Viajaram com as tropas por alguns dias, até chegarem até a fronteira. Tatsumi havia ouvido de Budo que Numa Seika não se encontrava na fronteira naquele momento, e em seu lugar, uma das maiores guerreiras do Norte havia tomado a frente das tropas.
-Seu nome é Alura- lhe dissera o general- É a filha mais velha de uma linhagem de bons guerreiros que protegem a realeza do Norte. Numa confia nessa mulher com a vida, e foi ela quem dominou o Forte do Inverno.
Tatsumi trajava uma armadura prateada, brilhante, com o símbolo de Esdeath pintado em esmalte preto sobre o peitoral polido, seu coração palpitava de ansiedade, e a cicatriz em seu ombro latejava, desta vez não era Liver que estava ao seu lado, era Kurome, e confinada em uma armadura negra e fosca como fumo, apenas seus olhos cinzentos eram visíveis pela abertura da viseira, enquanto uma longa crista vermelha lhe caia sobre os ombros como se fosse cabelo e um dragão em esmalte vermelho se enrolava pela armadura, brilhante como fogo.
Era uma armadura terrivelmente bela e cruel.
Tatsumi preferia vestir Incursio. Quando estava com ela, não era capaz de sentir seu peso, enquanto aquela armadura que usava lhe parecia estranhamente pesada e desajeitada.
A frente deles, todo um exército se alongava cobrindo o horizonte. Eram as espadas do norte, o exército de Numa Seika, e eles pareciam devorar o mundo à medida que se aproximavam.
-Faça com que dez pareçam cem- disse Kurome, para ninguém em especial- Está jogando bem, príncipe herói.
‘’Bem demais’’- pensou Tatsumi, olhando para os seus homens.
Eram soldados inexperientes, haviam tido pouco mais do que um ano de treinamento antes de serem jogados naquela batalha, e como Tatsumi imaginava, os homens do Norte nasciam para a guerra, e como poderia sequer passar pela cabeça do imperador que aqueles homens conseguiriam vencer Numa?
Não podiam.
Quando estavam próximos o bastante, os exércitos pararam. Tatsumi e Kurome foram ao encontro de Numa em um terreno neutro, uma barraca entre os exércitos. Ambos nunca haviam visto a face de Alura, mas se surpreenderam em como ela era imponente. Não aparentava ter mais do que vinte e poucos anos, mas ainda sim era alta e soturna, com os longos cabelos pálidos escorrendo livres pelas costas, como água por sobre a armadura cor de gelo, e presa às costas, estava sua temível espada, a chamada de Gloria do Rei. Tatsumi imaginou se era uma Tengu.
-Alura, Guardiã do Norte- disse Kurome, retirando o elmo e deixando os cabelos curtos se espalhassem. Fez uma breve reverência, e Tatsumi a acompanhou- É uma honra.
-Você deve ser Kurome- disse a mulher de cabelos brancos- A protetora de Arwin, a mulher que destruiu o esquadrão de Doya.
Um sorriso sutil se formou no rosto de Alura e Kurome a olhou com certa surpresa ao ouvir o nome de uma de suas marionetes.
-E suponho que você seja Tatsumi, o chamado cão de Esdeath.
-Supôs corretamente- disse Tatsumi, e só então percebeu como aquele ''título'' soava como um escárnio nos lábios de seus inimigos, pensou em sacar sua espada e mata-lo ali mesmo, em acabar com a guerra, mas imaginou se era possível derrotar Alura com um ataque traiçoeiro, chacoalhou a cabeça, não era essa a forma que ele lutava e imaginou de onde aqueles pensamentos venenosos estavam vindo- O Príncipe Numa não quis nos receber?
-Rei- corrigiu Alura- Agora Numa é rei.
-Rei nas terras do norte- disse Tatsumi- Aqui na fronteira ele não tem autoridade alguma. Aqui em terra neutra é pouco mais do que um insurgente.
Um dos guardas de Alura levou a mão até a espada, Kurome fez o mesmo, e aparentemente ela não estava incomodada com a má diplomacia, foi a própria Alura a acalmar os ânimos de todos.
-Estamos aqui para chegar a um acordo, não para nos matarmos, não é?- e com um olhar, fez o guarda largar da espada- Você é impetuoso, Tatsumi, devo admitir. Mas não tema, tem minha palavra de que ninguém poderá feri-lo nessa barraca.
Alura andou vagamente até uma ânfora e encheu três taças de vinho, ofereceu-as à Tatsumi e Kurome, depois bebeu um gole para mostrar que não estava envenenada. Kurome foi a primeira a beber, o sabor do vinho era sublime, como nenhum outro que ela havia provado em toda a sua vida.
-É da minha safra especial, uvas que nascem apenas nas terras do norte.
-É bom- disse Kurome, com os lábios ainda doces pela bebida.
-É, é muito boa, realmente. Uma bebida que honra nosso confronto futuro- olhou para Tatsumi- Porque não a prova também?
-Nunca bebo antes de uma batalha- respondeu.
-Então já descartou a possibilidade da paz?- Alura sorveu um gole- É uma pena.
-Não estamos aqui pela paz- disse Tatsumi- Você não vai deixar de marchar para as nossas terras, e nós não podemos permitir que o faça.
