-E então, o que você achou? -A voz grave de Yoongi alcançou meus ouvidos, um tanto rouca e levemente ofegante por ter sido usada à exaustão momentos atrás.
Me virei de lado para conseguir enlaçar sua cintura fina com meu braço e espalhar beijos curtos pelo tronco pintado com círculos roxos e arranhões levemente avermelhados, quase completamente desnudo, coberto apenas pela minha camisa social branca e desabotoada, que ficava grande demais em seu corpo, mas o dava um ar sensual.
-Perfeito, meu amor. -Respondi com um sorriso e alcancei seu pescoço, deixando um beijo ali também. -Sabe que eu adoro quando você senta no meu…
-Isso não, seu safado! -Sua risada ecoou pelo cômodo vazio, assim como o estalo do tapa que deixou em meu braço. -Estou falando do apartamento.
-Ah, sim sim… -Ri pequeno, vendo-o rolar os olhos.
Ergui meu tronco até que estivesse sentado sobre o tapete felpudo, e aparentemente muito caro, e olhei em volta mais uma vez, observando a sala de estar espaçosa e ainda sem móveis, a não ser a mesinha de centro no estilo tradicional, onde descansava uma caixa de papelão com algumas sobras de pizza, duas taças e uma garrafa de vinho quase no fim.
A princípio eu não havia entendido bem quando Yoongi entrou no meu estúdio, e interrompeu meu processo criativo assim que jogou um casaco em meu rosto e, apressado, me mandou segui-lo até o estacionamento da empresa e entrar em seu carro prateado, onde havia algumas sacolas plásticas no banco de trás. E minhas dúvidas apenas se acumulavam ao que ele continuava desviando das minhas perguntas com um sorriso presunçoso nos lábios, à medida em que dirigia pelas ruas de Seul por quase uma hora, até uma área residencial e mais afastada, repleta de casas luxuosas e condomínios gigantes, que eu logo entendi se tratar do bairro de UN Village.
E enquanto eu olhava impressionado para as construções modernas que se mesclavam com a natureza do parque que cercava o lugar, mal senti Yoongi segurar minha mão e me guiar suavemente para dentro de um prédio não tão alto, de talvez oito ou dez andares, e, depois de trocar algumas palavras com o senhor de meia-idade que estava quase cochilando no saguão, ele voltou a se aproximar, com um chaveiro em mãos, e me levou até o elevador grande e dourado dali, apertando o botão com um número 6 assim que entramos.
Só depois que as portas do elevador se fecharam, ele resolveu responder minhas dúvidas sobre o que estávamos fazendo ali. Com um sorriso ladino e sua voz preguiçosa, Yoongi me explicou que aquele era um dos quatro apartamentos que havia visitado meio que em segredo na última semana, que aquele era o seu preferido até então, e que ele precisava de uma segunda opinião sobre o local.
O que não quer dizer que ele tenha me dado muito tempo para olhar, já que, assim que entramos ele já me puxou para a sala, para aproveitarmos o jantar romântico improvisado que ele preparou - e insistiu em dizer que não era romântico porra nenhuma -, antes de naturalmente acabarmos emaranhados ali naquele tapete, sem roupas e ofegantes, levemente embriagados depois de nos amarmos mais uma vez.
-Pelo que pude ver é bem bonito e confortável. -Falei vagamente, afinal mal havia visto o lugar. -Só que quando você disse que compraria uma casa para se livrar “daquela fazenda de jumentos” eu achei que estivesse brincando. -Fiz aspas com os dedos, parafraseando sua citação durante uma briga com os membros, algumas semanas atrás e alcancei minha taça, sorvendo um gole da bebida já em têmperatura ambiente.
-Eu tava brincando, mas o gerente do banco disse que o mercado imobiliário era um bom investimento, então eu pensei: por que não? -Deu de ombros. -Eu planejava mobiliá-la para meus pais, mas a mamãe não quer sair de Daegu, ela diz que o ar daqui é muito sujo porque as pessoas fumam, sei lá. -Rolou os olhos antes de dar uma risada pelo nariz. -E mesmo tendo que dividir espaço com cinco jumentos, eu não quero deixar o dormitório, então acho que posso vir pra cá nas folgas ou quando não estiver aguentando olhar pra os outros.
-O PSY sunbaenim não mora por aqui?
-Sim, no apartamento de cima, -Apontou para cima para dar mais ênfase ao que dizia. -Inclusive ele pode ter nos ouvido.
-Ninguém manda ser tão escandaloso. -Provoquei.
-Tá reclamando, é? -Ele se esticou para me empurrar com o pé, rindo comigo.
-Claro que não, meu amor! -Levei a mão ao peito, fingindo indignação.
