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História Chrysalism - Kazuscara - Capítulo X. - História escrita por scaravodka - Spirit Fanfics e Histórias
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História Chrysalism - Kazuscara - Capítulo X.


Escrita por: scaravodka

Notas do Autor


ESSE CAPÍTULO TEM CENAS DE AUTOMUTILAÇÃO/TENTATIVA DE SUICIDO

eh mais pro finalzinho ta gente

eu revisei isso aqui quando tava na faculdade nem sei se acabei deixando alguma coisa sem explicar direito ejbdhdheh mas eh isso se vcs virem um erro nao vcs nao viram <333

Capítulo 10 - Capítulo X.


Scaramouche emendou em uma longa conversa sobre rotas de fuga, usando do mapa estendido em suas pernas para indicar cada passagem e para onde davam. Kazuha não sabia de onde ele tinha tirado aquele mapa, que pareceu invocar de um gesto elétrico que fez com as mãos, mas ouvia tudo atentamente, assimilando cada saída e entrada que lhe era mostrada. Era confuso, definitivamente confuso para sua cabeça entender aquele lugar que mais parecia um labirinto, mas mesmo assim tentou acompanhar o ritmo, muitas vezes pedindo para que voltasse e falasse de novo sobre a mesma saída.

Havia uma ansiedade crepitante em seu coração, uma expectativa ardente que refletia em seus olhos da forma mais pura, o desejo pela liberdade de volta. Ele não conseguia ter certeza de quantos dias haviam se passado desde que fora sequestrado e tivera sua visão arrancada de si, mas já sentia como se fosse o bastante, o suficiente para desgastá-lo emocional e fisicamente. Sua vontade de sair daquele lugar já tinha o movido a tentar isso logo no primeiro dia, ele achou que suas esperanças tivessem se tornado cinzas depois de perceber que suas tentativas eram em vão. Mas agora havia uma nova oportunidade, oportunidade essa que parecia mais firme, que o fazia realmente esperar por reencontrar os ares puros e o frescor da brisa suave que costumava sentir acalmar sua mente.

Era ainda um pouco... diferente que tivesse o apoio de Scaramouche, alguém que imaginou que pouco se importaria com sua situação no primeiro momento que conversaram. Ele tinha mostrado uma versão de si que Kazuha não esperava ser capaz de existir, e talvez até o próprio mensageiro desconhecesse ainda esse seu lado, mas havia lhe dado esperanças. De ver os fogos de artifício, mas mais importante ainda, de estar de volta em casa.

Não poderia perder essa chance agora. A cada instrução que Scaramouche lhe dava, assegurando que o cobriria e ajudaria caso visse que as coisas pioraram, ele conseguia ver realmente um futuro.

Ele apenas se deu conta de que seus olhos estavam inundados quando uma lágrima desceu por seu rosto e pingou em um ponto qualquer do mapa.

“Kazuha? Está tudo bem?”, Scaramouche parou com seu falatório, desviando para ele um olhar atencioso.

“Sim, sim”, Kazuha respondeu depressa e arrumou a postura, limpando com o dorso das mãos o rosto. “Eu só... me emocionei”, um sorriso apareceu em seus lábios.

“Vai dar tudo certo”, disse Scaramouche, e segurou-lhe as mãos junto as suas. “Você vai conseguir fazer isso.”

A convicção com a qual dizia isso, e a forma como olhava-o fixamente, Kazuha realmente sentia-se seguro com suas palavras. Suas mãos eram quentinhas, um toque leve que jamais imaginou que fosse sentir ali, seu olhar recaiu sobre elas juntas com um sorriso pequeno.

“Não quero que nada ruim aconteça com você caso...”

“Não vai”, Scaramouche segurou mais forte suas mãos, respondendo antes que terminasse. “Mas também... caso alguma coisa saia fora do planejado, vou fazer o melhor para que mesmo assim você consiga passar para o lado de fora. Não se preocupe comigo, as consequências que eu posso sofrer sendo pego te ajudando são bem menores do que as que você talvez pegaria.”