-Sirvo a vontade de meu rei, apenas isso. Se amanhã ele decidir que não quer mais a independência do Norte, então as tropas irão recuar, simples assim. Mas se você prórpio já descartou a possibilidade da paz, ou mesmo de conseguir me converncer a deixar esse conflito desolador de lado, me diga o motivo dessa reunião?
-Quero fazer uma proposta- Kurome virou-se para Tatsumi, de inicio acreditava que estavam ali para tentarem algum termo de paz, o que ele estaria planejando?
-Eu sou todo ouvidos.
Kurome aproximou-se de Tatsumi e o segurou com força no braço.
-O que acha que está fazendo?
-Estou salvando vidas, eu acho- respondeu Tatsumi, então ergueu a voz- Exijo um combate contra o seu campeão.
A proposta pegou Alura de surpresa, ela lentamente pousou a taça sobre a mesa e o encarou.
-Um combate singular? É isso o que planejou?
-Um combate até a morte- disse Tatsumi- É melhor apenas um de nós morrer, do que todos morrerem, não acha?
Um sorriso cruel se abriu no rosto de Alura.
-Por acaso tem medo do resultado desse conflito?- disse ela - Ao que parece, o exército do império não tem coesão militar o suficiente para nos enfrentarem, e por isso vocês clamam por um combate singular, porque eu não duvido que vocês dois sejam bons guerreiros, mas seu exército, entretanto...
-A sua resposta- exigiu Tatsumi.
-A minha resposta é não- disse a guardiã- O que Esdeath diria de tudo isso? Seu amado e intrépido cavaleiro desejando a paz, quando a mesma já tentou fazer isso anteriormente- Alura o encarou, os olhos castanhos de Tatsumi eram venenosos- Não sou tão passiva a agressões quanto meu senhor, e acredite que uma maldita assassina e um... Acompanhante de luxo em minha presença já me ofende bastante, esperava aqui Budo, ou a grande Esdeath, mas vocês dois... Então ouça a proposta que eu ofereço a você, Tatsumi: renuncie ao império aqui e agora, que eu o deixo viver, e talvez eu lhe de uma ou duas meretrizes para afogar suas mágoas.
As palavras de Alura eram odiáveis, Kurome estava controlada o suficiente para não erguer sua espada em direção a guardiã, mas a ergueu para impedir Tatsumi de ataca-la, defletindo sua espada antes mesmo que ele tivesse tempo para estocar seu alvo.
-Emocionante- disse Alura, quanto via os dois aliados medirem forças- Vocês imperiais perdem a paciência tão rapidamente...
-Isso não vale a pena, Tatsumi- disse Kurome entre os dentes, Tatsumi era mais forte fisicamente do que ela esperava- Vamos embora, terá a sua chance de revidar.
Kurome largou-o e deu de ombros, Tatsumi se preparou para segui-la, entretanto Alura ainda lhe disse.
-E você, Kurome, pagará pelo que fez a Doya. Aquilo não foi esquecido. Arrancarei sua cabeça pessoalmente.
-Doya teve o que mereceu- disse Kurome- Ela matou um dos meus, e eu a matei.
-E eu a matarei por isso- disse Alura- Doya era uma amiga.
-Natala também era. Acha que eu me importo?
-Acho que deveria. O sangue que terei que limpar de minha armadura hoje a noite- provocou Alura- Será o seu.
Naquele momento Kurome se virou, e ela sorria de uma forma demoníaca, como Tatsumi nunca havia visto antes. Sacou a espada, a lâmina afiada assoviou. Alura sacou sua espada, mas ela não a atacou. Da lâmina da espada surgiram serpentes de sombras, que se enrolaram pelo braço da portadora e subiram até o pescoço. Um clima maldito tomou conta da barraca.
Tatsumi nunca havia sentido algo como aquilo, ou mesmo visto Kurome evocar os poderes de sua arma, mesmo diante da morte na Torre do Oeste, Kurome havia lutado apenas como espadachim. Mas naquele momento o rapaz percebeu o quão ridiculamente profana eram as divindades que a jovem assassina carregava. Sentiu-se ameaçado, de repente, como se estivesse diante de um poder que desafiava até mesmo a ordem natural da vida e da morte.
-Yatsufusa- disse Kurome- Desperte.
O ar tornou-se maldito, Alura recuou um passo.
-Doya, ergue-se.
Do chão, a ex-comandante Doya se levantou, e Alura congelou onde estava ao ver a antiga comandante surgir do nada. Doya continuava exatamente como era em vida, mas não havia mais vida em seus olhos, pálidos como eram, e isso fez a chama do ódio nascer no coração de Alura.
-Maldita!
Kurome sorriu, aproximou-se de Doya e desferiu um golpe contra ela, preciso o suficiente para cortar apenas as roupas que ela usava. Doya ficou nua da cintura para cima, e no meio de seus seios estava uma horrenda cicatriz, onde outrora uma lâmina fora inserida.
-Então Doya é prisioneira de sua Tengu- disse Alura.
Doya a encarou por alguns momentos, e havia algo terrivelmente humano em seus olhos cor de esmerada. Doya ergueu uma das mãos, em direção a guardiã.
-Alura... - disse ela, e estava surpresa com o som da própria voz- Eu... Falhei...
Kurome sorria, então lentamente baixou a mão de Doya.
