- Amélia Albuquerque, quando pretendia me contar que escreveu um livro importante? - Gritou Cristal enquanto invadia o meu dormitório - Tem ideia de quantas vantagens isso traria para minha vida? Você é tão egoísta - Rosnou irritada e totalmente fora de si.
- Olá, minha amiga, é claro que você pode entrar no meu quarto - Zombei desviando a atenção do livro trouxa que ganhei de minha mãe - E respondendo sua pergunta, tudo aconteceu rápido demais, não tive tempo e muito menos opções - Afirmei, não querendo prolongar o assunto.
- Eu quero o meu nome nesse livro - Gritou e bateu os pés no chão, uma atitude dramática e desnecessária.
- Desculpe, poderia repetir? - Questionei e fechei o livro, o colocando sobre a pequena mesinha ao lado da cama.
- Eu quero que o meu nome esteja bem ao lado do seu, em destaque e bem aparente - Repetiu em alto e bom som.
- Não, definitivamente, isso não vai acontecer - Respondi de imediato, sem nem pensar duas vezes.
- Pensei que fossemos amigas - Lamentou, balançando a cabeça de um lado para o outro.
- Eu também, mas você mudou muito desde que começou a namorar essa cara, eu quase não te reconheço mais - Desabafei, colocando tudo para fora - Você era tão doce, gentil e bondosa, o que aconteceu nesse meio tempo? - Perguntei sentindo uma pontada de culpa e responsabilidade.
- O que aconteceu? Eu cansei de viver na sua sombra, sendo apenas a melhor amiga da aluna mais brilhante e talentosa do Castelo Bruxo - Cristal riu friamente, mostrando quem realmente é de verdade - Eu mereço bem mais do que as migalhas que você tem oferecido, não pretendo ser a coadjuvante em sua história, tenho potencial para ser bem mais - Sorriu e não encontrei emoções ou verdade no gesto.
- Espero que consiga alcançar o que tanto deseja - Anunciei ao vê-la prestes a ir embora, é triste que uma amizade de tantos anos termine dessa maneira.
- Acredite, eu vou conseguir, de um jeito ou de outro - Respondeu e um arrepio macabro e cheio de alerta e premonição percorreu minha espinha, isso nunca é um bom sinal.
Observei a jovem bruxa sair do cômodo e bater a porta com extrema força, meu coração estava apertado e havia um nó latente em minha garganta. Nos aproximamos logo nos primeiros dias de aula, Cristal não possuía muitos amigos devido a sua origem indígena, me aproximei e descobri termos muitas coisas em comum, como a paixão pelos animais e a curiosidade e interesse em realizar importantes descobertas.
Fomos inseparáveis por muitos anos e sempre protegemos uma a outra, mas em algum momento as coisas seguiram por outro caminho, foi estupidez fingir que nada havia mudado. O ápice aconteceu durante esse ano letivo, Cristal ficou mais ambiciosa e indiferente aos sentimentos dos outros, além de ignorar completamente seus deveres e obrigações como estudante de magia e bruxaria, desperdiçando um enorme potencial de carreira, ela era formidável.
Infelizmente, tenho que aceitar sua decisão e torcer para que ela obtenha sucesso e tudo aquilo que almeja em sua trajetória, incluindo felicidade em sua vida participar. Respirei fundo e olhei pela enorme janela, a imensidão cheia de calmaria e paz oferecida pela floresta Amazônica é algo impressionante, é em momentos como esse que percebo que somos apenas grãos de areia em meio ao vasto universo.
(...)
A sensação de angustia e recentimento permaneceu firme e forte, as palavras duras e o comportamento hostil de Cristal continuaram presentes em meus pensamentos durante um longo período. Os dias foram passando e a venda do livro estava a todo vapor, foi constrangedor e surpreendente receber tanta atenção, ser o foco dos holofotes e o centro das atenções nunca foi o objetivo.
Recebi centenas de cartas me parabenizando pelas importantes descobertas na área da alquimia, muitas delas vindos de bruxos conhecidos e de renome em nossa sociedade. Outras vieram de jovens afirmando que sou fonte de inspiração, por mais assustador e bizarro que pareça, meu nome e fotografia está sendo estampados em jornais ao redor do mundo, enaltecendo os feitos recentes.
- Amélia, podemos conversar em particular? - Questionou Scamander, havia expectativa em sua voz e ansiedade em sua postura.
- Sim, mostre o caminho - Concordei e o segui pelos corredores, ignorando os olhares curiosos e cheios de especulações - Perdeu alguma coisa? - Questionei a um grupo de garotas do 5° ano, sorri zombeteira ao vê-las apavoradas e desviarem o olhar.
Continuei seguindo o magizoologista e admito ter ficado surpresa e um pouco receosa ao vê-lo tão nervoso, algo muito grave havia acontecido. Entramos na área privada e avistei a porta do quarto do britânico, mesmo de longe foi possível ouvir vozes alteradas partindo do interior do cômodo, parecia um casal discutindo avidamente sobre uma possível cerimônia de casamento.
