Pov. Liz
Estática. Perplexa. Em choque. Respiração falhando. As batidas do meu coração soavam descompensadas. Era como se alguém tivesse enfiado uma faca no meu coração múltiplas vezes. Dor. Angústia. Sirenes em alto som, policiais correndo de um lado para o outro, gritos, brigas, pessoas indo e vindo perguntando se eu precisava de ajuda. Eu queria responder, eu queria poder me mover, queria gritar, chorar, perguntar o que aconteceu, como aconteceu e por que aconteceu. Mas eu não conseguia. O tempo havia parado, e eu havia parado junto com ele. Sem reação. Sem saber o que fazer ou como agir. Eu estava perdida.
— Senhorita Hernandéz, você está bem?
Balancei a cabeça em sinal de negação.
— Sei que este é um momento difícil para a senhorita. Sinto muito pela sua perda, mas preciso que colabore para que possamos discutir os procedimentos que ainda faltam para ser concluídos. Ainda há muita coisa para ser apresentada. — O policial Chad declarou com seriedade. — Darei alguns minutos para a senhorita se recompor e em seguida a chamarei para dar fim ao caso. — O observei ao se afastar me deixando sozinha e imersa aos meus pensamentos.
24 HORAS ANTES
"Agradeci as salva de palmas pela a minha vitória. - É uma honra receber esse prêmio de melhor chef do ano. Queria agradecer a minha mãe, minha irmã, meus amigos, todos os meus professores e as longas temporadas de Masterchef. Obrigada Paola, Jacquin, Fogaça. Vocês são a minha inspiração, amo vocês. Além disso, quero agradecer a minha melhor amiga Hope que sempre me apoiou, me ajudou a prosseguir com esse sonho desde que estávamos na faculdade e eu- '' — parei meu discurso com a sensação de que estava recebendo um pancada no rosto. — E eu —tentei continuar meu discurso mas a pancada me atingiu de novo. Que merda estava acontecendo? Por que eu não estava conseguindo finalizar meu discurso? Todos me olhavam em confusão. —Bom, e eu- — Desta vez fui interrompida por duas pancadas de travesseiro, sons de tampas de panelas e o despertador fora do seu volume habitual.
Merda, era um sonho.
— Ahhhh! Acordou a Bela Adormecida. — Luna gritou em animação, deixando as tampas de lado indo em direção ao meu closet.
— O que você tá fazendo acordada essa hora? Aliás, por que você me acordou? Ainda tá muito cedo. — A olhei com fúria querendo dormir mais um pouco. A minha cama estava tão quentinha e confortável que eu não aceitaria sair dela nem por um milhão de reais.
— Se você chama "cedo" de estar atrasada 1 hora para o trabalho... Ok. Eu vou deixar você dormindo.
— O QUE???? UMA HORA??? — Falei desesperada. — POR QUE VOCÊ NÃO ME GRITOU?
Saí com depressa da minha cama, entrando no banheiro pra fazer a minha higiene matinal.
— Tá brincando comigo? — Ela encostou-se ao batente da porta. — O despertador tocou durante 30 minutos e você não acordou, eu bati quatro vezes em você e você não acordou. Foi preciso eu vir com mais duas almofadadas e um panelaço pra te acordar, dorminhoca.
— Certo, é minha culpa. – admiti cuspindo a água da minha boca na pia.
— É sim.
— E você está responsável. – fiz uma pausa. – Espera aí, eu estou sonhando de novo?
Luna tacou a toalha na minha cara.
— Besta.
Sorri com a nossa inocente provocação.
