Tudo aconteceu tão rápido quanto a batida de um coração.
Em um momento as chamas se dissiparam, e em outro Akame ceifou a vida da criatura, avançando como uma estrela cadente na direção da pequena cabeça, fazendo o monstro gritar e tombar, mas não antes de atingir Tatsumi com um golpe poderoso.
A criatura estava morta, e Tatsumi estava perigosamente ferido. Leone sabia que aquilo ainda não havia terminado, pois logo que a luta acabou, sentiu uma tensão perigosa no ar. E quando viu Tatsumi se erguer de onde estava e erguer a lança, coberto pelo sangue negro da criatura, Leone teve um mau pressentimento.
Naquele momento, Tatsumi não parecia ser o companheiro que havia acabado de arriscar a vida para salvar a vida de todos. Havia se erguido em um longo lamento de dor, com a couraça cinzenta coberta de sangue negro e vapor. Os olhos vermelhos fitaram Leone, ameaçadores como eram, quase como olhos de um animal.
Tatsumi urrou. A voz do rapaz estava grossa, gutural, como o eco de uma caverna profunda, um som terrível que de forma alguma cabia ao rapaz. A armadura estava partida em vários pontos, e ela parecia se mover como metal derretido, tomando formas grotescas e pontiagudas, tentando se adaptar ao corpo, e o elmo em forma de cabeça de dragão movia suas presas, como se rangesse os dentes.
- Tatsumi... - murmurou a loira, no momento em que Akame correu na direção do companheiro para ajuda-lo.
E ele a atacou. Se Akame não fosse rápida o suficiente, teria sido atingida pela lâmina carmim que avançou em uma estocada violenta, mas ferida e exausta pelo combate foi fácil para Tatsumi avançar e agarra-la pelo pescoço, Tatsumi se moveu com uma velocidade sobre humana, erguendo uma parede de pó no momento em que apanhou Akame. Murasame escapou dos dedos da assassina, e ela não reagiu como reagiria ao enfrentar um inimigo.
Aquele era Tatsumi, era seu amigo, ou deveria ser.
-T-Tat... Tatsumi- murmurou ela, enquanto sentia os dedos firmes dele se cravando em sua garganta. A manopla era fria, mas o olhar assassino do rapaz era ainda mais frio e cruel. Ele a mataria.
Kurome correu para ajudar a irmã, atingindo a lâmina de Yatsufusa contra os dedos de Tatsumi, não o cortou, mas serviu para fazê-lo largar Akame. Wave se aprumou a companheira, impedindo Tatsumi de parti-las ao meio com a lança, segurando-a em pleno golpe, mas foi repelido pela força sobre humana do rapaz quando este o socou no peitoral com tanta força, que o metal se partiu em seu punho.
-Somos seus amigos!- rugiu o Jaeguer, porque ainda se recordava do que Tatsumi havia feito para ele. Mas sua voz não o alcançava. Seu peitoral havia rachado diante da violência do impacto, e ele observou com certo terror os dedos deslocados do rapaz voltarem ao lugar.
Wave teve que recuar quando Tatsumi avançou com a lança outra vez. O rapaz se movia desajeitadamente como um animal selvagem, mas cada golpe era mortal, cheio de raiva e de ódio, de poder.
Leone correu até ele e se aprumou para imobiliza-lo, mas Tatsumi se libertou com facilidade, e o momento seguinte de Leone foi de apenas dor, porque com um golpe Tatsumi lhe decepou a perna direita, e com outro, quase lhe partiu ao meio. E quando Run tentou para-lo, Tatsumi lhe arremessou a lança, atingindo-o na asa e o fazendo despencar do céu.
Chelsea observava aquela cena de uma distância segura, mordeu os lábios, sabia o que estava acontecendo, era o temor de Tatsumi se tornando realidade. Levou a mão até Gaea Fundation, imaginando o que aconteceria se ultrapassasse seu limite de três transformações.