Kazuha levantou o rosto de volta para ele, e seus olhos guardavam hesitação, medo.

“O que poderia acontecer?...”

“Não vamos falar disso agora, não vai acontecer”, Scaramouche tentou ser leve em suas palavras, procurando acalmá-lo e também a si mesmo. “Vamos voltar para aqui”, ele colocou o indicador no mapa, sobre o ponto no qual haviam parado.

Kazuha continuou como que ponderante por um tempo, mas voltou a atenção para o mapa, inclinando-se novamente com os cotovelos nas pernas para escutar o restante da explicação de Scaramouche, e suas preocupações foram sumindo de pouco em pouco enquanto o escutava.

Eles ficaram imersos nessa conversa por tempo que nenhum dos dois conseguiu estimar, reanimando a esperança que tinha ameaçado desaparecer em Kazuha.

Mas assim como tudo o que é bom pouco dura, ele viu seu ânimo morrer quando os cliques no painel de controle soaram para seus ouvidos, e percebeu que alguém desbloqueava a porta.

Scaramouche calou-se no mesmo instante que ouviu o rangir do metal pesado e fez desaparecer o mapa de seu colo, arrumando a postura na cadeira enquanto lançava o olhar mais calmo possível para Dottore parado no limiar da porta como quem procura pelo único erro que falta em um jogo de 7 erros.

“Oi, Dottore”, Scaramouche saudou, sorrindo de forma forçada. “Está tudo bem com você?”

Kazuha permaneceu imóvel, olhando para o mensageiro com o semblante levemente apavorado.

Dottore varreu o espaço com olhos atentos.

“Não, acabei de perder mais um ratinho”, ele respondeu, sua voz guardando um nítido tom de raiva. “Humanos inúteis, não conseguem aguentar nada que ultrapasse uma gota da dose indicada. Fracos.”

Ele pronunciava com ódio, cuspindo as palavras com desgosto, algo que fez o olhar de Kazuha vacilar.

“Hm, tudo bem”, Scaramouche pareceu indiferente no entanto. “Você vai encontrar outro pra substituí-lo, não vai? Não tem por que se irritar quanto a isso.”

“É claro que vou! É só que é... frustrante!”, exclamou, agitando as mãos. “Mas... é, você tem razão”, seu tom baixou, direcionando um olhar estranho para Kazuha. “Vou encontrar um melhor logo.”

Kazuha estremeceu diante do sorriso que dividia suas feições, desviando os olhos dele para baixo com uma face apreensiva.

Scaramouche não estava totalmente alheio ao que o cientista queria dizer, mas levou alguns segundos para que compreendesse inteiramente. E tão logo o fez, preocupou-se.

“Era só isso o que você queria dizer?”, ele olhou para Dottore, procurando desvendar suas reais intenções aparecendo ali.

“Ah, sim, vim ver se você ainda estava aqui pra dizer isso. Childe está na biblioteca e ele está chamando por você, disse que tem uma coisa pra te contar.”

“Que tipo de coisa?”

“Não faço a menor ideia, mas ele disse que é sobre você, então creio que seja importante.”

“O que esse idiota quer agora?”, resmungou irritado, mais para si mesmo.

“Vai lá ver, eu não vou machucar sua preciosa princesinha enquanto você estiver fora”, Dottore lançou-lhe um olhar, no rosto um sorriso dissimulado.

Scaramouche não lhe deu a honra de uma resposta, encarando-o com repugnância odiosa antes de voltar-se para Kazuha.

“Vou voltar depois”, disse, baixo e de forma calma para ele e então levantou.

Kazuha pareceu sofrer com isso, os lábios tremendo enquanto o via passar pelo cientista em direção à porta.

“Ei, não chore...”, a voz de Dottore era forçada, e Kazuha odiou o olhar de pena que caiu sobre si quando ele se aproximou, logo depois que a porta foi fechada. “Ele disse que vai voltar, não foi? Está tudo bem.”