Luna era a minha irmã mais nova. Foi adotada dois anos depois que meu pai nos abandonou. Segundo mamãe, eles decidiram após descobrirem que ela não poderia engravidar mais por ter desenvolvido severamente algo que os médicos chamam de "placenta acreta". Essa condição impede que ela tenha filhos novamente, pois a placenta fica presa á musculatura intrauterina, e isso ocorreu ainda quando ela estava grávida de mim o que deu origem à uma gravidez de risco. Eu tinha oito anos quando o centro de adoção ligou para minha mãe avisando que o pedido adotivo que ela e papai fizeram tinha sido aprovado e que o bebê de origem vietnamita estava a caminho. Não era o ideal, estávamos passando por muitas dificuldades, perdas e dores, mas mamãe aceitou mesmo assim dizendo que tudo iria ficar bem. E ficou. Acabou que Luna foi a melhor coisa que aconteceu conosco, ela foi a nossa luz. A nossa família se tornou mais unida do que nunca. Minha mãe reencontrou o brilho desde o abandono de meu pai, era algo em que eu constantemente vivia tentando colocar em seu rosto desde que comecei entender o peso da situação, tentava de alguma forma fazê-la ficar bem. A nossa família é tudo o que temos. Nós somos tudo o que mamãe tem. É bem satisfatório ver atualmente ela se reerguendo e perseguindo seu sonho, viajando pelas capitais da moda promovendo sua loja de roupas. E enquanto ao meu pai? Bem, eu nunca mais vi ou ouvi falar dele. Miguel Hernandéz simplesmente evaporou de nossas vidas. Acredito que foi melhor assim, sabe lá qual a seria a reação minha ou de Luna ao ver ele na nossa frente, isso seria um grande desastre.
— AI MEU DEUS, A LOJA AINDA ESTÁ FECHADA? QUEM ESTÁ CUIDANDO DA LOJA? OS CLIENTES VÃO ME LINCHAR! — Falei saindo correndo de toalha, me enxugando rápido prestes a vestir a roupa que minha irmã havia separado para mim. Jeans skinny, uma blusa de seda e jaqueta? Ok, afinal não havia tempo para escolher uma roupa melhor e com mais calma.
— Cara, fica calma. Eu mandei mensagem para o Devon abrir a loja quando vi que você não ia acordar tão cedo, avisei para ele que vamos chegar atrasadas. Por sorte, ele tinha a chave reserva.
— Você fez isso? — Falei surpresa com toda essa responsabilidade repentina que minha irmãzinha tinha adquirido.
— Sim. É bem notório que você vai sentir minha falta quando eu voltar para a faculdade. Só restam três dias, minha cara Liz.
— Talvez. — menti, eu definitivamente iria sentir falta dela. Estava de joelhos concentrada em achar o outro par da minha bota preta de cano curto. — Você ligou do meu celular ou do seu? — Isso era muito estranho. Luna não sabia a minha senha do meu telefone e nem tinha o número do Devon. A não ser...
— Eu consegui o número dele. Trocamos algumas mensagens. —Ela declarou, entregando o par de botas que eu havia perdido.
—Luna? Que nojo, ele tem o dobro da sua idade.
Ótimo, mais um problema na minha lista. — Pega a sua necesserie, vou me maquiando no carro. Sai correndo pegando as chaves e minha bolsa. Teria que pisar fundo no volante para chegar rápido na minha padararia aka futuro restaurante, também. Pelo menos era o que eu pretendia se a expansão desse certo.
— Não pode me mandar ficar longe dele. Você nem sequer me deixou terminar de falar. — Luna olhou-me petulante segurando sua bolsinha de maquiagem.
Coloquei o cinto, dando partida no carro deixando a nossa garagem. — Ok, o que você quer com ele?
— Eu quero conhecer ele melhor... Talvez um amizade colo-
Interrompi-a imediatamente. — Não! De jeito nenhum.
— Liz! – ela exclamou incrédula.
— Luna, me escuta. — a encarei. — Da fruta que você gosta, ele chupa até o caroço. — arquiei a sobrancelha esperando ela entender o que quis dizer.
— Ele é gay? — perguntou chocada.
— Achei que você sabia, é bem perceptível. — Voltei a prestar atenção para o trânsito. Merda, hoje definitivamente não era meu dia, a porra do carro que estava na minha frente estava andando como uma tartaruga.
