Os olhos assustados de Jungkook e Yeri foram as últimas coisas que eu vi. E depois disso tudo ficou vermelho.
O tom vermelho dos meus olhos manchava meus pêlos negros, e quando não estava em minha forma lupina, manchava minha espada. O sangue escorria até o chão a medida que mais um soldado inimigo era morto.
O povo estava assustado, o medo sendo sentido por cada um de nós. Era como se Busan toda tivesse apenas um sentimento, um único cheiro. Medo e sangue.
Eu sabia que precisávamos acabar logo com essa maldita guerra, mas eram muitos contra nós. Por sorte, Mingyu e meu "sogro" estavam presos no calabouço do palácio, após receberam as flechas de Bogum, ambos foram presos para enfim terem sua devida punição.
Guilhotina.
Mas eu apenas os puniria quando a guerra acabasse e meu ômega estivesse de volta, a escolha não deveria ser só minha. E embora eu quisesse muito que os dois morressem, se Jungkook os condenasse a prisão perpétua ao invés da morte, eu aceitaria seu pedido.
E pensando em Jungkook e em meus filhotes, usei de toda a minha força para lutar e para trazer a paz que nos foi tirada novamente.
Me feri durante o combate e senti medo de morrer, de deixar minha família. Pensei em Jeonghan crescendo, em Yeri sendo coroada. Pensei no sorriso de coelhinho de Jungkook, seu cheiro e seus toques. E pensar que nunca mais teria tudo isso foi o suficiente para me reerguer.
E finalmente quando a guerra terminou eu pude respirar aliviado.
Não esperei nenhum minuto sequer e convoquei dois soldados para que buscassem minha família. Ainda havia corpos espalhados pelas ruas, e o povo ainda sentia certo medo embora agora estivessem mais aliviados. Mas eu precisava ver meus filhotes e sentir o cheiro de morangos frescos que eu tanto amava.
Então ele chegou, com os olhos brilhando em lágrimas. Abri meus braços para que pudesse recebê-lo mas ao invés disso recebi alguns tapas e socos fracos no peito. Jungkook estava preocupado e eu o entendia bem. Usei minha voz de alfa com ele pela primeira e última vez, mas não me arrependia pois foi a única forma de deixá-lo seguro com meus filhotes.
— Acabou lobinho, acabou. - Suspirei pesado o apertando contra meu peito.
— Eu senti medo, por um momento eu senti que estava te perdendo de novo Tae. E eu... Eu não suportaria.
— Eu prometi que nada e ninguém voltaria a nos separar, sempre irei voltar pra você e por você lobinho, sempre.
— Eu te amo tanto.
— Eu também Gukkie. E as crianças?
— Yeri está acordada e Jeonghan está dormindo no colo da minha mãe.
— Papai! - A pequena alfa saiu da carruagem e veio correndo em minha direção.
— Olá minha pequena alfa, sentiu saudades?
— Muita! -Abraçou meu pescoço com força. —Vamos ficar todos juntos agora?
— Pra sempre meu amor. - Deixei um selar em sua testa.
Minha sogra também saiu da carruagem carregando Jeonghan. O pequeno estava dormindo mas mesmo assim o peguei em meus braços e senti seu cheirinho. Ele estava seguro agora, minha família e meu povo estava a salvo e isso que importa.
Mas eu ainda precisava contar a Jungkook sobre seu pai e Mingyu. E minha sogra também precisava saber.
— Preciso falar com vocês dois. - Os olhei. — Agora.
[...]
Adentramos o escritório e solicitei há um dos guardas para que fechasse as portas. Jungkook se sentou em meu colo, se recusando a se manter afastado e eu não o repreendi. Minha sogra sentou em uma das outras poltronas disponíveis e enfim iniciei o assunto.
— Como sabem Mingyu e Shin fora acertados pelas flechas de Bogum.
— Eles morreram? - Perguntou Jungkook.
— Não, e por isso eu lhes trouxe aqui. A pena pelo que fizeram é a guilhotina, mas eu deixo em suas mãos Jungkook. - Olhei em seus olhos. — Você escolhe o destino deles.