Ele falava como se Kazuha fosse uma criança de três anos, desamparada da única figura de conforto que possuía para ser largada em uma vida que apenas o faria sofrer. Basicamente era dessa forma que Kazuha se sentia, a única diferença era que ele não era uma criança e conseguia perceber muito bem o tom fingido em sua voz, o falso sorriso que estampava seu rosto.

“Sabe, é bem bonitinho isso”, Dottore disse de repente, andando para a cadeira na qual Scaramouche estava. “Esse cuidado que ele tem com você. É realmente algo inédito”, continuou, pronunciando com um tom estranho na voz e como se estivesse na verdade verbalizando seus pensamentos para si mesmo. “Mas não se deixe enganar por isso! Ele consegue ser uma cobrinha bastante maldosa quando quer.”

“O que você quer dizer?”, Kazuha confundiu-se.

“Que assim como você não confia em mim você também não deve confiar nele.”

Ele tinha um sorriso estranho no rosto, e um medo acendeu em Kazuha.

“O que você...”

“Ah, não, não se preocupe com nada!”, Dottore interrompeu, gesticulando com o mesmo sorriso. “Só estou avisando, para que você não se decepcione no futuro caso ele mostre suas verdadeiras cores!”

Kazuha permaneceu em um estado perturbado de confusão, estranhando a forma como o cientista falava. Esse receio não estava exatamente ligado ao caráter de Scaramouche, e sim à uma outra questão.

Teria Dottore parado um pouco à porta antes de entrar, apenas para tentar ouvir sobre o que falavam? Kazuha queria acreditar ser uma ideia impossível, mas seria ingênuo pensar dessa forma, uma vez que esse termo parecia não existir tratando-se de Dottore.

Apesar disso, ele tentou manter a calma.

“Eu me importo muito com você, sabia?”

Mas seu coração estava batendo forte, e ele sentiu repulsa ao ouvir aquelas palavras, observando o médico inclinar-se para si com um sorriso. Ele sentiu o toque enluvado em seu queixo, irradiando em raios de pânico que cresciam como um choque em seu interior. A respiração travou na garganta.

“Acho que você merecia um presentinho”, as palavras soaram doces, mas o sorriso em seu rosto era ácido. “Sabe, por ser minha melhor peça.”

Kazuha olhou para ele. “Presente?”, sua voz mal saiu. Dottore balançou a cabeça. “Que tipo de presente?...”

Devagar o cientista se afastou, mantendo o mesmo sorriso enquanto levantava-se para ir em direção a porta.

“Vem comigo, tenho certeza de que você vai gostar.”

...

Kazuha ficou tenso o caminho todo de volta para o mesmo laboratório do qual havia saído há pouco. Ele sentou na maca fria, balançando os pés no ar com nervosismo enquanto esperava Dottore voltar de qualquer lugar que tinha ido lá dentro. A bagunça que ele fazia nesse meio tempo, de coisas caindo e resmungos intercalados por risinhos deixava Kazuha ansioso, ainda mais por não saber o que esperar.

Mas o cientista voltou depois de alguns minutos, e a pequena caixa que trazia em mãos foi para onde o foco dos olhos aflitos de Kazuha se fixaram.

“O que é?”, perguntou, acompanhando cada passo que Dottore dava até o carrinho médico mais próximo. “O que você vai fazer?”, sua inquietação era clara na forma como as palavras saíam de sua boca, como se estivesse ofegante.

Seu desespero, no entanto, pareceu irritar o cientista. “Pare de perguntar”, ele respondeu, deixando a caixa sobre a superfície metálica para abri-la. “Não tem graça se eu simplesmente dizer.”

“Mas...”

“Shh...”, ele levou o indicador aos lábios, com uma expressão severa.

