História Ciquenta Tons de Min Yoongi (Namgi Sugamon) - Capítulo 9 - Ele é lindo do jeito que é

‼️Atenção: Esse capítulo pode conter gatilhos relacionados à transtornos alimentares, caso se sinta desconfortável, por favor, não leia‼️

-_-_-_-

-Eu quero dois desses, três desses aqui, e cinco daqueles… -Jungkook dizia animado com o rosto colado na vitrine da cafeteria que ficava perto da empresa, enquanto apontava frenético para todos os bolos e doces expostos. -Ah, e um sorvete de morango com baunilha, e embrulha uns donuts pra viagem…

-De jeito nenhum! Você acha que eu vou deixar você comer isso tudo? Nada disso! -Jin-hyung reclamou, deixando um cascudo no topo da cabeça dele. -Escolhe um só.

-Mas hyung! Eu preciso comer, tô em fase de crescimento!

-Ah claro, então eu deixo você encher o rabo de doces e depois passar mal a madrugada toda e nós vamos ser obrigados a passar a noite cuidando de você, amanhã eu vou estar com sono e irritado, vou brigar com você, os outros vão tentar apartar, eu vou acabar dando um chute no Yoongi e ele vai quebrar um vaso na minha cabeça, eu vou ficar inconsciente, o Jimin vai começar a chorar, o Hobi vai fazer um escândalo e o Taehyung vai ter um colapso nervoso, o Namjoon vai ter que ligar pro Sejin-hyung, que vai ter um troço e parar no hospital, então o Bang PDnim vai ficar bravo e demitir a gente, você quer o peso do fim do grupo nas suas costas?

E o pior é que ele nem está exagerando.

-N-não.

-Então escolhe um antes que eu mude de ideia.

-Só um pão de mel… -Pediu com os olhos cheios de lágrimas e fazendo bico, Jin fez uma cara feia para ele. -Por favor! Por favor… -Completou sob o olhar raivoso do nosso hyung.

-Taetae e eu vamos dividir o bolo de chocolate com sorvete! -Jimin disse todo sorridente para a atendente, que já estava habituada àquele caos, visto que costumávamos ir lá algumas tardes quando estávamos trabalhando na empresa.

-E queremos chá de maçã, também. -Taehyung concluiu.

-Eu quero um sanduíche natural e uma limonada, por favor. -Hobi disse e Jin-hyung sinalizou com a mão que ele ia querer o mesmo e eu acabei por concordar.

-Yoongi-oppa, você vai querer um café grande com biscoitos, certo? -Ela perguntou educada, apenas para confirmar o pedido usual do baixinho, porém, ele negou com a cabeça.

-Só vou querer um copo d’água mesmo. -Disse, com um pequeno sorriso educado.

Franzi as sobrancelhas, ao que pagava por tudo e seguia atrás dos outros até uma das mesas livres no fundo do estabelecimento, onde sentei numa das cadeiras perto da parede, ao lado de Yoongi, que estava um tanto encolhido no canto, meio alheio a tudo.

-Hyung, tem algo errado? -Repeti aquela mesma pergunta, talvez pela milésima vez nos últimos dias, me inclinando discretamente em sua direção no meio da confusão que os outros faziam enquanto conversavam ao mesmo tempo, ao que ele se virou para desviar do meu olhar.

-Não, por quê?

-Porque eles têm umas trinta opções de doces diferentes, mas você só pediu água. -Falei, ainda incrédulo, observando-o dar de ombros.

-Eu só não estou com fome.

-Mas você não quis tomar café da manhã e quase não comeu no almoço... Nós temos prática de dança o resto do dia, sabia? E se você desmaiar? -Relembro preocupado, os períodos de ensaio eram muito pesados e fisicamente desgastantes.

-Você se preocupa demais… -Resmungou em resposta, enquanto a atendente trazia nossos pedidos até a mesa e todos se ocuparam em comer. Peguei meu sanduíche e o parti ao meio com as mãos.

-Coma pelo menos um pouco, não quero que fique doente. -Ergui uma das partes do sanduíche em sua direção e ele rolou os olhos, antes de se inclinar e dar uma mordida no lanche, para logo depois segurá-lo com sua mão esquerda e começar a comer propriamente, meio apressado, meio hesitante.

Suspirei em alívio e me voltei à minha própria refeição, tentando me focar no assunto que Hoseok compartilhava animadamente, mas não importava o tanto que eu me esforçasse, meus pensamentos continuavam no baixinho ao meu lado.

