Se alguém perguntasse a Yeeun se seu dia poderia piorar, ela responderia que não, seu dia já estava sendo horrível o suficiente, não tinha como piorar.
Primeiro que, sua única amiga tinha faltado, resultando em Jang sendo obrigada a ficar sozinha o dia inteiro, até porque não era um dos seres humanos mais sociáveis. Segundo que, era o dia das aulas de filosofia, história e artes, e isso já seria ruim o suficiente, se não estivesse sozinha. Tendo que passar por essa tortura semanal, agora estando abandonada.
Mais tarde Yeeun descobriu o porquê de Seeun ter faltado, era apenas uma gripe que passaria logo logo, mas tendo uma mãe que conseguia deixar tudo cinco vezes maior, parecia que a garota estava em seu leito de morte. Mas tudo bem, ela já estava acostumada com isso, então viveria o restante da manhã e depois disso, no mesmo dia ou em outro, passaria na casa dela, para ver como a garota estava.
Teria dado tudo certo se não fosse por, repentinamente, começar a chover. Não era a maior tormenta, mas era o suficiente para que Yeeun se molhasse até chegar em sua casa, ou a da Seeun, caso decidisse ir lá.
— Hoje não é meu dia… — resmungou completamente infeliz. Ela ainda estava na área de trocar os sapatos, mal tinha feito isso, estava desacreditada que ainda chovia, olhando para frente enquanto queria chorar, mesmo que um pouco.
Parecendo estar desamparada ela calmamente trocou seus sapatos, antes de caminhar para fora da escola, e ficar no pátio minúsculo que ficava em frente a porta, ainda ficou alguns instantes observando a chuva desejando que fosse alguma alucinação de seu cérebro.
Mas, claro que não era, ela não tinha enlouquecido ainda. Sua energia parecia ter sido sugada, há instantes ela estava tão animada, imaginando chegar em casa, comer, abrir seu YouTube e ver sua Youtuber favorita… mas tudo tinha ido ao ralo, agora ela estava na escola, aguardando que aquela chuva de verão evaporasse.
Em um silêncio choroso, Yeeun se sentou nas escadas e por alguns instantes apenas ficou observando os pingos de chuva, a chuva conseguia transmitir o que ela simbolizava, a Jang só conseguia sentir tristeza e decepção.
Depois de um tempo apenas olhando para frente e refletindo se deveria apenas sair andando e ignorar que a chuva a molharia, ela decidiu que não, não tinha nenhuma obrigação a cumprir em casa, ou fora dela, visitar Seeun poderia ficar para amanhã. Com isso em mente a garota retirou um livro, que faltava mais ou menos vinte páginas para concluir, para começar a ler, e se desse sorte, ir embora depois disso.
Seus sentimentos estavam em uma montanha russa. Se sentia em êxtase lendo o livro, mas assim que saia da história completamente imersiva e se recordava da sua situação, sua felicidade quase escorria de seu corpo para se misturar com a água da chuva.
A Jang se sentiu assim por bons instantes, quando faltavam poucas páginas, umas cinco páginas, um barulho se fez presente atrás de si. Mas ela não deu muita intenção, não era a coisa mais incomum ainda ter pessoas na escola após o horário, tanto alunos quanto professores.
O que Yeeun realmente prestou atenção nesses instantes foi quando um barulho se fez presente ao seu lado, até sentindo um objeto se batendo em sua perna. Antes mesmo que erguesse sua cabeça para ver quem era o autor dessa obra, uma voz animada se fez presente.
— Usa para ir para casa. — Quando Yeeun conseguiu enxergar viu que era uma garota, o tempo que ela levou para conseguir se lembrar quem era a garota, ela já estava há uma boa distância, mas não longe o suficiente para que fosse inaudível o que ela dizia. — Até mais!