-Minha arma é capaz de prender aqueles a quem matei, Doya ainda está aqui, seu sangue ainda corre, ela tem a mesma agilidade que tinha em vida e seu corpo funciona da mesma forma. A própria Doya está viva em algum lugar obscuro da mente dessa marionete e desperta quando vê alguém conhecido, como é o caso de agora. Doya se lembra de quem era e de onde pertencia, mas agora ela é minha, e depois que eu a matei, não pertence a lugar algum- Kurome aprumou-se a Doya, beijou-lhe o seio esquerdo e depois a boca, enquanto escorregava os dedos para o meio das pernas da ex comandante e Doya manteve-se imóvel, como se não houvesse sentido coisa alguma, o ato fez Alura virar o rosto- Agora de joelhos, Doya.
Doya obedeceu, e quando se colocou de joelhos, Kurome tocou a garganta dela com sua katana.
-Como agora sei que ela era sua amiga, e você foi tão gentil em nos oferecer vinho e palavras calorosas, estou disposta a lhe dar um presente também e libertar Doya.
Kurome arrancou-lhe a cabeça com um único golpe de Yatsufusa, o corpo de Doya se desfez como névoa. Kurome guardou a espada e encarou Alura.
-E talvez até o fim desse dia, eu tenha uma guerreira das terras geladas para subistitui-la.
Alura nada disse, apenas retirou-se da cabana.
-Aquilo que fez foi cruel e desnecessário- repreendeu Tatsumi- Cruel até mesmo para os seus parâmetros.
-Você acha?- Kurome olhava para o horizonte- Estou cansada desse teatro de guerra.
-Nunca tinha visto o poder da sua Tengu.
-Não a uso muito- ela respondeu, com uma sinceridade que ele nunca antes havia a ouvido falar- Dói.
Uma trombeta soou ao longe, e dezenas de tambores de guerra acompanharam-na, um som terrível e ininterrupto, ao lado de Tatsumi, um homem tocou uma trombeta em forma de dragão. A batalha ia se iniciar.
Tatsumi tocou a estrela do norte em sua armadura, pensou em Esdeath e onde ela estava naquele momento, imaginou se Kurome pensava em Wave, porque tinha certeza que Wave pensava nela.
- Ainda tem quantos aliados para invocar com sua espada?
-Invoca-los é cansativo e pode me matar, não usarei nenhum deles nessa batalha- Kurome então esporeou o cavalo para frente de seus homens, ergueu sua espada e gritou- Os exércitos do Império são soberanos por mil anos, e eu lhes juro que não cairemos essa noite! Comigo homens! acompanhem-me para o fogo e para o sangue!
E ao dizê-lo, foi ovacionada pelos seus homens. Kurome ergueu a bandeira do império e cavalgou em direção ao inimigo que se aproximava, e seus homens a seguiram. Tatsumi e sua tropa também o fizeram, rumo à batalha.
O som dos cascos, do metal contra o metal, dos gritos de agonia e de ódio encheram o ar, e logo tudo se tornou um inferno de metal, aço e sangue, Kurome ceifava as vidas dos inimigos as dezenas, lutando como um demônio, tendo em alvo apenas Alura. Tatsumi tentou acompanha-la, mas Kurome se embrenhou no meio do exército inimigo, utilizando-se como uma ponta de lança para quebrar a defesa dos inimigos, saltando com seu cavalo por cima da parede de escudos e sendo seguida por dezenas dos seus, Tatsumi tentou acompanha-la, mas foi impedido por uma muralha de cavalos. Uma lança riscou o elmo de Tatsumi, mas no instante seguinte, o guerreiro matou o portador, seguiu a cavalo por entre as fileiras inimigas, e lutou até que seu braço se cansasse de golpear. O cheiro de sangue era infernal, e os gritos eram ensurdecedores.
Tatsumi caiu do cavalo quanto alguém o puxou das rédeas, despencando de costas no chão. Quase foi pisoteado por um cavalo, mas virou-se a tempo de se proteger dos cascos afiados do animal. Ao longe, viu vários de seus homens serem cercados pelas tropas de Alura. E naquele momento Tatsumi entendeu o que era a guerra:
A guerra era um garoto de não mais de dezoito anos do Império tendo seu corpo perfurado por lanças; A guerra era um soldado do norte, que havia sido executado por uma arma amaldiçoada enquanto lutava para proteger sua senhora; A guerra era um garoto do interior, que lutava para proteger seus amigos, não porque odiava o que via pela frente, mas porque amava o que havia deixado para trás; A guerra era um nobre em busca de glória e vingança, que empunhava sua arma, desprovido de emoção; A guerra era o sangue, era a dor, eram homens vivendo, morrendo e lutando pelo seu país, lutando por aqueles que amavam, em nome de homens que seguiam seus próprios interesses. A guerra era um horror inominável, um barulho que ensurdecia, uma dor implacável.
Por um momento, Tatsumi foi capaz de sentir todos esses momentos, como se toda a devastação estivesse tão próxima a ele que era possível agarra-la com as mãos, e de repente, ele sentiu uma vontade quase inevitável de usar Incursio, e era como se a espada o chamasse. Seus dedos seguraram firme o punho da espada e ele se preparou para a chamar pelo nome, mas se calou no momento em que um de seus homens o encontrou caído em meio ao caos.
