía e, quando dei por mim, já tínhamos trocado números de telefone.
Com o passar dos dias, inconscientemente comecei a procurar por você, seja pelo corredor, seja pelo campus da faculdade. Eu queria lhe ver de novo e ficava feliz toda vez que conseguia esse feito. Nossas conversas virtualmente também foram fluindo e não demorou muito para que eu começasse a gostar de você.
Nós chegamos a conversar sobre o assunto, afinal o seu interesse em mim foi ficando bem claro também, porém você decidiu que seria melhor ficarmos só na amizade, porque era seu último semestre e você retornaria para casa.
Fora isso também existia a questão do seu último relacionamento, onde ela foi sua primeira em tudo, ficaram anos juntos e, no fim, percebeu que ficar com ela não estava lhe fazendo bem e lhe fazia se sentir preso. Você escolheu ficar sozinho, era algo que precisava fazer para se sentir bem, e eu consigo compreender.
Quando a atração entre nós ficou mais pesada do que conseguíamos aguentar, nós começamos a ficar, mas prometemos que não iríamos nos apaixonar. O meu erro, com certeza, foi me entregar aos meus desejos e pensar que conseguiria me envolver com alguém sem nutrir sentimentos.
A minha consciência brigava comigo todos os dias. Eu sempre ficava pensando: “Garota, olha o que você tá fazendo. Você não é assim, ele não quer nada sério, então pare antes que seja tarde”. Mas eu não parei, não é mesmo?
Digo que gostei de tudo que a gente fez e não consigo me arrepender de nada, até porque não tem nada de errado em algo que é feito de boa vontade e consentido por ambas as partes. Então, não fique se culpando achando que me pressionou a algo, pois eu bem sei que essa possibilidade deve ter passado pela sua cabeça em algum momento.
Não faço ideia de quando me apaixonei por você. Caso me perguntasse isso, eu não saberia responder. Por saber de toda sua situação, saber que eu não tenho chance alguma contigo, eu vivia em negação a respeito dos meus sentimentos.
Eu dizia o tempo todo que não podia me apaixonar, mas quando passava a noite no seu alojamento, que ouvia suas gracinhas enquanto estudávamos juntos, sempre que você me abraçava, alisava meu cabelo, me beijava ou realizava algum outro gesto de carinho, o meu coração parecia derreter um pouquinho.
Eu me repreendia na hora, vivendo a tal da negação, por isso precisei que algumas amigas abrissem meus olhos a respeito dos meus reais sentimentos, e talvez fosse por conta desses sentimentos que algumas falas suas me incomodavam tanto.
Quando você dizia que um dia vou encontrar um cara que me fará muito feliz, além de me arrancar muitas risadas, eu ficava triste na mesma hora que ouvia, porque, lá no fundo, queria que esse cara fosse você.
E quer saber mais? Aí está mais uma coisa que me deixa chateada e até um pouco irritada contigo. Você me disse, mais de uma vez inclusive, que nós dois não daríamos certo a longo prazo em um relacionamento por causa das nossas diferenças. Sendo que, ninguém é igual a ninguém, InuYasha. Somos pessoas diferentes, logo nós possuímos diferenças e está tudo bem. Havendo o respeito, eu não vejo problemas.
E outra coisa! Você me aconselhou a ser mais aberta, que não posso deixar o medo me impedir de fazer alguma coisa, que não posso desistir sem tentar primeiro… Ao dizer que não daríamos certo a longo prazo, essa não seria a sua maneira de desistir antes mesmo de tentar? Por acaso está com medo de algo? Por acaso são os traumas do seu antigo relacionamento te impedindo de seguir em frente?
Independente da resposta, a qual eu provavelmente nunca vou saber, saiba que mesmo chateada com essas questões, eu ainda gosto de você. Porém, o sentimento a mais que surgiu no meu tolo coração está se esvaindo cada vez mais, conforme escrevo estas palavras e coloco meus pensamentos para fora.
Acredito que você será a paixão mais rápida que já superei, InuYasha. Não pense que isso significa que meu sentimento não foi verdadeiro, ou que você significou menos para mim. Não, não é isso! A questão é que eu já me apaixonei algumas vezes no decorrer da vida e nunca, nem mesmo uma vez pra contar história, fui retribuída, então eu estou acostumada a passar por esse processo de rejeição e cura.
Inclusive, eu tenho meu próprio ritual, que começa com: chorar até não poder mais. Fiz isso no dia que você viajou, um choro sofrido de doer a alma, mas que me aliviou.
Essa foi a minha fase 1. A fase 2 é: manter a mente ocupada. A fase 3 só poderá ser concluída quando conversarmos novamente: comparar o sentimento atual com o antigo. Só assim pra saber se o que estou fazendo tem dado resultado, ou se preciso me esforçar mais.
Devido o seu retorno para casa após a formatura, nossas conversas não serão mais constantes, não iremos mais nos ver diariamente e eu sei que a dura verdade é: nosso contato vai esfriar com o tempo, até nos tornarmos quase desconhecidos.
Dói ver uma pessoa importante se tornando apenas lembranças, dói vê-la partir para sempre e quebrar laços. Não importa quantas vezes eu passe por isso, sempre irei chorar e ficar triste.
Agora, enquanto as flores da primavera desabrocham e embelezam a cidade, eu simplesmente não consigo apreciar a beleza delas como fazia antes na sua companhia, porque você se foi sem expectativa de retorno.
Tudo o que posso fazer é desejar que você esteja bem e se divertindo. Também quero agradecer por ser um bom amigo pra mim, por todos os momentos juntos, as risadas e aprendizados. Sei que, na verdade, você não vai voltar nem mesmo para uma visita e só me resta aceitar esta nova realidade, além de superar todo o sentimento que desenvolvi por você.
Fique bem, pois eu irei me esforçar para ficar também.
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