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História Cinquenta Tons de Esdeath (reescrita) - Capitulo 4.2 Alucinação - História escrita por AstolfinhoRider - Spirit Fanfics e Histórias
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História Cinquenta Tons de Esdeath (reescrita) - Capitulo 4.2 Alucinação


Escrita por: AstolfinhoRider

Capítulo 55 - Capitulo 4.2 Alucinação


Fanfic / Fanfiction Cinquenta Tons de Esdeath (reescrita) - Capitulo 4.2 Alucinação

Tatsumi despertou no meio da noite. Havia sonhado com fogo e destruição.

No sonho, Tatsumi era um enorme dragão de asas escuras, cujo sopro ardente levava consigo cidades inteiras, ele era o fogo e a morte encarnados, vivos abaixo de uma grande couraça feita de escamas de metal.

Tatsumi ouvia os gritos das pessoas, enquanto elas eram queimadas pelo fogo, e depois o silencio sinistro quando as pessoas definhavam, e se tornavam pedaços negros de carne, encolhidos e menores que uma criança.

O rapaz não era capaz de gritar, mas era capaz de sentir dor por tudo aquilo que estava fazendo, mas que não era capaz de parar.

Porque no sonho, ele era um dragão, e em seu coração, tinha medo de ser consumido pela loucura daquele pesadelo.

 

De súbito, Tatsumi sentiu vontade de vomitar, e isso o fez se atirar de cima de sua cama e cair com tudo por cima de um monte de roupas sujas, no chão, rangeu os dentes e respirou fundo, contendo o enjoo, mas a sensação ruim ainda o consumia, era como se algo queimasse dentro de seu corpo.

-Tatsumi?- perguntou uma voz conhecida, mas que Tatsumi não reconheceu de imediato, e, deitada ao seu lado, a figura escura de Sayo se ergueu, envolta em uma bruma negra, nua da cintura para cima, e com cortes profundos sobre a pele alva, os mesmos de quando Tatsumi a viu pela ultima vez, morta naquele maldito porão- Você está bem?

Tatsumi se levantou rapidamente quando Sayo se inclinou em sua direção, estava assustado demais para confronta-la, então, apanhou a espada e apontou a lâmina para ela. A expressão de surpresa e medo no rosto de Sayo era notável.

-Ficou louco?- perguntou ela, mas a voz se misturava aos ruídos que vinham de todos os cantos do quarto, de forma que era quase irreconhecível.

-Se afaste de mim!- gritou Tatsumi, brandindo a espada em um arco acima da cabeça- O que fez com Mine?

Sayo se ergueu da cama e foi até o outro canto do quarto.

-O que está dizendo?- perguntou Sayo- Eu a matei, é claro. Sou eu, seu idiota! . Você a matou, não se recorda dos gritos? Se afaste, Tatsumi.

Tatsumi arregalou os olhos. Mate-me. Mate-me com a sua espada. Liberte-se de mim, Tatsumi. Mate-me com a espada!

Antes que Tatsumi pudesse fazer qualquer coisa, sentiu um poderoso golpe explodir em seu rosto, o atirando para o lado, e quando se deu por conta, estava abaixo do corpo de Mine, preso contra o chão, e a garota estava apontando seu punho fechado contra o seu rosto. A dor que sentia era enorme, e era como se tivesse despertado de um sono profundo.

-Mine... - outro soco, esse com força o suficiente para faze-lo desmaiar, mas Tatsumi resistiu- Pare!

Mine saltou de cima de seu corpo, em uma distância segura, e como Sayo, estava nua da cintura para cima, mas havia um pequeno corte em seu ombro direito que sangrava, manchando um dos seios de rubro. O olhar de Mine poderia matar uma besta selvagem, e ela não hesitaria em ferir Tatsumi, se isso fosse necessário.

-Quem é você?- perguntou ela- Você se parece com Tatsumi, mas não é o Tatsumi que conheço!

-Mine...

-O Tatsumi que eu conheço nunca brandiria sua espada contra mim.

-Me perdoe- disse Tatsumi, sentindo os olhos se encherem de lágrimas e o coração arder pela raiva que sentia de si mesmo- Me perdoe... – repetiu, levando a palma da mão até a boca ao perceber que havia ferido Mine

E então correu.

Correu como se sua vida dependesse daquilo, e em sua cabeça realmente dependia, fugiu dos olhos de Mine o mais rápido que podia pelos corredores, que outrora eram calmos e cheios de vida, e que agora estavam abafados, cobertos por uma névoa negra como breu. E Sayo estava lá novamente, próxima à porta, com alguns dardos em mãos. Quando percebeu a aproximação do rapaz, Sayo se virou, com aquele mesmo sorriso maligno no rosto.

-Tatsumi?- perguntou ela- Aconteceu alguma coisa? Ouvi um barulho em seu quarto.

Tatsumi não respondeu, não tinha certeza se o que via a sua frente era uma ilusão, então apenas empurrou-a para o lado, a fazendo cair sobre as mesas, e então, abriu a porta e correu para fora.

 

Era noite, e o vento gelado parecia arranhar a pele de Tatsumi. O rapaz correu pelo extenso gramado onde os membros da Night Raid costumavam treinar e tropeçou em um dos fios de Cross Tail, que era utilizado como uma armadilha por Lubbock, sentiu a carne ceder ao fio, e caiu de cara em um monte de pedras, mas continuou a correr, e depois de certo ponto, a dor na perna cessou, e ele foi em direção ao rio.

