Eu passei a noite em claro. Todas as vezes que quase caía no sono, a cena de mais cedo, todos me olhando e rindo de mim voltava na minha mente. E me remoendo principalmente pelos meus erros, por ter gravado aquele vídeo, por ter confiado em Castiel. Eu fui avisada uma vez, mas ainda sim preferi ignorar.
—Ai que raiva de mim! — Grito no travesseiro.
Ouço batidas na porta do meu quarto e me viro para ver quem é. Luna está com uma bandeja em mãos e vem até mim devagar, deixa sobre a cama e vai até a janela abrir as cortinas.
— Precisamos conversar. E você também precisa se alimentar, trouxe seu café da manhã.— Luna se senta na ponta da cama e me encara, pegando uma uva.
Me sento e encaro a bandeja com waffles. Minha barriga ronca mas mesmo assim eu não sinto vontade de comer.
— Eu... não quero. — Antes que eu me virasse para o lado oposto, Luna puxou meu cobertor de mim.
— Ah, mas você vai! Nem que eu precise fazer sua comida descer goela abaixo.— Reviro os olhos e pego o waffle com a mão.— Ótimo! — Diz vitoriosa. O semblante que estava em seu rosto ontem desapareceu, o que me deixa levemente calma.
— O que você tem pra falar?
— Recebi uma ligação pela manhã do delegado, vai investigar sobre o vídeo vazado e os que foram expostos na Internet.
— Tem vídeos na Internet? — Meus olhos marejam e eu bato a cabeça na parede, com raiva.
— Foram removidos, não se preocupe. — Luna se aproxima mais. — Isso vai ser difícil, vivemos numa cidade minúscula, mas eu tenho certeza de que as pessoas logo vão se esquecer disso. É só algum outro podre acontecer e já vira assunto do momento de novo. Agora me conta, o que houve entre você e Castiel? Eu vi ele subindo pela janela ontem, aquele garoto tem problema?
— Tantos que você não faz nem ideia. — Coloco o waffle de lado e limpo meus dedos no pijama. — Ele transou com a irmã de Nathaniel, depois que fui embora da festa domingo passado.
— Mentira que ele fez isso! — Luna arregala os olhos. — Eu... jurava que Castiel poderia ser diferente.
— Você não faz ideia do quanto está doendo. — Minha voz embarga e Luna me abraça forte.
— Eu sei que está doendo agora, mas eu juro, vai passar. Castiel fez uma grande merda, mas quem saiu perdendo foi ele, Morg. Você pode ter a plena certeza disso.
A abraço de volta e me desabo em lágrimas, sentindo toda a dor dentro do meu peito querer sair pela minha garganta.
— Me perdoa Luna? Me perdoa por não ter sido uma boa irmã?.
— Morg, você sempre foi uma boa irmã. E eu vou te amar pra sempre. Estamos todos suscetíveis a coisas ruins, mas eu estou com você pra qualquer coisa. — A aperto ainda mais forte.
— Eu te amo, Luna!
— Eu também te amo, Morg!
Me descolo de seu abraço e seco minhas lágrimas, uma parte do peso da minha mente se dissipou com as palavras de Luna, mas ainda estou sentindo um aperto no peito.
— Eu pensei a noite toda. Eu vou para Faringhton Academy.
— Você vai? — Luna se surpreende e sorri, ainda sem saber o que falar exatamente.
— Sim... eu preciso recomeçar e será bem longe daqui. Eu tinha planos com Castiel, mas ele simplesmente ferrou com todos eles. E... a única dificuldade que vou ter lá é dirigir do lado direito e aprender a tomar chá.— Sorrio fraco.
— Mas que ótimo! Rodrigo vai ficar muito feliz com isso! Vamos providenciar tudo para que você vá.
— Luna, por favor, seja breve. Quero ir antes que o verão termine, não pretendo ficar por nem mais um segundo aqui.
Luna concorda e sai correndo do meu quarto, chamando por Rodrigo. Eu só espero não estar tomando uma decisão precipitada.
°•°•°•°
Já era de tarde quando ouvi a campainha tocar, estava assistindo O Show dos Anos 70 e me entupindo de chocolate, quase chorando ao ver Donna e o Eric em um daqueles momentos melosos.
Arrumei meu cabelo em um rápido coque mal feito e abri a porta, Rosalya e Alexy estavam com um prato nas mãos, coberto por um pano.
