• A espada pesa na cabeça
A música foi iniciada. A melodia passou a preencher lentamente a sala, as luzes brilhavam ao redor do espelho. As mãos do cigano pareciam não querer parar de tremer, tamanha a ansiedade que o percorria. Seus corpo passou a se mover sozinho pela sala. O ritmo da música começou a dominá-lo pouco a pouco. Seus joelhos fraquejavam de quando eu quando. Um por não estar acostumado com a dança. O outro por estar coberto com as cicatrizes.
Ele não perdia uma única batida do som. Cada mínimo passo era detalhado e corrigido no espelho. A dança era ele mesmo. Era quem ele queria ser. Era o ar que ele respirava e o mundo em que vivia. Mal notou quando já estava no chão, pronto para levantar em um pulo arriscado, que antes conseguia fazer tranquilamente, como se já tivesse nascido sabendo daquilo. Quando se virou para o espelho, viu sua camisa levantada, e, junto a ela, todas as marcas vermelhas que subiam por seu corpo. Seus olhos se arregalaram e suas pernas perderam a força, o fazendo ir ao chão.
Seus olhos não conseguiam se focar em nada, estava tudo embaçado pelas lágrimas. Sua respiração não conseguia ficar regulada, estava tudo doendo, principalmente por causa da força da queda. Ele levantou lentamente, tentando esconder as marcas da queimadura de si próprio. Não conseguia as encarar. Era o que fazia dele um monstro.
— Não deveria tentar fazer este tipo de coisa — Uma voz feminina se faz presente no local. Sua cabeça vira em um segundo, encarando o Diabo em sua frente.
— Como? — Pergunta antes de pegar uma garrafa de água e tomar alguns goles do líquido.
— Mal consegue dobrar o joelho, então não deveria tentar fazer algum salto arriscado, ou qualquer tipo de salto, ou qualquer tipo de coisa que envolva muita força no joelho, por enquanto — Diz, girando o cetro em sua mão ao ver o garoto revirar os olhos.
— Obrigado, mas já percebi isso — O tom de voz foi seco, quase rude.
— Achei que tínhamos entrado em círculo de amizade, Seokinho — Ela finge uma tristeza repentina.
— Por que eu seria seu amigo? Você é o Diabo — Hoseok responde com desdém, vendo a mulher apenas levantar uma sobrancelha.
— Ah, jura? Descobriu quando, alecrim Dourado? — Pergunta com um certo ar de deboche, rindo do mais novo tentando parecer durão.
— Alecrim Dourado? — Seu rosto demonstrava a confusão que se passava em sua cabeça ao ouvir o novo apelido.
— Que nasceu no campo sem ser semeado — Responde simplória, como se apenas aquilo fosse responder a pergunta dele.
— Que besteira — Põe a garrafa de água no lugar, respirando fundo ao ver os olhos dela se tornarem levemente vermelhos.
— Por que é tão arrogante, ciganinho? — Sua voz saiu carregada de de desdém, ameaçando o garoto com o olhar.
— Não sou arrogante — Apesar da resposta, medo era o que percorria seu corpo.
— Comigo é — Tentou um tom mais magoado, mas a risada no final acabou com sua tentativa de simpacidade.
— Com você, sou — Respondeu orgulhoso, mas também, com arrependimento. E o diabo sentia o cheiro que emanava dele. Era o mais puro e simples medo.
— Por quê? Lhe fiz alguma coisa? — A pergunta era inocente. Verdadeiramente inocente.
— Destruiu meu corpo — Ela solta um único riso, quase que desacreditado da resposta que recebeu.
— Não fui eu, já lhe disse isso, garoto dançarino, apenas vi o caos acontecer — Balança os ombros enquanto o outro sente o rosto ficar vermelho, tomado pela fúria.
— Então por que não impediu? Se queria tanto me ajudar deveria ter feito isso desde o início — Sua voz se torna dois tons mais roucos, tentando intimidar a mulher.
— Eu não tinha essa belezinha aqui — Ela balança o cetro, apontando a pedra para ele.
— E daí? Não ter essa coisa brilhante te impede de ter poderes, por acaso? — Cruza os braços, desacreditado com a desculpa dada.
— Não exatamente — A confusão do Jung foi visível ao longe, ele não entendia como nada funcionava. Ainda.