Kazuha calou-se, os olhos caindo outra vez nas próprias mãos. Ele continuou tenso no intervalo de tempo que Dottore permanecia naquele carrinho, perguntando-se se haveria alguma agulha ou objeto cortante dentro daquela caixa e imaginando em toda e qualquer coisa que o cientista pudesse fazer com isso.

Não demorou muito para que ele saísse de lá, e tão logo percebeu Kazuha levantou o rosto, olhando para o objeto que ele trazia. Em um primeiro momento não conseguiu identificar o que era, porém ao chegar mais perto ele pôde ter uma visão melhor: um disco circular e dourado sobre uma superfície fina da mesma forma porém em tons prateados.

“O que é isso?”, perguntou Kazuha, desviando o olhar das mãos do cientista para seu rosto.

Isso... é para você nunca se esquecer de mim.”

O carinho em sua voz era distorcido, colocou a mente de Kazuha em alerta, observando de forma tensa quando Dottore alcançou sua mão esquerda, segurando-a com o pulso voltado para cima.

“O que você...”, Kazuha começou a perguntar, mas sua voz foi abruptamente cortada pelo repentino contato de algo quente em sua pele. Aconteceu rápido, e ele em pânico notou que o disco na realidade se tratava de um carimbo quente, e estava em seu pulso, queimando em sua pele e irradiando uma dor ardente.

Seu primeiro instinto foi puxar o braço de volta. Ele tentou isso com uma exclamação sufocada, mas o toque de Dottore ainda estava em sua mão, segurando-a sobre a sua e mantendo-a no lugar de forma nada gentil.

“O que?... solta...”, saiu fraco de sua boca, os olhos começando a arder com lágrimas. Ele tentou usar a outra mão para tirar Dottore de perto, mas o cientista foi mais rápido em retirar o carimbo de sua pele, deixando-o ao lado na maca para agarrar firmemente seu pulso direito.

“Você não quer que eu te machuque, não é?”

Kazuha viu as íris avermelhadas fitarem as suas profundamente, uma ameaça silenciosa, mas não tão mascarada. Ele queria dizer que já estava machucado, que a dor era insuportável de sentir ser carimbado com algo tão quente como aquilo. Porém nada conseguiu pronunciar, as palavras morrendo em sua garganta pelo aperto das lágrimas, ele não fez nada a não ser calar-se, sentindo-se obrigado a isso para não acabar de uma forma pior.

“Ótimo, então me deixe terminar”, com isso, Dottore soltou o aperto em seu braço direito e pressionou novamente o disco em seu pulso.

Kazuha espremeu os olhos, recusando-se a olhar para qualquer que fosse a marca que isso deixaria em seu pulso.

Mas Dottore parecia fazer questão de que visse.

“Pronto, abra os olhos!”, ele exclamou, e sua voz assustou Kazuha, fazendo-o instantaneamente abrir os olhos e encarar a figura formada em sua pele.

Seus olhos encheram-se de espanto. Em perfeitas linhas estava cravado em sua pele o símbolo do Fatui, traçado em um vermelho vivo que parecia sangrar ao mínimo toque. Kazuha fez isso, levando o indicador até o próprio pulso, apenas para ter certeza de que estava ali. Não sangrou como achou que fosse, mas algo quebrou em seu coração ao tocar aquela marca.

“Por que...”, sua voz falhou, e os olhos enfim deixaram uma lágrima rolar. “Por que fez isso?...”

“Ei, não precisa chorar!”

Kazuha sentiu o polegar do cientista afastar a lágrima em seu rosto, mas era áspero, fez seus olhos transbordarem com mais lágrimas, desviando o rosto para o lado. Ele fitou novamente a marca ardente em seu pulso, com uma mistura de tristeza e raiva.

“Não é algo ruim”, Dottore recolheu o carimbo e foi para o carrinho médico. “Só vai doer um pouco nas primeiras horas, depois passa.”

Kazuha tinha quase certeza de que não passaria. Não era apenas em sua pele que doía.

“Eu não quero ficar com isso”, ele murmurou, sem desviar os olhos do símbolo. “Tira...”