— Então você não tem que se preocupar comigo e Devon, vai ser nada além de amizade.
— Ele não é um brinquedo com que você pode sair por aí carregando de um lado pro outro! Ele tem obrigações, okay?! – avisei.
— Meu deus, mulher! Eu sei me comportar. – ela revirou os olhos.
Qual era o problema daquele bastardo? O sinal tinha aberto há dez segundos. — ANDA LOGO! Buzinei forte para ver se o sem noção se tocava e andasse mais rápido. Tinha certeza que esse homem tinha comprado a habilitação. Passei a marcha e acelerei o veículo.
— Chegam mil multas lá em casa e você ainda bota a culpa na fiscalização. – murmurou.
Ignorei-a. – Você não respondeu minha pergunta. Não percebeu que ele era afim de homens?
— Não... Se bem eu achei bem estranho ele ter me perguntado qual era o meu álbum favorito da Lady Gaga. Caras com quem eu saio geralmente não me perguntam isso. Exceto uma vez, mas eu juro que ele era hétero.
— Seu gaydar é péssimo.
— Bem, você pode me culpar? Devon é um pedaço de mau caminho.
Torci a boca, concordando. — Oh, já sei. Você tem um tipo.
— Tipo? Eu não tenho um tipo por gays. – defendeu.
— Não? É a terceira vez que você confunde caras gays com héteros. Uma dessas o carinha te enganou apenas pra você apresentar o Nathan para ele.
— Uh, qual era o nome dele mesmo?
— Landon. O seu ex peguete que se parecia com o amigo das Jenners, o Fai. Pura coincidência. — liguei a seta para virar na próxima esquina. A minha loja não era tão longe assim de casa, mas também não era tão perto. Se você decidisse ir á pé, teria que encarar uma caminhada de caminhada de 20 minutos.
— Ei, o Fai não é gay, é?! – especulou.
Dei de ombros. — Ninguém sabe. Acho que ele é bi.
— Uau! O meu gaydar é péssimo mesmo. — sua voz soou com uma breve decepção – Acha que ele ficaria comigo?
Sorri. – Claro.
— Obrigada, eu sei que sou de tirar o fôlego.
Quando chegamos à padaria, estacionei o carro na minha vaga usual. Luna me ajudava a arrumar o meu cabelo para deixa-lo apresentável.
— Aí meu cabelo, Luna. Cuidado! – Ela havia puxado um nó.
— Desculpa! Eu não teria que ajeitar o seu cabelo embaraçado se você tivesse acordado mais cedo.
— Se reclamar mais uma vez, eu vou cobrar o seu café da manhã. - falei fazendo uma maquiagem básica em que escondesse a minha cara amassada de sono.
— Não ta mais aqui quem falou. — o telefone começou a tocar. — É a mamãe.
— Atende rápido, se não... – Dei aquele olhar conhecedor para ela. Nossa mãe era uma típica latina agitada, carinhosa, brava e escandalosa. E digamos que um pouco exagerada.
— 7 ligações de hora em hora? – Suspirou. - Conheço muito bem.
— Coloca no viva voz.
— HOOOOOOOOLAAAAAAAA, MIS AMORES!!! – a voz alta e animada de mamãe soou pelos altos falantes. Uma colombiana de corpo e alma.
— Oi mãe! — respondemos em uníssono.
— Como vocês ousam a dar um oi desanimado desse para sua mãe que está morrendo de saudade de vocês.
— Nós só estamos atrasadas para o trabalho, mamãe. Desculpa. – expliquei.
— Ah não, Luna te atrasou de novo, Liz? Quantas vezes eu vou ter que av-
— Mãe, dessa vez foi eu. Na verdade, ela que me acordou. – Luna deu um sorrisinho covencido.
— Ay, que orgulho! Parabéns hija! Você já é uma linda mocinha responsável. Eu lembro da primeira vez que segurei você em meus braços... – ela falou com sua voz emocionada.