Havia usado a última para recuperar-se de seu ferimento.
Suspirou e decidiu que aquilo não era importante, então, materializou a aparência de Mine em sua cabeça e utilizou o poder de sua Tengu. Sentiu o peito esmagar e todos os músculos doerem enquanto seu corpo se modificava. Suas roupas eram grandes demais para o corpo pequeno de Mine, mas isso não a impedia de se locomover. Quando deu o primeiro passo, sentiu o corpo vacilar e o ar fugir de seus pulmões. A quarta transformação, pensou, um nível de exaustão que nenhum corpo deveria estar acostumado. Seus ossos doíam, seus músculos recusavam a se mover devido a câimbra.
Andou até Tatsumi, com o coração batendo aceleradamente, imaginando se ele a atacaria. Cada passo era doloroso, como se seu corpo estivesse querendo desmontar. A visão era turva, e Chelsea tinha a sensação de que sua pele queria escorrer de seus ossos. E então, quando chegou perto o bastante do caos, Tatsumi a olhou.
Mas não eram os olhos do companheiro que a fitaram, eram os olhos de outra coisa, olhos crueis, cheios de raiva e de veneno. Até mesmo Esdeath, pensou, tinha algo de humano em seus olhos azuis como pedras de safira, ainda que Chelsea a achasse um monstro, mas olhar par Tatsumi era como encarar uma besta selvagem, e seus olhos vermelhos pareciam, assustadoramente, vasculhar cada canto de sua alma, vendo dentro e através dela, como se Chelsea fosse feita de vidro.
''Ele vai me atacar''- pensou- '' No que eu estava pensando?''
Mas ele o fez. Chelsea sorriu, aliviada, e o chamou pelo nome.
-Tatsumi- disse ela, se surpreendendo com o som da própria voz- Tinha medo, mas era uma atriz, e sua voz soou como o chamado de alguém apaixonado.
Todos pararam para observar aquela cena, enquanto a armadura de Tatsumi se transformava em milhares de pequenos fragmentos, Tatsumi estava em pé, sujo, coberto do próprio sangue, enquanto a armadura escorria pelo seu corpo, se partindo como cristal no chão. Ele olhou para Chelsea, disse o nome de Mine, e tombou.
Um quarto da cidade foi destruída; centenas de pessoas feridas e dezenas de mortos; grande parte da nobreza morreu, e Albion, outrora bela, mais parecia uma zona de guerra se alguém desavisado a visse naquele momento. Chegou aos ouvidos do povo que aquilo tudo aconteceu porque uma alquimista trazida pelo filho do primeiro ministro havia evocado aquela besta. Houveram outros confrontos, como um massacre no Cais, e este foi atribuído a já condenada, Wild Hunt.
Foi Astra quem se pronunciou publicamente sobre tudo, autorizada pelo pai, o senhor Rei. A população a ovacionou, e os soldados que haviam perdido seus irmãos de espadas naquele dia juraram lealdade a princesa, haviam obviamente, questões mais sérias em Albion, mas naquele momento o povo implorava por descanso, e a figura de Astra, inabalável, tornou-se conhecida, e de certa forma, admirada.
Yatsufusa foi danificada, Naegling foi destruída, Leone se feriu gravemente, e tanto Akame quanto Kurome estavam feridas demais para simplesmente irem embora, e por isso, ambos os lados concordaram em não se agredirem, e tampouco tinham motivo para fazer isso naquele lugar. Wave e Run não estavam muito feridos, apesar dos danos nas Tengus e do cansaço que Wave sentia por abusar tanto do poder, enquanto Chelsea e Tatsumi estavam desacordados desde o acontecimento.
Dorothea, Suzuka e Izou escaparam, e Cosmina não foi encontrada. Wave a viu uma ultima vez perto do cais, com um grande homem ao seu lado, entretanto, ela desapareceu antes que ele pudesse falar alguma coisa.