— Como assim "exatamente"?
— Eu tenho meus poderes sempre, obviamente, sou o Diabo. Mas apenas os ruins. Não posso ajudar ninguém sem isso. É a fonte da magia boa, digamos assim.
— Acho que não entendi — Ele se aproximava lentamente dela, abaixando a guarda cada vez mais.
— Se eu ver uma menininha de rua passando fome, eu preciso ir até uma loja e comprar comida para ela, porque se eu tentar ajudar com os meus poderes sem o cetro, eu a daria fartura, mas ela morreria envenenada, pois meus "milagres" são de natureza catastrófica. Não posso ajudar pessoas se não tiver isso — Ela olhou para o garoto, vendo o rosto enraivecido diminuir a intensidade — Se eu tentasse te ajudar naquele dia, usando meus poderes, poderia ter causado uma explosão ainda maior e matado todos em um raio de dez quilômetros.
— Mas por que uma pedra?
— É meu castigo. Toda a minha onipotência está presa aqui — Ela apontou para o cetro, que brilhava em suas raízes — Minha onisciência aqui — Apontou para a própria cabeça — E meus sentimentos estavam aqui — Ela vira de costas, mostrando as grandes marcas vermelhas que riscavam sua pele, circuladas por desenhos que o garoto não conseguia reconhecer.
— O que é… isso? — Seus dedos coçam para tocar as marcas, ainda vermelhas, que pareciam não curar.
— Minha história, pequenino, um castigo, um lembrete. Era onde costumavam estar minhas asas — Ela se vira novamente vendo os olhos marejados do cigano.
— Cortaram suas asas? — A pergunta saiu trêmula, com um gosto amargo.
— Arrancaram elas — O olhar dela vaga por toda a sala, estudando cada centímetro daquele lugar, e depois desce até os próprios pés. Suas costas ainda sentiam a dor de ter um pedaço de si arrancado.
— Por quê? — Era um sussurro, uma pergunta feita recheada de medo e curiosidade.
— Porque eu questionei Deus — Em um suspiro, ela levanta o olhar até o mais novo — Disseram que eu deveria seguir Suas regras ou iria sofrer as consequências, e nunca mais teria minhas asas de volta. Então eu apenas aceitei o que me avisaram e baixei a cabeça — Sua expressão tornou-se séria, lembrando todo o passado — Foi aí que eu realmente entendi meu destino.
— O que aconteceu? — Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto do dançarino, deixando um rastro molhado pela bochecha.
— Eu caí — Os olhos dela tornaram-se roxos por alguns instantes, assustando o cigano.
— Arrancaram suas asas…
— Minhas asas, meus sentimentos, meus milagres e meus pecados — Ela riu olhando a própria imagem no espelho — Arrancaram tudo o que eu sentia com medo de que eu tentasse algo de novo.
— É por isso que quer tirar o amor de mim? Para me fazer sofrer também — Sentia medo. Poderia nunca mais amar alguém. O diabo não amava, mas ainda assim, ajudava. Ele poderia se acostumar também.
— O amor sempre vai ser seu, sempre será você. Eu peço o teu sentimento, não um pedaço de quem é — Seus olhos estavam marejados, talvez angústia, ou arrependimento. Não sabia, porque não as sentia.
— Você acredita que possa, algum dia, voltar a sentir... Amor? — Ela virou a cabeça até encará-lo nos olhos.
— Você acredita que pode voar? — Perguntou enquanto sorria para Hoseok, vendo ele pensar sobre a resposta.
— Depois de tudo o que aconteceu até agora, as cicatrizes desaparecendo e voltando, os poderes, você… o ritual... acredito que sim — Revirou os olhos ao dizer tais palavras, mas sentiu um alívio no peito assim que as soltou.
— Então a minha resposta é exatamente a mesma — Ela diz sorrindo com a voz fraca, tentando segurar as lágrimas — Apesar de que eu não possa fazer isso sozinha.
— Eu também não posso tentar voar sozinho, podemos ir juntos nessa — Ele estende a mão para a mulher, que o encara, confusa com o que ele queria — Ofereço uma trégua. Se você parar de me assustar toda vez que aparece aqui, eu paro de ser tão babaca com você.
— Esse é o motivo — Ela sela o acordo apertando a mão dele, revirando os olhos para espantar as lágrimas.
