História Chocólatra (Kacchako) - Chocolate ao leite

 

    Lá estava, envolto de uma fita vermelho-bordeaux com bordas em dourado, finalizada com um belo e suntuoso laço.

    A caixa com a tampa transparente, revelando os oito bombons de chocolate com licor de cereja. Era uma marca cara, daquelas que se compra em situações especiais.

 

    Ochako e chocolate são amantes e inimigos de longa data. Uma chocólatra no armário, sempre evitando olhar para as vitrines de docerias e chocolatarias, quando passa pela calçada.

 

    Um ser desumano e cruel as havia mandado para destruir seu autocontrole e bom senso.

    Maldito seja esse monstro.

 

    ♥ ♥ ♥

 

    

    Ochako os havia devorado em uma noite, acompanhada de filmes de comédia romântica, segurando forte aquela notinha escrita rapidamente em caneta preta.

 

    "De:

    Para: Ochako"

 

    Sem nome, sem endereço. Apenas um espaço em branco, repleto de segredos e perguntas que nunca terão resposta.

 

    Tinham duas possibilidades maiores.

 

    A primeira, que alguém realmente a admirava secretamente. Ela poderia ser crush de uma pessoa tímida, ou insegura... E alguém em específico vinha à sua mente.

    

 

    A segunda, e pior possibilidade, é que alguém já tinha descoberto sobre sua dieta e estava cruelmente determinado a arruiná-la.

 

    Cortou açúcares e diminuiu carboidratos, têm se mantido sob controle o máximo que pode, para alcançar a forma que deseja.

    Gostaria de dizer que é por saúde, realmente gostaria. Mas, infelizmente, esteve se sentindo um pouco insegura com seu peso ultimamente, se olhando demais no espelho, se sentindo um pouco desajeitada e fora de forma, mesmo treinando quase todos os dias.

    Ela é uma heroína, e futura ProHero, não pode se deixar levar pela sua indulgência. Queria ser como ele, como o herói que admira, e as vezes mesmo se pergunta, “O que o Izuku faria?”.

    Era sua inspiração para uma Ochako perfeita.

 

    Logo quando estava começando a se acostumar com sua nova vida sem doces, alguém enviou-nos para ela. Algum enviado do demônio.

 

    Tinha alguém em específico em mente para esta possibilidade, também. Alguém que parecia determinado a arruinar seus planos.

 

    Entrou na sala de aula, e se deparou com eles dois.

    Izuku e Katsuki.

    

    Suas duas possibilidades.

 

    ♥ ♥ ♥

 

    

 

    Ele reclinou-se sobre a mesa, com aquele jeito cheio de marra de sempre.

 

    - Ei, Bochechuda. - Referia-se à ela, e sorria maliciosamente. - Chegou atrasada, pra variar.

 

    - Ainda não deu a hora, Bakugou. - Ela respirou fundo e se controlou, sentando-se ao lado do outro rapaz, que até então a observava silenciosamente.

 

    - Oi, Uraraka-san! Você está bem? - Izuku tentou dispersar a atmosfera pesada.

 

    Aquela pergunta alfinetou um pedacinho da sua alma, não entendia muito bem o porque. Talvez parecesse cansada.

 

    - Estou bem! Obrigada por se preocupar. - Sorriu, e recebeu outro sorriso gentil de volta do seu amigo.

 

    - Tá com umas olheiras enormes.

    Bakugou falou em alto e bom tom. Uma veia devia ter pulsado na testa de Ochako, mas logo se viu pronta para lhe dar um tapão na cabeça.

    Se parou por pouco.

 

    - Cala a boca, Bakugou. - Disse baixinho.

 

    A aula começou, e continuou sua rotina de estudos normalmente.

    O dia passou rapidamente, mas aquela pergunta ainda pipocava em sua mente de vez em quando, e se perguntava quem deveria ser o "admirador secreto". O culpado por ter fugido de sua dieta restrita.

 

    

    Almoçou o mesmo que almoça todos os dias, com todos os nutrientes contados. Fez a rotina de exercícios que fazia todos os dias, e caminhou pelo mesmo caminho.

    Logo, estava andando de volta à seu dormitório quando esbarrou acidentalmente no garoto musculoso de olhos avermelhados.

 

    - Olha por onde anda, bochechuda. - Ele disse rudemente.

 

    - Ei! Foi você quem veio na minha direção! - Respondeu de pronto.

 

    - Talvez eu tenha vindo, mesmo. - Katsuki disse, e logo depois sorriu.

    O que ele quis dizer?

 

    Havia esbarrado nele várias vezes nos últimos dias, parecia ser uma coincidência de início, mas agora, parece que suas rotinas são idênticas.

    Ele tem um roteiro oposto, mas praticamente igual ao dela.

 

    - Você é... - Ela se impediu de dizer o que queria, continuando o seu caminho.

 

    Logo sentiu uma mão apertar contra seu pulso, a puxando levemente de volta.

    - Sou o quê?

    

    Ele parecia algo entre intimidador e brincalhão.

 

    - ... Maluco. - Ela completou, ignorando sua atitude egocêntrica e seu risinho zombador.

 

    - Talvez eu seja. - Ele disse, e riu.

 

    "O que ele quer dizer quando diz essas coisas?!" Muito mais irritada, iria perguntar para ele quando o rapaz saiu caminhando na direção oposta, a deixando sozinha com seus vários pensamentos.