Observando mais um pouco, conseguia notar que a garota se cobria com a própria mochila, assim substituindo o guarda-chuva deixado ao seu lado. Sim Jayun, quando a garota já não estava mais presente em sua visão, o nome dela veio em sua mente. Yeeun mal teve tempo de intervir na ação da garota, olhando para o lado percebia que era um guarda-chuva alaranjado.
De uma forma bastante desajeitada Yeeun fechou seu livro enquanto tentava marcar a página em que tinha parado de ler, quando finalmente conseguiu fazer, ela pegou o guarda-chuva em mãos e ficou um bom tempo parada o olhando. “Por que Jayun me daria seu guarda-chuva?”, isso passou por sua mente, as duas conversavam? Não.
Yeeun a conhecia por conta da Sim ser bastante falante, e consequentemente, falar muito alto diversas vezes. Ou seja, era impossível que Yeeun nunca tivesse trocado olhares com a garota, já que constantemente ela chamava a atenção. Mas o que não entrava em sua cabeça era que ela desse seu guarda-chuva para si.
A garota era tão gentil que até para uma estranha daria seu guarda-chuva enquanto se arriscava na chuva, se molhando quando poderia se priorizar? Ou… ela conhecia Yeeun de algum canto, era uma possibilidade. Afinal, as duas estudavam na mesma escola, não era impossível.
Ela abriu um sorriso enquanto encarava o guarda-chuva, apenas se lembrando da cena anterior, se lembrando da graça que tinha sido ter visto uma coisa daquelas. Ela não conseguia não se tocar em ver aquela meio conhecida se importando um pouco consigo. Mas, mesmo estando potencialmente sozinha, a Jang correu para esconder o sorriso bobo, mesmo que ninguém se importasse do porque ela sorria para um guarda-chuva.
Yeeun engoliu seco, rodeando seu olhar pela escola, verificando que de fato não tinha mais ninguém por ali, então finalmente largou aquele guarda-chuva, mas ainda deixando perto de suas pernas.
Abandonando o guarda-chuva voltou a ter sua atenção no seu livro que estava a um fio de completar, observou mais um pouco a chuva que ainda caia e suspirou. Se a chuva não tivesse parado até agora, o que seria ler mais cinco páginas restantes? E foi o que ela fez, Yeeun prosseguiu sua leitura calmamente, assim concluindo sua leitura.
Com um sorriso de gratificação, guardou o livro, pegou o guarda-chuva na mão e com o mesmo sorriso no rosto, por motivos um pouco distintos, a Jang jogou a mochila nas costas e em passos calmos ela caminhou até a chuva abrindo o guarda-chuva.
Finalmente poder ir para casa, isso gerava uma satisfação e alívio para Yeeun, nem era por mérito próprio, ela tinha ganhado de mão beijada. Mas não importava, talvez um pouco, pois a imagem de Jayun correndo na chuva rondava seus pensamentos. Provavelmente isso não sairia tão cedo de sua mente.
[ … ]
Provavelmente um dos maiores arrependimentos de Yeeun era ter uma amiga que morava no sentido oposto à sua casa. Ela tinha acabado de sair de lá, até conseguia lembrar exatamente da voz da mãe da garota, a Jang não sabia de onde tinha tirado tanta coragem para enfrentar a Senhora Yoon, até porque a mulher era extremamente preocupada com doenças e resfriados.
Seus pensamentos rodeavam os eventos de minutos atrás, deixando-lhe maluca. Yeeun por instantes se questionava se verificar se sua amiga estava bem valia a pena mesmo quando sua mãe era meio desesperada. Sobreviver a isso ela sobreviveu, sem problemas, tanto que caminhava na rua enquanto o sol estava fortíssimo, ao menos tinha uma boa notícia: Seeun estava bem.
Seus pensamentos deixaram de ser sobre a mãe de sua amiga quando começou a sentir que estava suando. Diferente do dia anterior, desta vez não tinha nenhum indício que choveria, já que desta vez ela fez questão de olhar a previsão do tempo para que não acontecesse novamente aquilo. — Um ótimo dia para uma bebida, né… — Fez até questão de olhar para o céu enquanto cobria seus olhos para não serem afetados pela luz do sol.