— Motivo do quê? — Ele senta no chão e espera que ela o fale.
— De eu querer o seu amor — Ela riu consigo mesma e olha para o dançarino — Tem tanto, mas tanto dentro de ti, que não vai fazer falta.
— Tem certeza? — Ela apenas concorda, sorrindo para o outro.
— Só tome cuidado, cigano. Dar passos muito arriscados podem Te machucar mais do que você imagina — Callumy desapareceu no instante seguinte. E Hoseok não sabia se aquele aviso era realmente apenas para sua dança. Mas preferia acreditar que sim, para não alimentar o medo dentro de si. Mesmo que já soubesse a resposta.
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Ela dava passos fortes no chão. Os sapatos batiam firmemente a cada degrau que subia. Uma coroa estava posta sobre sua cabeça, indicando o poder que tinha sobre aqueles que estavam a esperando. Os guardas que estavam em sua escada fizeram uma pequena reverência e, logo depois, abriram a porta para que ela passasse. Os vitrais eram quase todos novos. Tinham sete coloridos.
O homem com luz atrás de si e sangue nas mãos. A tatuagem no braço. E a vida eterna.
O príncipe tendo a coroa caindo da cabeça, o coração rodeado de espinhos e os lábios manchados de vermelho. E uma espada pingando sangue preto.
O garoto com a espada em uma mão, e o coração em outra. Ambos pegavam fogo.
O dançarino, em cima do palco, os olhos eram roxos. Seu pescoço era envolvido em raízes. Em sua mão uma balança. Em outra, uma chave. O resto estava em chamas.
O loiro tomando o vinho, sobre a pilha de palavras e segredos. Segurando uma cabeça com uma coroa.
O anjo, com as asas pretas, penas caindo de si, e ele caindo do céu. O cabelo ondulava em um rosa bonito, e os olhos brilhavam em um vermelho de medo.
E o príncipe, que segurava uma criança, dos olhos escorriam as lágrimas, do coração escorriam as mentiras, e das mãos, escorria o sangue. Diversos soldados vinham logo atrás de si.
Faltavam mais três para terem cor.
Um garoto sem camisa, diversas cicatrizes preenchendo seu corpo. Marcas de beijos e mãos por toda a extensão de suas costas. O que parecia fogo ainda circulava todo o resto da imagem.
A guilhotina escorrendo o sangue. O sorriso fixado na lâmina, e um colar preso a ela. Pessoas. Muitas. Se olhasse demais, poderia ouvir os gritos.
E o pior de todos.
Guerra. De dois lados diferentes. Sete homens no meio. Uma mulher com asas pingando sangue. Todos tinham espadas na mão. E apenas dois seguravam seus corações.
— Vejo que já notou as imagens — Uma outra mulher aparece no salão. Ela exalava um ar muito conhecido. Ira.
— Quem fez isso? — Foi a única pergunta feita. Seus olhos analisavam cada uma das imagens.
— Ainda não sabemos — Outro cheiro. Era Inveja.
— Mas suspeitamos de tenham sido os anjos da morte — Mais uma essência. Ganância.
— Por que anjos da morte? — Estava confusa. Nunca apareciam para si. Apenas durante guerras, para se alimentarem.
— Está cheirando à morte — Era Orgulho.
— Eles não fazem esse tipo de coisa só por fazer — Dessa vez era Luxúria. O lugar irradiava oito pecados. Não sete.
— Deve ser um aviso — Disse uma voz sussurrada. Preguiça.
— Por que, depois de milhões de anos, eles nos dão um aviso? — Gula.
— Eles nunca tinham feito isso antes? — Foi uma pergunta feita pela mais nova entre elas. Os olhos ficando vermelhos.
— Nunca tínhamos recebido algo assim, normalmente vêm por visões da Minnie — Ira aponta para a garota. E as outras cinco concordam.
— Não foi, não — Disse outra voz, desta vez masculina.
— Namjoon? O que faz aqui? É uma reunião apenas para os pecados — Sua voz gritava uma confusão dentro de si. Como ele havia entrado ali?
— Não está sentindo o cheiro, Umy? — Gula pergunta, indicando o único homem da sala.
— Deus fez… isso — Ela fechou os olhos depois da fala de Somi. Respirou fundo e sentiu cada uma das sete essências já conhecida por si. Mas, tinha uma, bem no fundo, que ainda não sabia identificar.