— Quero Mingyu morto! - Para minha total surpresa ele soou bem firme em sua decisão. — Ele sequestrou meu filhote, tentou abusar de mim e ameaçou meu alfa. Ele merece morrer Tae.
Não pude deixar de sorrir.
— E enquanto ao seu…pai?
Jungkook olhou para sua mãe que apenas balançou a cabeça em afirmação. Meu ômega voltou a me olhar e então se decidiu.
— Aquele homem nunca foi um pai para mim. Desde pequeno ele sempre me maltratou por ter nascido ômega, nunca me deu amor e carinho de pai. Na frente do povo ele me adorava mas assim que os portões se fechavam era diferente. Quando cresci ele me mandou para longe com a desculpa que eu iria estudar, mas na verdade ele não suportava mais minha presença. E quando enfim retornei para minha casa, ele me arrumou um casamento arranjado e isso foi a única coisa boa que aquele homem já fez por mim, porque me trouxe você de novo. Mas ele te faz mal, ele queria te matar e não importa como, ele queria os reinos e ainda mais poder. Tae, eu quero Jeon Shin morto.
O envolvi em meus braços sentindo seu corpo mais leve. Era como se todo o peso de uma vida estivesse sendo tirado de seus ombros.
— Então assim será, Kim Mingyu e Jeon Shin irão pagar por seus crimes com a própria vida.
Jungkook e eu estávamos na cama com Jeonghan entre nós e Yeri brincando no chão com suas bonecas.
— Tenho vontade de nunca mais deixá-los sair desse quarto. Podemos deixa-los aqui pra sempre Tae?
— Lobinho, eu sei que você está com medo assim como eu. Mas precisamos superar e deixar nossos filhos crescerem fortes e independentes. Eu reforcei a segurança de toda área, prometo que sempre terá guardas os suficiente os protegendo e eu estou aqui, para proteger vocês três.
— Eu amo você, obrigado por cuidar da nossa família.
— Vocês são meus bens mais preciosos, nada mais importa a não ser vocês.
Segurei seu rosto e lhe dei um selar.
— Eca os papais estão se beijando! Jeonghan como você aguenta isso? - A alfa subiu na cama, e perguntou ao irmão que nos olhava e sorria.
— Ele ainda não entende muita coisa meu amor.
— Pois eu vou ensinar pra ele que os papais se beijando é nojento!
— Ah, minha pequena alfa cresceu tanto. - A peguei para que se juntasse ao Jeonghan.
— Eu não sou mais pequena papai Tae, eu já sou uma mocinha.
— A mocinha do papai. E futuramente vai ser a rainha de todo o reino e não vai arrumar marido antes dos trinta, não é meu amor?
— Taehyung! - Jungkook me repreendeu.
— Não se preocupe papai, meninos são nojentos eles fedem e comem meleca.
— Graças aos céus! - Suspirei aliviado.
— Mas meninas são bonitas e cheiram bem.
— Deus me ajude!
— Bem feito. -Jungkook começou a rir.
Continuamos os quatro conversando e brincando, até que as crianças adormeceram.
— Boa noite lobinho.
— Boa noite, meu alfa.
[...]
Uma semana após o fim da guerra, o reino enfim está voltando ao normal. O cheiro de sangue e medo já não existiam mais e aos poucos os sorrisos entre os rostos dos camponeses era perceptível.
Porém ainda faltava uma coisa.
A pena de morte de Shin e Mingyu.
O povo havia sido avisado sobre e já podia enxergar uma pequena multidão na praça, onde as mortes iriam ocorrer. Jungkook estava ao meu lado, em silêncio. Às crianças estavam no palácio sob os cuidados de minha sogra, já que a mesma não quis nos acompanhar.
— Sabe que não precisa presenciar isso, não é? - Acariciei a mão de meu ômega que estava repousada em minha perna.
— Eu preciso ver com meus próprios olhos Tae, preciso saber que tudo acabou.