O corpo de Vaarys foi consumido pelas chamas, e Astra ofereceu uma morada em Albion para sua esposa e para seu filho que ia nascer, era o mínimo que ela poderia fazer pelo mercenário. Syura estava morto, e a noticia de seu assassinato chegaria aos ouvidos de Honest mais cedo ou mais tarde, o que aumentaria ainda mais as tensões dentro do Império.
-Dorothea escapou- disse Akame para Leone, que depois de três dias, estava quase inteiramente curada- Vim até aqui só por ela, e... Ela fugiu mesmo assim.
-É uma pena- disse a loira, sorvendo um gole de cerveja, os membros estavam quase completamente cicatrizados- Como está o braço?
-Melhor- disse Akame, mas ela se curava rápido, e aquilo não era uma surpresa- Não fui eu quem ficou mais machucada no final das contas.
Leone pensou em Chelsea, que estava dormindo há dias e Tatsumi, que enlouqueceu no campo de batalha.
-Não foi, com certeza não - suspirou- Mas isso não significa que nossos ferimentos não são importantes- olhou para o braço, outrora decepado- Abusamos dos poderes das tengus.
-Todos nós- disse Akame.
-Alguns mais do que os outros. Como está a sua irmã?
-Não irá nos incomodar, acho que nenhum deles- suspirou- Isso é um alivio.
-Pensar que isso tudo é culpa de Syura me dá nauseas- disse Kurome, olhando para sua espada. Iria reforma-la. Sentia-se mais emotiva desde os eventos no norte, e talvez perder suas marionetes fosse bom, talvez não. Para ela, não importava muito naquele momento, porque se sentia triste pelo que havia visto em Albion, e talvez isso significasse que as drogas que inibiam suas emoções estariam perdendo a influencia aos poucos.
-Ele está morto- disse Wave em pé, observando as ondas do mar se quebrarem contra o cais. Wave amava o cheiro do oceano, e Kurome aprendeu a ama-lo também- Ele já pagou pelo crime que comete.
-A morte é pouco por todas as coisas que ele merecia- disse Kurome, ainda que soubesse que até pouco tempo ela não era um exemplo diferente de pessoa -E teoricamente, deveríamos tê-lo protegido. Ele era um emissário de Honest.
-Talvez- disse Wave- Eu preferia morrer naquela praça a proteger um homem como ele.
-Diga-me, Wave, quem é pior: Aqueles que matam as pessoas ruins, ou aqueles que as protegem?
Wave manteve-se calado, observando o sol poente pintar as aguas. Então sentiu os braços de Kurome se enrolarem em volta de seu pescoço e ela o puxar para baixo, na direção de seus lábios.
-Espero que possa me perdoar pelo que fiz você passar- disse Kurome.
E o beijou.
Run estava ao lado da cama de Chelsea, ela estava dormindo, dormia fazia dias. Os ferimentos estavam sendo tratados, mas ninguém sabia se ela de fato, acordaria. Run a observava, e por algum motivo, não era capaz de tirar os olhos da ruiva, ela era ainda mais bonita do que ele se lembrava, o rosto delicado, a pele alva, e os cabelos ruivos que escorriam como um rio de fogo por cima de seus ombros. Run ainda não estava habituado com aquele rosto, havia conhecido Chelsea com outra face, mas aquela era a sua face real... E Chelsea era maravilhosamente linda.
A porta se abriu.
Leone entrou no quarto para ver o estado dos companheiros, e lá encontrou Run. As asas de Mastema estavam retraídas para dentro dos discos nas costas, e ele mal se moveu ao vê-la entrar.
-Ah, olá- disse a loira, aproximando-se do Jaeger.
-Olá, Leone- disse Run.
Ela olhou para Chelsea e então olhou para Run por cima do ombro.
- Está aí há quanto tempo?
-Desde que ela foi trazida para cá- respondeu- Saí para comer, mas... Quero ter certeza que ela vai acordar antes de eu voe de novo para A capital.