Enfim vomitou. Sentiu seu interior queimar como se tivesse acabado de regurgitar brasas acesas, e ao olhar para a grama, percebeu que ela estava em chamas, mas depois que piscou, as chamas desapareceram. Tatsumi tombou no chão, grunhindo de dor e encharcado de suor, então foi até o rio e mergulhou seu rosto na água, implorando aos deuses pelo alívio das aguas refrescantes, mas o toque das aguas queimou seu rosto.

Tatsumi gritou novamente, sentindo todos os ossos de seu corpo arderem, mas, de forma alguma o som que emitiu foi humano.

Assustado, Tatsumi vagou pela noite floresta adentro. O que de inicio não havia notado, mas que notava agora, era que o breu da noite não era tão escuro quanto ele se recordava, mesmo no meio da mata, e sem nenhum ponto de luz para se guiar além da luz da lua, Tatsumi conseguia enxergar perfeitamente, não, Tatsumi era capaz de enxergar mais:

Quando utilizava a armadura, Tatsumi sentia que alguns de seus sentidos eram amplificados, assim como suas habilidades físicas, mas naquele momento Tatsumi não estava a utilizando, e mesmo assim, sentia que estava além do limite do corpo humano. Com os olhos de Incursio, Tatsumi havia conseguido enxergar um imenso monstro marinho escondido na profundeza do oceano, e agora ele podia ver através do véu da noite. Toda a floresta estava acesa em prata, e cada pequeno vagalume parecia uma pequena estrela errante, que brilhava e despedaçava os pequenos pontos de escuridão que ficavam nos cantos do mundo, no céu, as estrelas rodopiavam como o vento, e o firmamento estava pintado de ouro, prata e bronze, que se moviam e se misturavam junto ao branco das nuvens de acordo com o capricho do vento. Naquele instante, o firmamento foi dividido ao meio por uma estrela cadente, cuja cauda parecia um véu prateado que cobria a criação. Era belo, extremamente belo.

Mas a dor que o consumia por dentro tirou parte dessa beleza da percepção do rapaz.

Tatsumi continuou a vagar pela noite, e no caminho encontrou uma besta selvagem, que ao vê-lo se aproximar, fugiu, amedrontada.

-Ótimo- murmurou- Sou um animal, também.

-Talvez um animal maior e mais poderoso do que é capaz de imaginar- disse alguém.

E, no meio daquele cenário tão estranho, e tão familiar, estava ela, Sayo, flutuando a centímetros do chão, e o encarando com uma mescla de compaixão e desprezo.

-E então, meu bravo cavaleiro- sorriu- Gosta do que vê?

Os dois olhos de Sayo brilhavam como duas bolas de fogo, e sua pele parecia brilhar como se banhada pela lua.

-O que...- Tatsumi tentou conjecturar alguma coisa, mais se calou quando Sayo colocou seu indicador sobre seus lábios, havia se movido tão rápido que o rapaz não havia conseguido acompanhar com os olhos.

-Não tente entender- disse ela, em seu ouvido- Apenas veja o que eu vejo, e sinta o que eu sinto- Ela se aproximou de Tatsumi e o abraçou- Aceite o meu dom, não resista a...

-Você não é real- disse ele.

Sayo sorriu, então se aproximou do rosto de Tatsumi e beijou-o levemente nos lábios.

-Isso é real o suficiente para você?

Tatsumi sentiu o corpo todo se arrepiar ao sentir que os lábios de Sayo tinham um gosto amargo como veneno.

-Você não é real!- gritou, como se tentasse convencer a si mesmo.

O rapaz se afastou, empurrando-a para longe, e por um momento a escuridão da noite engoliu o mundo a sua volta e Sayo desapareceu, então Tatsumi voltou a vagar pela noite, desorientado.

E voltou a dormir.

 

Os raios do sol o fizeram despertar.

Tudo havia voltado a ser o que era, o mundo, seus olhos e seu corpo, que parecia arder em chamas na noite passada. Tudo que havia acontecido parecia ter sido parte de um sonho ruim. Tatsumi suspirou, e olhou para o ponto de onde a luz vinha.

E lá estava Akame, em pé, com a mão sobre Murasame.

Tatsumi olhou para o seu redor. Estava em uma caverna, com o cadáver de uma besta selvagem ao seu lado, aos pedaços, e com o corpo fedendo a sangue. O rapaz tinha os punhos feridos, e alguns dedos quebrados, e ao olhar para as paredes, percebeu que o motivo era que ele havia socado a pedra tantas vezes e com tanta força, que alguns pontos estavam afundados e trincados, e fios de sangue seco desciam em direção ao chão.

-Tatsumi- disse Akame, com parte da espada para fora da bainha- Pode me ouvir?

Com a cabeça, Tatsumi informou que sim.

Akame guardou a espada novamente, e um sorriso se abriu em seu rosto.

-Ainda bem.

 

 

-Tive um pesadelo- disse Tatsumi, no alto de um morro, observando o sol ascender ao seu lugar de direito no céu, não tinha coragem de voltar para a base depois do que havia feito, e por isso Akame decidiu leva-lo até lá- E quando eu acordei... Eu não sei, já não era mais eu, ou melhor, era, mas... Tudo ao redor estava estranho.