— Ela fez o quê?! — Gritou em desespero, chegando mais perto do conselheiro, cheirando mais de perto a pele dele. Não cheirava a humano.
— Acho que preciso me apresentar de novo. Prazer, sou Kim Namjoon, o pecado da mentira — Os olhos dela se arregalam em descrença, enquanto ele apenas tentava sorrir. Não estava verdadeiramente mal, mas também não estava bem. O diabo poderia ter lhe avisado sobre os riscos, mas não imaginava que realmente poderiam acontecer.
— Ela não-
— Eu acordei e, tinha algo nas minhas costas, e agora tem um desenho — Ele sorriu, mostrando as covinhas para a mais velha — Significa que eu sou um demônio e meu pecado é o mesmo que o seu, certo?
— Não seguir seu próprio destino — Ela anda até o próprio trono e se senta, tendo os oito pecados em sua frente — Me desculpa mesmo, Namjoon. Eu sabia que Deus poderia querer fazer algo ou mandar algum tipo de mensagem mas… não… isso.
— É um pouco estranho, de verdade, mas não é de todo ruim. Eu concordei com tudo, lembra? — Ela apenas balançou a cabeça, indicando que já havia encerrado aquele assunto.
— O que Ela quis dizer com isso? — Heejin se sentia confusa, estava com um pacote de pipoca na mão, para que pudesse se concentrar melhor.
— Ela quer guerra! Não existe outra explicação! — Ira já estava perdendo totalmente a paciência, desde manhã, enquanto ainda estava em Versalhes, tinham pessoas acabando com o resquício de auto-controle que lhe servia. Vendo os vitrais em Notre Dame pioraram ainda mais seu humor.
— Ao que tudo indica, haverá uma guerra — Callumy apontou para o último vitral, que ainda se mantinha preto e branco — Mas, Namjoon, você disse que não é a primeira vez que os demônios da morte mandam uma mensagem. O que quis dizer com isso?
— Hoje de manhã, depois de eu ver a tatuagem nas minhas costas e no meu braço, o príncipe Taehyung pediu para que eu procurasse o cigano e… — Sua fala se perdeu por alguns instantes, antes de olhar para cada uma das mulheres e respirar fundo — O espelho inteiro estava pintado com vermelho, laranja e amarelo. Como se fosse fogo. E o cheiro que exala dessas vidraças, é o mesmo que tinha na sala do garoto.
— Que merda! — Ganância murmura para si mesma, observando a mais velha entre todos ali se levantar e andar até as janelas.
— Alguns pedaços ainda estão em preto e branco, mesmo que a imagem em si já esteja colorida. São momentos, pontos cruciais no destino de cada um — Ela viu que um pedaço das cicatrizes de Hoseok ainda estava preta, não vermelha — O príncipe precisa ver as marcas dele. Por completo.
— Como assim? —Preguiça volta a prestar atenção na conversa, assim que voltam a falar sobre o casal.
— Namjoon, qual é a situação atual do Palácio de Versalhes e o casamento do Taehyung? — Apontou o cetro para o peito dele, esperando a resposta.
— Está tudo calmo. As vigias diminuíram e a patrulha da noite só ronda o castelo duas vezes — Jiwoo anotava tudo enquanto ouvia o Kim falar — Sobre o casamento, então tentando remarcar. Mas será, no mínimo, daqui a dois meses. Nada antes disso. Algumas cidades e províncias do Japão estão invadindo Tóquio. Não querem que a princesa se case.
— Somin — Chamou a atenção da Ganância, que parou o que estava fazendo apenas para a ouvir — Acha que consegue contato e alguma aliança com essas cidades que são contra o casamento?
— Facilmente, senhorita Archeon — A mulher concorda rapidamente, trilhando um novo plano em sua mente.
— Acha que daqui quatro meses as rondas continuarão menores? — Perguntou, olhando para Namjoon.
— Creio que sim, o rei anda muito tranquilo ultimamente. Por quê? — O diabo nada responde naquele instante. Apenas sorri consigo mesma.
— O fruto da falta de preocupação das pessoas naquele palácio parece que será colhido daqui alguns meses, e até lá, eles não estarão mais aqui para que possam me pegar — Olhou para cada um dos pecados ali, e quis se sentir triste Namjoon, mas não conseguia. E nem tentaria mais — Já podem ir. Na próxima reunião quero que tragam as virtudes junto. Vai ser uma longa e saudável conversa em família.