Já fazia algum tempo que eu vinha notando Yoongi agir de forma estranha, dois ou três dias, para ser mais específico, ele estava mais acuado e quieto que o normal, e estava sempre rondando pela casa até tarde da noite, não da forma que ele costuma fazer quando está com insônia ou quando resolve ficar trabalhando em seu computador até tarde, mas parecia que ele estava evitando dormir no nosso quarto, já que fazia a mesma quantidade de tempo que ele não escapava da sua cama para vir até a minha, e nos últimos dois dias eu acordei para encontrá-lo dormindo encolhido no sofá.

Ele também não estava se alimentando direito, e isso era o que mais me preocupava, já não tomava seu costumeiro café com biscoitos de manhã, recusava à todas as minhas tentativas de levá-lo para fazer um lanche durante as pausas e, nas outras refeições, as porções em seu prato diminuíram consideravelmente, ao ponto de seu almoço hoje ser uma quantidade um pouco maior do que algumas colheres de sopa.

No começo eu achei que ele só estivesse se sentindo estressado por causa da longa lista de compromissos que precisávamos cumprir, ao mesmo tempo em que estávamos nos preparando para as premiações de fim de ano e logo depois para o próximo comeback, ou até talvez que ele pudesse estar bravo comigo, por eu ter quebrado sua cadeira sem querer, ou por ter esquecido do nosso encontro semana passada, mas Yoongi-hyung nunca foi do tipo que agiria assim por um esquecimento bobo.

Sempre que eu perguntava o motivo daquela mudança súbita, ele apenas rolava os olhos e me dizia que estava tudo bem, às vezes se esticava em minha direção para selar nossos lábios por um segundo, como que para me passar algum tipo de confiança com o ato.

Mas era falho, já que eu conseguia ver seus olhos desviarem dos meus a cada “você está se preocupando sem motivos” que saia dos seus lábios.

Então sim, eu estava preocupado.

E não, não era sem motivo.

-Ei! Você tá comendo tudo! Namjoon-hyung, o Jimin tá comendo o bolo todo!

-Porque você acabou com o sorvete!

A voz de Taehyung e Jimin me trouxe de volta à Terra, e eu me deparei com a cena dos dois discutindo pela fatia de bolo que eles haviam concordado em dividir, Jin e Hoseok já pareciam ter desistido de dar uma solução coerente para resolver aquilo e apenas passaram a ignorar os dois. Respirei fundo e decidi que iria chamar Yoongi para uma conversa mais tarde e confrontá-lo sobre o que estava acontecendo, mas por enquanto eu precisava achar um jeito de acalmar aquelas duas crianças adultas e repartir o que ainda restava da grande fatia de bolo de forma proporcional.

(...)

Passava das 23:00 da noite quando a porta do apartamento abriu e Yoongi-hyung entrou a passos meio apressados, passando direto por mim e ignorando meu cumprimento ao que seguia para o quarto, olhando para baixo. Hoseok entrou logo em seguida, com uma expressão um tanto preocupada no rosto cansado, ele sentou ao meu lado no sofá e soltou um suspiro enquanto largava a mochila no chão perto dos nossos pés.

-Cadê todo mundo? -Perguntou olhando em volta da sala vazia enquanto tirava os sapatos.

-Os garotos foram ao cinema e ainda não voltaram, e Jin-hyung está lá embaixo, na lavanderia. -Respondo, ainda virado para onde Yoongi havia ido e tendo tempo de ver apenas a porta se fechando às suas costas.

-Namjoon-ah. -A voz de Hoseok era séria, e eu logo abaixei o volume da televisão para ouvir o que ele tinha a falar. -O que está acontecendo com o hyung?

Automaticamente levei as mãos ao rosto, esfregando-as pelos olhos e cabelo, cansado e preocupado.

-Eu não sei, Hobi… Ele continua dizendo que está tudo bem, mas ele não quer comer e me evita sempre que estamos sozinhos porque sabe que vou tocar no assunto. -Falei com pesar e mágoa.

