Joseph e Cordelia discutiam pelo telefone, enquanto Natalia e Jonathan brincavam no quintal dos fundos. Apenas Christopher ouviu a discussão sem querer, ele estava atrás da porta do quarto de Joseph e Cordelia. Quando começou a ouvir a mãe conversando agressivamente no telefone e isso chamou a atenção do menino.
-Joseph eu não acredito, nós não vamos conseguir. Olha eu espero mesmo que você consiga tudo isso que planeja, a gente tem que fazer isso. –Cordelia praticamente gritava no telefone assustando Christopher que estava quieto do outro lado da porta. –Eu sei que ela foi deixada pelos pais, ela podia voltar a morar com a Marina. Não está nada bem Joseph, eu não sei o que fazer com a Natalia, eu sei o que ela passou, mas isso não muda a nossa condição.
Christopher correu para o outro quarto percebendo que Cordelia estava prestes a abrir a porta. Christopher ficou muito chateado ao ver a mãe chorando e estressada, mas ele entrou no mesmo quarto no momento em que ela desceu para o primeiro andar, então o menino começou a mexer nas gavetas misteriosas do quarto e encontrou os documentos de Natalia e começou a falar sozinho analisando e investigando tudo.
-Nossa, eu não fazia ideia das coisas que a Natalia tinha passado, isso é horrível! –Christopher falava sozinho olhando alguns documentos e fotos, até que uma foto lhe chamou atenção, na foto que a mãe da menina segurava ela no colo.
Cordelia encontrou o menino mexendo nas coisas e ele se assustou se desculpando.
-Christopher você não deveria estar mexendo aí, mas se você descobriu algo, por favor não conte para ela e nem para ninguém, isso será um segredo nosso.
-Ok mamãe, me desculpe, mas eu juro não contar nada a ninguém.
-Que ótimo meu filho, sei que posso confiar em você, já é um rapaz. Agora vá brincar e não se preocupe.
Depois daquele dia, Christopher sabia o quão importante era dar bastante apoio e carinho para Natalia, ela só tinha 6 anos e passou por coisas terríveis.
As discussões entre Cordelia e Joseph estavam constantes, Christopher percebia, ele era o único que parecia perceber mesmo sem ouvir. A cada mês que passava estava pior, o único mês que parecia estar tudo bem foi no mês do aniversário de Natalia, ela estava completando 7 anos e daqui a pouco era a vez de Christopher completar seus 13.
Nas férias de verão, Cordelia foi para a casa da mãe e Joseph ficou com as crianças. As crianças estranharam, e Cordelia apenas mentiu dizendo que era uma emergência e que ninguém iria. Christopher já sabia o que estava acontecendo, ele sabia que nada estava bem, sabia o que aconteceria também. Para as crianças não ficarem sem fazer nada, Joseph os levou para a praia. Era a primeira vez de Natalia na praia e ela tinha adorado, ela via sempre em filmes ou desenhos como era divertido. Joseph planejava comprar uma nova casa por conta do espaço da que morava, ele cuidou muito bem daquela casa, mas não podia e nem conseguia mais viver ali. Ele já tinha um bom dinheiro juntado para comprar a casa nova, só faltavam as coisas se resolverem e então ele saberia se estava pronto para comprar a casa.
O resto do ano foi tenso, desde o começo até o final. No início do ano seguinte, Joseph e Cordelia decidiram o divórcio, eles esperariam Natalia completar 8 anos para realmente assinarem os documentos e conversarem com as crianças.
Jonathan com onze anos, Natalia acabava de completar oito. Uma semana depois do aniversário da mais nova, Cordelia e Joseph chamaram as crianças para conversarem. A reação deles foi de partir o coração, já estava tudo resolvido, então não poderiam fazer mais nada.
Cordelia foi embora para a casa da mãe e Christopher foi junto. Natalia se sentia culpada por tudo o que estava acontecendo, ela sentiu que tudo estava desmoronando, sentiu como se tudo de ruim que acontecesse estivesse relacionado á ela. As coisas estavam mudando muito rápido na vida de Natalia.
No mês seguinte, mudou-se para a casa que Joseph planejava comprar, era uma casa grande, e bonita, muito diferente da casa que estava acostumada. Tinha uma escola perto, mas Natalia continuaria na mesma até o ano seguinte.
Primeira semana do mês de maio, a escola estava em clima de dia das mães. Natalia parecia não estar muito animada para isso igual aos anos passados. Na última aula do dia, a aula de artes, a professora pediu para que os alunos fizessem um desenho para a mãe ou seja lá quem considerassem uma mãe, Natalia se sentiu mal ao se lembrar que Cordelia não estava mais lá, mas ela fez um desenho muito bonito e entregaria para ela no próximo final de semana que se encontrariam. A menina foi interrompida por Lucas, um garoto de sua classe que pedia um lápis de cor emprestado e não deixou de reparar no desenho de Natalia.