-Mine estava preocupada- disse Akame- Disse que você acordou a noite, e que não a reconheceu.

-Dessa parte eu me lembro.

-E que a atacou.

Tatsumi manteve-se calado.

-Mas não se preocupe com isso, foi apenas um corte superficial.

- Ela deve estar uma fera comigo.

-Ela está preocupada com você, todos nós estamos, desde que você, bem... Nos atacou em Albion, sinto que você está mais distante e com medo. E não consigo tirar da cabeça que isso tudo começou depois de você salvar a minha vida.

-Não é sua culpa, Akame.

-Eu não disse que era- Akame deu um de seus raros sorrisos- Mas eu tenho uma parte de responsabilidade nisso tudo, e por isso vim procura-lo. Conte-me o que está acontecendo- pediu- Confie em mim, assim como eu confiei em você.

Tatsumi suspirou, mas não havia nada a esconder, e então contou tudo a ela, contou sobre suas alucinações, sobre Sayo, sobre a nova armadura e as suas dores, contou sobre como sentia o coração despedaçado pelas duvidas, e que Sayo as utilizava como forma de atormenta-lo. E Akame o ouviu, ouviu cada palavra sem julga-lo, ou condena-lo, contou para ela que, estava tão cansado de tudo na época, que a aparição de Chelsea não lhe foi tão chocante, e que a ruiva sempre soube de tudo, mas que não a culpava por nada.

-E eu estou sozinho- disse, enfim- Quer dizer, eu me sinto sozinho, ninguém é capaz de entender o que... O que eu estou sentindo. Você entende como é esse sentimento? Estar no meio de todos, mas mesmo assim... Sentir que não faz parte.

Akame fez que sim com um manear de cabeça. A conversa não era sobre aquilo, mas Akame o ouvia mesmo assim.

-É um sentimento bem comum para mim- respondeu- Mas você não precisa se sentir sozinho, estamos aqui, ao seu redor, e todos nós nos sentimos dessa forma, de algum jeito- Akame olhou para o horizonte- Todos nós somos sozinhos dentro de nós mesmos...- disse ela, e então levou a mão até o punho de Murasame, encarando a arma com olhos tristes, e Tatsumi, de alguma forma, entendeu o que ela sentia- Um poder tão grande como os de nossas armas, cobra um preço ainda maior, não acha? O nosso trunfo é saber lidar bem com nossas emoções.

Tatsumi fingiu sorrir.

-Eu não sei- respondeu.

-Pois é- respondeu Akame- Eu também não. No fundo de meu coração... Desejava nunca ter sido carregada para essa vida que levo, mas éramos apenas crianças na época, eu e Kurome... Que escolha nós tínhamos?

Tatsumi olhou para Akame com empatia.

-No fundo de meu coração, desejava nunca ter saído da minha cidade- sorriu- Sinto tanta saudade de como a minha vida era...

Houve um longo momento de silencio entre os dois, onde apenas o canto dos pássaros era ouvido.

-Akame...

-Sim?

-Tenho uma coisa para lhe pedir...

-Peça- disse Akame, enquanto uma lufada de vento elevava seus cabelos- Eu acho que lhe devo essa- Farei, se estiver ao meu alcance.

-Sei que você seria capaz de me vencer em Albion... E que não o fez porque você não sabe ''prender'' alguém, mas sabe matar.

Akame manteve-se em silêncio. Era verdade. Se Tatsumi fosse um inimigo, ele estaria morto.

-Aonde quer chegar?

-Se eu não conseguir domar essa força que existe dentro de mim- Tatsumi tocou o próprio peito- Se eu me tornar um perigo para as pessoas que me são próximas... Se eu machucar Mine, Leone, ou você novamente... Peço que não hesite.

Akame o encarou por alguns momentos, sem esboçar reação alguma.

-Eu não tenho como neutraliza-lo, Tatsumi, se minha arma lhe cortar, você... você morre.

-É isso o que eu disse, Akame.

Akame alançou a cabeça negativamente.

-Não me peça uma coisa dessas, Tatsumi.

-Por favor, Akame, você é a única que pode fazer isso...

Akame suspirou.

-Isso foi cruel- disse ela- Me obrigar a jurar uma coisa dessas...

-Faria isso por mim?

-Eu farei- disse enfim- Mas só se você me jurar o mesmo.

-Como assim?

-Não sou tão infalível quanto você imagina- Akame sacou Murasame e cravou a ponta na terra- Essa arma é pesada, sabia? Sinto o peso de todas as vidas que ela arrebatou, mas... Se algum dia eu sucumbir ao poder dessa maldição, peço que tire a minha vida, enquanto eu ainda possuo algum traço de humanidade.

-Eu juro- disse Tatsumi, com certa relutância.

-Então, eu juro também- disse Akame e sorriu quando viu que Tatsumi suspirou aliviado- Você nunca mais precisa se sentir sozinho de novo, Tatsumi. Nós estamos aqui. Eu estou aqui.

Tatsumi sorriu, e aquela era a primeira vez que ele sorria de alívio depois de retornar de Albion. O rapaz encontrou nos olhos vermelhos de Akame um certo alívio nas mazelas de sua vida. Encontrou um porto seguro, e acima de tudo, uma amiga. Akame riu baixinho, e então se levantou.