Com um suspiro cansado ela voltou a caminhar, mas um pouco mais atenta sobre os estabelecimentos da redondezas, tudo isso porque não era muito de comer fora, ou qualquer coisa assim. Mas para seu agrado não demorou tanto assim para que encontrasse uma cafeteria, bem rente à escola, o que lhe fez pensar o quão desinteressada era no mundo ao seu redor para nunca ter notado isso.
Deixando mais pensamentos de lado entrou na cafeteria, não rodeou o olhar pelo local, seu primeiro instinto foi procurar onde ficava o balcão para então conseguir pedir o que tanto sonhava.
Enquanto aguardava a pessoa à sua frente ser atendida, Jang conseguia sentir um pouco do vento fresco que o ar condicionado do estabelecimento soltava, só aquilo já fazia Yeeun ir aos céus, nem precisava pedir sua bebida refrescante para ela esquecer do sol que ela andava há minutos atrás.
— Boa tarde… — A atendente falava se referindo a Jang, que a esse ponto não tinha mais ninguém à sua frente. Enquanto dava poucos passos a frente a voz da atendente se fez presente, o que fez ela erguer mais rapidamente o olhar. — Yeeun?
Com as sobrancelhas arqueadas e o olhar nitidamente de surpresa, com um sussurro ela começou a falar. — Jayun…? — Estava em choque de encontrar a garota repentinamente trabalhando ali na cafeteria que ficava rentissima à escola.
— Eu mesma. — Com um sorriso no rosto ela concordou enquanto até chegava a balançar a cabeça. “Era por isso que ela me emprestou o guarda-chuva?”, tal questionamento passou por sua cabeça, mas nem pôde processar ele direito que Sim voltava a falar. — Conseguiu chegar bem em casa ontem?
— Uhum… — Passando a língua pelos lábios concordou em um pouco de timidez, era uma sensação estranha estar ali. Talvez fosse porque Jayun era um estudante da sua escola, assim sendo o choque de encontrar alguém que “conhece” por ali.
— Isso é bom! — Mas para ela não parecia desconfortável, já que suspirava de alívio com um sorriso enorme, como o esperado de quem conhecesse cinco por cento de Jayun. — Vai querer o que?
Como se ela recobrasse a consciência de que trabalhava ali, ela perguntou para Yeeun, que por poucos instantes pareceu esquecer a bebida que tinha vindo o caminho inteiro apenas pensando nela.
— Um café gelado, por favor. — Destravando, rapidamente falou, mas novamente, toda essa hesitação ou surpresa de Yeeun não parecia afetar a Sim, tanto que ela nem parecia perceber.
— Certo. — Cortando o silêncio, e a estranheza da cliente ela retornou a falar. — Pode se sentar onde quiser que depois a gente entrega ou te chama.
Yeeun assentiu assim que ouviu tais palavras e lentamente caminhou para um dos bancos mais próximos, que ficavam na própria bancada de atendimento, finalmente liberando para a única pessoa atrás de si ser atendida pela conhecida.
Ela deixou a pequena mochila que carregava consigo no chão, sem muito se importar, apenas ficou com seu celular em mãos, tentando se concentrar no que acontecia dentro dele. Mas parecia quase impossível, quando menos esperava estava com seu olhar sob Jayun, que não percebia, estava mais focada nos poucos, poucos mesmo, clientes e nos pedidos.
Ela ficava nesse vai e vem, olhando as vezes para a garota, e quando se tocava que estava há tempo demais a olhando desviava o olhar. Em sua cabeça começava a rondar mais pensamentos, principalmente por Jayun de fato saber quem é ela, ainda a reconhecendo e sabendo seu nome.
— Aqui seu café gelado — fazendo Yeeun sair do seu mundinho, Jayun falou em um tom calmo colocando o copo de café em sua frente.
