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História Cat Rises - 03. Compreensão - História escrita por Marol-27 - Spirit Fanfics e Histórias
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História Cat Rises - 03. Compreensão


Escrita por: Marol-27

Notas do Autor


Aviso:
01. Assuntos considerados pesados podem ser mencionados ao longo do capítulo! Nenhuma violência explícita será narrada ou detalhada!

Nota de referência:
𝗢 𝗯𝗹𝗼𝗾𝘂𝗲𝗶𝗼 𝗱𝗼𝘀 𝗠𝗶𝗿𝗮𝗰𝘂𝗹𝗼𝘂𝘀: talvez alguns se questionam como as pessoas não percebem quem os heróis de Paris são, bem, a explicação da própria série é que a magia dos Miraculous confunde os humanos, portanto ela interfere no reconhecimento ou absorção das informações!

Capítulo 3 - 03. Compreensão


Fanfic / Fanfiction Cat Rises - 03. Compreensão

22 de maio, Paris


Richard Grayson sorriu ao ouvir batidas contra a porta do quarto em que estava hospedado no Le Grand Paris.

— Entre! — autorizou, acenando amigavelmente para Adrien quando o rapaz entrou.

— Bom dia, Ri-... Dick.

— Bom dia, Adrien.

— Me informaram que gostaria de me ver. Como eu posso te ajudar?

O americano levantou-se de onde estava, se aproximando do mais jovem. Era bem verdade que era o mais sociável da família Wayne, mas nem por isso ingênuo. Pelo contrário, entre seus irmãos, o acrobata era provavelmente aquele que melhor sabia distinguir o caráter de alguém, e ele tinha plena certeza de que Adrien era bom.

— A pergunta a ser feita é: como eu posso te ajudar? 

O Agreste piscou, confuso. 

— Perdão, eu não sei se entendi...

— Olha, eu sei como a vida de celebridade pode ser angustiante e limitadora, mas eu nunca vi algo no seu nível... Gostaria de poder fazer algo que te desse ao menos um dia normal.

— Está tudo bem... já estou habituado, Dick.

— Estar tudo bem e você estar acostumado com a dor são coisas muito diferentes — Assim que as palavras deixaram sua boca, o Grayson percebeu o quão profundamente elas atingiram o loiro. O sorriso trêmulo só não revelou mais do que a angústia em seus olhos. — Não tem nada de errado em não estar bem, a dor é natural.

— Acho que você é a primeira pessoa que me vê com tanta transparência — o garoto deu a ele uma risada amargurada.

— Longe de mim sair por aí acusando todo mundo, mas... aparentemente, as pessoas a sua volta só não se importam o suficiente para perceber seu sofrimento.

— Eu também não sou muito bom em me expressar, para ser justo...

— Não é uma questão de expressar. Infelizmente, sua angústia é quase palpável.

— Oh, certo... — O modelo encolheu-se, parecendo quase constrangido.

O primeiro Robin apoiou sua mão no ombro do mais novo.

— O que acha de colocar um disfarce e dar um rolê?

— Dar um rolê? — Adrien riu, como se fosse a frase mais engraçada que já havia escutado — Meu pai me mataria... mas, se ele não souber...

— Claro, até porque você vai contar pro Gabriel que botou um disfarce — o americano ironizou.

— Ei! — O menor empurrou o moreno levemente, e Dick não pôde deixar de notar que ele era mais forte do que sua estatura aparentava — Para sua informação, eu já fugi de casa antes, okay?

— Uau, temos aqui um procurado pela Interpol!

— Fale baixo, Dick, assim vão me encontrar — retrucou o outro, antes que ambos caíssem na gargalhada.

— O Nightrunner vai te prender, hein — O mais velho não pôde deixar de continuar a provocar o garoto.

— Bobagem! Nightrunner é um cara legal e vai entender minha rebeldia com certeza!

— Não tenho certeza disso... Soube que ele trabalha com o Batman.

— Não sei se o Batman apoia cárcere privado de menores, talvez eu pergunte para ele, já que está na cidade.

Todos os alarmes de Richard haviam disparado agora, estava mais preocupado e assustado do que nunca. Ele tinha que fazer algo para ajudar o menino o máximo possível o quanto antes.

Adrien, por sua vez, pareceu inquieto ao pensar que poderia ter dito demais.

— Desculpe, eu não quis dizer isso...

— Desculpa? — repetiu o Grayson — Que culpa você tem do monstro que seu pai é?