Houve um instante de silêncio antes que Dottore desatasse a rir, como se tivesse acabado de ouvir a piada mais engraçada de toda a sua vida.

“Não, não! Não tem como tirar!”, ele dizia no ritmo de sua crise histérica. “Acho que eu ainda não disse isso, disse?”, de repente parou, tomou um ar pensativo e então voltou para Kazuha. “Com isso”, ele baixou um dedos sobre o símbolo. “Eu estou dizendo que apesar de te usar eu não vou te matar. Sabe? São poucos os ratinhos que eu coloco essa bela marca, você devia se sentir grato por isso”, inclinando-se para ele, sorriu. “Mas... tudo bem! Se achar que não suporta aguentar um leve calorzinho”, então arrumou a postura. “Eu posso acender uma fogueira e jogar você nela, o fogo consumiria seu corpo de uma vez e você não precisaria sentir em só um ponto essa ardência chata.”

Ele proferia com uma indiferença risonha, deixando cair sobre Kazuha um olhar que pedia por uma resposta.

“Então? O que escolhe?”

O silêncio pesou no ambiente enquanto Kazuha fitava os olhos do cientista, sem muita coragem de continuar mantendo esse contato desviou para baixo outra vez. A pergunta estava espremendo sua cabeça atordoada, como se as próprias mãos do cientista estivessem fazendo isso. O ar de repente parecia escasso, sentindo todo o peso do olhar dele sobre si mesmo sem ver. Ele sabia que não era apenas uma ameaça, ele estava falando sério sobre aquela fogueira.

“Vou ficar... com isso”, disse Kazuha por fim, baixo e sem levantar a atenção de seu pulso.

A resposta pareceu agradar Dottore, que sorriu com satisfação e grande ânimo. “Bom garoto!”, exclamou, com dois tapinhas leves no topo da cabeça de Kazuha.

Ele tremeu, apertando os olhos antes de abri-los novamente.

“Você vai me levar de volta pra cela?”, perguntou, vendo que Dottore se afastava para a porta.

“Oh, é mesmo”, ele parou. “Você não esquece mesmo, né?”, um riso fraco o deixou, com certo tom de irritação.

Kazuha hesitou. “Me leva de volta... por favor”, a marca em sua pele doeu, e como se tentasse amenizar ele segurou o pulso com a outra mão. Mas apenas fez arder mais. “Por favor...”

Do limiar da porta Dottore o olhou de cima a baixo.

“Está bem, está bem!”, exclamou, agitando uma mão. “Mas não se acostume com isso, Scaramouche está servindo como um assistente para mim apenas temporariamente”, ele ia voltando-se para a porta outra vez. “Espere...”, então, como se alguma ideia tivesse brotado em sua mente ele parou, levantando um dedo no ar como que ponderando alguma coisa. “Ah, sim, sim...”, murmurou para si mesmo, virando-se novamente para Kazuha com um olhar sorridente. “Você não acha aquela cela muito... sufocante?”

A pergunta fez Kazuha confundir-se.

“Vou falar para ele vir aqui, pode ser?”

Ele tinha um sorriso cheio de expectativa no rosto, o que fez Kazuha silenciar por algum tempo, achando estranha a forma como os olhos do cientista brilhavam, como se guardassem no fundo algum interesse específico. Ele não respondeu verbalmente, então apenas balançou a cabeça de forma contida e viu Dottore sorrir.

“Ótimo! Vou trazê-lo!”

Com isso ele se retirou do laboratório, batendo a porta com uma força animada, animada demais para Kazuha, que ainda encontrava-se em um estado de completa confusão, choque, medo e tristeza.

Seu olhar caiu novamente sobre o símbolo em seu pulso, e seus lábios tremeram, os olhos voltando a encher de lágrimas tornando a visão embaçada. Não queria ficar com aquilo cravado em sua pele, era horrendo, feio e não lhe passava boa sensação. Precisava encontrar alguma maneira de tirar, ou ao menos cobrir.