— Obrigado — ela falou em sobressalto, já que como esperado de uma barista, ela já estava mais afastada, fazendo com que Jang ficasse com medo de ela não ouvir, mas não só isso, Yeeun gostaria de agradecer algo a mais que isso.
Ela ficou em silêncio, inicialmente apenas observando a Sim, ela deu um gole no café, até se lembrando do motivo que pedia a bebida e ficando nas nuvens por ter aquele gosto em sua boca. Mas assim que a garota chegou mais perto de si, por instantes, ela se forçou a voltar ao mundo, e então dizer algo.
— Ah… eu gostaria de agradecer… — com um tom bastante fraco, passando zero confiança em sua fala, ela resmungou. Para sua graça, talvez a cafeteria estivesse tão vazia e silenciosa que ela escutou.
— Pelo quê? — Por segundos a Jang se questionou se ela era uma cabeça de vento, como poderia alguém se esquecer tão facilmente?
— Pelo guarda-chuva… — voltou a resmungar, em seguida dando um bom gole em seu café. Apenas isso foi o suficiente para que finalmente Jayun se lembrasse do que a garota falava.
— Não foi nada. — Com seu sorriso ela falou com Yeeun, que ficou com os olhos fixados em seu sorriso, de tão adoráveis que eram, ela se questionava um pouco de como nunca tinha notado isso.
Mas, seus questionamentos e pensamentos mudavam rapidamente, por segundos Yeeun ficou se questionando se falava ou ficava em silêncio, mas era interessante ter o olhar da garota “recém” conhecida em si.
— Hm… Eu ia te entregar hoje, mas acabei me esquecendo… — Com um suspiro de decepção ela confessou, o que não era uma mentira, ela tinha deixado o guarda-chuva prontinho para levar para a escola, para então esquecer.
— Não tem problema, pode me entregar outro dia — a Sim voltava a falar, com o mesmo tom animador, porém não tinha seus olhos fixos em si, observando melhor Jang também notava que um cliente chegava. — Fico feliz que tenha chegado em casa bem, se cuide para não esquecer de olhar o tempo.
Como se fosse sua responsável dando sermão, e não uma colega de classe, Jayun falava seriamente, o que arrancou uma leve risada dela. Porém, não pôde responder, já que, como visto anteriormente, uma nova garota chegava para ser atendida, fazendo com que Jayun exercesse seu serviço.
Yeeun voltou a pensar sobre o que estava acontecendo, enquanto bebia seu café. Tentou não ter seus olhos totalmente focados na atendente, focaria em beber seu café e já descansar as pernas da pequena caminhada feita, para depois voltar para casa.
— Inclusive, nunca te vi por aqui. — Encarando a tela do celular, Yeeun ouviu a voz de Sim se fazer presente, lentamente ergueu o olhar podendo observar a garota falando enquanto já fazia outro café. — É a sua primeira vez aqui?
Ela demorou um pouco para responder, ainda estava apenas observando a garota dando prioridade a conhecê-la enquanto trabalhava. Era curioso, para não dizer estranho.
— Uhum… — resmungou dando mais um gole no café enquanto ainda tinha algumas dúvidas internas. — Fui ver minha amiga, e com esse sol quente quis beber algo.
Tentando ser um pouco rasa, para não entediar Jayun com sua vida, foi o melhor que disse. Mas a garota se virou, já com a bebida pronta, com os olhos brilhando, e então perguntou. — E está bom?
— Uhum. — Com um sorriso tímido, concordou.
Era possível notar um sorriso de gratificação no rosto da Sim, ela adorava ouvir de seus clientes, mesmo que em poucas palavras, que eles gostavam do café que fazia. Apenas ouvir isso já fazia seu dia.
Porém, a garota nada respondeu a Jang, já que ainda tinha trabalho a fazer. Deixando novamente Yeeun sozinha, que voltava a beber sua bebida, que já estava quase no fim, a fazendo suspirar em dúvida, deveria pedir mais uma?