-Vai voltar ao Império- disse Leone, em um tom de voz estranho.
-Tecnicamente, estamos no Império- sorriu- É tudo Império, não?
-Pois é- Leone suspirou -Ela ficará feliz em saber que você esteve aqui quando acordar, sabe, se precisar voltar antes dela acordar.
-Acha que ela vai?
-Ela sempre acorda- disse Leone- Chelsea é dura na queda.Ela tem um histórico de sobreviver ao limite das próprias habilidades, não se preocupe.
-Ela é... E eu errei demais com ela- disse Run- Por minha omissão ela...
-Eu conheço a história- interrompeu Leone- Não há como reparar o passado, então, não tem porque ficar se lamentando por ele também... Você é um dos Jaegers de Esdeath, não é?
-Sou.
-Ainda não é tarde demais para se juntar a ela- disse Leone- Para se juntar a nós.
Run sorriu, balançando a cabeça.
-Agradeço pela oferta- Run se levantou- Mas eu não trairia minha senhora.
-Nem por ela? Dizem que o amor é morte do dever- Run manteve-se em silêncio, não concordou, nem discordou -De toda forma, agradecemos a ajuda de vocês- Leone se aprumou ao corpo de Tatsumi, que estava ao lado, e enquanto afastava uma mecha de cabelo da frente do rosto do companheiro, disse- Quando ela acordar, quer que eu diga que você veio vê-la?
-Não... - respondeu Run- Acho que não é preciso...
-Falarei da mesma forma- disse Leone, com um sorriso no rosto- Ainda que sejamos inimigos, você tem um espaço naquele coração de pedra, mesmo que ela relute em aceitar isso.
-Isso é triste- disse Run- Ela devia ter seguido em frente.
-E você não?- Questionou Leone- Pense na minha oferta com carinho, senhor Run.
-As coisas são mais complicadas que isso- disse Run, e deu de ombros- Não partiremos enquanto Wave e Kurome não se recuperarem totalmente, então... Até mais ver.
-Talvez sejam. Até- disse Leone, enquanto Run se afastava, e então sorriu quando o Jaeger deu meia volta e beijou Chelsea nos lábios antes de partir, era uma pena que homens como aqueles dois estivessem ao lado de Esdeath. Em outra ocasião, não hesitaria em chama-lo de amigo.
Tatsumi acordou dois dias depois, assustado e desnorteado, Leone estava ao seu lado, e no momento em que ele despertou, agarrou o braço da loira com tanta força que por um momento ela achou que ele fosse se quebrar. O olho direito ardia como uma brasa acesa e ele parecia com dificuldade para respirar, mas depois de um tempo, pareceu voltar ao normal.
-L-Leone...
-Olá, bela adormecida- disse ela, com um sorriso no rosto- Tudo bem? Astra nos convidou para um jantar no que restou de seu palácio.
-Então você não se lembra de nada?- perguntou Akame, Tatsumi percebeu que ela tinha vários pequenos cortes pelos braços, e um no rosto, e que seu braço estava enfaixado. Havia um certo tom de desconfiança em seus olhos. Chelsea havia acordado também, mas parecia mais fraca do que o habitual, e não era capaz de comer nada sem vomitar, todos estavam sentados em uma mesa, os quatro, e Wave. O Jaeger estava lá porque Akame o convidou, primeiro porque tinha curiosidade da relação dele com sua irmã, e outra, porque ele estava disposto a conversar sobre uma trégua entre as duas facções pelo resto daquele período de tempo em Albion.
Tatsumi balançou a cabeça negativamente, Akame suspirou.
-Você enlouqueceu- disse a assassina- Enfrentamos o monstro, e você nos atacou depois disso.
-A ultima coisa que eu lembro é de... - levou a mão até a cabeça, como se tentasse se recordar de alguma coisa- Bem... Estar no meio de chamas negras. Me perdoem, eu não me lembro direito de quase nada. Eu... Feri alguém?