— Como está Nova York? Está tudo bem por aí? – Decidi mudar de assunto antes que ela começasse a fazer um texto elogiando Luna, flashbacks, citando as tradições da Colômbia e etc.
— Está tudo perfeito. As reuniões estão correndo muito bem. Só queria que vocês estivessem aqui.
— Bem, a gente também mas você sabe mãe, não posso deixar o trabalho e Luna precisava de um emprego nesse verão para apresentar como estágio na sua faculdade de administração. Então...
— Sim, Sim. Eu sei. Só liguei para avisar às senhoritas que vocês só têm mais três dias juntas, então aproveitem. Ah, antes que eu me esqueça, você está alimentando sua irmã direito, Liz?
— Se ela está viva, sim.
— Liz. – advertiu.
— Eu estou mãe, estou alimentando bem direitinho. – Olhei para Luna pedindo para que ela ficasse de bico fechado.
— Muito bem! Vou desligar. Los amo, mis amores.
— Também amamos você, mãe. Tchau!
Encerramos a ligação. Pulei para fora do carro, conferindo as horas. 09:40 da manhã. Certo, não está no horário dele vir aqui.
— Você tinha acabado de me ameaçar a deixar sem café da manhã e disse para a mamãe que estava me alimentando direito. Como você é uma safada mentirosa!
— Eu não falei que não ia te dar, eu falei que iria cobrar.
— E você vai?
— Não. Agora, se você não entrar nesse estabelecimento em 3 segundos e for para o balcão, eu vou descontar do seu salário- ela me interrompeu abrindo a porta para nós entrarmos.
— Nossa patroa, como você está brava. – Brincou. - Ei, alguém te deixou um recado. — Ela me entregou o meu celular.
— Depois eu olho. A gente tem muita coisa para fazer e o Devon deve estar furioso por ter que administrar tudo sozinho. Seja quem for, vai ter que esperar. — Logo quando entrei na loja, encontrei meu melhor chef aos prantos. Oh, cara. Ele iria me matar.
— Ajuda na cozinha, já. – Devon falou furioso.
— Eu to indo. Luna da para segurar as pontas?
— Pode ir.
Foi uma manhã cheia ajudando Devon na cozinha, tratando de negócios com os administradores responsáveis pela empresa de construção da expansão que eu estava decidida a fazer, horas conversando com clientes usuais da loja que eu nem percebi o quanto tempo se passou e ele não veio pela parte da manhã. O que era estranho porque ele sempre vem à loja pela parte da manhã e pede o mesmo sanduíche, o mesmo café quando não compra um suco. Eu sei que pareço uma maluca obcecada nesse momento, mas não consigo me controlar, tudo nesse homem é instigante. Ele é lindo, educado, sério e ao mesmo tempo misterioso?! Tem algo nele que me faz ficar extremamente atraída e eu mal o conhecia. Eu não sei explicar, só posso afirmar que eu tenho uma grande e duradoura queda por ele.
— Ei, bonecas experimentem isso. – Devon veio ao encontro meu e de Luna, mostrando a sua fornada de cookies recheado com brigadeiro.
Eu estava tendo um orgasmo gastronômico. Aquilo era muito bom. — Estou comendo um pedaço do céu. Ai meu deus, isso está delicioso.
— Faço as palavras dela as minhas.
— Acho que não tá bom... vou mudar a receita e-
Estalei a língua, impedindo o meu amigo de prosseguir com as suas paranoias e inseguranças. — Isso daqui está ótimo. Inclusive eu quero essa fornada agora para colocar na vitrine do balcão. As grávidas da aula de Lamaze logo chegam aí, elas vão amar isso.
Ele sorriu. —Você é quem manda.
— Falando em clientes habituais, por acaso o – Devon completou minha frase, adivinhando o que eu iria dizer.
— Se por acaso o Dr. Sanduíche de Peru apareceu por aqui de manhã?
Eu afirmei.
— A resposta para sua pergunta infelizmente é não.
— Quem é o Dr. Sanduíche de Peru? – Luna perguntou confusa.