Observando Jayun ficar finalmente parada, se permitiu observar a garota enquanto se preparava para falar.
— Quanto tá o café gelado? — Com um tom mais calmo, porém mais firme que os anteriores, Jang questionou, que rapidamente teve a atenção dela.
— Quatro mil wons.
Ela ponderou por mais alguns instantes, e então chegou à sua resposta. — Mais um, por favor.
— Claro. — Ela assentiu se movendo rapidamente para fazer o que a garota pedia, mesmo que nem tenha levado tanto tempo assim para fazer tal bebida, foi o suficiente para Yeeun divagar.
A garota refletia um pouco a que horário deveria sair dali, lhe causava uma sensação estranha se retirar do local quando “conhecia” alguém, ainda mais estando tão próximo a ela e conversando com ela. Deveria se despedir?
Sua confusão mental não foi possível ser continuada, até porque para onde estava olhando foi posto um novo copo com seu café gelado, ela ergueu o olhar e agradeceu silenciosamente, com um sorriso contido. Não hesitou em dar um gole, sorrindo de felicidade por sentir aquele gosto maravilhoso.
Por instantes parou de apreciar o sabor da bebida, se distraindo com uma presença, erguendo o olhar para observar Jayun, que tinha um sorriso crescente no rosto. Yeeun apenas a encarou confusa, mas rapidamente desviou o olhar, após se tocar do quanto isso poderia parecer estranho.
Ela limpou a garganta, então começou a falar. — Você faz parte do clube de literatura estrangeira? — Sua pergunta fez Yeeun erguer o olhar novamente, a olhando mais confusa ainda. “Como ela sabe?”.
— Uhum. — Engoliu seco enquanto concordava, internamente ele se questionava se deveria retornar a pergunta, já que sabia qual era o clube de Jayun. Talvez os olhos esperançosos da garota apontassem fortemente que sim. — E você… de teatro, né?
O brilho nos olhos era notoriamente crescente. — Sim! — Ela concordou sorrindo, apenas seus olhos que rodaram pela cafeteria rapidamente, mas logo retornaram para fazer contato visual com Jang. — Como você sabe?
Por pouco ela não se engasgou com tal questionamento, mas com certeza se arrependeu por ter aberto sua boca para mencionar qualquer coisa. De qualquer forma, surtando ou não, teria que responder.
— Por causa da apresentação de Bela Adormecida, você atuou muito bem… — Dando um gole no café gelado quase no fim novamente, baixou o olhar igualmente ao tom de voz, em pura vergonha. Ela não mentia, realmente apenas sabia que Jayun fazia parte do clube por conta dessa apresentação, mas não deixava de ser vergonhoso admitir isso.
— Obrigada! — Erguendo um pouco o olhar, era notável o sorriso enorme da garota em pura felicidade, não parecendo se questionar de porque havia sido tão marcante tal apresentação.
— Não tem problema você conversar comigo…? — Observando que a garota estava parada há alguns minutos, com um tom levemente hesitante, Yeeun perguntou.
A Sim demorou um pouco para responder. — Tá quase acabando o expediente, não vai me atrapalhar. — Ela explicou facilmente, o que não era uma mentira, com poucos clientes há pouco trabalho, Yeeun mexeu um pouco a cabeça para observar ao redor e notou que de fato, estava bem vazio o local, tinha ela e mais poucas pessoas.
A conversa não prosseguiu, já que Jayun se moveu para ajudar sua colega de trabalho a limpar as mesas, que a chamava há alguns segundos. Yeeun se manteve ali, terminando seu copo de café, enquanto apenas encarava a mesa estando pensativa. Ela ainda estava em dúvida de como deveria se retirar.
Quando finalmente tinha terminado de beber, ela foi atrás do dinheiro para conseguir pagar o que tinha pego. Porém, mesmo já estando pronta para poder se retirar, a garota continuou sentada, silenciosamente aguardando a volta da conhecida.