— Você não tem nada a ver com meus problemas, Dick, eu não devia jogar essas coisas em cima de você.

— Você não está jogando nada em cima de ninguém, está apenas se abrindo... não tem nada de errado nisso.

— É, mas a gente mal se conhece, certo? — O menor soltou uma risada fraca — Eu devo parecer uma bagunça instável para você.

— Garoto, sou de Gotham e sou policial em Blüdhaven. Tem ideia de quantos malucos eu vejo por dia? Você é de longe mais normal que todos eles.

— Você é policial?

— Pois é, talvez eu seja um pouco viciado em adrenalina... ou não tenha muito amor à minha vida.

— Pois devia, você parece ser uma pessoa ótima... precisamos de mais como você.

— É exatamente por isso que eu faço o que faço. De onde eu venho seu pai, infelizmente, é uma ameaça menor e muita gente sofre nas mãos de pessoas que fazem Gabriel parecer um cachorrinho. Alguém precisa proteger as pessoas dos monstros que as assombram.

— Espero que um dia eu possa fazer a diferença como você.

— Você precisa cuidar de si antes de cuidar dos outros — Richard colocou as mãos sobre os ombros do rapaz.

— É, acho que sim... — Adrien pareceu relaxar com o apoio do Wayne. — O que quer fazer hoje, então? Afinal, você é o visitante.

— Eu não tenho que querer nada, posso vir pra França a qualquer instante, porém, nem sempre você tem a chance de passar despercebido na multidão.

— Bom, verdade, mas eu não quero fazer nada de especial, a não ser sair, entende?

— Então, é o que a gente vai fazer. Adrien, não tem que ser especial... o importa aqui é você ter um dia de folga.

— Certo... Me deixa te mostrar Paris, então!

— Vamos nessa!

— Certo! Mas... como eu vou passar despercebido mesmo? Não acho que alguma roupa sua me sirva.

— Eu comprei algumas coisinhas pra você, espero que caibam... e, caso você queira, eu sei uma coisa ou outra de maquiagem.

— Hmm, você sabe que eu sou modelo, certo? — riu baixo, meneando.

— Garanto que nunca usou maquiagem circense na vida.

— Circense?

— É, passei uma boa parte da minha vida num circo com... — A saudade apertou seu peito ao lembrar-se de sua infância no Circo Haly ao lado de seus pais — com minha família.

— Mesmo? Como... como era?

— Era incrível! Éramos os Graysons Voadores, os melhores acrobatas e trapezistas da América.

Os Graysons Voadores! — Adrien riu, mas Richard sabia que não havia maldade ou zombaria ali — Eu gostei disso... certamente eram incríveis.

— Era tradição familiar... minha família e a família Haly fundaram o circo há muito, muito tempo atrás.

— Ele ainda existe? Esse circo?

— Lá em Gotham, de onde nunca saiu.

— Talvez... talvez eu possa ir algum dia!

— Já faz muito tempo que não vou lá... Talvez eu possa te levar algum dia.

— Eu adoraria, Dick.

Meneando, o americano deixou a nostalgia de lado, voltando sua atenção ao presente.

— Bom, vamos preparar o seu disfarce?

— Okay! — Adrien era uma pessoa divertida, Richard decidiu, enquanto eles trocavam piadas durante o processo. — Certo, e o que relacionamento e circo tem em comum?

— Eu não sei. Qual é?

— Você é equilibrista, domador, mágico, palhaço ou todas as opções.

— Mas você sabe qual é o jogo em que o Batman é um trapezista?

— Não...? Qual é?

— Mortal KomBatman!

— Deus, Dick! Essa foi terrível! — argumentou o garoto, apesar de rir alto da piada.

— Tá, mas você sabe por que o Batman sempre tranca o Batmóvel?

— Para ninguém bat-er a bat-carteira?

— Claro que não! Não seja bobo... é porque ele tem medo que robin.

Os dois riram do gracejo estúpido, enquanto Adrien colocava o capuz da blusa que o americano lhe ofereceu.

— Okay, eu gostei dessa.

Richard sorriu ao ajeitar o capuz para esconder os fios loiros do mais novo. 

— Obrigado. Vamos então, ou perderemos o dia!

Havia algo muito estranho sobre Adrien, Dick percebeu pouco tempo depois.