-Akame- gritou Tatsumi, antes que ela partisse- Você também não precisa se sentir sozinha. Eu estou aqui.

Akame sorriu por cima do ombro, e continuou a andar.

‘’Você nunca mais precisa se sentir sozinho de novo’’- essas palavras ecoaram pela mente de Tatsumi, e ele se sentiu feliz, porque de fato, não precisava. Seus amigos estavam com ele, de uma forma ou de outra, estavam lá para fazerem ele se sentir digno e amado, ama-lo, de uma forma que ele esqueceu que merecia, e sem cobrar nada em troca. Akame, Mine, Leone, até mesmo Wave e Kurome o entendiam tão bem, que Tatsumi não conseguiu deixar de imaginar que se tudo não tivesse acontecido do jeito que aconteceu, se ele não tivesse ido para a capital, talvez nunca encontrasse pessoas tão incríveis.

Já devem ser nove da manhã- pensou.

Najenda já deve ter chegado.



 

Mine sorveu um gole de cerveja, o líquido negro desceu pela garganta, grosso e amargo. Não costumava beber, tampouco gostava do sabor das bebidas artesanais de Leone, mas estava preocupada com o que havia acontecido, e por isso acompanhava a amiga naquele ritual matutino.

Não conseguiu encontrar Tatsumi pela noite, e nem mesmo Leone, cujos sentidos eram mais apurados do que os de um animal, não conseguiu fazer distinção do cheiro e dos rastros de Tatsumi e os de uma besta selvagem. Era estranho pensar no que havia acontecido naquela noite, mas Mine conhecia Tatsumi, conhecia seu olhar e sua voz, e naquele momento, sabia que Tatsumi estava diferente do que costumava ser. Diferente demais.

Mine tocou o corte em seu ombro, era pouco mais do que um arranhão, mas que teria sido muito pior se ela não tivesse reagido a tempo.

-Gostou?- perguntou Leone, esvaziando o seu copo.

-É forte- concordou Mine.

-É que você não está acostumada com o gosto.

-Deve ser- respondeu Mine, colocando o copo de lado- Nunca vou me acostumar.

O coração da jovem acelerou ao ouvir a porta se abrindo, mas não era Tatsumi, e sim, Akame que entrava na base, com seu mesmo habitual olhar indecifrável.

-Encontrou ele?- perguntou Mine, elevando a voz sem querer.

-Encontrei- respondeu Akame, sentando-se ao lado dela.

-Ele está...

-Está bem- tranquilizou a morena- Ele está consciente das coisas agora. E profundamente arrependido pelo que fez.

-Não foi culpa dele- interveio Leone, em meio a um bocejo- Tatsumi está em uma situação bem delicada. Cerveja?

-Não são nem dez horas da manhã- reprimiu Akame- E Tatsumi está esperando do lado de fora, perto do rio- disse a Mine- Não quer ir vê-lo?

Mine fez que sim com a cabeça e se levantou, indo em direção a porta.

-Sabe- disse Leone- Às vezes eu sinto muita pena de Tatsumi.

Akame olhou para a companheira, que estava surpreendentemente séria e sobrea, a assassina pousou seus olhos sobre as quatro garrafas vazias ao lado dela e se perguntou o que a amiga estaria sentindo naquele momento.

-Me admiro com a quantidade de bebida que você é capaz de beber e não cair inconsciente no chão.

-Leonel ajuda- respondeu ela, tocando o cinto- Na verdade, eu nunca fico bêbada se estiver usando ela, mas às vezes eu prefiro desligar... Sentir, sabe.

-E porque não fez isso agora?

-Eu não sei- Leone suspirou- Quando eu sinto emoções muito fortes eu não a controlo direito, é um jeito de me manter sempre alerta, eu acho. A pior parte disso é que meus sentidos estão sempre apurados, e eu odeio o cheiro de meu corpo nesse momento, é uma junção de suor, barro e... - Cheirou o próprio pulso- Agua suja.

-E cerveja?- perguntou Akame.

-Cerveja também- Leone sorriu- Acho que vou tomar um banho antes que Najenda apareça, preciso estar com uma boa aparência pelo menos, para quando a comandante suprema dos exércitos rebeldes nos visitar.

-Acredito que Najenda não se importa com isso- disse Akame, retirando as botas sujas, olhou para a porta e para o rastro de barro que deixou, e pensou consigo mesma que ela acabaria tendo que limpar toda a base por causa daquilo- Ou Tatsumi vai ter que tomar um também, ele está fedendo tanto quanto você, apenas acrescente sangue de animais a sua reclamação.

-Ele está no rio, deve estar fazendo isso, mas, sangue de animais?

-Longa história- disse Akame.

-Boa sorte para ele em tirar as manchas de sangue da roupa, então, é terrível ter que fazer isso- então se ergueu- Você também está suja, quer vir junto?

-Eu já vou- disse Akame- Preciso comer alguma coisa- bocejou- Já estou me sentindo cansada.

-Beba uma cerveja- disse Leone- Não tem ideia de o quanto de calorias essa que eu criei possui- sorriu- Vale por toda uma refeição.

 

Tatsumi estava na beira do rio observando seu reflexo nas aguas claras. Ainda não havia se acostumado com seu olho vermelho, ou com seu cabelo, que estava mais longo agora do que ele estava acostumado a permitir crescer, na verdade, o rapaz não estava acostumado com nada do que estava acontecendo, havia perdido as rédeas de sua vida nos últimos tempos, e levado por um caminho desconhecido.