Antes que a gente pudesse responder, o sino da porta soou anunciando a chegada de um cliente. A chegada dele.
— Dá uma olhadinha disfarçada para a porta, querida. – Devon falou para nós duas.
— Oh! Esse é o sanduíche de Peru.
Finalmente, chegou o meu momento. Hoje eu iria convida-lo para sair e ninguém iria me impedir. Apressei-me limpando minha boca, alisando a roupa e meu cabelo. — Estou bonita?
— Mostra os dentes para mim. – Ele pediu.
Mostrei para ele ver se tinha algo sujo. — Perfeita!
Segui indo em direção ao balcão de atendimento.
— Ei, ei aonde você vai? Eu preciso de ajuda para fazer as fornadas. — ele exclamou, zoando com a minha cara.
— Relaxa, tá? Vai lá fazer biscoitos, a Luna vai te ajudar. — Apontei para a minha irmãzinha que se divertia com a situação, mas seu sorriso logo se desfez.
— Ah não, a minha função não é essa.
— A minha função não era fornecer um salário para você, e estou te pagando mesmo assim. — sorri forçado para disfarçar a minha ameaça. Esses dois patetas iam estragar a minha tentativa de flerte. — Pode deixar querida, eu assumo daqui.
— Cadê o sindicado dos trabalhadores quando a gente precisa deles? – Luna sussurrou para o Devon enquanto se afastavam de onde eu estava.
O senhor sanduíche de Peru se aproximou do balcão. — Oi, boa tarde. — ele sorriu gentilmente - Eu vou querer...
—Deixa adivinhar, sanduíche de peru na baguette? – falei tentando chamar sua atenção. Que droga, Liz! Não havia outros jeitos de chamar a atenção dele?
Ele sorriu. — Sou tão previsível assim?
Foda-me. Aquele era o sorriso mais lindo que eu já vi em toda a minha vida. Eu precisava ter um encontro com esse cara. — Diria precavido. É que você vem aqui frequentemente e sempre pede a mesma coisa, então já imaginei que o pedido seria esse. – falei pegando a luva para retirar o sanduíche. — Mas se você quiser tentar algo novo, tem várias variedades no cardápio.
— Surpreenda-me. — Ele disse com aquele seu olhar hipnotizador. Os olhos dele eram tão escuros quanto a cor de uma jabuticaba.
— Bom, eu acho que você deveria levar um croassaint, geralmente é o favorito dos clientes. Você não vai se arrepender.
O bonitinho acenou com a cabeça. — Sabe, eu venho aqui há bastante tempo, na verdade a gente deve se conhecer a 16 sanduíches. – brincou.
Sorri para ele. — 17 agora.
Ele soltou uma risada firme e sedutora. — E até agora eu não sei qual é o seu nome.
— Ana Liz, mas pode me chamar de Liz.
— Prazer em conhecer Liz. Eu sou o-
— Dr. Sanduíche de Peru – falei pensando alto, mas quando percebi já era tarde demais. Ele já tinha ouvido o que eu havia falado.
— Como? – ele perguntou divertido
— Ah não pensa que eu costumava a te chamar assim... Inclusive... Na verdade... – disse perdendo o controle das minhas palavras. – Eram aqueles dois – apontei para o Devon e Luna que acenaram um oi com as mãos, se divertindo com a embaraçosa situação. – Deus, o que eu estava fazendo? - Mas enfim você dizia que seu nome é...
— Luke.
— Luke – repeti. — Prazer te conhecer também, Luke. São 14 dólares! – falei entregando seu pedido me martirizando pela burrada que acabei de cometer. Mas ainda havia esperança, eu não podia deixa-lo ir sem tentar o que eu estava pensando desde dessa manhã. — Você não quer participar do sorteio que estamos fazendo? O vencedor ganha um jantar por conta da casa. – apontei para o pote de papel com vários números e nomes das pessoas que estavam participando.