— Viemos te fazer uma visita. Você não tem ideia do quanto foi difícil achar sua casa. Eu tive que ligar para o Nathaniel.— Rosalya diz disparadamente.
— Ele... ele veio? — Perguntei vasculhando atrás deles.
— Está interessada no Carello? — Alexy diz com entoação safada.
— Meu Deus, Alexy. — Balaço a cabeça negativamente.— Eu já me ferrei o suficiente ultrapando o limite de anos, não quero saber de garotos tão cedo. — Reviro os olhos.
— Bom, — Rosa estica as mãos — fizemos biscoitos para você. Espero que goste.
— Obrigada. — Pego o prato e dou espaço para entrarem.— Vamos para o meu quarto, Luna e Rodrigo estão fazendo algumas ligações aqui embaixo.
— Ah, é. Hoje é segunda. Eu fico burro durante as férias. — Alexy diz rindo e então subimos a escada.
Abro a porta do meu quarto e coloco os biscoitos sobre a escrivaninha, acendo a luz do abajur e eles sentam na minha cama.
— Seu quarto é lindo, bem rosa! — Rosa diz fitando o ambiente.
— Que cheiro bom, seu quarto é bem limpo. O que você usa para deixar esse cheiro?
— Ah, eu...
— Mas que besteira, Alexy!— Rosa dá um tapa em seu braço e eles se levantam.
— Viemos falar com você sobre o que houve...
— Aqui não, vamos pro telhado, aqui tá quente. — Sugere Alexy.
Concordo e então passamos pela janela, levando comigo algumas almofadas e nos sentando na madeira verde. O ceu está laranja, com vários raios rosados e avermelhados pelo horizonte, um lindo pôr do sol. Rosa traz os biscoitos e quando ela abre o pano, o cheiro de cookie sobe pelo meu nariz.
— Parece bom! — Falo pegando um do prato.
— O Leigh ama eles. — Ela se acomoda mais e me encara, com seriedade. — Precisamos falar sobre o que aconteceu... estamos muito tristes com tudo isso, mas tentamos te avisar sobre os vídeos antes que fosse a formatura. Você chegou a visualizar... achamos que você soubesse.
— Mas eu não vi vídeo algum...não fazia ideia do que estava acontecendo...
— Tem certeza de que ninguém mexeu no seu celular? Que Castiel não mexeu?— Perguntou Alexy arqueando as sobrancelhas.
— A essa altura não desconfio de mais nada. — a sensação ruim volta a me preencher.
— Aquilo que seu ex fez foi horrível e imperdoável. — Alexy colocou a mão sobre a minha.
— Luna está cuidando disso...
— Ele vai ter o que merece. — Rosa disse com firmeza, mordendo um pedaço do biscoito em seguida. — E você e Castiel? Ficamos sabendo sobre a discussão no corredor, algum curioso saiu espalhando pela escola.
— Eu... eu fui traída. Eu sequer sei explicar o que estou sentindo... só uma dor no peito e um sufoco. Semana passada antes do meu aniversário, ele subiu pela janela, entrou chorando no meu quarto. Eu não sabia o que tinha acontecido.
— Por que ele entrou pela janela sendo que todo mundo sabe que você namora? — Alexy perguntou confuso, enfiando a mão no prato de biscoitos no colo de Rosalya.
— Aquele garoto só faz coisas idiotas, não sei também.
— Sentimos muito pelo que está passando, Morg. — Alexy passou a mão em meus cabelos.
— Pode parecer que não, mas esse sentimento passa.— Rosa apoiou sua cabeça na minha, encarando as árvores do outro lado da rua.
— Castiel vai ser outro que vai se ferrar, pode esperar que uma hora a conta chega.— Alexy roubou mais um biscoito.
— Não sei quando vai ser isso e não vou esperar que aconteça. Luna e Rodrigo estão resolvendo algumas pendências financeiras para que eu vá pra Inglaterra.
— Quê?! — Rosa disse em um berro.
— Vou para uma faculdade chamada Faringhton Academy...
— Mentira! — Alexy quase tem um surto.
— Por que estão tão extasiados?
— É tipo uma das melhores faculdades de patricinhas atuais. Você não tem ideia do quanto eu gostaria de ir pra lá. — Rosa diz empolgada. — Tipo, é Europa. E tomar chá às cinco, existe coisa mais chique?
— Vou ter um ataque! Isso é demais, honey!— Alexy diz em mini gritos.