Olhou para a mão ferida. Seus dedos quebrados não doiam mais.

Se despiu da maioria das roupas e entrou na agua fria, que agora era um alivio, em vez de mais dor, e se lavou, tirando de seu corpo o sangue e a terra até que ficasse completamente limpo, entretanto, o cheiro do sangue não saia de sua mente. A agua fria ardia em seu tornozelo cortado, mas perto do que havia sentido na noite passada, aquilo de nada significava.

Na beira do rio, Tatsumi tentou limpar as roupas, mas as manchas de sangue eram quase impossíveis de se tirar daquela forma, e se recordou de como as mulheres das residências dos soldados, na área imperial onde Esdeath vivia, reclamavam das manchas de sangue e de gordura nas roupas de seus filhos, maridos e filhas. Foi à primeira vez, em muito tempo, que Tatsumi pensou em Esdeath.

Se aquela mulher se encontrasse na mesma situação em que ele se encontrava, será que ela deixaria se abalar? Tatsumi havia ouvido histórias sobre a Tengu que ela usava, era o sangue de um demônio, que era capaz de enlouquecer qualquer usuário. E enlouqueceu a todos, menos a ela.

Tatsumi tocou a cicatriz do golpe que havia sofrido lutando ao lado de Liver, maioria de suas cicatrizes antigas havia desaparecido no cais. Menos aquela, e ele não sabia como se sentir quanto a isso. Esdeath ainda estava viva, assim como ele, e ainda que soubesse que era inevitável encontra-la novamente em algum outro ponto de sua vida, Tatsumi não desejava enfrentar seus antigos companheiros, e tampouco desejava a morte deles. Tatsumi não havia se despedido de Kurome em Albion, mas Akame lhe disse que a irmã havia lhe dito ‘’até logo’’, e não um adeus. Nunca um adeus.

Tatsumi ouviu alguém se aproximando e olhou para trás, era Chelsea, que trajava sua roupa habitual, mas tinha os cabelos ruivos presos em uma trança. Suas mãos estavam cobertas por luvas, e quando ela as retirou, Tatsumi olhou assustado para as mãos da companheira, as pontas dos dedos estavam negras como se manchadas de carvão, e parte da mão direita estava escurecita até a altura do pulso e ambas tremiam.

-Não se incomode comigo- disse ela, com um sorriso no rosto- Finja que não estou aqui.

Chelsea mergulhou as mãos na agua e fez uma expressão de alivio.

-Não imagina como estou me sentindo horrível- comentou, e observou, divertida, o rapaz encabulado por estar tão próximo a ela e seminu- Não precisa se envergonhar por isso- disse a ruiva- Compartilhamos memórias, não se lembra? Isso é algo bem mais intimo e pessoal do que um banho de rio, e também- riu baixinho- Eu o vi se banhar em alguns momentos, durante as suas memórias, e outras coisas ainda mais obscuras. Acontece durante a troca de memórias. Você ficou nu diante de mim, de corpo, e de alma.

-Eu não vi nada disso- respondeu Tatsumi.

-Você não sabia onde procurar- disse Chelsea- E era complicado separar as partes que eram realmente uteis, das partes onde você e Esdeath se divertiam. E se você parar para pensar... Quase todos nessa base já o viram assim.

-Podemos mudar de assunto?- disse Tatsumi, tentando esconder a vergonha que sentia.

-Estou horrível- voltou a dizer- Você nem imagina o quanto.

-Acho que imagino- Tatsumi sorriu- A troca de informações funciona para ambos os lados, sabia?

Tatsumi sentia um desconforto estranho ao olhar para Chelsea, como se as dores dela lhe fossem familiares. Percebeu que ela tocou o tornozelo, no mesmo lugar onde a Cross tail o havia cortado, era como se Chelsea estivesse desconfortável com aquilo também. Os dedos do rapaz formigavam.

-Ao menos você continua apresentável- disse ela- Eu estou acabada, fraca, meus ossos doem e eu pareço uma doente. Além disso, olhe minhas mãos, estão horríveis- Chelsea encarou Tatsumi, imersa até o pescoço nas aguas- O que houve ontem a noite?

-O mesmo que em Albion- respondeu Tatsumi- Mas em escala menor e sem a armadura.

-Sinto muito- disse Chelsea, então fechou os olhos- Vou ficar aqui um pouco, se não se importa.

-Eu já terminei, na verdade- respondeu Tatsumi- Estava só limpando minhas roupas.

-Se eu fosse você, as jogaria fora, sujas e rasgadas, de que servem?

-É, tem razão- suspirou.

-Mine está vindo para cá- informou- E eu e Lubbock iremos para o Caminho da Paz, se quiser, pode vir conosco.

-Caminho da Paz?

-É, mais tarde eu lhe explico- Chelsea sorriu e se afundou nas aguas ao ouvir a voz de Mine, para então andar em silêncio até o outro extremo do rio.

 

-Me desculpe por ontem à noite- disse Tatsumi, a sentado sobre uma pedra. Os cabelos castanhos estavam molhados, colados ao corpo- Eu não queria...

Mine o interrompeu colocando seu indicador sobre os lábios de Tatsumi.