Para um garoto que jamais saia de casa, ele conhecia muito bem sua cidade. Não apenas os locais, mas as pessoas. O Agreste sempre tinha um comentário a ser tecido acerca de algum cidadão na ponta da língua. 

— As flores do jardim da senhora Durand são as mais belas de Paris!

— Você sabe de tudo isso só indo e voltando da escola?

— Ah, bem... eu não tenho muitas oportunidades de ver as pessoas e lugares, então sempre que conheço algo ou alguém novo, eu tento saber de tudo!

— Lá em Gotham também tem um jardim muito lindo, acho que é uma das únicas coisas bonitas lá.

— É um jardim público?

— Era... até a Hera Venenosa fazer daquele lugar seu lar.

— Oh... entendo. Isso explica a preservação.

— É como dizem: Pode-se fazer de tudo na vida, algumas apenas uma única vez.

— Dizem, é?

— Em Gotham é bem comum, sabe? Ir até a esquina pode ser a última vez que você sai de casa.

— Em Paris, a nossa maior preocupação são os akumas... mas a morte por conta deles não era uma preocupação até recentemente....

— A morte, infelizmente, é algo muito normal em Gotham, sabe? Muito antes dos vilões e super criminosos já era assim, todos os dias dezenas e às vezes até centenas morrem.

— Sinto muito pela cidade em que cresceu, Dick.

— Todo lugar tem seus defeitos e não podemos fazer nada em relação a isso.

— Acho que sim... — O som do toque do celular de Adrien chamou a atenção de ambos — Novo post no Ladyblog.

Ladyblog?

O modelo sorriu amplamente para o Grayson antes de explicar:

— Um blog dedicado à Ladybug, e eventualmente aos demais heróis, é da minha amiga, Alya!

— E eu pensando que blog era coisa de quando eu era adolescente...

— Ei! — Adrien riu, com uma falsa expressão de indignação — Você ofende minha geração!

— Eu não estou ofendendo a geração de ninguém! Só... me sentindo velho.

— Besteira, você nem fez trinta anos ainda.

— Realmente, um ano é uma diferença absurda — zombou, empurrando levemente o garoto francês. 

— Muita coisa pode mudar em um ano — afirmou o loiro, ao que o policial realmente não podia negar. 

— Talvez você esteja certo.

— Enfim, eu... — Quando Adrien voltou seus olhos para a tela de seu telefone, Richard viu como sua expressão escureceu.

— O que foi?

— "Enquanto os parisienses estão aflitos sem saber do paradeiro de Ladybug, também se questionam se Chat Noir é capaz de proteger a cidade. Sem saber por quanto tempo podemos contar com o auxílio de Batman, existem grandes dúvidas sobre..." — O garoto respirou fundo antes de continuar — "sobre as habilidades do assistente da heroína de Paris"

Richard piscou, confuso pelo semblante abatido do menino. Antes mesmo que pudesse pensar em uma razão para aquilo tê-lo afetado tanto, uma dor intensa se instalou em seu cérebro. 

— Por mais incrível que pareça, pegaram leve — comentou, meneando enquanto a dor desaparecia, tão repentina quanto havia começado. Não parecia ter sido a coisa certa a dizer, pela maneira como o rosto do menor se contorceu.

— Acho que sim... mesmo para você que acaba de chegar, deve ser claro como o dia como o Chat Noir é incompetente. Temos sorte do Batman estar aqui.

— Até onde eu sei o Batman não é capaz de destruir um vulcão ou de abrir um buraco negro que sugou toda a destruição — Mesmo sem compreender suas próprias razões, Richard sentiu que precisava tranquilizar o loiro sobre o herói local — O Batman é demais e é preparado pra tudo, mas nem mesmo ele é capaz de salvar uma cidade da aniquilação total.

— Esses poderes não são dele, são do anel, Dick.

— Assim como os do Lanterna Verde, mas o anel não funciona sozinho, é preciso alguém controlando e alguém responsável para que não dê tudo errado.

— Isso é Paris, Dick, temos mais pessoas boas do que más que fariam um ótimo trabalho.

— Sim, mas o Chat Noir não é um policial, um bombeiro ou um padeiro... Ele é ele, e o que ele faz é muito bom mesmo que outras pessoas na posição dele pudessem fazer um trabalho melhor porque isso não anula o mérito dele.

— É... Acho que vamos precisar nos contentar com o que temos. — O francês deu de ombros — Mas, de qualquer forma, quem se importa com o Chat Noir, certo? O Batman está aqui por enquanto e... a Ladybug vai aparecer.