Todos olharam para Chelsea, que balançou a cabeça negativamente.
-Eu- disse Leone- Akame, e aquele loiro, sinceramente, você quase nos matou.
-Eu pedi para que me parasse caso eu... Ficasse daquele jeito.
-Então aquilo era uma possibilidade?- Akame franziu o cenho- Deveria ter nos contado.
-Me desculpe. Não deu tempo.
-E a gente até tentou- continuou Leone- Mas fui feita em pedaços. Você limpou o chão conosco, se não fosse por Chelsea...
-Não fiz nada além do necessário- disse a ruiva.
Naquele momento, um dos serventes do palácio se aproximou deles.
-Os senhores desejam alguma coisa?
-Um pedaço de carne do tamanho dessa mesa- disse Akame, debruçando-se sobre a madeira, estava faminta demais.
-Chá- disse Chelsea, ainda se sentia enjoada o bastante para não poder comer coisa alguma.
-Alguma coisa para diminuir a dor- disse Wave.
-A mesma coisa que Wave pediu- disse Tatsumi, sentindo o estômago revirar.
-Cerveja. O suficiente para me fazer desmaiar nessa mesa- disse Leone.
O atendente se afastou com um aceno de cabeça.
-Então você está com eles- disse Wave, de repente- E é Incursio, aquele que nos causou tantos problemas no passado. Quando me disseram, confesso que não acreditei. Mas... É você mesmo.
Naquele momento, Akame, Chelsea e Leone se ergueram, entendendo o que se passava e a relação daqueles dois. Não iriam interferir.
-Parece que vocês dois tem coisas para resolver- disse Leone- Nos avisem quando os pedidos chegarem.
-A ultima vez que nos vimos você era nosso aliado- disse Wave- E agora, está com o inimigo- suspirou- Mine?
-Coisas aconteceram- foi a única coisa que ele disse sobre o assunto- Muitas coisas.
-Você nos traiu- Wave balançou a cabeça- Mas também imagino que nunca foi o nosso aliado ou teve algum laço conosco. O que me faz pensar no motivo de ter salvo Kurome... Seria muito melhor para vocês deixa-la morrer em uma vala.
-Somos amigos, Wave. Eu salvei ela porque me importo com ela, e com você.
-Não, não somos- disse o Jaeger- Mas falo isso na condição de um soldado Imperial.
Tatsumi apenas o encarava, sem dizer uma única palavra.
-Fale alguma coisa, Tatsumi, não deixe que essa conversa se torne um monólogo.
-E o que você quer que eu fale? Que peça algum tipo de desculpa?- sorriu.
-Quero que me diga o motivo.
-Você já disse, Wave. Mine- mas tinham outras coisas- Sempre fui um rebelde, e todo o tempo em que estive com vocês foi uma mentira, criei laços falsos, forjei uma imagem de mim que não era a verdadeira...
-E a imagem correta de você é essa- ele apontou para Incursio- Um monstro?
-Talvez eu seja um monstro- disse Tatsumi- Não saberia se fosse um.
Wave sorveu um gole de cerveja.
-Estão juntos?
Tatsumi balançou a cabeça, afirmativamente.
-Esdeath ficou desolada com sua deserção.
-Lamento por isso, eu... Planejo encontra-la novamente e resolver essa situação.
-É uma péssima ideia- disse Wave- Ela o mataria.
-Sei que sim, mas... É uma coisa que eu preciso fazer.
-Sinceramente- Wave se levantou- Deixei de tentar entender como você pensa faz tempo- e então, foi em direção a porta- Espero que nos vejamos novamente, Tatsumi.
-Como inimigos- disse Tatsumi- Ou como amigos?
-Em um bar ou em um campo de batalha- sorriu de soslaio- Prometo não humilha-lo demais. Os pedidos chegaram- gritou.
