Carmem abriu a boca e fechou de novo. Aquilo estava mesmo acontecendo?
- Moça, você tá bem? Se quiser posso te pagar um salgadinho, você deve estar morrendo de fome! – Magali ofereceu sentindo pena daquela pobre alma atormentada.
- Eu não preciso de salgadinho, preciso de ajuda! Mônica, por favor, me ajuda!
- Como você sabe meu nome?
- Denise! – Carmem falou ao ver sua amiga ruiva chegando perto do grupo. – Denise, me ajuda amiga!
- Credo, sai pra lá que eu não te conheço!
- Até você? Por favor, eu preciso de ajuda! Alguém me ajuda!
Cebola ficou condoído ao ver aquela moça chorando e disse.
- Você tá perdida? Quer que a gente chame alguém?
- Eu não tô perdida, tô sem casa e ninguém me entende!
- O Licurgo vai te entender direitinho.. ai! – uma cotovelada atingiu suas costelas.
(Mônica) - Cascão, não fala assim! Vai que é doença! Ô moça, eu acho que você tá muito confusa, viu? Ninguém aqui te conhece não!
Ela recuou um pouco e olhou para os amigos totalmente horrorizada.
- Não acredito! Meus pais pagaram vocês pra fazer isso, não é? Diz que sim, por favor! Não façam isso comigo! Cebola, Magali, Mônica! Preciso de ajuda! Cascão lembra de como a gente se dava bem?
(Cebola) – A gente não sabe do que você tá falando.
(Mônica) – Nem te conhecemos!
(Magali) – Se quiser, podemos pedir ajuda pra você.
(Cascão) – Peraí, qual é mesmo o seu nome?
Ouvir tudo aquilo era difícil demais e Carmem saiu correndo dali feito louca, gritando e se descabelando.
- Gente, o que aconteceu com a madame ali? – Cascuda perguntou chegando bem a tempo de ver Carmem saindo correndo. Mônica respondeu.
- Sei lá, ela chegou aqui falando um monte de coisa sem sentido. Só não entendo como ela sabia o nome da gente.
Cascuda olhou para Mônica sem entender.
- Ué, como assim?
(Cebola) – Ela sabia o nome de todo mundo, só que ninguém aqui a conhece de lugar nenhum!
Ela ficou em silêncio, olhando para cada um deles e depois desatou a rir.
- Hahaha, essa foi boa! Vocês estão fazendo uma pegadinha com a Carmem?
- Carmem? Então é esse o nome dessa criatura esquisita? – Denise perguntou enrolando a ponta de uma Maria-chiquinha com os dedos.
- Você conhece ela, Cascuda? – Mônica também perguntou.
- Já podem abrir o jogo, ela não tá mais aqui!
Todos olharam para ela como se tivesse enlouquecido. Cascão falou.
- Não tem jogo não, linda! Ninguém aqui conhece ela!
- Aposto que isso é plano do Cebola!
- Plano meu? Nem vem, eu não tenho nada a ver com isso, nunca vi aquela garota em lugar nenhum, é sério!
- Tá bom, quando resolverem falar a verdade, me avisem. Também quero tirar um pouco de onda com a cara da Carmem. Agora preciso ir, prometi ajudar minha mãe com algumas coisas.
Ela despediu-se do Cascão e dos amigos e foi para casa achando graça de toda aquela situação. A única coisa que ela não entendia era o porquê de estar sendo deixada de fora daquela pegadinha. Ou seria apenas estratégia para deixar a coisa mais realista?
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De tanto correr, Carmem foi parar no parque da cidade e sentou-se num dos bancos sentindo-se física e mentalmente exausta. Ela nunca imaginou que seus pais fossem levar aquele castigo até as últimas conseqüências. Eles chegaram ao ponto de subornar seus amigos! E eles devem ter aceitado com muito prazer, bando de traidores!
Claro, ninguém ali gostava dela, todos lhe invejavam. Nada mais natural que se juntassem para lhe prejudicar!
- Hum... meu estômago tá doendo... que fome!
- Acredita em mim agora? – uma voz falou e ela pulou de susto ao ver Creuzodete sentada ao seu lado.
- Eu acredito que meus pais ficaram loucos, isso sim! Eles subornaram até meus amigos pra falarem que não me conhecem! É um absurdo!
- Ah, céus... já vi que você vai me dar trabalho! Entenda uma coisa, garotinha. Sua antiga vida acabou, não existe mais. Sua realidade agora é outra e quanto mais rápido se acostumar, melhor.