-Lembra-se de como foi o nosso encontro durante a minha missão de matar a Kurome?

-E como eu poderia me esquecer de tudo aquilo?

-Eu o esfaqueei naquela caverna, considere isso uma retribuição- Mine tocou o ombro e fingiu sorrir- Além do mais, não sou tão frágil quanto pareço. Estou preocupada com você. Eu acordo e descubro que vocês venceram a batalha, mas... Ninguém me disse o que vocês perderam, e nem a extensão dos ferimentos de cada um- olhou para Chelsea, que estava deitada sob uma pedra na outra margem- De você, de Chelsea... Ou como vocês dois se encontraram e não se mataram no processo.

-Eu tinha outras preocupações, no momento- disse Tatsumi.

-Soube que vocês dois se... Se uniram- Mine olhou para os próprios pés- A união estranha das agulhas que ela carrega.

-Pois é- suspirou- É verdade.

-... E como é?- ela perguntou. Se havia ciumes em sua voz, Tatsumi não conseguia dizer- A união.

Era estranho, pensou. Tatsumi conhecia Chelsea, sabia de tudo o que ela havia visto, sentido... Mas mesmo assim ainda não eram íntimos, e ele ainda a odiava, mas, havia certa estranheza nesse ódio, como se não fizesse sentido.

Tatsumi sabia também que, de alguma forma, a amava. Não um amor de amantes, ou um amor de amigos, mas um amor empático, como se entendesse todos os seus motivos, os aceitasse, e sentisse pena por ela, pela vida injusta que havia levado. Era como o amor de um irmão.

-É estranho- respondeu- É como... Olhar um conhecido distante, sabe?

-Acho que sim- suspirou -E existe algum motivo para você não ter me contado a história inteira?

-Eu não queria lhe preocupar com isso, não por agora, pelo menos.

-E quando planejava me contar sobre seus ‘’surtos psicóticos incontroláveis’’?

-Hoje, na verdade- respondeu Tatsumi, com um sorriso no rosto- Mas acho que agora você já sabe.

-É- disse Mine- Talvez eu tenha uma vaga ideia. Agora, seja sincero comigo, Tatsumi, e me conte o que aconteceu em Albion.

 

Najenda chegou naquele mesmo dia, escoltada pela sua Tengu Susanoo. A Tengu poderia ser facilmente confundida com um humano na faixa dos vinte e poucos anos, e com uma aparência invejável, se não fossem os chifres em sua cabeça e a imensa arma que carregava nas costas, que era grande demais para ser empunhada por qualquer homem comum, uma grande massa de pedra e metal. Najenda lhes parabenizou pela vitória em Albion, e esboçou surpresa ao saber que os Jaegers haviam ajudado a conter a criatura de Dorothea, e que Tatsumi havia agido de forma correta, para depois, surtar.

-Não os ordenei para que fossem para lá- disse Najenda- Mas que bom que assim o fizeram.

Tatsumi e Chelsea estavam sentados lado a lado, em um dos cantos da sala afastados dos demais, enquanto Akame, Leone e Mine estavam sentadas próximas a Najenda, Leone contava em detalhes tudo o que havia acontecido, e Akame complementava o relato, objetiva como era. Lubbock estava conversando alguma coisa com Susanoo, e ora ou outra olhava para Najenda com paixão, mesmo que desviasse o olhar quando ela percebia que estava sendo admirada.

- E quanto aos dois?- perguntou Najenda, olhando para Tatsumi e Chelsea, que pareciam desanimados- Estão assim há quanto tempo?

-Desde o final daquela luta- disse Akame, e naquele momento, o olhar de Mine se tornou sombrio- Tatsumi nos atacou, e teria continuado se não fosse Chelsea. Tudo aconteceu tão rápido...

-Ela usou mais de quatro transformações diárias- concluiu Najenda, tragando a fumaça do cigarro- É um milagre que esteja viva.

-Tendo em vista aquele monstro- disse Leone- É um milagre que todos nós estejamos vivos, e que ninguém tenha saído aleijado.

-Ou preso- disse Akame.

-No que ela se transformou para detê-lo, exatamente?- perguntou Najenda.

-Mine- a resposta de Akame foi rápida, e pegou Mine de surpresa- Os dois dividiram memórias, e Chelsea concluiu que se usasse a imagem de alguém querido, poderia fazê-lo voltar a pensar, e como todos nós que estávamos lá fomos atacados sem piedade, ela se transformou em alguém que não estava presente, e que é muito querido para Tatsumi. Foi isso que ela me disse, pelo menos.

Najenda sorriu, ao perceber que Mine estava levemente corada.

-Ele não me contou essa parte, eu suponho, Mine.

-Ele é um pouco tímido- disse Akame.

-Tenho certeza que ele não é- disse Leone, com um sorriso no rosto- Ele deve ter se esquecido, ou, não faria diferença contar esse detalhe ou não.

-Mas ele me atacou- murmurou Mine -Ele não me reconheceu, o que ele viu foi a antiga amiga de infância, que já morreu.

-Tatsumi está tendo alucinações?- perguntou Najenda.

Akame confirmou com a cabeça.

-Ele me disse que sim- disse Mine- Depois de se desculpar diversas vezes.