-Desculpe-me pelo braço- disse Akame, olhando para Kurome, estavam sobre uma pedreira na costa do oceano, com o vento elevando seus cabelos e com as ondas pintadas pelo alvorecer. Eles haviam se recuperado totalmente dos ferimentos, e esperavam ir embora ainda naquela manhã- E por todo o resto.
-Não se preocupe com isso- disse Kurome, com um sorriso no rosto. Finalmente tinha conseguido um tempo para ficar a sós com Akame- Eu não estaria me desculpando se eu tivesse vencido.
-Aposto que não- suspirou, enquanto as ondas arrebentavam contra as pedras- Foi bom lutar com você novamente. Com você, e não contra você.
-Eu digo o mesmo, irmã- disse Kurome- Me fez lembrar os velhos tempos.
-Nos velhos tempos não precisaríamos matar um monstro daqueles- ambas riram- É uma pena que quando nos encontrarmos de novo, tudo isso terá mudado.
-É culpa sua me abandonar- disse ela, mas sem rancor algum na voz- E você sabe disso. No começo eu desejava te matar e te trazer de novo com isso- empunhou o que restava da espada- Mas esse sonho acabou... Então, esqueça isso.
-Ainda pode ficar ao meu lado- disse ela- Venha comigo...
-Está me pedindo para desertar... Já tivemos essa conversa antes- disse ela, pensativa- Se esqueceu?
-Não. Mas não somos mais as mesmas pessoas. Nem a situação é a mesma.
-Muitas coisas aconteceram- disse Kurome- Quem sabe...
Ouviram passos, e Kurome se ergueu.
-Meu companheiro chegou- disse ela, e por fim, abraçou Akame, um ato de afeto que ambas não esperavam que aconteceria- Adeus, irmã.
Akame observou Kurome se afastar junto a Wave, e percebeu que entre aqueles dois havia algo mais do que apenas amizade.
-Até logo, Kurome.
Chelsea se aproximou de Run, movia-se silenciosamente, mas mesmo assim o Jaeguer a ouviu, e a olhou por cima do ombro. Era estranho, ela pensou, Run parecia sempre saber quando ela estava por perto.
-Então você vai embora- disse Chelsea, ainda sem jeito, a voz estava fraca devido ao cansaço- Justo agora?
-Estamos partindo - disse Run- Albion irá quebrar as relações com o Império e não acho que devemos ficar aqui. Era o que vocês queriam, não era?
-É, pode-se dizer que sim- Chelsea se aprumou a murada e se encostou, era dificil se manter em pé.- Planejava ir embora sem se despedir de mim?
Run suspirou.
-Leone não...
-Leone me disse que você ficou ao meu lado- Chelsea olhava para o horizonte, Run não sabia dizer o que ela estava pensando- Achei isso, no mínimo, inusitado. Olhando para mim enquanto eu dormia, isso é um pouco estranho, não acha?
-Eu estava acostumado com o rosto de Thrace, mas o rosto de Chelsea eu havia visto apenas uma única vez- sorriu- Estava fascinado.
-E o que achou de meu verdadeiro rosto?
-Você é linda- admitiu, sem saber direito o porque- É o seu verdadeiro rosto, e é mais lindo do que eu pensava.
Chelsea sorriu, encabulada, e então deu um soco de leve no braço de Run.
-Isso é por me beijar enquanto eu dormia.
E antes que Run pudesse protestar, Chelsea o beijou, o Jaeger sentiu os sabor dos lábios da Assassina de Mil Rosto, e por um momento, teve a vontade de largar tudo e voar com ela em seus braços para qualquer outro lugar, longe de toda a corrupção do mundo.
-E isso é por se preocupar comigo- disse ela, afastando-se lentamente, ainda com a memória do sabor do beijo de Run viva em sua mente- Adeus, Run.
-Adeus- disse Run, e ambos estavam atônitos demais para dizer qualquer outra coisa. Chelsea fechou os olhos ao ouvir o som de Mastema enquanto Run erguia um voo desajeitado por conta da asa danificada.