Quando o ensaio acabou, lá pelas nove da noite, e todos começaram a se dispersar, fazendo seu caminho para o chuveiro ou até mesmo juntando suas coisas para vir para casa, eu tentei novamente uma aproximação com Yoongi, o convidei para jantar e passarmos um tempo juntos, e quem sabe tentar falar sobre seu comportamento em algum momento, porém recebi um manear de cabeça negativo como resposta, seguido de algumas desculpas gaguejadas e claramente esfarrapadas sobre ter muito o que fazer na empresa antes de ir para casa, e mesmo depois que eu tentei insistir, dizendo que poderia esperar até que ele terminasse seu trabalho extra, ele recusou e apenas pediu que eu viesse para casa com os outros, e ele voltava de carona com Hoseok, que tinha o hábito de ficar até mais tarde, discutindo sobre os passos de dança com SongDeuk-hyung, nosso coreógrafo.

Por isso eu não pude fazer muito mais que suspirar e voltar para casa, amuado e sem conversar com os outros, sentindo meus músculos doendo e a cabeça girando em preocupação. Eu queria saber o porquê dele estar tão abatido nos últimos dias, e só de pensar que alguma coisa tão séria estaria acontecendo com o hyung a ponto de ele não se sentir confortável o suficiente para se abrir comigo ou com qualquer outro membro me fazia mal, não por eu sentir que deveria saber absolutamente tudo sobre sua vida, mas porque saber que alguém que eu amo tanto está passando por um momento ruim e não poder ajudar é algo que tira meu chão.

-Joonie, aconteceu uma coisa… -Jhope começou cauteloso, e eu me virei completamente em sua direção, me preparando para o que ele iria me dizer, pelo seu tom de voz, não era nada bom. -Eu pensei em conversar com ele no caminho pra casa, mas ele estava tão quieto que pensei que estivesse dormindo.

Permaneci em silêncio, esperando Hobi continuar com o que ele dizia, atento a como seu rosto de feições sempre tão leves e animadas estava fechado, a ponto de fazer vincos em sua testa, os olhos estavam opacos e os ombros caídos, denunciando toda a preocupação que ele também sentia. Assim como eu, Hoseok tinha em Yoongi um melhor amigo, um irmão de alma, então eu não duvidava que  ele havia percebido a mudança repentina do hyung, mas eu também o conhecia o suficiente para saber o quanto ele se esforçava para não interferir nos problemas individuais dos membros, a não ser que chegasse à pontos extremos. E pelo modo que seus ombros estavam tensionados, eu podia ter certeza que aquele era um desses momentos.

-Eu não pretendia te contar sobre isso, achei que em algum momento ele iria tentar conversar com um de nós, e eu não queria te preocupar, mas eu mesmo estou preocupado demais… -Seus olhos estavam fixos no chão, enquanto as palavras saíam baixas de sua boca e pesavam cada vez mais sobre mim. -Já havia notado que Yoongi-hyung estava agindo estranho, mas esperava que ele procurasse um de nós para desabafar, só que ele só está se afastando cada vez mais de todos e hoje à tarde eu... -Suspirou pesado, erguendo o olhar para mim. -Antes do ensaio começar, essa tarde, eu fui ao banheiro e o hyung estava em uma cabine. Ele estava tossindo muito e fazendo um barulho esquisito…-Hoseok se interrompeu, como se tentasse encurtar a história, seus olhos desviaram por um momento, indo por sobre meu ombro, em direção ao corredor pelo qual Yoongi havia sumido, antes de se voltar a mim novamente. -Namjoon, eu acho que o Yoongi-hyung estava vomitando.

Após ter dito aquilo, foi como se o mundo parasse de girar, e tudo o que eu pude sentir foi meu coração se afundando no peito, enquanto a preocupação martelava em minha cabeça. Apertei os fios de meu cabelo com força ao me dar conta de que aquilo era completamente possível, visto os últimos acontecimentos.

- Você quer dizer tipo passando mal, né? -Perguntei com dificuldade, fazendo esforço para que minha voz saísse com clareza devido ao nó que se formou em minha garganta, esperando que a resposta de JHope fosse afirmativa, mesmo que já soubesse que não seria.

E, confirmando meus medos, Hobi acenou negativamente com a cabeça, me olhando com pesar antes de prosseguir sua fala:

-Não, Joon, eu quero dizer como Jimin fazia, naquela época.

Eu não queria acreditar naquilo, mesmo que todas as evidências apontassem para a veracidade do que Hoseok havia acabado de me contar. Yoongi estava realmente privando sua alimentação. Mas por quê? Qual o motivo daquela decisão extrema? E, principalmente, por que eu não havia percebido antes, droga?! Todos os sinais estavam ali, assim como estavam em Park, anos atrás, as desculpas para não comer, o afastamento repentino, o jeito desconfiado durante as refeições, sempre desviando do assunto, sempre sorrindo falso ao dizer que estava bem, estava tudo ali, eu devia ter notado antes, eu devia ter aprendido com os acontecimentos passados. Como fui tão cego a ponto de não perceber que Yoongi estava tendo problemas sérios à esse ponto?