-Senhor Tatsumi!- disse um soldado, erguendo-o do chão, para logo em seguida ter o peito destroçado por uma lança nortenha. Tatsumi sequer sabia o nome daquele rapaz, e agora ele estava ali, a sua frente, apenas um cadáver em um mar de corpos.
Foi então que uma trombeta soou ao longe, e do terreno elevado, Najenda ergueu sua bandeira.
Foi naquele momento que Tatsumi percebeu que tudo havia sido perdido. Havia temido que Numa Seika tentasse alguma aliança com os Rebeldes, e agora, tinha certeza que ele o fizera.
Inundado pro um senso de dever, Tatsumi se ergueu e brandiu sua espada em direção a um cavaleiro, derrubando-o do cavalo e lhe roubando a montaria. Tatsumi fez o animal rodar, e partiu em direção ao núcleo da guerra. Kurome, onde ela estaria?
Tatsumi matou três homens, arrancou a arma das mãos de outro e derrubou um quinto, uma seta zuniu ao lado de seu ouvido, e outra lhe rasgou a bochecha, arrancando um fio de sangue. Tatsumi localizou o arqueiro, e quando sua montaria foi atingida por uma lança, saltou da sela e caiu sobre o arqueiro, cravando a espada no peito dele, retirando a alma do inimigo em um instante, girou, destruindo o arco de um segundo e rasgando a garganta de outro.
Que os deuses lhe perdoassem ou lhe condenassem, mas Tatsumi tirou a alma de uma dezena de inimigos sem hesitar ou pensar na crueldade de seus atos, desejava apenas encontrar Kurome.
E a encontrou.
Kurome enfrentava Alura em combate singular, mas a guerreira do norte estava levando vantagem sobre ela, principalmente por ser mais alta, rápida e forte, e porque Kurome parecia ferida, havia uma seta cravada em suas costas, atravessando o metal da armadura. Tatsumi avançou para protegê-la, porque os inimigos se aproximavam, e Najenda não teria piedade de Kurome.
Foi então que Alura pareceu tropeçar e cair para trás, e naquele momento, Kurome abriu a guarda para golpeá-la, mas havia sido um truque, e no momento em que Kurome se aprumou para o golpe final, Alura a estocou.
Tatsumi gritou quando viu a lâmina de Alura atravessar o corpo de Kurome e ela tombar de joelhos. Alura ergueu sua espada, pronta para decapita-la.
-INCURSIO!- gritou Tatsumi, e o campo de batalha se ascendeu.
A espada de Alura desceu em direção ao alvo, e as lâminas se chocaram com violência, Alura foi repelida para trás, e ao ver o novo inimigo que estava a sua frente, prontamente voltou à postura de batalha.
-Vocês portadores de Tengu são como pragas!- rosnou ela.
-Não permitirei que a machuque.
-É outra das marionetes dela?
-Sou um aliado- declarou.
-Que seja!
Não houve um sinal para que a luta se iniciasse, Simplesmente Tatsumi deveria proteger Kurome, enquanto Alura deseja proteger a honra de seu país e de seu senhor. Depois de trocarem palavras de inimizade, Alura e Tatsumi sorriram por baixo de seus elmos e então atacaram sem aviso prévio.
Alura desferiu um golpe em arco, de cima para baixo em direção ao ombro de Tatsumi, que por sua vez se esquivou com um salto para trás, a espada quase atingiu seu rosto, se hesitasse por mais um segundo, teria tombado morto, tinha certeza disso, mas mesmo assim a guerreira não lhe deu nenhum segundo de folga, e logo que os pés de Tatsumi tocaram o chão, Alura já estava pronta para uma segunda investida. A espada avançou como um relâmpago na direção do rapaz, que pouco teve a fazer além de erguer a lança para se proteger, a espada afiada partiu Neuntote em dois, como se fosse um graveto frágil, e então lhe atingiu com força nas placas de metal que lhe protegiam as costelas, e mesmo que não tivesse se ferido, Tatsumi sentiu a violência daquele ataque.
-Sua armadura o deixa rápido- disse Alura- Imagino se seria tão rápido sem ela. Não utilizo armas e nem armaduras que me conferem poderes além da carne, mas sei bem como enfrentar um homem que empunha uma lança afiada.
Tatsumi sabia que era um truque, mas sabia também que Alura era uma adversária digna do mínimo de respeito, e por isso desfez Incursio, ficando somente com a armadura que viera. Pensou por um momento que Alura, tendo lutado ao lado de Numa durante toda a vida, sabia das particuliaridades do combate com uma lança.
-Tatsumi- Alura sorriu, retirando o elmo. Os exércitos de Najena se aproximavam, e os de Kurome já haviam se quebrado- Devia ter imaginado. Mas isso não foi uma escolha sábia.
-Que vença o melhor- disse Tatsumi.
-Lhe darei um funeral digno- disse Alura em meio a um leve maneio de espada, indicando o próximo golpe.
Tatsumi notou tal movimento, no geral, a disciplina de um espadachim o permite perceber certos padrões, para o azar de Alura, a disciplina de Tatsumi era rígida como a de qualquer soldado, ele entendia que cada movimento revelava uma intenção, que cada olhar revelava o próximo golpe, eram gestos involuntários, alguns espadachins conseguiam se controlar, tornando-se imprevisíveis, porem esse não era o caso de Alura, como não era o caso de Kurome, que se esforçava para ficar em pé, e estranhamente, o sangramento era pouco.