Talvez tivesse ainda algum tempo antes de Scaramouche voltar, então, jogando as pernas para a frente ele desceu da maca, e descobriu, tão logo seus pés tocaram o chão que seu corpo estava fraco. Quis chorar, percebendo a fraqueza que tomava seus membros.

Parte disso era por causa da perda de sua visão ele sabia, já ouvira relatos de pessoas que depois de terem suas visões arrancadas de si acabaram em um estado decadente, tanto emocional quanto fisicamente. Dependia da força do impacto que a perda teve na pessoa, por isso que ele tentava dizer para si mesmo que não ligava, que poderia viver normalmente sem ela da mesma forma como fazia antes. Era algo que vinha repetindo em sua cabeça desde o momento que percebeu que se ficasse fixado demais na ideia de tê-la perdido poderia definhar. E ele não queria de forma alguma que isso acontecesse.

Estava mentindo para si mesmo fazendo-se acreditar que a perda não o tinha impactado, mas preferia continuar fazendo isso, pelo menos até conseguir acreditar completamente que era verdade, que nunca tivera uma visão e mesmo que uma vez houvesse possuído uma, a falta não era algo sentido.

Com alguns passos em direção ao balcão mais próximo, Kazuha começou a procurar nas gavetas não apenas algo para fazê-lo esquecer a dor latejante em seu pulso, mas também algum sinal de sua visão. Inconscientemente ele fez isso, buscou por qualquer coisa semelhante a orbe Anemo nos vidros escuros. Não era sua principal intenção quando tinha posto os pés para fora da maca, mas suas mãos pareciam se mover sob o impulso disso agora.

Ele viu, em alguns recipientes sobre as longas mesas que espalhavam-se pelo laboratório, orbes cintilantes, reluzindo contra a pálida luz amarela das longas lâmpadas sobre sua cabeça, de visões muito diferentes da sua, algumas até parecendo ter dois ou mais elementos fundidos. Não sabia que isso era possível, mas ali estava, visões Pyro Dendro juntas em uma única orbe, Electro e Cryo, Geo, Dendro e Electro.

Mas nada de uma visão Anemo.

Quanto mais olhava para os frascos e não encontrava nada que pudesse pertencer a si, mais suas esperanças se esvaiam. E então, quando enfim seus olhos captaram, em um canto da mesa na qual havia ido, sobre um prato de metal enferrujado uma orbe cristalina quebrada, exalando linhas de fumaça cinza que ondulavam de forma mórbida para cima, ele sentiu seu coração parar.

Dottore parecia não apenas misturar visões, como também parecia gostar de destruí-las. A fumaça fina era a prova disso, de que o elemento, Cryo, a julgar pelos resquícios de gelo que se espalhava pelo metal escuro do prato como se um fogo muito forte tivesse sido pressionado ali, havia perdido definitivamente suas propriedades de vida. Não poderia ser usado outra vez.

Pensar nisso, na pessoa que o perdeu, provavelmente uma criança, visto que elas pareciam ser a maior parte que constituía os sujeitos de teste de Dottore, fez em Kazuha uma emoção estática se apoderar.

A marca em seu pulso doeu, como se quisesse lembrá-lo de que ainda estava ali. Pareceu mais insuportável agora, e o fez avançar novamente para as demais gavetas, abrindo-as freneticamente e bagunçando seu interior na busca desesperada pela sua visão. Vidros acabaram sendo derrubados, e objetos de metal despencaram ao chão com baques altos e ardidos. Ele não se importava com nada disso, entretanto, a atenção fixa em apenas encontrar sua visão, qualquer outra coisa ao seu entorno era anulada.

Mas não havia qualquer sinal de que pudesse estar ali. Nada, nem uma visão Anemo sequer. Suas mãos pararam espalmadas sobre a outra mesa para a qual havia ido. O silêncio cortou seus ouvidos e ele percebeu que estava ofegante, olhando fixamente para os vidros derrubados, alguns até inclusive derramando algum líquido.