-Ei, onde vai? -Hoseok perguntou assustado, no momento em que eu me levantei do sofá num rompante e dei a volta no móvel a passos firmes.

Ignorei suas perguntas repetitivas e segui pelo corredor, na mesma direção que Yoongi havia ido momentos antes, respirei fundo algumas vezes, tentando conter o misto de tristeza e culpa que pareciam querer me engolir aos poucos, antes de bater na porta do nosso quarto com os nós dos dedos, mais para avisar que eu estava entrando do que para pedir permissão. Hobi parou de falar ao perceber que eu queria ficar uns minutos sozinho com nosso hyung, e apenas murmurou um “boa sorte” muito preocupado e nem um pouco encorajador antes que eu abrisse a porta.

Girei a maçaneta devagar, e empurrei a porta de madeira envernizada com cautela, ainda respirando pesado e tentando formular o que quer que fosse dizer na minha cabeça, entrei no cômodo escuro e frio, que estava quase completamente silencioso, não fossem os murmúrios e soluços baixos que vinham debaixo do amontoado de lençóis sobre a minha cama, na parte baixa da nossa beliche; a luz dos postes que vinha da janela aberta iluminava precariamente o local e me permitiam ver um pouco dos seus cabelos esverdeados escapando de seu casulo improvisado, vê-lo chorar daquele jeito, tão sofrido, me fazia sentir como se um buraco fosse aberto em meu peito, eu só queria ver Yoongi bem, e, se fosse para chorar, que fosse de alegria.

Sem dizer sequer uma palavra, me aproximei do hyung, a cada passo dado eu podia ver mais claramente seus ombros chacoalhando, a medida em que um ou outro soluço mais alto escapava de si, ele estava deitado de frente para a parede, escondendo o rosto em um travesseiro, escondendo suas lágrimas de mim, ele não gostava de se mostrar frágil diante dos outros, mas eu sempre fui sua exceção, ele nunca havia se escondido de mim, nem em seus momentos mais sombrios, e eu esperava fielmente que ele não o fizesse agora.

Afastei os lençóis com o máximo de cuidado possível e me sentei no pequeno espaço livre daquela cama ridiculamente pequena que eu chamava de minha, e logo senti Yoongi se encolher e se arrastar mais para perto da parede, liberando espaço para que eu pudesse me deitar ao seu lado, aquele mínimo ato fez eu me sentir aliviado, porque significava que ele me queria por perto.

-Meu amor, -Chamei num sussurro, assim que me deitei com o peito encostado em suas costas e enlaçando seu corpo com força com meus braços, ele ainda não havia movido nem um músculo, mas sua respiração entrecortada era a confirmação de que ele me ouvia. -por favor, vamos conversar. -Apertei um pouco meu braço envolta de sua cintura, sentindo como estava levemente mais fina do que o normal, mas logo afrouxei o aperto ao ouvir um gemido de dor vindo de seus lábios, mais uma vez eu respirei fundo, contendo as lágrimas que tentavam escapar. -Eu só quero ajudar você, por favor, me diz o que está acontecendo.

-Quando nós fomos ao médico na semana passada, -A voz baixinha era quase incompreensível em meio aos soluços abafados pelo travesseiro. -Ele disse que eu ganhei cinco quilos esse mês… Um dos gerentes brigou comigo e me disse que eu tenho em uma semana pra resolver isso, ou iam me cortar das apresentações.

Seu choro aumentou, como se seus medos tomassem forma física a medida em que as palavras eram proferidas, meu instinto foi o de abraçar mais seu corpo pequeno, tentando absorver pelo menos um pouco que fosse daquele sentimento tão ruim que se instalou em si, até que ele se sentisse seguro o bastante para dar continuidade ao seu desabafo.

Após alguns minutos, ele voltou a falar.