O próximo golpe de Alura foi simplório, talvez uma tentativa desesperada de atacar, ou mesmo uma brincadeira sádica, mas o golpe foi previsível demais, Tatsumi se defendeu com a maior facilidade.
Alura avançou novamente após a investida falhar, Tatsumi fincou um pé na grama e tentou estoca-la com a espada, a ponta riscou o elmo de Alura e quase furou um de seus olhos, Alura ergueu sua arma, e por sua vez, atingiu-o com força no peito, uma estocada cruel, que afundou o peitoral de Tatsumi diretamente na estrela do norte.
Tatsumi sentiu que estava ofegante depois do golpe, sentiu o peso da arma quase partir suas costelas e então sentiu o peso da bota da inimiga em seu peito, um chute perfeito desferido com destreza pela adversária, Tatsumi foi arremessado ao chão e a espada escapou de seus dedos.
A espada de Alura desceu como um relâmpago, mas Tatsumi conseguiu sacar uma adaga a tempo e desviar seu curso com uma defesa bem sucedida, então se ergueu cambaleante e apanhou a espada, Alura o atacou mais uma vez, suas espadas se chocaram, uma, duas, três vezes, até que Tatsumi conseguisse uma boa posição, então desferiu um golpe superficial contra as pernas de Alura que caiu sobre um joelho, desequilibrada, o segundo golpe foi um chute, que arrancou seu elmo.
O rosto de Alura se manchou de sangue, seus cabelos brancos estavam rubros, ela se ergueu cambaleante, ergueu a espada e desferiu uma série de golpes contra Tatsumi, colocando-o de joelhos, chutou-o no rosto, uma, duas, três vezes, até que o rosto do guerreiro se tornasse uma mancha vermelha de sangue.
Alura pisou no pulso de Tatsumi, o encarou com ódio e ergueu a espada.
-É o fim- disse ela, os dentes imundos de sangue. Recuou a espada, se preparou para estoca-lo-
O sangue jorrou.
-O que...- murmurou Alura, quando encarou, incrédula, Kurome em pé, a sua frente, com sua Yatsufusa enterrada até o cabo em sua barriga, a dor daquela espada era diferente, quase prazerosa, e Kurome havia se movido tão rapidamente em seu ultimo ato para derrubar a inimiga, que simplesmente despencou inconsciente quando arrancou a espada- Kuro... Kurome... Desgraçada.
Tatsumi se levantou, cambaleante, olhou para Alura, que mesmo com um rombo sangrento no corpo, mantinha-se em pé. Alura ergueu a espada para uma ultima investida, Tatsumi aceitou seu desafio.
Um ultimo golpe.
Tatsumi não poderia ignorar o ato de Kurome, tampouco a honra dos nortenhos, e por isso abriu a guarda totalmente enquanto um avançava em direção ao outro, Alura e Tatsumi se atacaram e Tatsumi desferiu o golpe mais furioso que já havia dado em toda a sua vida, sua espada atingiu em cheio o ombro da guardiã antes que ela tivesse a chance de atingi-lo. Gloria do Rei escapou de seus dedos, enquanto ela recuava alguns passos, o sangue manchava sua armadura de rubro, fluindo pelos cortes abertos.
-Tat... Tatsumi- Alura deu um passo em sua direção e despencou, mas ele a amparou.
-Perdoe-me- disse Tatsumi, enquanto observava os olhos de Alura perderem seu brilho- Foi a melhor guerreira que eu já enfrentei em minha vida. Eu não era páreo para você.
-Precisa... Aprimorar sua guarda... Estava aberta demais- Alura, apesar de tudo, era uma guerreira do Norte, e para eles, não havia uma morte melhor do que perecer em campo de batalha, e diante de todo o infortúnio da guerra, Tatsumi havia sido o primeiro estrangeiro que havia compreendido sua cultura e lhe amparado no momento do fim- Foi um bom combate.
-É. Foi.
Tatsumi pousou o corpo de Alura no chão e se ergueu para correr na direção de Kurome, a arrebatando no campo de batalha, e então ativou Incursio novamente, antes que a onda de cavaleiros de Najenda os engolisse.
Ao longe, Mine mirava na direção da assassina ferida, e franziu o cenho ao perceber que Tatsumi havia lhe salvado a vida. Ainda os tinha alinhados ao seu rifle enquanto fugiam, e da distância em que estavam ela não erraria.
Mas ela não atirou.
Kurome despertou alguns dias depois, estava em uma cama macia, com o corpo todo enfaixado, um perfume forte de incenso temperava o ar, e era possível ouvir o som dos pássaros do lado de fora, ela tentou se sentar, mas a dor a assaltou e ela voltou a se deitar.
Ela olhou para os arredores, viu sua espada e suas roupas cuidadosamente colocadas sobre uma mesa, e Tatsumi. O rapaz estava em pé ao lado da porta, vestia-se com roupas brancas e novas, e não estava em posso de arma alguma.
-O que houve?- ela murmurou, e então percebeu que lhe faltavam forças até mesmo para falar.
-Nós perdemos- disse Tatsumi, em um tom soturno- Najenda e o exército revolucionário cercaram nossas forças. A grande parte foi capturada, o restante pereceu em combate.
-E por que estamos vivos?
-Tirei-nos de lá antes do pior.
Kurome ficou em silencio por alguns segundos, imaginando como aquilo havia sido possível.