— Eu me importo com ele, porque o Batman não fica muito tempo longe de Gotham e Ladybug pode demorar pra aparecer, Chat Noir é o que Paris tem... Sem contar, que chamar um cara que pode destruir o universo quando bem entender de "assistente" é meio burro, não acha? Chat Noir é muito paciente ou não tem muita noção do que ele representa pra aturar esse tipo de coisa.

— Ou é idiota. — Meneando, Adrien guardou seu celular — Mas não se preocupe, Dick, você voltará para América em breve, certo?

— Talvez.

— Então, se preocupe com os psicopatas de lá. Shadow Moth é uma preocupação para os franceses, não turistas.

— Eu não estou preocupado com Shadow Moth, eu estou preocupado com o emocional de uma pessoa que caso se vire para o lado do mal ou seja akumatizado nem mesmo o Superman seria capaz de parar.

— Acho que, quanto a isso, estamos seguros.

Meu nome é André, sorvetes eu dou, para os apaixonados — uma voz entoou ao longe.

— Eu devo estar traumatizado com Gotham, mas quando se escuta algo assim no meio da rua geralmente é algum maluco fantasiado.

O adolescente riu baixo, parecendo já se sentir melhor. 

— É o André, o Sorveteiro dos Apaixonados. Vem, você precisa conhecê-lo!

— Sorveteiro dos Apaixonados? E como é isso? Ele faz amarração usando altos níveis de açúcar?

— Quase isso. As cores do seu sorvete revelam as cores de sua alma gêmea!

— A não ser que ele tenha posse de algum artefato mágico, não sei bem como isso poderia ser verdade.

— Pode acreditar, ele sim é o maior herói de Paris!

— Pois só acredito vendo — O americano sorriu, passando seu braço sobre os ombros do menor.

A dupla rapidamente encontrou o sorveteiro através de sua cantoria.

— Oh, bonjour! O que temos aqui, dois irmãos buscando o amor?

— Tipo isso — Richard respondeu torcendo para ter respondido certo, o carregado sotaque de André dificultou bastante o entendimento da pergunta.

— Oh, vejo que não é daqui, rapaz! Sendo assim, vamos descobrir as cores de seu amor! — O francês acenou para que Grayson se aproximasse.

— É por isso que eu estou aqui.

— Manga para os belos cabelos alaranjados de sua dama, menta para seus encantadores olhos verdes e uva para sua cor favorita: roxo!

O primeiro Robin congelou por um instante, eram as cores de Estelar, coisa que o sorveteiro não deveria saber.

— O-obrigado, eu acho.

— Imagine! Espero que o amor de vocês floresça e sejam muito felizes! — André sorriu, antes de se voltar para o menor — Quanto a você, rapaz...

— Não será necessário! Deixarei para tomar meu sorvete com minha alma gêmea quando a encontrar, não se preocupe

— Medroso — Dick murmurou.

— Bem, rapaz, pois volte com sua metade e terão o melhor sorvete!

Acenando para André, Adrien se distanciou com Richard antes de responder:

— Não tenho medo, apenas... não estou muito no clima para o amor recentemente.

— Como poderia estar? Digo, centenas de pessoas morreram e o céu preto há uma semana... Nem sei como aquela cara consegue ter ânimo pra trabalhar.

— Nada abala o André. Existem coisas ruins em Paris, é verdade, mas há muita positivamente também.

— Acho que sim.

— Ah, aliás, Dick... Você sabe a quem as suas cores pertencem?

— Na verdade... sim.

O loiro fitou-o com um brilhante olhar de curiosidade. 

— Quem é?

— Uma... — por um instante, questionou-se qual era sua verdadeira relação com a alienígena, conheciam-se há mais de uma década e aparentemente tinham sentimentos correspondidos um pelo outro, mas nunca fizeram nada para dar um passo à frente — amiga, o nome dela é Koriand'r.

— Amiga? — Adrien riu — Pois saiba que é sua outra metade! Como ela é?

— De outro mundo.

— Ora, vamos! Ela é sua alma gêmea, Dick! O que você acha dela?

— Tá vendo muito filme de romance, garoto, almas gêmeas não são necessariamente um casal.

— Eu sei disso, mas o André é o Sorveteiro dos Apaixonados, não dos melhores amigos!