-Hm, é bom mesmo... E eu não sou escandaloso, a sala tá fazendo eco porque o apartamento tá vazio. -Disse com um bico enorme nos lábios.
-Mas então você se decidiu? -Pergunto calmamente, apreciando o clima leve que nos rodeava.
-Sim, vou ficar com eles. De qualquer forma, nós transamos aqui e você já sujou o tapete de molho.
-Ei! Foi você que você bateu na minha mão, então tecnicamente a culpa foi sua.
Ouvi mais uma risada e me virei para observá-lo, estava deitado de barriga para cima, a cabeça apoiada no braço esquerdo, enquanto o direito mexia despreocupadamente no tapete branco, fazendo desenhos imaginários com o indicador, a luz trêmula da lareira deixava a atmosfera mais romântica e atribuía um tom dourado à sua pele.
Yoongi é lindo, sua beleza angelical merecia ser exposta nos maiores e mais majestosos museus do mundo, como a mais bela obra de arte que já existiu na face da Terra, entretanto o fato de Yoongi me julgar como o único digno de apreciá-lo por completo só fazia aquela cena se tornar mais especial aos meus olhos.
-Mas eu realmente gostei daqui, -Continuou sua linha de pensamento anterior. -é bonito, espaçoso e ventilado, eles aceitam cachorros e dá pra ver sol se pondo sobre o rio Han, a acústica do segundo quarto é boa o suficiente para montarmos um estúdio legal, e não acho que precise de reformas…
-Você disse "montarmos", no plural. -Interrompi sua fala para pontuar, tomando mais um gole do vinho levemente adocicado, o último que faltava para a taça esvaziar.
Observei com um sorriso o rosto adorável de Yoongi se avermelhar aos poucos e ele desviar o olhar de mim para o tapete novamente, um sorriso pequeno brincando em seus lábios.
-Bom, é que o apê é muito grande pra uma pessoa só, e você tem um monte de quadros chiques mofando naquele porão nojento do nosso prédio, então eu imaginei que economizaria bastante com a decoração se te chamasse pra morar aqui comigo. -Respondeu naquele tom petulante que sempre usava quando queria alguma coisa, mas seu orgulho era grande demais para apenas pedir diretamente.
-Você está me chamando pra brincar de casinha? -Rebati usando o mesmo tom que ele, erguendo uma sobrancelha involuntariamente.
-Tipo isso. -Yoongi se aproximou de mim engatinhando lentamente, como um felino selvagem prestes a atacar, ainda com um sorriso cafajeste brincando nos lábios finos, até que estivesse sentado em meu colo. -Eu pensei que podia ser legal ter um lugar para quando quisesse sumir com você por uns dias, ter um pouco de silêncio, sem os membros, nem os manangers, e nem aquela garota esquisita que mexe no nosso lixo… -Apoiou as duas mãos em meus ombros, apertando-os com um pouco de força. -Vamos, vai ser legal. Você pode ser o Max Steel e eu o Ken. -Riu ácido e eu o acompanhei, soltando um murmúrio de satisfação com a massagem improvisada que ele fazia em meus ombros.
-Hm, parece bom. -Levei minhas mãos para sua cintura, por cima do tecido branco que me impedia de sentir seu calor por completo e meus lábios dançaram por seu pescoço para deixar alguns beijinhos pela pele branca, me divertindo com o suspiro que escapuliu da sua boca. -Mas eu ainda não sei se estou convencido… -Me fiz de difícil, mesmo que ele soubesse que eu aceitaria.
Porque a ideia de dormir e acordar ao lado de Yoongi em um lugar só nosso era mais que maravilhosa. Mesmo que já dormíssemos juntos praticamente todas as noites no dormitório, mesmo que ele já estivesse acostumado aos meus roncos altos, e eu a ele roubando meu lençol de madrugada e me deixando no frio, mesmo que já vivêssemos juntos há quase 10 anos, me imaginar chegando na nossa casa e encontrando-o sentado no sofá, com Holly e Monnie deitados próximos aos seus pés, enquanto ele compõe alguma nova canção de sucesso me deixava um tanto abobalhado, porque não era o dormitório do nosso grupo, não seria sete. Seria nós dois, na nossa casa.
Namjoon e Yoongi. Nós.
E não pense que não gosto de viver com os outros, eu os amo de todo o meu coração, e eles são minha família, porém, às vezes nossa relação como grupo se tornava um tanto conturbada, quando os compromissos se acumulam, junto com o estresse e o cansaço, é a combinação perfeita para começarmos a brigar por motivos insignificantes, e nesse momento o melhor a se fazer é se afastar um pouco, e seria bom ter um lugar para renovar as forças, um porto-seguro, aquela coisa de às vezes precisar se afastar das pessoas que se ama, fortalecer os laços de amizade, sabe?