— Um dia volta pra ver a gente? Hein? — Rosa diz me abraçando.
— Demoramos três anos pra ter sua amizade e finalmente agora, aquele ruivo cabeçudo estragou tudo. Mas saiba que estamos felizes por você.
— Obrigada Alexy. Eu amo vocês.
— Nós também te amamos! — Disseram uníssonos.
°•°•°•°•°
Desativei por último, meu Instagram. Não quero contato com ninguém, não quero que saibam da minha vida. Se passaram quatro dias do ocorrido e não parava de chegar mensagens na minha DM, me perguntando se realmente era eu no vídeo da escola. Gostaria de ser como antes e fingir que Castiel nunca existiu, ninguém nunca me notou naquela merda de escola e eu simplesmente me mudei para a Inglaterra depois.
Abro minha galeria e começo a deletar nossas fotos. Um aperto no peito se forma ao ver a que tiramos no meu aniversário. Mas que droga! Eu sabia que algo estava acontecendo mas mesmo assim... eu deixei passar. Eu nunca me escuto.
Todas as vezes que eu fecho os olhos, minha mente entra em conflito vendo qual foi o pior tipo de humilhação: a traição de Castiel ou ter meus vídeos expostos por Ethan. Ainda sim aquele maldito do Ethan ganha, mas Castiel... eu não esperava isso dele.
— Morg? — Rodrigo diz, batendo a porta do meu quarto.
— Entra. — Estou de costas para ele, sentada na minha escrivaninha.
— Você poderia ir ao mercado? Precisamos de ingredientes para o jantar.
— Mas Rodrigo, e se caçoarem de mim?
— Uma hora você vai precisar enfrentar a realidade. — Ele diz saindo do meu quarto. — Eu peço para o delivery entregar.
— Não! Tem razão. Eu vou.
— Te mando por mensagem de texto os itens.
Me espreguiço na cadeira e caminho até meu guarda roupa, caçando alguma roupa mais discreta.
Pego uma daquelas blusas compridas masculinas que estava socaras no fundo do meu armário, o tom é bege. Procuro alguma bermuda e encontro uma jeans apagada, um all star velho e me visto. Me olho na frente do espelho e prendo meus cabelos, e me sinto como eu nunca deveria ter deixado de ser. Invisível.
Coloco meus fones no ouvido e pego o dinheiro sobre o aparador, já no andar de baixo.
Já é noite e então começo a caminhar em direção ao mercado, o calor me atinge após alguns minutos. Essa cidade... eu odeio ela. Eu odeio todos nela. Tudo aqui sempre foi pacato, se eu for para a Inglaterra, lá pelo menos eu não vou conhecer ninguém. E começar do 0. Uma nova chance.
Entro no mercado e vou selecionando os itens dentro da cesta, espero que o dinheiro que Rodrigo deixou, dê para comprar tudo.
Sinto alguém me cutucar no ombro quando tento pegar um pote de picles no alto da prateleira, quando me viro, me deparo com Castiel.
— O que você quer? — Digo tirando meus fones.
— Será que podemos conversar?
— O que eu te disse já foi o suficiente.
— Não, não foi Morgana. — Esse mercado é maldito, pode.
Me viro, colocando os fones de novo e dando costas para o ruivo. Mas ele se coloca na minha frente, me impedindo de passar.
Suas mãos tocam meu braço, quando consigo passar por ele, mas meus sentimentos explodem dentro de mim, arrepiando minha coluna e me causando borboletas.
— Por favor. — Ele pede, sibilando. Tiro meus fones e coloco a cesta no chão, cruzando os braços. — O que eu fiz foi um tremendo erro, e estou totalmente ciente disso. Não quero que eu tenha a culpa diminuída, apenas quero consertar meu erro. Morgana, eu realmente não iria te procurar mais, porque aquele dia na sua casa, me bastou. Eu odeio correr atrás de qualquer um. Mas eu te vi aqui no mercado e pensei, que se eu não fizesse agora, não faria mais. Eu quero te pedir perdão pelo meu erro, e que você saiba que aquilo nunca mais irá se repetir. — Castiel diz com a voz embargada, os olhos marejados
— Claro que não vai se repetir. — Sorrio. — Nunca mais ficaremos juntos.
Dou de costas e vou direto para o caixa, sentindo a vontade de chorar ainda mais forte dentro de mim. Mas desta vez, como eu imaginei, ele não veio atrás de mim.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.