Voltou seu olhar para as figuras nas janelas, assim que todos os outros se despediram e saíram da sala. No último desenho, havia um pequeno detalhe que ela não tinha prestado atenção. Do céu, caíam um par de asas. E ela sabia que eram as suas.
<♡>
Taehyung terminava de arrumar a mesa que tinha posto em frente a varanda do quarto, tendo uma vista premiada de todas estrelas e da lua que brilhava no céu. abriu as grandes portas e deixou com que o vento fresco da noite entrasse pelo cômodo. As luzes estavam todas desligadas, deixando apenas as velas fazerem seu trabalho. O lugar cheirava a lavanda, ou talvez baunilha. Taehyung não sabia descrever qual dos dois estava se sobressaindo naquele momento. Parou de pensar em tudo no instante em que três batidas foram ouvidas na porta.
— Boa noite, Hoseok — O príncipe faz uma pequena reverência e segura a própria risada.
— Boa noite, vossa alteza — Hoseok também faz uma reverência entrando no quarto do príncipe, depois de verificar que mais ninguém estava no corredor — Ao que debo a honra de sua ilustre companhia?
— Gostaria que me acompanhasse em um jantar a luz de velas, senhor Jung — Taehyung segurou sua mão e o puxou para mais perto, colando ambos os corpos.
— Eu adoraria, senhor Kim. Contanto que tenhamos sobremesa — Pôs ambas as mãos nos ombros do mais novo, olhando diretamente em seus olhos.
— Eu sempre penso nas sobremesas quando vou jantar contigo — Beijou a bochecha do cigano antes de voltar o olhar para o rosto dele novamente — Porque eu sei que gostas.
Ambos sorriram e encostaram os lábios, um beijo simples e delicado, como o sentimento que transmitiam um para o outro. Foi algo significativo, mesmo que breve.
— Eu gosto quando faz as coisas pensando em mim — Sorriu convencido, recebendo outro beijo do príncipe, este que estava mais do que viciado nos lábios do dançarino. Abraçou o outro e cheirou os fios tão macios que adorava fazer cafuné toda vez que ele ia ao seu quarto para dormirem juntos.
— Então agora seria o momento certo para te mostrar minha surpresa e te dar um presente? — Hoseok se desvencilhou dos braços do Kim, o encarando desconfiado, vendo ele ir até a pequena sala onde guardava as roupas.
— Ah, pronto. Mais um presente. Primeiro foi todas as contas do hospital, depois o castelo e aí o estúdio de dança. Se você me der uma coroa eu juro que não uso — O mais novo riu da última fala do cigano, sabendo o quanto ele detestava quando colocava a própria coroa na cabeça do outro — Eu não vou me prestar a esse papel.
— Não se preocupe, não é uma coroa — O Jung cerrou os olhos, procurando algum traço de mentira, mas o tamanho da caixa não deixava espaço para ser o tal objeto, então apenas a pegou assim que o príncipe lhe estendeu o objeto.
— Ah, Tae… — Ali dentro, estava o mais belo colar que já havia visto em toda a sua vida. O cordão era tão dourado, que poderia ter sido tocado por Midas antes de chegar em suas mãos. A pedra brilhava tanto, estava suspensa no meio da caixa, cintilando ainda mais assim que a luz do fogo bateu contra ela. E a cor era simplesmente deslumbrante. Era um azul intenso, profundo. Não pôde deixar de lembrar dos olhos do Diabo em si. Mas esqueceu logo depois que sentiu as mãos do príncipe resvalarem lentamente por seu pescoço.
— Encontraram essa pedra dentro da mina, perto da que está em minha coroa. Estavam lado a lado, então não consegui pensar em nada além de fazer algo para que usasse e ficasse perto de mim o dia inteiro — Sorriu docemente para o garoto, o beijando mais uma vez os lábios, mantendo a mão no pescoço dele — Quer que eu coloque em você? — Apenas viu o outro concordar, então o levou para frente do grande espelho, o virando para frente e retirando o colar da caixa, fazendo o caminho pela pele dele enquanto fechava a corrente.