Depois de algum tempo esperando, finalmente Sim já estava de volta. Com um suspiro de alívio, ela ergueu o olhar para falar com ela e finalmente se despedir.
— Aqui o pagamento. — Ela estendeu o dinheiro, já contado. — Eu vou indo, agora, obrigada pela bebida.
Jayun pegou o dinheiro, olhando rapidamente a quantidade. Porém, seu foco se voltou para Yeeun quando ela se levantou do banco.
— De nada. — Ela falou em sobressalto para recuperar a atenção de Yeeun, que sorriu timidamente de volta, um pouco confusa de como deveria responder ou agir. — Hm… posso pedir uma coisa?
Ela se virou de volta, já estava quase saindo quando a atendente decidiu voltar a falar, enquanto assentia calmamente, mesmo que tivesse um pouco nervosa por algo assim ser falado para si. Mas não apenas a Jang parecia nervosa, Jayun parecia um pouco hesitante, o que era notório por não ser algo comum ou típico da garota.
— A gente pode trocar números? — Ela engoliu seco após falar, ela tinha demorado um pouco para tomar coragem e verbalizar isso.
Os olhos de Jang estavam arregalados, um pouco surpresa pela pergunta repentina. Quem nunca tinha trocado algumas palavras, queria trocar números? Ela ficou sem palavras, apenas olhando Jayun, que a fez ter uma reação rápida.
— Para sermos amigas. — Com um sorriso, que por pouco não tremia, ela falou rapidamente, tentando explicar o porquê dessa pergunta. — Eu te achei muito interessante, então queria saber se poderíamos nos aproximar.
Um suspiro, talvez de alívio, saiu da boca de Yeeun e em seguida um sorriso brotou no rosto dela. — Claro. — Com essa palavra, ela tirou de seu bolso e estendeu para Jayun, que não tardou em pôr seu número lá.
— Obrigada — agradecendo, por sabe-se lá o que, devolveu o celular de Yeeun, que sorriu de volta, ainda um pouco confusa de como deveria responder.
— Tchau — ela se despediu de Jayun, que se despediu de volta com um sorriso indescritível no rosto.
Yeeun saiu da cafeteria muito confusa. Estando parada um pouco distante do local, mandou um “oi” para Sim, para que não esquecesse e, porque ela confessaria mentalmente, ela até gostaria da ideia de conversar com Jayun, principalmente por ela parecer ser alguém tão divertida e confortável de conversar, mesmo que fosse tão extrovertida e chamativa.
E ter mais uma amiga era uma ideia legal.
[ … ]
O silêncio agora reinava na sala, o que era estranho, porque segundos atrás estava povoado de voz. A criança que estava na frente delas olhava completamente encantada, chegava até a bater palmas, como se fosse uma apresentação de teatro que tivesse acabado de presenciar.
— Mamãe, você foi tão direta assim? — a criança resmungou olhando para a mulher um pouco mais velha, que soltou uma risada.
— Por que você diz isso? — Ainda rindo um pouco da reação de seu filho, Jayun questionou, achando completamente uma graça, até porque ela não achava tão direto assim.
A criança demorou um pouco, tentando achar melhor as palavras. — Vocês, e as titias, sempre me dizem para ser cuidadoso, e nunca dizer tudo tão direto. — Mas mesmo após tentar escolher bem, a criança ainda sim misturava um pouco o inglês e o coreano, fazendo Yeeun sorrir silenciosamente de amor.
Enquanto Jang se derretia de amores pelo seu filho, Jayun buscava uma explicação boa para seu filho, principalmente para depois não trazer mal exemplo para ele. E ele não terminar igualzinho a mãe, sem papas na língua.
— Era uma chance única, quando mais ela ia esquecer o guarda-chuva? — Com um fingimento de choro e fazendo um bico enorme, ela falava com a criança, que sorria com o rosto que sua mãe fazia.