-Você derrotou Alura?
-Nós dois a derrotamos, não se lembra?
Kurome balançou a cabeça lentamente.
-Para ser sincera, não me lembro de muita coisa desde a tenda... Você me salvou?
-Salvei- disse Tatsumi- E curei seus ferimentos.
Kurome olhou para si mesma, estava com o corpo limpo, costurado e aparentemente bem cuidada, não imaginava que de todas as pessoas seria Tatsumi a lhe salvar daquela forma, quando a própria irmã havia a deixado para perecer.
-Onde estamos?
-Em algum lugar onde a guerra não nos alcança- respondeu- E até que você se recupere, temos que ficar aqui. Estamos na minha cidade natal.
Kurome descansou por mais alguns dias, e Tatsumi não pensou em coisa alguma além de mantê-la viva.
Brand, o curandeiro local, um homem grisalho, de cinquenta anos de idade, aproximou-se de seu corpo, retirou suas bandagens imundas de sangue e removeu a camada de curativos feitos à base de plantas e alquimia. A carne onde a espada de Alura a havia estocado estava vermelha e úmida, mas o corte aos poucos começava a cicatrizar.
-É um milagre que ela esteja viva- disse Brand, limpando a área machucada com um líquido estéril, isso fez Kurome se encolher- A espada varou seu corpo de um lado ao outro, ela perdeu muito sangue e o dano aos seus órgãos internos é irreparável, como é possível que ela ainda esteja viva?
Tatsumi encarava Kurome com certa pena, ela estava mais magra e pálida que o habitual, e assemelhava-se a um cadáver, a carne de suas bochechas havia secado, e a pele parecia couro esticado sobre o esqueleto, ela parecia menor pela falta de nutrição e a área em volta dos olhos era escura, como se manchadas de carvão. Ele olhou para a armadura dela, já reparada e polida, e imaginou se ela voltaria a usa-la um dia.
-Ouvi dizer que ela era de uma organização de assassinos- disse Tatsumi- Que se drogavam para se tornarem mais fortes do que o habitual. Os corpos eram modificados para...- Tatsumi havia visto as cicatrizes cruéis que ela carregava em seu corpo- Sobreviver a tudo.
Brand pareceu infeliz.
-Talvez seja por isso que ela ainda se agarre a vida, mas... Os deuses me perdoem, senhor Tatsumi... Ela já deveria estar morta, olhe para ela, isso não é vida, não é resistência, é outra coisa... Seu tempo de vida já deveria ter chegado ao fim.
A noticia atingiu Tatsumi como um soco.
-Quanto tempo, senhor Brand?
-Não sei dizer, meu rapaz, horas, dias, meses?- cobriu o corpo dela com as bandagens novamente- Tudo depende de o quanto ela vai suportar até que seu corpo comece a se recuperar.
-Não pode fazer mais nada por ela?
-Estou fazendo o possível, meu jovem, mas... ninguém sobreviveria ao que ela sobreviveu. Existe um limite para a medicina que conheço.
-Então ela está perdida?
-Para a medicina, sim- Brand se levantou- Entretanto, poderia tentar leva-la até as Termas de Deus, mas Não sei se ela sobreviveria a viagem até lá.
-Termas de Deus?
-É um lugar para onde os feridos são levados, Tatsumi, um lugar de aguas mágicas, por assim dizer, já vi pessoas doentes serem curadas lá, e ferimentos terríveis se cicatrizarem.
-Então eu a levarei lá- declarou.
Brand sorriu, sempre se admirava com a determinação daquele rapaz.
-Essa garota, é a sua namorada?- perguntou, com um sorriso sugestivo no rosto- Conseguiu entrar para o exército imperial, como tanto desejava?
Tatsumi sorriu.
-É uma companheira, senhor. E sim, eu consegui, mas não era o que eu imaginava. Enfim, obrigado por tudo, senhor.
-Entendo- disse Brand- Se me permite um conselho, Tatsumi, aqueles doces que estavam com ela... Não permita que ela os ingira mais. São drogas, substancias pesadas... Veneno.
-Entendido- disse Tatsumi, e atirou ao velho uma moeda de ouro.
-É mais do que o necessário para o serviço que eu prestei, Tatsumi.
-Mas é o que o senhor merece, Brand.
-Que os deuses o abençoem então, meu jovem.
Quando Brand se retirou, Tatsumi aprumou-se de Kurome e lhe tocou o rosto com a ponta dos dedos, sentiu que a pele ardia em febre, depois, passou a mão pelos cabelos, estavam duros e quebradiços, e um tufo deles saiu entre seus dedos.
Que situação triste- pensou ele.
Durante todo aquele dia, Kurome permaneceu em sono profundo, mas no dia seguinte ela acordou, e lentamente se colocou em pé, cambaleante, ela foi até a sua bolsa, mas não encontrou o que procurava, então revirou toda a cozinha, bagunçando as panelas e os armários, comeu tudo o que era doce que encontrou pela frente, depois vomitou tudo no chão, seu corpo ardia como se ela houvesse ingerido brasas ardentes, e em meio aos pedaços de comida parcialmente mastigados, havia sangue.
-Está procurando por isso?- questionou Tatsumi, com uma pequena bala entre os dedos.
Kurome limpou a boca e andou até ele, lenta e cambaleante, tentou retirar a guloseima do companheiro, mas falhou.