Newt sorriu envergonhado e seu rosto e orelhas adquiriram aquela charmosa e única coloração avermelhada, o bruxo mal conseguiu me olhar por mais do que breves segundos. Ele levou uma das mãos até a maçaneta feita de bronze e, simplesmente, congelou, franzi o cenho e decidi dar seguimento ao ato, caminhei em sua direção e coloquei minha mão sobre a sua, girando o objeto.
- Por favor, mantenha a calma - Implorou parecendo extremamente preocupado.
- Não se preocupe com isso - Respondi antes de entrar em seu dormitório.
O som dos meus passos atraiu a atenção dos visitantes, a mulher possuía um tipo de beleza exótico e impossível de ser ignorado, consegui sentir a magia circulando através de seu corpo. Por outro lado, o homem transmitia pura normalidade, ele é um trouxa, sua fisionomia era bastante comum e avantajada, mas era perceptível enxergar bondade, esperança e bastante alegria em seus olhos.
Senti uma sensação desconfortável em minha mente e soube que alguém estava tendo acesso aos meus pensamentos, não foi difícil identificar o responsável por isso. Legilimência é a capacidade de extrair sentimentos e lembranças da memória de outras pessoas. Aqueles que dominam são capazes, sob determinadas condições, de penetrar as mentes de suas vítimas e interpretar suas conclusões.
- Nunca disseram o quanto é errado invadir a mente de um bruxo sem consentimento? - Questionei e ergui barreiras poderosas de proteção em minha mente.
- Você é uma oclumente - Comentou parecendo surpresa e impressionada com a constatação.
Oclumência é o ato de fechar a mente magicamente contra a legilimência. É antiga e existe desde os tempos medievais. Pode impedir que um Legilimente acesse os pensamentos e sentimentos, ou os influencie. Uma pessoa que pratica essa arte é conhecida como oclumente.
- E você é uma legilimens - Afirmei o óbvio e busquei pela figura estática de Scamander - Alguma explicação descente para a presença de um trouxa aqui? - Perguntei apontando para o homem de terno.
- Amélia, esses são meus amigos, Quennie e Jacob - O britânico se apressou em fazer as apresentações - Quennie e Jacob, essa é Amélia, eu mencionei nas cartas - Murmurou baixinho.
Quennie sorriu entusiasmada e rapidamente veio ao meu encontro, fui pega de surpresa ao sentir seus braços ao meu redor, o cheiro floral e doce de seu perfume encheu os meus pulmões enquanto ela me abraçava apertado. Retribuí o gesto carinhoso mesmo sendo pega desprevenida, Jacob sorria abertamente e olhava para a loira com puro amor e adoração, sou obrigada a admitir que eles formam um casal adorável e muito apaixonado.
- Sabemos que deveríamos ter avisado, mas você sabe como Quennie é... - Comentou o trouxa, Jacob.
- Sinto muito, Newt, mas tivemos que vir até aqui para conhecê-la, você tem falado muito de Amélia em suas cartas - Senti meu rosto corar diante da revelação - Ficamos curiosos a respeito da garota por quem você se apaix... - Quennie foi interrompida bruscamente.
- Quieta - Scamander gritou e correu para cobrir sua boca com a mão, ele estava apavorado com o que estava prestes a acontecer.
- Eu... - Tentei, mas não encontrei algo descente para dizer - Querem ficar sozinhos para... conversar? - Questionei apontando para a porta.
- Não, precisamos da sua ajuda - Implorou Jacob, seu rosto dava indícios nítidos de que estava sofrendo com o calor.
- Então... tudo bem - Concordei em ficar, embora estivesse inquieta e curiosa sobre o que Quennie iria dizer antes de ser impedida - Do que precisam? - Perguntei.
- Queremos nos casar - Responderam os visitantes de forma simultânea.
- O que? - Insisti antes de buscar ajuda de Newt, mas ele parecia tão surpreso quanto eu.
- Soubemos que no Brasil as leis são mais liberais, e que casamentos entre bruxos e trouxas são permitidos - Respondeu a bruxa legilimens exibindo um sorriso esperançoso - Isso é verdade? - Ela olhou direto para mim.
- Bom, sim - Respondi e sua expressão resplandecia realização, ambos ficaram aliviados com a notícia - Mas não é tão fácil quanto parece - Anunciei e isso quebrou a atmosfera sonhadora do ambiente.
- O que isso significa? - Perguntou Newt e mordi os lábios antes de responder.
- Sim, a lei permite a união entre trouxas e bruxos, mas é preciso uma série de documentos e rituais mágicos - Anunciei, isso diminuiu o brilho em seus olhos.
- Que tipo de rituais? - Insistiu Quennie, ela estava disposta a ir até às últimas consequências.
- Do tipo que poderia causar a morte de Jacob - Murmurei observando o horror e espanto em seus rostos.
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