— Se a qualquer momento você quiser ir embora, me avise.
— Tudo bem.
— Você é tão forte, essa é uma das qualidades que me fizeram se apaixonar perdidamente por você.
— Para com isso. - Selou nossos lábios.
— Estou falando sério lobinho, você suportou tanta coisa durante todos esses anos. Sou muito sortudo por ter você ao meu lado.
— Eu que sou sortudo por ter você Tae. Você nos ama e nos protege como ninguém. Com você eu descobri o que é ser amado, ser cuidado por alguém.
— E eu prometo continuar te amando e cuidando de você por muitos anos.
— E eu prometo te amar em cada um deles.
A carruagem parou e interrompeu nosso momento. Saímos da mesma e nos direcionamos ao centro da praça, sendo recebidos pelo povo que nos saudavam felizes.
Entrelacei minha mão a de Jungkook e nos posicionamos no centro, onde dois tronos estavam lado a lado.
Um guarda que usava máscara subiu na espécie de palco, onde Mingyu e Shin estavam acorrentados com as cabeças posicionadas cada um em sua própria guilhotina.
— Isso vai ser rápido, eu prometo. - Sussurrei para Jungkook.
Ele apertou minha mão em um sinal claro de que estava tudo bem.
— Kim Mingyu e Jeon Shin, ambos são acusados de armar contra os reis Kim Jeon Taehyung e Kim Jeon Jungkook. Além de sequestraram o príncipe Kim Jeon Jeonghan. Por seus crimes estão sendo condenados a morte.
— Espero que você morra Taehyung! - Exclamou Mingyu segundos antes da lâmina descer e lhe cortar a cabeça. O sangue pingou por todo o palco e o povo se afastou minimamente.
Quando chegou a vez de Shin ele não falou nada, apenas encarou Jungkook e sorriu ladino. A lâmina atravessou seu pescoço e assim como Mingyu, ele teve seu fim.
— Acabou Gukkie, finalmente acabou.
— Me tira daqui Tae, por favor.
[...]
O caminho de volta foi em completo silêncio e eu respeitei a decisão de Jungkook de não falar sobre o que aconteceu. Adentramos o palácio e fomos informados que minha sogra estava brincando com as crianças no jardim.
— Quer ir lá Gukkie?
— Não, preciso de um banho. Com meu alfa.
— Tudo bem, vamos lá lobinho.
Subimos para nosso quarto e coloquei a banheira para encher com água quente. Jungkook se despiu e eu o acompanhei, entrei na banheira e o acomodei para que ficasse entre minhas pernas.
— Como você está meu amor? - Peguei à esponja e comecei a passar por sua pele.
— Aliviado talvez seja a palavra certa. Me sinto livre Tae, finalmente não tenho medo.
— É um pouco triste que para termos paz pessoas tiveram que morrer. Mas eles escolheram o próprio destino Gukkie, eles procuraram por sua morte.
— Você tem um coração tão bondoso. - Se virou e sentou no meu colo. — Você ainda consegue falar deles com compaixão mesmo depois de tudo que fizeram.
— Eu não consigo entender a maldade que eles tinham no coração, é triste saber que existiam pessoas assim.
— É por isso que eu te amo tanto, você é uma das pessoas mais bondosas que eu já conheci.
— Diz de novo. - Segurei firme em sua cintura.
— Eu te amo, eu te amo meu alfa.
— Nunca vou me cansar de ouvir.
Selei nossos lábios em um beijo calmo e tranquilo, assim como nossa vida irá passar a ser.
— Tae, aproveitando que estamos sozinhos quero conversar com você sobre uma coisa.
— Pode falar lobinho. - Acariciei seus fios negros que agora se encontravam molhados.
— Nosso casamento não foi como eu queria. Eu estava com muita raiva de você e não queria me casar. Não pude escolher minhas roupas nem opinar sobre a decoração. Não foi nada do jeito que eu sonhei.
— O que quer dizer com isso?
— Kim Jeon Taehyung, você aceitaria casar comigo novamente?
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