-Me devolve- disse Kurome, com uma voz tão fraca que mais parecia um sussurro- Me devolve...
A força faltou a Kurome, e ela caiu, mas Tatsumi a amparou antes que ela despencasse no chão, Kurome tinha o peso de uma criança.
-Kurome... Você precisa de ajuda- Tatsumi esmagou a droga entre os dedos.
-Eu preciso dos meus doces... Sem eles eu não... Eu não sou nada...
-Está errada- Tatsumi a ergueu como uma boneca de pano- Aquilo estava matando você aos poucos.
-É você quem vai me matar... Eu... Eu não consigo viver sem aquilo...
Kurome lhe mordeu a mão, o sangue verteu, mas Tatsumi não a largou.
-Pare com isso!
-Por favor, Tatsumi... Não me faça implorar...
-Não farei, e mesmo que você tente, não vai funcionar.
-Por que está fazendo isso comigo?- perguntou Kurome, tentando se afastar de Tatsumi, mas não tinha força o suficiente para fazê-lo.
-Porque prometi a Wave que a protegeria na batalha- declarou, e ao fazê-lo, Kurome se calou.
-Wave... - murmurou ela, enfim se dando conta da própria mortalidade- Se Wave me vir desse jeito ele... Ele vai fugir de mim...
-Wave não faria isso, ele a ama, e além disso, ele não virá aqui- colocou-a sobre a cama- Para todos os efeitos, estamos mortos, por isso trate de se recuperar, Kurome, volte a ser a pessoa orgulhosa que era.
Naquele mesmo dia, Tatsumi alimentou Kurome da melhor forma que conseguiu, e aos poucos, o brilho da vida voltava aos olhos escuros da jaeger, mas Kurome ainda sangrava, pelo ferimento e pela boca. Uma conhecida de Tatsumi se encarregou de dar um banho em Kurome, e de vesti-la com roupas mais leves, um simples vestido púrpura, enquanto Brand cuidava para que o ferimento cicatrizasse direito. O velho tinha consigo um pequeno frasco com a aguas milagrosas das termas, e a usava para limpar o ferimento. A melhora foi imediata.
-Isso é o suficiente para que ela não morra pelos ferimentos físicos e para que seu corpo volte a funcionar normalmente- disse ele- Mas as drogas... Causaram dano demais ao cérebro dela. Ela pode sofrer de abstinência.
Passaram-se os dias, e Tatsumi matou a saudade de sua terra natal, e chorou ao contar que seus companheiros haviam sido assassinados. Houve uma cerimônia em homenagem a eles, e Kurome os acompanhou nesse dia, já curada da desnutrição e com os olhos negros brilhantes como estrelas, sua recuperação foi rápida, e quase milagrosa. Ela tinha os cabelos finos presos por uma trança, e os pés descalços sobre a grama próxima ao rio, onde duas velas alaranjadas seguiam o curso das aguas em memória daqueles que se foram.
Naquele mesmo dia, Kurome segurou Yatsufusa novamente, e percebeu que o peso da arma que carregava parecia maior, mas aquela arma venenosa parecia chama-la ao uso, ainda que ela soubesse que estava melhor longe dela, era tentador voltar a segura-la. Deixou-a de lado por aqueles dias.
-Já não me lembrava da última vez em que me vesti como uma mulher mundana- ela confessou- Ou que me separei de minha espada por tanto tempo. O que será que houve com a batalha de Esdeath?- perguntou a Tatsumi, enquanto observavam a luz da lua cheia clarear as aguas do riacho. Pequenos peixes florescentes dançavam a noite, e vagalumes brilhavam como estrelas errantes pela noite estrelada.
-Ela fez Numa recuar... Foi isso que me disseram- respondeu Tatsumi- E agora eles estão avançando em direção ao norte, mas o exército revolucionário está atacando as fortalezas imperiais do outro lado. Iniciou-se uma chacina de figuras importantes do império.
-Que situação esquisita- Kurome abraçou seu corpo com os braços- Nunca achei que pudéssemos perder...
-Numa é um bom general.
Houve um momento de silencio, e Tatsumi imaginou que, em outra situação, ele e Kurome poderiam ter sido bons amigos, mas havia um abismo entre os dois, ela era a sua protegida, mas não era próxima a ele, nem sequer parecia se importar com a presença do guerreiro.
-E aquela mulher... Alura...
-Ela morreu pouco depois da batalha. Provavelmente do ferimento de sua espada.
-Não... Não a matei. Se eu tivesse matado ela, ela apareceria em meus pesadelos, mas Alura não está lá.
-Nós dois a vencemos- disse Tatsumi- Você a atingiu quando ela ia me executar.
Kurome abraçou o próprio corpo, sentindo-se menor do que realmente era. Nunca em sua vida havia saboreado uma derrota tão amarga.
-Ela me derrotou, pode imaginar o que Esdeath irá falar?
-Não vai falar coisa alguma. Não tem nem como ela ficar sabendo disso.
-Irá falar que eu fui fraca, ela... - os olhos de Kurome se encheram de lágrimas, nos últimos dias ela estava emotiva demais- Ela irá me descartar e a organização irá me descartar também... Vão me matar, Tatsumi... Eu nunca mais verei Wave...