Chelsea sorriu, e chorou em silêncio sem saber direito o porque.
-Então- disse Astra, havia convidado Leone para um jantar particular em uma casa afastada do palácio, onde ela costumava se esconder - Ainda temos muita coisa para fazer desse lado da cidade, mas... Se minha palavra vale de alguma coisa, Albion está ao lado da revolução de Najenda. A nossa capital foi ataca diretamente, e essa... Ofensa, não passará em branco.
Astra olhava fixamente para a fogueira, e havia algo diferente em seu semblante. Havia o peso da responsabilidade, pensou Leone, e da dor de ter perdido um irmão. Uthred foi enterrado seguindo os preceitos das cerimônias reais, e ainda que nada do seu corpo tenha restado para ser enterrado, Astra chorou sob seu caixão.
-É bom ouvir isso- disse Leone.
-Tem a minha palavra, Leone, e a minha gratidão- Astra fez uma breve reverencia- Vocês salvaram a minha vida, e salvaram a capital.
-É uma pena que não tivemos a chance de salvar seu irmão- Leone suspirou- Peço perdão por isso.
-Um monstro tirou a vida dele... A dele a de centenas de pessoas. O nome desse monstro é Dorothea. Se puder fazer uma coisa por mim, Leone...
-Qualquer coisa.
-Me prometa que se voltar a encontrar aquele demônio, a trará para Albion. Não a mate, nem a leve em custódia. A traga a mim, para que ela pague pelos crimes que cometeu.
-Eu juro- disse Leone- Não costumo falhar- então bocejou- Perdoe-me, Princesa Astra... Digo, rainha- Astra ainda não havia sido coroada oficialmente, mas seria, em breve- Estou cansada.
Astra sorriu, levou a xícara de chá até os lábios.
-Cansada?
-Muito... Regenerar meu corpo consome muita energia, e não dormi direito nos ultimos dias. Sempre que fecho os olhos eu o vejo...
-A criatura?
-É- mentiu. Na verdade, quem via era Tatsumi- Ela mesma.
-E já está curada?
-Completamente.
-Isso é bom.
-Por quê?
Astra colocou a xícara de chá em uma mesa e se levantou, andou lentamente na direção de Leone e lhe segurou no ombro com uma das mãos. Leone estava acostumada tomar a iniciativa, e ficou sem reação quando Astra se aprumou a ela. Seus lábios quase se tocaram, e Leone se inclinou para trás enquanto a princesa a envolvia com seus braços.
-Eu nunca pude ser eu mesma, nunca, de verdade- disse a princesa, e Leone sabia que outrora ela havia sido prometida ao Principe do Norte, Numa Seika- Nunca pude me entregar... Mas com você eu não preciso mentir, preciso?
Os sentidos apurados de Leone se ativaram de forma instintiva, e logo o perfume de Astra temperou o ar. Leone sentia o batimento acelerado do coração da princesa contra seu corpo, enquanto as mãos de Astra se moviam habilmente, desabotoando a sua roupa. As roupas de Leone escorregaram de seu corpo como se fossem de seda, enquanto a princesa observava a beleza de seu corpo.
Leone retribuiu o gesto, a despindo lentamente, aproveitando cada segundo.
-Me diga princesa- murmurou Leone- O que quer fazer comigo?
-Eu não consigo pensar em quase nada- murmurou Astra- Só consigo pensar nisso...
-Nisso?- Leone mordeu os lábios- Nisso ''o que''?
-Nisso- e Astra a beijou apaixonadamante, pressionando seu corpo contra a cama, e então Leone fechou os olhos quando a sentiu beijar seu pescoço, e então, seu seio direito.
-Quero que seja minha, Leone- disse Astra, descendo lentamente na direção das pernas de Leone.
Leone se lembrou o quão quentes eram aqueles lábios. E de quão quente era todo o resto.
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