— Mas, mãe… — ele resmungou querendo rir, porém desta vez por se lembrar de um fato: — Até hoje ela esquece…
Isso foi o suficiente para que Jayun risse e que Jae, seu filho, a seguisse, nenhum dos dois estavam segurando a risada. Era inegável, os dois gostavam bastante de rir de Yeeun, que estava ficando vermelha pelo fato dito.
— Ei! — Ela tentou retrucar eles, mas era impossível, qualquer alegação contra aquilo não tinha efeito nenhum. — Isso não vem ao caso…
Sua voz foi abafada pela risada deles e depois pela fala da Sim, por mais que tentasse, suas contestações não tinham efeito algum, eles ririam mais ainda e ainda zoariam consigo.
— Verdade, na época eu acompanhei ela boas vezes. — Jayun concordou baixinho, enquanto passava pela sua mente muitas das vezes em que acabou sendo acompanhada até a cafeteria, para então a Jang poder ir para casa em seu guarda-chuva alaranjado. — Quem diria que ela é uma grande cabeça de vento.
Jang se sentiu extremamente ofendida, chegando a abrir a boca para contrapor, porém fechou, mas não demorou muito para conseguir dizer algo, algo que uma criança, ou melhor, seu filho, diria melhor. — Eu não sou cabeça de vento.
Ela virou o rosto para Yeeun, fingindo estar surpresa com a grande revelação. — Você faz de propósito, então? — Não hesitou em perguntar, estava atrás de provocar a mulher, o que conseguia com muito sucesso.
— Não! — Yeeun não sabia se dizer isso era muito bom ou muito ruim. Enquanto tentava não parecer uma pessoa que estava ao máximo tentando conquistar Jayun, ficava parecendo uma pessoa lesada por esquecer o guarda-chuva consecutivamente.
A Jang fingia uma falsa ofensa a “acusações” de Jayun, que ria dela, Jae também tinha vontade de rir de sua mãe, mas se levantou calmamente abrindo os braços. — Ah, mamãe, não fique triste. Vem cá! — E misturando novamente o coreano e o inglês, ele dizia.
— Tá bom, meu lindo. — Ainda fingindo mágoa, com um tom de choro, ela foi até seu filho, agarrando nos braços, levantando ele do chão e o girando um pouco para no fim o abraçar com vontade.
Por mais que terminasse sendo acusada falsamente de coisas, ela ainda se sentia feliz e grata por ter terminado namorando, e depois de casando, com Sim Jayun, para no fim terminarem na Nova Zelândia, e com o pequenino Jae.
— Mas você fez bem em esquecer esses guarda-chuvas. — Quando ela já estava parada, apenas olhando para Jayun sentada, ela começou a falar. Fazendo a Jang arquear a sobrancelha.
— Mas, eu não…
Foi indiferente à intenção dela de reafirmar que não tinha esquecido de propósito, assim a cortou não se importando se ela iria entrar nessa briga novamente, seus olhos estavam encantados com a visão que tinha: Jae e Yeeun sorrindo um para o outro.
— Fico tão feliz por ter a oportunidade de me declarar para você. E você retribuir. — Ela continuou se aproximando, o garotinho já olhava para sua outra mãe, o que fazia ela querer andar mais rápido e sorrir mais ainda, apenas para abraçar os dois amores da vida dela. — Amo muito vocês dois.
— A gente te ama também, mamãe. — Com um sorriso adorável no rosto, Jae falou já levando um dos braços para colocar ao redor do pescoço de Jayun, que não tardou em abraçar os dois.
Yeeun não respondeu verbalmente, apenas ficou sorrindo de forma idiota, da mesma forma que ela fazia quando ainda estava no colegial e tinha a presença da Sim, então fez o mesmo e colocou um dos seus braços para também abraçar a mulher.
Era uma situação meio estranha para quem visse de fora, mas não importava, os três estavam felizes, principalmente as duas mulheres. Era uma situação única e especial, e isso que importava.
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