Wave, era com ele que ela se preocupava, apesar de tudo. Tatsumi segurou forte a mão de Kurome. Ela o olhou, e pela primeira vez viu nele um amigo.
-Ninguém vai lhe ferir- ele disse- Eu estou aqui, e enquanto eu respirar, estarei a protegendo.
No final, caminharam lentamente pela cidade até encontrarem a casa novamente, Kurome havia exagerado na bebida, e por isso caiu no sono no momento em que chegou a casa. Tatsumi a cobriu e foi até o lado de fora da casa, pensar em tudo o que havia conhecido.
Encarou a maior das estrelas, que ardia na noite como um farol, e pensou que talvez devesse treinar um pouco com Incursio no tempo livre.
Então Tatsumi ouviu o engatilhar de uma arma, e a noite mergulhou no silêncio. Tatsumi saltou de onde estava e correu em direção à Kurome, derrubando-a da cama. Kurome caiu assustada no chão, e naquele momento um raio de luz prateado atravessou a residência, pulverizando tudo pelo caminho, destruindo a janela, parte da cama e um vaso de flores, pétalas caíram lentamente e o cheiro de madeira queimada temperou o ar, o tiro teria destruído Kurome se ela estivesse dormindo.
-Mas... O que...
-Estamos sendo atacados- disse Tatsumi- Night Raid... Devem ter nos seguido até aqui.
Os olhos de Kurome brilharam de excitação.
-Acha que Akame está aqui?
-Se estivesse, eu já estaria morto- se levantou- Fique aqui, está bem?
-Eu não tenho forças para te ajudar- lamentou-se Kurome- Brand me disse para não fazer muito esforço, ou os curativos se abririam e eu sangraria até a morte.
Tatsumi lhe dirigiu um sorriso, então se levantou, mas antes disso, Kurome o segurou pelo braço.
-Ainda não o agradeci por ter se arriscado por mim... Duas vezes.
-É minha companheira- Tatsumi apanhou sua espada- Fiz o que devia fazer.
-Tatsumi, eu... - os olhos de Kurome se encheram de lágrimas- Eu o julguei mal. Me perdoe se algum dia eu lhe disse algo que o feriu.
-Não é a primeira a fazer isso, e não será a ultima- Tatsumi se levantou e correu em direção à porta- Viva para ver Wave novamente! Não saia dessa casa!
Outro tiro foi disparado, este quase arrancou a cabeça de Tatsumi, mas ele se esquivou a tempo, e o tiro apenas raspou seu ombro e se perdeu quando atingiu o riacho, Tatsumi gritou de dor quando viu a carne de seu ombro queimada, mas havia visto de onde o disparo partiu.
Então correu em direção a um terreno mais elevado, saltou por sobre um tronco caído, desviou de um pequeno rochedo e se abaixou antes que outro tiro o atingisse. Já havia percorrido maior parte do caminho, e bastou apenas um salto para alcançar o atirador.
Sua espada desceu, impiedosa, mas o atirador se esquivou. Havia algo de familiar naquele agressor, ainda que, escondido por uma mascara branca e por um pesado capuz de pele. O ombro ardia, as pernas vacilavam, mas Tatsumi lutaria até a morte para proteger Kurome.
-Quem é você, desgraçado!- disse Tatsumi, apontando a espada em direção ao atirador.
-É você mesmo– Respondeu o atirador, sua voz era feminina, e ela parecia surpresa- Achei que meus olhos tinham me enganado...
O coração de Tatsumi parou quando o atirador revelou seu rosto. Era Mine, a boa e velha Mine. Os cabelos cor de rosa estavam presos em um rabo de cavalo, amarrado com corda de arco, e os olhos profundos e claros, encaravam Tatsumi com descrença.
-M-Mine... - Tatsumi aprumou-se para abraça-la, mas ela lhe apontou o rifle.
-Não se aproxime de mim- disse ela- Vim até aqui para eliminar a irmã de Akame!
Tatsumi suspirou. O destino sempre os fazia se reencontrar das piores formas possíveis.
-Não sei se posso permitir isso.
-Por que você está protegendo aquele demônio? Escolheu o seu lado? É agora um subordinado de Esdeath?
-Eu não sei o que eu sou agora, mas... Tenho uma missão, que é proteger aquela mulher- Odiou a si mesmo por estar na mesma situação da floresta outra vez- E desta vez, sem negociações.
-Tatsumi... O que você se tornou?- Mine preparou-se para atirar.
-Eu a protegi quando Bulat me pediu. Deveria saber que eu não posso simplesmente virar meus olhos e deixar um companheiro morrer.
-Leal como um cão- rosnou Mine, havia tristeza em seus olhos- Mas é um cão de Esdeath!
-Acredite, não é por ela que eu faço isso- Tatsumi se colocou em posição de luta- Não quero lutar contra você, Mine!
-Eu também não ia querer lutar contra mim, Tatsumi- disse Mine, prometendo a si mesma que não deixaria o que sentia por Tatsumi interferir- Vamos acabar com isso de uma vez por todas- e sorriu- Farei o possível para não te matar, e depois, talvez, iremos conversar sobre a sua lealdade! Mas hoje Kurome morre!
-Vai ter que me matar antes.
E com um suspiro, a Atiradora aceitou o desafio.
-Não vou mata-lo, talvez lhe arranque um dos braços até que você recupere sua sanidade!
E atirou.
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