-Então- continuou Akame- Eu já estou curada de meus ferimentos, e Leone também, Mine parece estar bem e Lubbock não está ferido. Do nosso time, estamos bem o bastante para partirmos na próxima missão.

-Próxima missão?- disse Leone, a bocejar, estava com muito sono- Mas tão rápido?

-Acha que Tatsumi e Chelsea não estão em condições de atuar?- questionou Najenda- Confiarei no julgamento de vocês.

-No estado em que Tatsumi está, não, e Chelsea, bem, é só olhar para as mãos dela que você verá- disse Akame- eles precisam de tempo, isso se os ferimentos que eles carregam se curarem.

Najenda olhou para Chelsea, ela estava com as mãos juntas, mas as unhas estavam enegrecidas, e ambas as mãos tremiam, ela parecia abatida, e estava mais pálida do que Najenda se recordava.

-Você contesta essa afirmação, Mine?

Mine balançou a cabeça negativamente.

-De acordo com as informações adquiridas por Lubbock, Nouken estará em sua fortaleza, na Passagem Imperial, transportando alguns prisioneiros, é uma chance única. Vocês irão intercepta-lo durante a noite. Matem Nouken a qualquer custo.

-Pode ser uma armadilha- disse Mine- Não confio totalmente nas fontes de Lubbock.

-É um risco que temos que correr- disse Najenda- Mas não se preocupem com isso por agora- Najenda se levantou- E não os enviaria se não tivesse um plano.


 


 

Lubbock tocou a maçaneta da porta de Najenda, sentiu o coração bater forte dentro do peito, tinha essa mesma impressão toda vez que se aproximava da comandante, e o fato de estar na Night Raid se devia unicamente ao seu apreço por ela.

-Ela está sozinha- disse Susanoo, em pé ao lado da porta.

-Eu sei disso- respondeu Lubbock.

-Então, o que está esperando?

Não sabia, coragem, talvez?

-Não estou esperando nada- respondeu Lubbock- Estou um pouco enjoado, só isso.

-Posso fazer um chá para você, se precisar- disse Susanoo.

-Prestativo, como sempre- disse Lubbock, e abriu a porta.

O escritório de Najenda era bem arrumado. Uma mesa no centro da sala expunha um mapa do continente aberto, com várias peças coloridas sobre ele, simbolizando as tropas a disposição. Algumas espadas estavam presas às paredes, e outras armas enfeitavam uma prateleira cheia de livros; um cinzeiro meio cheio estava sobre o mapa, e no centro disso tudo estava Najenda, em pé, com uma caneta nas mãos e sem o habitual braço metálico. Najenda era alta, e tinha uma postura imponente, e apesar de todos os ferimentos, ainda era a mulher mais bela que Lubbock já havia visto durante toda a sua vida.

Lubbock sorriu, engoliu as incertezas e fez uma reverência forçada.

-Comandante Najenda.

-Lubbock- disse Najenda, sem se virar- Precisa de alguma coisa?

-Não, na verdade, vim lhe pedir uma permissão.

-Permissão?- Najenda o olhou com seu único olho bom e então se sentou- Para que, exatamente?

-Levarei Chelsea para o Caminho da Paz- respondeu Lubbock, aproximando-se de Najenda- Ela precisa de cura.

-Acredita que aquele homem é capaz de operar milagres?- Najenda sorriu- Logo você, que se intitula de cético?

- Não faria uma coisa dessas baseados em nada, comandante- disse Lubbock- Já vi o que ele é capaz de fazer, já o vi salvar pessoas que estavam condenadas, de ferimentos, doenças... Eu não sei direito como ele faz o que faz, e juro que já tentei entender, mas eu não sei... É apenas milagroso.

Lubbock se aproximou de uma das prateleiras, apanhou um livro e abriu em uma pagina a esmo, o havia feito apenas para se aproximar de Najenda e sentir o seu perfume.

-E acredito que Chelsea não tem mais muito tempo de vida, apesar de tudo- continuou- Ela piora a cada dia que passa. E Tatsumi... Não preciso falar muito sobre ele.

-E acha que pode ajuda-los?

-Algumas pessoas lá me devem alguns favores, então, sim. E alguém tem que tentar.

Najenda sorriu.

-Você sempre atua com base na infiltração e influência, admito que me impressiono as vezes. Tem minha permissão, Lubbock. Mais alguma coisa?

-Na verdade, mais uma- Lubbock se aprumou a Najenda- É uma coisa que eu estou pensando em lhe falar, já faz algum tempo. Era acostumado a, como diziam suas companheiras, atirar para todos os lados, e bem sabia que a cada missão que partia poderia ser a última. Pensava em falar para ela o que sentia, falar para Najenda sobre seu amor. Mas sentia-se envergonhado.

-E o que seria?

Lubbock sorriu, mas aquele não era o seu habitual sorriso debochado, era um mais natural e singelo, um que escondia a hesitação que sentia. Najenda franziu o cenho e Lubbock desviou o olhar.

-Não é nada- disse, enfim- Esqueci.

-Arrumou confusão com quem desta vez?- perguntou Najenda, com um sorriso no rosto- Precisa de ajuda?

-Por enquanto, com ninguém- respondeu, alegre. Deu de ombros- Já leu todos esses livros?

Najenda confirmou com um maneio de cabeça.

-Existe alguma coisa aqui sobre as Tengus?

Najenda apontou para uma grande enciclopédia na ultima prateleira.