— Você não tá botando muita expectativa num sorveteiro de esquina? Tipo, se levarmos em consideração o efeito da mente sobre o corpo se um ou dois casais, por coincidência, fossem formados por "causa" do sorvete isso seria o suficiente pra todo mundo achar que realmente funciona e assim gerar expectativa sob três bolas de sorvete de sabores aleatórios, por consequência, se apaixonando por alguém que bate com as cores do sorvete. — Dick estava nervoso e envergonhado, por mais que tivesse uma teoria válida do ponto de vista científico ele só queria tirar o foco de Adrien do assunto.

— Entendi... você ainda não se acertou com o que sente por ela, tudo bem! — Adrien sorriu de forma amigável.

Revirando os olhos, Grayson puxou-o para um meio abraço. Ele esperava que aquele passeio pudesse confortar o menino.


[...]


A animação fluía pelo corpo de Adrien Agreste tal como a magia provinda de seu anel. Seu dia havia sido incrível, preenchido por um agradável passeio com Richard Grayson, e agora teria sua primeira patrulha ao lado de Nightrunner.

O herói mais velho o aguardava, empoleirado sobre uma das gárgulas de Notre-Dame.

— Está preparado?

— Estou, sim! — o loiro disse prontamente, assumindo uma postura mais séria, condizente com seu parceiro.

— É bom ter em mente que caso precisemos, de fato, entrar em ação será uma situação bem diferente da que está habituado.

— Eu entendo... — Adrien assentiu, ciente de que os inimigos de Nightrunner não eram vítimas manipuladas como os akumatizados, mas verdadeiramente ruins.

— Alguma pergunta antes de começarmos?

— Eu... Como você sabe o que fazer?

— Você vai saber quando precisar — o argelino começou a explicar — Infelizmente, não é toda Paris que é tranquila durante a noite.

— Você acha que eu dou conta...?

— Apenas esteja com seu psicológico preparado, você vai ver coisas bem pesadas com as quais não tem costume. O resto vai ser moleza pra você.

— Okay — o mais novo concordou, pois acreditava que Nightrunner sabia do que falava.

O portador do miraculous do gato seguiu o Acrobata Noturna pelos telhados de Paris, rumo a zona leste da cidade. Sendo honesto, Adrien jamais havia estado ali.

Os akumas nunca vinham daquela direção, muito menos iam para ela. Era uma região particularmente escura para a Cidade das Luzes.

Adrien estava preocupado e assustado com a forma que o mais velho falava. Não saber nada sobre aquela parte da cidade o dava uma péssima sensação, como se estivesse vendado, sem saber o que poderia encontrar.

— Eu não conheço ninguém aqui...

— Como conheceria?

— Eu conheço todo mundo das outras áreas, mas... nunca pensei em vir aqui.

— E por quê?

— Eu não sei. Nunca houve um akuma, então nunca conheci nenhum civil... eu sempre checo os ex-akumatizados.

— Infelizmente, rapaz, não são apenas os ex-akumatizados que precisam de auxílio.

Adrien encolheu-se, sentindo-se culpado por ter ignorado aquelas pessoas.

— Sinto muito...

— Não se torture pelas coisas que poderia ter feito no passado, tome uma atitude em relação ao que pode ser feito agora.

Com um pequeno sorriso, o loiro assentiu.

— Tem razão, vou me esforçar!

— Bom, espero que goste dessa sua noite como Robin porque com certeza não vai ser bonita.

Robin?, pensou o Agreste, mas apenas acenou, considerando que havia sentido, afinal Nightrunner era o Batman de Paris.

A dupla saltou para as ruas, os becos eram estreitos e mal iluminados, Adrien tinha um péssimo pressentimento sobre cada um deles.

De quantos crimes aquelas vielas haviam sido palco? Tentava não pensar sobre mas a angústia e a culpa tomavam seu peito.

No entanto, ele podia realmente fazer alguma coisa?

— Por que você faz o que faz? Digo... o que te motiva?

— Eu senti na pele o peso da xenofobia, da intolerância religiosa e... — Mesmo por baixo da máscara que cobria toda sua face, Adrien pôde ver a feição do vigilante mudar — perdi meu melhor amigo.

— Sinto muito...

— Ele não estava exatamente certo, sabe? Ateou fogo em uma delegacia próxima daqui e os policiais o mataram, mas... Talvez ele não tivesse feito aquilo se a polícia tratasse nosso povo como gente.

O Agreste pareceu escandalizado com a ideia de que a polícia poderia ter tirado a vida de alguém com tamanha facilidade. 