Bom, as brigas atuais e as maratonas de Overwatch no volume máximo durante a madrugada também contribuíam bastante. Isso sem mencionar a tal da vizinha maluca que anda revirando nosso lixo nas últimas semanas, não quero nem imaginar o que ela tanto procura.
Então a oferta de dividir um apartamento com Yoongi, onde podemos ficar sozinhos, nos curtindo em nosso próprio mundinho é formidável.
-Eu posso cozinhar se você lavar a louça, -Ele sugeriu como uma oferta, a voz estava abafada, pois escondia o rosto em meu pescoço. -E eu deixo você escolher as cortinas.
-E o sofá. -Acrescentei com um sorriso, observando atento o momento em que ele ergueu o olhar para mim com as sobrancelhas franzidas.
-O sofá não.
-Por quê? -Pergunto, fazendo bico, já sabendo seu argumento.
-Porque precisamos de algo confortável, e não de uma peça de arte conceitual. E nem adianta fazer essa cara, você sabe que eu estou certo.
-Aff, seu sem graça… -Mostrei a língua e sorri em seguida, e ele deixou um peteleco na minha testa.
-Mas eu deixo você colocar aquela cuspideira chique que você comprou na sala de estar.
-Já falei mil vezes que não é uma cuspideira, é um jarro da lua. -Rolei os olhos, rindo, ele amava implicar com minhas aquisições de artes.
-Detalhes, amor, detalhes… -Estapeou o nada, sem desfazer sua expressão de deboche. -Mas eu estava pensando em pintar aquela parede de marrom, pra combinar com a lareira, e colocar um quadro também. -Ele apontou para a parede bege às suas costas, onde a lareira de pedra esquentava o ambiente e o tornava confortável. -Nós podemos colocar a televisão aqui do lado, e talvez uma no quarto, se bem que eu ouvi dizer que tv no quarto faz os casais pararem de transar, então sem tv no quarto...
Enquanto ele continuava falando sobre seus planos de decoração, eu me afastei minimamente de si, com ele ainda em meu colo, e gastei algum tempo contemplando-o, a pele tão pálida que tornava visível algumas veias mais salientes, suas pernas delgadas e com leves músculos definidos, sua cintura fina onde eu podia ver meus dedos impressos, o peitoral magro, enfeitado com as marcas vermelhas e roxas que eu havia feito, o rosto bonito e bem delineado, Yoongi tinha olhos felinos e castanhos que irradiavam um brilho infantil sempre que estava animado demais, o maxilar forte e marcado, que contrastava com as bochechas gordinhas, um nariz redondinho e lábios bem desenhados, onde habitava o sorriso mais lindo que eu já havia visto.
Eu não acredito em Deus, mas ver Yoongi daquele jeito, fazendo planos para o nosso futuro com um brilho sonhador nos olhos, sorrindo com dentes e gengivas me fazia imaginar que algum ser divino e onipotente o havia esculpido à mão a partir do mármore bruto e o soprado vida como uma obra prima, pois sua beleza era angelical demais para ter tido origem nesse mundo tão cheio de maldades e injustiças.
-... O que você acha, Namu? -Perguntou-me, assim que terminou sua fala animada demais, após meu silêncio começar a durar mais do que o normal.
-O que eu acho sobre o que? -Devolvi a pergunta confuso, mas ainda sorrindo, agora diante do biquinho manhoso que despontou em sua boca bonita.
-Sobre tirarmos um dia para escolher os móveis… Você não ouviu nada do que eu disse? -Ele franziu o nariz e cruzou os braços, o que o fez ficar ainda mais fofo e eu não consegui não rir com aquela cena.
-Eu me distraí por um segundo, meu bem, me desculpe. -Usei minha mão para colocar sua franja para trás e me inclinei para beijá-lo.
-No que estava pensando?
-Em você. -Respondi simples e o empurrei levemente, até que estivesse novamente deitado sobre aquele tapete branco, onde nós nos fizemos um do outro mais uma vez, como tantas outras. -Em como você fica lindo assim todo bobinho, -Sussurrei como um segredo, hipnotizado. -e em como você é um ser humano incrível, -Me debrucei sobre si, passeando com meus lábios pela cintura, espalhando beijos desde o elástico da boxer preta e subindo pelas costelas, até o pescoço. -e muito gostoso, também. -Ri baixinho, correndo meu nariz pela pele macia, sentindo-o arrepiar e amolecer sob meu toque, ao que capturava seu cheiro de sexo, café coado e hidratante corporal. Yoongi tem cheiro de conforto, cheiro de casa. -E no quanto eu te amo. -Conclui, finalmente deitado sobre seu corpo, me apoiando com os antebraços no chão.
Não demorou para Yoongi levar os dois braços em volta do meu pescoço e erguer o rosto corado para selar nossos lábios algumas vezes, todo risinhos.