Seus pensamentos ficaram em branco, mas ele conseguia sentir como uma pulsação vermelha em seu cérebro a dor latejante em seu pulso ficando cada vez mais intolerável.

Ele virou o rosto para a direita, mas não sabia pelo que estava a procurar agora. Seus olhos ardiam e os braços estavam trêmulos. A possibilidade de sua visão estar na mesma situação da que acabara de ver gritava junto da dor excruciante em sua pele. Era torturante, seus pensamentos em uma abominável dissonância. Precisava livrar-se daquela agonia que parecia correr seu cérebro, seu corpo.

Ele virou o rosto para o lado oposto, sem pretensão alguma, mas aconteceu de seus olhos encontrarem, em um canto deixado ao acaso sobre a mesa, perto de frascos redondos, uma navalha. Kazuha ficou algum tempo parado olhando para o objeto, a lâmina reluzindo para seus olhos marejados, ele não pensou direito quando em um ímpeto alcançou a navalha, sentindo a cabeça girar assim que a segurou na mão direita.

Não conseguia pensar em nada mais com clareza. A possibilidade de encontrar sua visão, fogos de artifício ou qualquer chance de sair daquele lugar, o branco que tomava sua mente apagou isso tudo. Apenas um pensamento corria em sua cabeça. Era assustador, fazia suas mãos tremerem e a respiração ficar descompassada. Mesmo assim, ele não achou que conseguiria controlar. E foi por impulso disso que a lâmina encontrou sua pele, em cima da horrenda marca do Fatui, bem onde encontravam-se talvez as veias mais importantes que mantiam-no vivo.

Em uma linha fina o sangue escorreu, deslizando por sua pele pálida entre as marcas vermelhas do símbolo. A dor se irradiou como em pequenos choques para seu cérebro e ele apertou os olhos, os cotovelos cedendo ao mantê-lo apoiado sobre a mesa. Um frasco de vidro foi derrubado no processo, um daqueles que já estavam caídos sobre a superfície. Kazuha o viu despencar ao chão, mas não fez nada sobre isso, sentindo sua cabeça girar a cada toque que exercia com a lâmina em sua pele, na tentativa desesperada e em vão de tirar dali a marca que o lembraria para sempre daquele lugar.

Tirar. Era essa a única palavra que ecoava em seus pensamentos. Adormecido pela falta de razão, ele não sabia dizer o que era pior, se o calor de quando aquilo foi cravado em sua pele ou o frio da lâmina. Ele não procurou por respostas, incapaz de pensar com clareza junto da angústia que em forma de lágrimas despencavam de seus olhos.

O sangue manchando a madeira clara da mesa, ele assistiu cada gota pingar de seu braço com profundo pânico, mas sem conseguir parar, vendo que as linhas fortes do símbolo continuava em sua pele, mesmo inundada pelo vermelho de seu sangue, ainda estava lá. Seu coração errou uma batida, a tontura tornando sua visão turva e embaçada, ele baixou a cabeça quando achou que não fosse mais suportar, as pernas vacilaram e ele enfim cedeu sua força, seu corpo desequilibrando para o chão. Ele ainda tinha certo domínio de seus membros para conseguir colocar-se de costas para os armários da mesa, porém sentia suas forças se esvaindo a cada respirar.

Nunca em toda sua vida imaginou que fosse estar em uma situação como aquela, ele sequer conseguia lembrar agora do por que de ter pego aquela lâmina, mas ela ainda estava em sua mão e embora o toque pegajoso de seu próprio sangue lhe causasse náuseas ele não a largou.

Estava para pressionar novamente a lâmina na pele, pretendendo fazer isso mais fundo dessa vez quando a porta foi de repente aberta. E a voz de Scaramouche fez seu coração parar.


Notas Finais


tava vendo aqui agora mano ficou com uns paragrafos duplos aqui no final ou eu to doida oq aconteceu


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