— Eles deviam proteger as pessoas! Não... não isso — Embora seu rosto não fosse visível, Chat Noir quase podia sentir o olhar de Nightrunner queimar sobre ele. O olhar pesaroso de quem apresentava a cruel realidade para uma criança.

— Bom, falamos demais de mim. E você? Por que você faz o que faz?

— Eu... — O loiro parou por um instante, pensativo — O que você acha do meu jeito, Nightrunner? Eu pareço antiprofissional?

— E o que seria "antiprofissional" no nosso ramo?

— Hmm, colocar algo acima de nosso trabalho? Ou "agir como um palhaço"?

— Do que está falando? — O mais velho meneou a cabeça, confuso.

— Você sabe... eu ajo como um idiota e estrago tudo o tempo todo — O garoto desviou o olhar — Bem, segundo a Ladybug, pelo menos.

— Aposto que ela não sabe que o Asa Noturna fica fazendo piadinha o tempo inteiro.

— É, mas... ele é o Asa Noturna! Eu... sou só eu.

— E...? Não conhecia essa lei que só permite ter senso de humor a partir de um determinado nível de apreço por parte da população.

— Bom... pergunto porque eu poderia ser diferente, realmente poderia, mas... ser o Chat Noir é minha válvula de escape, mas, mais do que isso, eu quero mostrar às pessoas. Mostrar que apesar das adversidades, dos monstros com os quais lutamos, é possível sorrir! Quero que elas se alegrem e sorriam para mim... porque, apesar de tudo, estou sorrindo para elas.

— Você vai muito além de só mostrar que é possível sorrir nos momentos mais obscuros, Chat Noir, você literalmente salvou a cidade da aniquilação total. Apesar das perdas e da destruição, mostrou para as pessoas que elas não podem desistir, afinal, mesmo quando tudo parecia perdido pela ausência da Ladybug você chegou e cataclismou a droga de um vulcão! Você tem noção do quão surreal foi o que você fez semana passada?

— Não pensei muito sobre isso, na verdade... Na minha família, fazer algo certo é o "mínimo".

— Pode até ser o mínimo, mas a maioria das pessoas não faz isso. Aposto que seu pai sequer já deu uma moeda a um mendigo.

— Ele não é mesmo muito caridoso...

— Então, você já faz a diferença muito mais do que ele — O garoto deu um pequeno sorriso, que rapidamente se quebrou quando a dupla ouviu um alto grito. — Vamos — o Acrobata Noturno disse, correndo na direção do barulho.

O loiro o seguiu de perto, o coração batendo mais rápido com o som. Sua mente girando com as possibilidades, nenhuma delas boa.

Uma jovem estava sendo assaltada. Nightrunner rapidamente lançou um bat-rangue no braço do ladrão.

Olhando atentamente para a cena, Chat Noir percebeu por sua estrutura corporal que a garota não podia ter mais do que doze anos.

— Proteja-a — Quando o criminoso largou sua faca, Nightrunner a chutou para longe e iniciou uma luta corporal com o assaltante.

Tomando a jovem em seus braços, o Agreste não pôde deixar de reparar no quão trêmula ela estava. Sussurrando algumas palavras de conforto, ele a tirou dali.

Mesmo já estando relativamente longe, graças a audição aprimorada, Adrien ainda conseguia ouvir os gritos de dor do assaltante.

Nightrunner era... não muito gentil. Porém, ele podia realmente culpá-lo por seu comportamento? Ele agiria diferente em seu lugar?

Era impossível não se perguntar se Batman teria feito o mesmo com Tormenta, caso ela fosse uma criminosa de verdade, ao invés de mais uma vítima de Shadow Moth.

Como um fã de Game of Thrones, Adrien sentiu que pela primeira vez entendia de fato a prece de Melisandre; "porque a noite é escura, e cheia de terrores".

Crime após crime, a realidade caiu sobre o jovem como se pesasse toneladas. Nightrunner gentilmente o consolou, afirmando que o menino tinha talento com as pessoas, uma empatia poderosa que o levava a se conectar com as vítimas. 

O caminho para sua casa pareceu mais longo do que deveria, Chat Noir não desejava mais do que jogar-se em sua cama e não sair dela pelas próximas horas, mesmo sabendo que não seria capaz de dormir. 

A culpa preenchia todo seu ser. Algum dia, ele poderia fazer algo por aquelas pessoas?



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