Ele assentiu, pegando a caneta anotando seu nome e seu número. — Que tal um jantar, só nós dois, por minha conta?! - Luke colocou o papel no pote, me dando uma breve olhada. Se retirando, em seguida.
O QUE? ELE HAVIA ME CHAMADO PARA SAIR? Sorri contido ao ouvir aquelas palavras.
Eu queria desmaiar. De repente me vi de novo no ensino médio, com 15 anos surtando porque o garoto mais bonito da escola tinha me chamado para sair. Pelo amor de Deus, eu precisava me acalmar. Quer saber? Que se dane. Eu mereço isso. Mereço encontros com caras lindos e agradáveis que possam me mimar.E eu mereço que esse alguém seja esse cara. Afinal, eu não passei vergonha atoa. Mal esperei ele sair e já fui colocando a mão no pote para pegar o número logo. Devon e Luna vieram na minha direção, curiosos com o que tinha acabado de acontecer.
— Wow, Wow. Calma ai, garota. Espera ele sair da loja. – Devon disse me impedindo de me envergonhar ainda mais.
— OK.
Ficamos observando o homem o moreno alto e gostoso em seu terno, sair completamente da nossa visão e assim que ele saiu, eu fui ao ataque.
— Merda, os números se misturaram. Qual era o sobrenome mesmo? – Eram tantos números que eu estava assustada.
— Olha, ele realmente deve sentir uma quedinha por você pois depois disso –Luna exclamou com as mãos – E ainda ter o chamado de sanduíche de peru, eu tinha te dispensado. – ela disse liberando uma risada junto com Devon.
— Para, Luna. Você sabe quantos meses sua irmã está na seca? – Devon continuou a brincadeira, tentando esconder uma risada.
— Haha que engraçado! Agora da pra me ajudarem a achar o número dele?!
— Eu poderia escolher um para você... – Devon pegou os papéis separando vários telefones do pote.
— O Sr. Wilson é uma boa, ele dá ótimas gorjetas. — Luna falou ironicamente.
Devon se apoiou no balcão. — Adoro esse velhinho.
Estava tão focada em achar o número do bonitão do Luke que nem estava prestando atenção na palhaçada dos dois. — Jesus, quanto Lucas existe nessa cidade?
Eu teria uma noite daquelas tentando descobrir o número certo desse cara. Assim que anoiteceu, eu e Luna partimos para a casa e deixei-a arrumando suas coisas de viagem de volta. Enquanto eu preparava um banho relaxante na minha banheira. Se vou passar minha noite ligando para 10 desconhecidos, nada melhor do que um vinho para me acompanhar nessa minha aventura.
Os cinco primeiros eram casados ou nunca foram a minha loja... Os outros quatro? Pervertidos a procura de um sexo pelo telefone. Só me restava um número e tinha que ser o dele, pois eu já estava ficando cansada dessa caça de clientes gostosos demais para ser verdade. Infelizmente deu na caixa postal, então decidi deixar um recado.
— Oi Luke? Na verdade, Dr. Luke Spencer. Aqui é a Liz do
Les Saveurs. Eu espero que seja você que tenha ido à minha loja e deixou seu número no balcão porque eu já liguei para vários e- — A ligação fez um barulho, aclamando que havia outra chamada em espera. — Ah, só um segundo tem alguém na outra linha.
— Sehorita Ana Liz Hernandéz? – a voz desconhecida soou no telefone.
— Sim, é ela. Quem está falando? – perguntei confusa com uma sentimento ruim invadindo o meu peito.
— Aqui é o policial Chad do Departamento da Policia de Sacramento. Precisamos que você venha o mais rápido possível, houve um acidente de carro na estrada a caminho de Bakersfield. Os corpos foram identificados como Hope Wright Smith e Nathan Dwight Smith. Encontramos seu número está como contato de urgência.
Silêncio absoluto.
— Senhorita?
Desespero.
— Senhorita Hernadéz, ainda está na linha?
Pânico.
— Senhorita Hernadéz precisamos de você, responda-me, por favor.
E foi nesse exato momento que tudo começou.
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