-Tem aquela ali, mas está escrito na língua original do Império.

Lubbock abriu o livro, tossindo quando uma onda de poeira avançou em sua direção.

-Tudo bem, eu sei ler- respondeu. Procurou algo no livro sobre Tyrant, e haviam algumas coisas. Sobre os Huron terem ajudado o Primeiro Imperador a domar e capturar a criatura, e de como ela era quase imortal. ''Ainda viva, de alguma forma, dentro da espada''- leu, em certo trecho. ''Arma perigosa. Não está completa, nem segura. Potencial de evolução infinito.''

Najenda se levantou e se aproximou de Lubbock, apanhando o livro de suas mãos e o colocando sobre a mesa.

-Ouvi sobre sua missão de assassinar Nina- disse ela- Mine me passou os relatórios.

Lubbock a olhou, sem entender direito o que Najenda desejava dizer.

-O que Mine lhe disse, exatamente?

-Que você não a matou- Najenda largou o que restava do cigarro sobre o cinzeiro- Que foi capturado e fugiu, Isso está correto?

-Não a matei- suspirou- E disse também que ninguém o faria.

-E porque você fez isso?

-Por nenhuma razão em especial- Lubbock se aproximou do cinzeiro, o apanhou e jogou as cinzas no lixo- Você deveria parar de fumar, isso faz mal.

-Eu sei que faz- disse Najenda- Mas é uma forma de eu me acalmar, e apesar disso, ainda odeio esse cheiro que fica em meu hálito e que se gruda as minhas roupas.

-Não acho o cheiro assim tão ruim, sabe- Lubbock estava perto o suficiente de Najenda para sentir o cheiro de cigarro que partia de seus lábios. Era inebriante. Seu coração batia como um tambor dentro do peito- O cheiro do... Do cigarro.

Najenda era ligeiramente mais alta do que Lubbock, mas ambos conseguiam se olhar nos olhos sem ter que erguer ou baixar o rosto. Najenda manteve-se calada, como se esperasse algo que Lubbock, um pedido que nunca veio, e que talvez, nunca viesse.

-Está esperando alguma coisa?- ela perguntou.

-Talvez- disse Lubbock, mas então se afastou- Talvez.

-O que eu quero dizer é que você precisa tomar mais cuidado com suas ações- disse Najenda, afastando-se lentamente, meio que descepcionada- Só isso.

-Está preocupada comigo?- Lubbock sorriu- Estou lisonjeado.

-Estou preocupada com todos vocês, os tempos estão mudando, e nesse momento guerreiros estão morrendo como moscas, todo cuidado é pouco.

Lubbock suspirou, apanhou o livro e o colocou dentro de uma pequena bolsa feita com os fios de Cross Tail, o controle que Lubbock tinha sobre sua arma era admirável.

-Agradeço a preocupação- disse Lubbock- Mas eu não morreria em uma rua suja do império, afinal de contas- a olhou diretamente- Tenho motivos para voltar, e alguém que eu gosto sempre de rever.

Najenda sorriu, tinha conhecimento dos sentimentos de Lubbock, apesar de nunca tê-los levado adiante.

-Prometa-me que voltará vivo, Lubbock, desta jornada, e das próximas que virão.

-Eu juro- disse Lubbock, fazendo menção a se curvar.

- Até uma outra hora, Najenda...

-Você está partindo agora?

-Depende de Tatsumi.

Najenda balançou a cabeça, afirmativamente.

-Chame-o aqui.

 

-Comandante- disse Tatsumi, sentando-se em uma cadeira. Najenda estava sentada também, com as longas pernas cruzadas e o único olho bom observando o convidado. Tatsumi havia a visto algumas vezes antes de ser capturado, e depois de tudo, uma vez antes de partir para Albion, mas não lhe disse uma só palavra na ocasião. Najenda estava igual ao que era antes, e não parecia ter envelhecido um só dia, ela devia ter a mesma altura de Esdeath, e o mesmo olhar imponente, a diferença entre ambas era que o olhar da comandante não continha a mesma malicia e deboche da Senhora do Gelo, tampouco era convidativo a uma conversa pacata, Najenda era uma pessoa capaz de acuar alguém apenas com o olhar, ainda que seu corpo debilitado a tivesse tirado do combate- Me chamou?

-Tatsumi- disse ela, e lhe ofereceu o mais tênue dos sorrisos- Há quanto tempo.

-Muito- disse Tatsumi, sem jeito- O que deseja de mim?

Najenda o encarou com seu único olho bom por alguns momentos desconfortáveis.

-Esdeath- disse ela- Acredito que você a conheça bem.

-Pode se dizer que sim.

-Esteve com ela por um bom período de tempo, e das pessoas que a seguiam, você era uma das mais próximas.

-Eu era- respondeu- Alguma coisa a preocupa?

-Nada em especial- suspirou- Nada além do habitual- e então sentou-se a frente dele- Preciso que me conte tudo sobre ela, sobre o que ela fez no período que estavam juntos, sobre seus guerreiros, seus contatos e sua relação com a aristocracia, e as pessoas que lhe são próximas. Coisas que só você saberia.

-E o que eu poderia saber, que você já não tenha conhecimento?

-Nossos espiões estão quase todos fora de ação- informou- Então me diga você, rapaz. Conte-me tudo sobre ela.



 




 



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