 

    Maldito Katsuki Bakugou e seus olhos vermelhos. Parecem constantemente intensos, como um leão pronto para o abate.

    Ao mesmo tempo, algo nele havia começado a chamar sua atenção ultimamente. Têm mostrado lados novos, que nunca havia revelado para outras pessoas antes, e não sabia quais desses lados eram o verdadeiro ele.

    Não o entendia. Nem um pouco.

 

    Sentiu aquela pontada no coração, algo um pouco animado e excitado, e um pouco irritante.

    Lá estava, uma nova caixa de chocolates, luxuosa e delicadamente decorada. Idêntica à que comeu ontem a noite.

 

    Quis lutar contra a sua indulgência, mas logo se encontrou no sofá do quarto, com a caixa em formato de coração no seu colo, completamente aberta.

    Já os havia comido pela metade.

 

    ...

    Talvez não fosse tão ruim assim.

 

    

 

    ♥ ♥ ♥

 

    Depois de um dia de voltar a comer o que já tinha medido milimetricamente...

    O encontrou, sentado em uma cadeira, sozinho no refeitório. Seu corpo largo virado para a mesa, parecia perdido em seus pensamentos.

 

    - Katsuki!

 

    Ele se assustou, especialmente por ouvir seu primeiro nome saindo da boca da garota

    - Bochechas! O que você tá fazendo?!

 

    Ela foi logo se sentando ao seu lado.

    - Comendo.

 

    Ele observou-na por um momento, enquanto ela puxava a refeição que havia feito para si. 

    - O que é isso?

 

    Olhando para seu prato um pouco confusa, ela tentava identificar o que Katsuki não havia reconhecido.

    - ... Cenouras cortadas?

 

    - Isso aí é metade salada, Uraraka. Que sem graça.

 

    Se aproximando um pouco mais dele, deu uma cotovelada em seu ombro e voltou-se à sua comida.

    - É o que almoço todos os dias! Não seja rude! Eu quem fiz...

 

    - Sei. Talvez por isso tenha essa cara. - Disse, com uma expressão de nojo.

 

    - E você faz melhor, por acaso? - Ela disse em tom desafiador.

 

    - Faço. - Katsuki deu de ombros. - Muito melhor. - Puxou de sua mochila seu próprio almoço, em uma caixa preta e um pouco menor.

    Tinha postas de carne cozinhadas ao ponto e uma salada de batatas.

 

    - Bakugou! - Ochako praticamente pulou da cadeira ao ver a sua refeição quase opulenta demais para ser o almoço de um estudante. - Parece ótimo! Não sabia que você cozinhava.

 

    - É claro que cozinho, besta! - Disse, um pouco envergonhado com a sua reação, o qual mascarava com irritação aparente. - Faço para mim mesmo todos os dias.

 

    - Que incrível! - Os olhos da garota brilhavam.

 

    Um pouco desconfortável de vê-la aparentemente comparando os seus bentos, o garoto empurrou o seu próprio almoço em sua direção, fazendo a expressão mais indiferente que conseguia.

    - Fica. Não tô com fome.

 

    - Bakugou! Eu não- - Antes que ela pudesse recusar, ele roubou sua comida da sua frente e lambeu a salada, resultando em uma reação chocada da garota.

    - O quêêêê? Bakugou, eu não disse que você podia!

 

    - Já era. Agora é meu, você tá presa com o meu almoço.

 

    Ochako olhou para frente, com a oferta quase impossível de negar do garoto a seu lado.

 

    - Obrigada... - Disse timidamente.

 

    - Se não fosse por mim, você passaria fome. - Ele comentou, assim que a moça terminou de comer a sua comida.

 

    - Sim, muito obrigada pela comida, Bakugou! Não sei como te agradecer. 

 

    - Só... Come melhor. Você tá emagrecendo.

 

    A garota o observou, surpresa. Ele estava soando como uma avózinha preocupada com a neta.

    - O... O quê? - Ela riu consigo mesma, aproximando seu rosto do dele. - Não escutei o que penso que acabei de escutar, certo?

 

    - Cala a boca, Uraraka. - Ele a empurrou, parando com a mão em seu rosto por um momento.

 

    Estava fitando-na, mas algo em seus olhos estava diferente. Era uma forma de vontade, ou de desejo, estampados em seus olhos vermelhos. Parecia prestes a dizer algo importante, talvez pedir por algo.

    Sua mão posta em seu rosto quase parecia gentil demais, vinda daquele garoto rude.

    Mas, logo, ele virou o rosto e afastou-se.

 

    - Vai logo, come a sobremesa. - Ele disse, e parecia um pouco corado e sem jeito.

 

    - Que sobremesa? - Ochako estava um pouco confusa.

 

    - Quê?

    Katsuki Bakugou virou-se, com uma expressão entre irritação e choque em seu rosto.

    - Você comeu todos os chocolates em um dia?!

 

    Um longo silêncio desconfortável se estendeu entre os dois e, logo, ela havia entendido.

 

    Ele engoliu em seco, trazendo o próprio torso para trás.

 

    - Quem me mandou aquilo foi você?!

 

    Fogo queimava nos olhos da garota, e ela estava prestes a socar alguém. Ele obviamente não esperava por aquela reação.

 

    O pior é que ele estava certo. Ela havia comido todos os chocolates em um dia.