-Que desenho legal Natalia, olha o meu. –Lucas elogiava o desenho de Natalia parecendo bem falso e se exibindo com seu desenho.
-Bem legal também, pelo menos eu não estou me exibindo.
-Quem é essa pessoa no desenho? Fiquei sabendo que você não tem uma mãe então não será preciso esse desenho. –Lucas disse irritado rasgando o desenho de Natalia, fazendo a menina ficar triste e furiosa.
-Por que você fez isso? Você vai ver seu garoto nojento, você não é melhor que ninguém. –Natalia dizia com ódio e ouviu o sinal tocar indicando que estava na hora de ir embora.
Todos saíam da sala, e Natalia perseguiu Lucas até a escada. Lucas estava descendo as escadas, ela o empurrou. O garoto desceu escada abaixo, Natalia correu e disse em seguida: "Não é só porque você é filho do vice-diretor e tem uma vida perfeita que você pode fazer isso comigo, agora receba".
Natalia foi para casa e já chegou recebendo uma bronca de Joseph pelo telefone.
-Então quer dizer que você empurrou um colega da escada? Natalia você ficou louca?! –Joseph estava muito assustado com o que havia acontecido.
-Ele começou Joe.
-Não interessa, você não é uma criancinha Natalia, você entende muito bem que essas coisas não se fazem.
Joseph saiu do trabalho e foi levar a menina até a escola, mas recebeu a notícia que Natalia havia sido expulsa.
-Você foi expulsa! Você quebrou o braço do garoto, ele é filho do vice-diretor. Meu Deus, o que eu faço?! –Joseph gritava com a menina que estava encolhida chorando. –Vou tentar te matricular na escola que tem aqui perto, não chore, você está errada e sabe disso.
-Eu não quero mais ir para a escola, eu nem queria estar aqui mesmo! Eu queria uma mãe, eu queria estar com qualquer outra pessoa, eu não aguento mais! –Natalia gritava pela casa chorando e se trancou em seu quarto ficando lá o resto do dia.
Ela conversava com a ovelha de pelúcia como se fosse sua única melhor amiga.
-Eu não entendo, ás vezes eu sinto como se tudo estivesse contra mim, eu gosto muito do Joe, mas não acho que eu estava errada. Se eu tivesse uma mãe, eu não estaria passando por isso, eu nem queria estar aqui. –Natalia dizia como se a ovelha de pelúcia estivesse escutando atentamente.
Por sorte, Natalia foi aceita na outra escola, onde passaria o resto de sua vida.
O resto do ano foi até que tranquilo, sem confusões, mas Joseph ainda se preocupava. Em janeiro, foram visitar Cordelia e Christopher, conseguiram passar um bom período lá e Joseph se preparava para o resto do ano.
A menina já estava completando 9 anos de idade. Já estava acostumada com a rotina de ficar sozinha. Joseph trabalhava quase o dia todo no mercado e Jonathan ficava na casa do amigo ás vezes, mas tentava evitar para não deixar a irmã sozinha. Por ter só essa idade e ficar sozinha muitas vezes, Natalia ia ajudar Joseph no mercado que ele tinha há muitos anos, onde ele construiu e mantinha desde que era casado com Cordelia. Geralmente, Natalia costumava ir á uma lanchonete que ficava próxima do mercado. Fazia quase parte da rotina da menina ir á lanchonete, o gerente era um antigo amigo de Joseph e os funcionários já estavam até mesmo acostumados com Natalia frequentando o lugar. Não era um lugar muito cheio, mas era um lugar que confortava a menina, ela costumava ir lá para almoçar com o dinheiro que Joseph lhe entregava, quando sobrava dinheiro ela comprava algum doce. Os funcionários conversavam com a menina de vez em quando, mas nunca deixavam o trabalho de lado, todos adoravam Natalia, ela gostava de conversar sobre o que fez de interessante ou legal no dia a dia. Estando calor, frio ou qualquer outra coisa, a menina iria para a lanchonete, era um de seus lugares preferidos. Ela já estava acostumada, só não gostava de ficar sozinha, ela precisava de amigos. Na escola em que estudava não haviam pessoas interessantes que fossem querer ser amigas de Natalia, não passavam de colegas de sala de aula.
Todas as férias de verão, ela e o irmão iam visitar Cordelia, Christopher e a família de Cordelia. Os irmãos estudavam muito, a prima que mais gostava também ficava muito tempo estudando já que a prima de sua idade a odiava e não gostava das mesmas brincadeiras dela, então passava seu tempo com os mais velhos. Ia com Donna na feira e passeava com a tia pelo centro comercial, aprendia a cozinhar com o tio e ouvia música com Cordelia. De vez em quando, os irmãos iam andar de bicicleta com ela e compravam doces e sorvetes nos postos de gasolina que tinham por perto. Era uma vida que Natalia se acostumou e gostava, apesar de não ser tão interessante para uma criança da idade dela.
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