De tão cansada, Carmem não teve mais forças para rebater e falou sentindo-se totalmente derrotada.
- Tá, o que eu faço então? Não tenho nem casa pra morar!
- Como você ainda é nova, terei que te ajudar até que tenha condições de caminhar sozinha.
- Então você vai me levar pra sua casa?
- Para a minha casa? Ficou louca? Claro que não! É o seguinte: agora você está por conta própria. Eu lhe ajudarei no que for possível, mas você terá que se ajudar também.
- E como eu vou me ajudar? Não tenho nem dinheiro pra comprar um suco!
- Então arrume um emprego.
Ela sacudiu a cabeça levemente, limpou um ouvido com o dedo mindinho e perguntou totalmente incrédula.
- Arrumar o quê?
- Isso mesmo que você ouviu . Um em-pre-go.
- Um e-e-emprego? Tá falando pra eu trabalhar?
- Sim. Trabalhar. No mundo real, as pessoas trabalham para comer.
- M-mas eu n-nunca trabalhei na minha vida! Quer dizer, a Aninha me arrumou um trabalhinho pra distribuir folhetos, mas não foi nada além disso!
- Então você vai ter que se acostumar a pegar no batente!
- Que tipo de trabalho vou arrumar? Talvez de super modelo? Ou atriz? Até que seria bom!
- Nas suas atuais condições? Não sonhe tão alto. Preocupe-se apenas em arrumar algo que lhe proporcione um teto sobre a cabeça e três refeições diárias.
- E como eu vou arrumar um emprego?
- Isso é com você. Faça sua parte que encaminharei o resto. Melhor se apressar. Viver nas ruas é muito perigoso para uma garota como você!
- Então me ajude!
- Já estou te ajudando, mas não espere que eu faça o trabalho pesado por você.
Ela levantou-se e saiu dali a passos rápidos. Carmem foi atrás dela implorando.
- Por favor, me ajuda! Onde vou arrumar um emprego? Nem faço idéia onde procurar!
Creuzodete foi dar a volta na grande fonte do parque. Antes de desaparecer na curva, ela falou.
- Se você se esforçar, vai encontrar o lugar certo. Nos veremos novamente depois que você arrumar um emprego.
- Ei, espera! Você ainda não falou onde... hã? – ela deu a volta pela fonte duas vezes e viu que a mulher tinha desaparecido. Como podia uma coisa dessas?
Seu estômago voltou a roncar novamente e ela sentou-se na beirada da fonte tentando pensar no que fazer. Talvez a primeira coisa a fazer fosse arrumar algo para comer, já que ela não tinha colocado nada na boca o dia inteiro. Com essa idéia em mente, Carmem saiu andando a esmo, olhando aqui e ali pensando numa forma de conseguir comida.
Então ela lembrou-se de que às vezes, aparecia algum pobre lhe pedindo trocados para comprar comida. Como chamavam aquilo mesmo? Pedir esmola? Não, aquilo já era muito abuso! Uma Frufru jamais pediria esmolas para ninguém! Ela com certeza ia arrumar outra forma.
Mas o tempo foi passando e aos poucos ela foi se dando conta da sua situação. Não tinha mais como voltar para casa, seus pais não iam aceitá-la de forma alguma. Seus amigos não a reconheciam porque tinham entrado no jogo também. Ela não tinha para onde ir, nem dinheiro, nem nada. Era apenas uma pessoa invisível que ninguém se importava. Então aquilo era ser pobre? Como as pessoas agüentavam viver daquele jeito?
A noite chegou sem que ela conseguisse arrumar nada para comer. Seu orgulho a impedia de pedir esmola aos outros e nenhuma lanchonete ia lhe dar comida de graça. Sem outra escolha, ela voltou ao parque da cidade. Tudo estava escuro e não havia mais ninguém circulando por ali. Parecia um lugar tranqüilo e seguro para passar a noite.
- Isso não pode estar acontecendo comigo, não é justo! – ela choramingou tentando se acomodar no banco duro. Aquilo era totalmente desconfortável, não tinha onde apoiar a cabeça e seu corpo estava exposto ao frio da noite. Sua roupa podia ser bonita para desfilar no shopping, mas era uma porcaria para lhe proteger do frio.
Foi com muito custo que ela conseguiu cochilar um pouco, pensando em quando aquele tormento ia acabar.
- Tomara que eles me tirem logo desse castigo, tomara! Se isso acontecer, nunca mais compro nada na minha vida!
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