-Sabia que… -Deixou um selinho em minha boca. -Quando éramos trainees… -Outro. -Meu sonho era trabalhar e ganhar um monte de dinheiro… -E mais outro. -Para comprar uma casa bem longe de você. -Dei uma gargalhada que ecoou pelo apartamento vazio, repousando minha testa em seu ombro. -E agora estamos aqui, sem roupas neste tapete, falando sobre a decoração do nosso apartamento…
-De quem é esse tapete, afinal?
-Ah, do antigo proprietário, eu acho, mas agora é nosso. -Deu de ombros.
-Eu gosto dele. -Falei distraído, sem conseguir conter meu sorriso ao ver a forma como seus cabelos espalhados pelo tecido branco emolduravam seu rosto delicado.
-Também gosto. -Ele puxou o ar e logo o soltou novamente, rindo pequeno. -Mas ei, eu tô falando e falando, e você ainda não me disse se aceita minha proposta, -Olhou em meus olhos, sorrindo bobo. -quer vir morar comigo, Namjoon-ah?
Senti meus olhos fecharem a medida em que meu sorriso abria, o que atrapalhava um pouco minha visão, mas ainda consegui ver seu lábio inferior se projetar para frente, num biquinho e os olhos um tanto arregalados, a expressão ansiosa que o dava um ar ainda mais infantil. Como ele ainda duvidava da minha resposta?
Eu iria até o fim do mundo, se Min Yoongi estivesse lá me esperando.
-É claro que quero, meu amor. -Beijei sua bochecha carinhosamente, para logo depois sussurrar contra seus lábios: -É tudo o que eu mais quero.
-Viva! -Sussurrou num tom de comemoração, rindo comigo.
Os olhinhos dele se fecharam ao mesmo tempo em que dava um lindo sorriso e eu não contive minha vontade de beijar sua boca bonita, sentindo sua língua serpentear marota contra a minha, numa carícia só nossa.
Minha mão direita encaixou em sua cintura novamente, ao que voltamos a nos beijar, suave e lento, seus braços voltaram a rodear meu pescoço, me puxando para mais perto, e já começando a ondular seu quadril em busca do meu, e eu ri contra seus lábios, quando nos afastamos em busca de ar, aproveitei para ir até seu pescoço, para deixar mais beijos e sugar a pele com cuidado.
-Mal posso esperar pra isso aqui estar do nosso jeito, -Sua mão foi para meus cabelos, enroscando os dedos, como num gesto de aprovação ao meu ato. -Com nossas coisas, nossa bagunça, nosso cheiro… Quero acordar e te encontrar na cozinha, queimando nosso café da manhã, e… -Ele fez uma pequena pausa, suspirando alto, sua mão se apertou ainda mais em meus fios e logo me puxou para cima, até que seus lábios estavam colados em minha orelha. -Eu quero foder com você em todos os cômodos desse apartamento.
-Hm... -O murmurar que saiu do fundo da minha garganta soou quase como um gemido rouco no momento em que seus dentinhos se fecharam ao redor do meu lóbulo auricular. -Até que horas podemos ficar aqui? -Pergunto olhando-o nos olhos, sorrindo pela minha ideia repentina.
-Até às onze, porquê?
Olhei o relógio preso na parede logo acima da lareira - aparentemente mais um dos itens que o antigo inquilino não fez muita questão de levar -, após sua resposta em tom de confusão, para constatar que não passava das 21:30, ainda tínhamos algum tempo.
-Escolhe um cômodo.
-Isso é sério? -Ele riu aberto e eu balanço a cabeça confirmando, antes de voltar ao meu trabalho anterior.
-Por que não? De qualquer forma, eu ainda não vi o apartamento todo... -Ri contra sua pele, ainda sentindo-o acariciar um ponto atrás da minha orelha, que me fazia arrepiar. -Vai, escolhe.
-Hm… Sabia que no banheiro do quarto principal tem uma jacuzzi?
-A cada segundo que passamos aqui eu amo mais esse apartamento.
A gargalhada de Yoongi ecoou pela sala vazia novamente quando me afastei de si e levantei do chão, ele me imitando logo em seguida, para logo me abraçar pelos ombros e pegar algum impulso para sair do chão e enlaçar as pernas em minha cintura, voltando a me beijar com certa pressa, eu o segurei firmemente pelas coxas, aceitando sua língua gostosa dentro da minha boca, explorando e acariciando a minha sem pudor, e mantive meus olhos abertos, tropeçando nos meus próprios pés na tentativa de encontrar o banheiro do nosso futuro quarto, rindo e sendo acompanhado por ele enquanto nos beijávamos, cambaleando pelo corredor do nosso apartamento.
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