— É lindo. Nem sei como te agradecer — Ele leva a mão até o colar, segurando a pedra entre seus dedos. O príncipe logo a entrelaça com a própria, chegando ainda mais perto.
— Sabe que não precisa me agradecer — Deixou leves selares pela nuca do dançarino, vendo o quanto ele se errepiava com os toques — Isso é um sim para meu pedido?
— Que pedido? — O cigano virou-se rapidamente, vendo o príncipe sorrir ainda mais.
— Quer namorar comigo? — Hoseok parecia completamente perplexo, seus olhos marejavam cada vez mais que continuava olhando o rosto feliz de Taehyung — O colar faz dupla com a minha coroa, já que não podemos usar anéis de compromisso.
— Eu quero! Óbvio que eu quero! — Abraçou ele o mais forte que pôde, tentando conter as lágrimas que insistiam em querer descer — Mas não é querendo falar nada, não, mas isso aqui é bem mais bonito que aquela sua aliança, viu?
— Nem me fale, ela é feia. Quando não estou em Paris ou em uma reunião não a uso — Ambos riram enquanto Taehyung beijava as bochechas cheinhas do mais velho. Estava realmente viciado.
— Desculpa dizer, mas ela é horrível, não tem como dizer se é uma aliança ou um pedaço de latão — O príncipe ria cada vez mais das palavras do mais velho — É sério! Acho que até um pedaço de latão é mais bonito.
— Certo, certo. Então, como seria sua aliança ideal? — O girou até que estivesse de frente para o espelho. Abraçou o mesmo por trás e pegou em sua mão, analisando seus dedos e vendo o quão bonitos eram. Ele todo era perfeito.
— Tinha que ter alguma pedra. Qualquer uma. Não para me exibir, mas para que eu pudesse olhar ela no Sol e ver o quanto brilhasse, e assim lembrar da pessoa com a qual eu me casei — Sorriu para si mesmo, sentindo os braços do mais novo o apertarem mais contra o corpo dele.
— Então eu te dou um exatamente assim quando formos nos casar, com a maior pedra e a mais brilhante que eu encontrar — Hoseok virou rapidamente o corpo para que pudesse ficar de frente para Taehyung.
— Acha mesmo que vamos nos casar algum dia? — O coração do Jung estava acelerado. O príncipe realmente imaginava um futuro em que estivesse ao seu lado? Seria um sonho impossível, pensava.
— Acho, de verdade — Sorriu o máximo que pôde, demonstrando toda a sua felicidade com uma simples possibilidade.
— Mas você precisa se casar com a-
— Eu vou dar um jeito, juro. Agora as coisas estão mais lentas, e o casamento não vai ser rearranjado a tempo. Vou procurar uma maneira de ficarmos juntos, é uma promessa — Selou os lábios do outro, limpando um mínimo resquício de lágrimas que poderia ter ficado ali — Vamos comer, antes que esfrie.
Levou ele até a mesa que havia preparado, trazendo a cadeira dele até que estivesse ao seu lado. Poderia segurar mais facilmente a mão dele, e era tão mais fácil de observar os traços dele enquanto estavam lado a lado. Algumas vezes até mesmo alimentava o Jung, mesmo que ele fosse o mais velho. De repente, eles escutam um pequeno grito, que ecoou por todo o castelo. Taehyung logo voltou a jantar normalmente. Mas Hoseok permaneceu olhando para fora, como se o vento fosse o dar uma resposta.
— O que foi isso? — Sua respiração parecia ainda mais acelerada. Algo estava errado.
— Os empregados dizem que fazem uma festa quase sempre, e se divertem nesse meio tempo — Com certeza não era aquilo. Não era um grito feliz.
— Não pareciam estar se divertindo — Taehyung o encarou e soltou os talheres, puxando o rosto de Hoseok para que o encarasse.
— Me disseram que tem uma das meninas que costuma ficar bêbada muito rápido, e isso meio que faz ela cair e se machucar quase todas as vezes. Por isso o grito — O mais velho apenas concordou, beijando o príncipe antes de voltarem a comer e a conversar normalmente.
"Escute um pouco mais o silêncio que esses corredores fazem, e tenho certeza de que não conseguiria passar mais um segundo aqui dentro." Lembrou-se das palavras distantes do Diabo. Algo estava errado. E ele tinha medo de descobrir o que era.
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