-Eu falei que não ia fazer nada disso e fui embora, mas na segunda-feira começaram a aparecer artigos na internet…

Logo a luz da tela de seu celular se fez presente, fazendo meus olhos arderem devido ao brilho forte em meio ao breu. Sem dizer dar continuidade a sua fala, ou ao menos  se virar para mim, Yoongi apertou alguns comandos na tela e depois estendeu o aparelho em minha direção, segurei-o, passando os olhos pela tela, era uma manchete em uma rede social, que tinha sua foto estampada, abaixo de uma chamada apelativa e uma matéria completamente maldosa. Ao abaixar a página pude ler alguns dos comentários escritos, sentindo meu peito apertar a cada comentário.

“Suga está tão gordo!”

“Suga seria mais bonito se perdesse algum peso.”

“Não quero ser rude, mas ele poderia somente parar de comer tanto.”

“Min Suga o que há com seu rosto?”

“Ele pensa que vai conseguir atenção com essa aparência?”

“Qual o problema dessa empresa? Ídolos gordos e feios não conquistam atenção.”

“ugh, porco.”

Apertei o celular com força, sentindo que poderia esmagá-lo com apenas aquilo, era óbvio quem havia começado a espalhar aquelas coisas.

-Eu tentei não dar ouvidos, -Ele voltou a dizer, num sussurro tão baixo que eu quase não ouvi, os ombros sacudindo um pouco quando ele fungou o nariz. -eu tento não me importar, mas eles não param de chegar e ficam cada vez piores… Eu não consigo suportar isso. -Sua voz trêmulou, indicando o início de um novo choro, e eu larguei o celular em algum lugar para voltar minha atenção à si mais uma vez, abraçando-o com o máximo de força e cuidado que eu consegui. -É tão difícil… 

-Eu sei, meu bem.

E como sei.

É difícil não se importar com a opinião alheia quando parece que tudo o que se ouve à sua volta são julgamentos, é horrível se esforçar tanto para ser feliz consigo mesmo e ver tudo o que você lutou para conseguir desmoronar por um comentário maldoso de alguém que sequer te conhece. É enlouquecedor ter milhares de pessoas apontando dedos, dizendo como você deve ser, como deve agir, como deve se vestir, tratando características físicas como defeitos; você é magro demais, gordo demais, alto ou baixo demais, seu rosto é fino demais ou redondo demais, sua voz é grossa demais ou fina demais… Ouvir e ler isso milhares de vezes por dia e todos os dias é desumano.

-Ele tem que pagar por isso! Você falou com Bang-PDnim? -Perguntei, imaginando que à essa altura ele já tivesse o demitido, o PDnim jamais permitiria alguém fazer uma barbaridade dessas com um de seus funcionários, mesmo que seja um dos seus executivos.

-É claro que não, ele é muito ocupado, não vou atrapalhar ele com minhas besteiras, você mesmo deve estar me achando ridículo por estar assim por algo tão idio…

-Não. -O interrompi, levemente ofendido por sua conclusão, embora eu soubesse que o que ele dizia não era verdade, ele sabe que eu jamais julgaria suas motivações como idiotas.

Eu sabia que aquela era apenas a forma de Min Yoongi se defender de si mesmo e de tudo a sua volta, diminuindo seus problemas para tentar acreditar que eles não são tão importantes assim, se convencendo de que o que ele sente é algo fútil e sem importância, tentando agir como se nada daquilo fosse o machucar, quando, na verdade, ele é apenas um ser humano, como todos os outros, ele sente dor e tristeza, ele tem preocupações e medos, e se magoa com palavras de ódio disfarçadas de boas intenções. Ele tem sentimentos, ele não é uma pedra.

Eu nunca o julgaria por tentar se encaixar no que aquelas pessoas queriam, eu nunca o julgaria por buscar a aprovação alheia, não quando eu mesmo o fiz por tantos anos, quando é o que todos nós - digo, nós, seres humanos - sempre fizemos, seja consciente ou inconscientemente. No fundo, nós nos auto destruímos em busca de aceitação. Isso é cansativo, e é cruel.

E ver Min Yoongi destruído por tal busca dilacera meu peito.

-Eu não te acho ridículo ou idiota. -Sussurrei, buscando sua mão pelos tecidos a nossa volta, e entrelaçando nossos dedos assim que a encontrei. -Eu te acho incrível, hyung, do jeito que você é. -Levei meus lábios até seus cabelos desgrenhados, selando um beijo terno ali. -Você é muito mais que um punhado de características físicas, sua existência vai muito além do que o gerente, ou essas pessoas, ou qualquer outra pessoa acredita que é certo.

Com cuidado, coloquei minhas mãos em seus ombros, girando-o com suavidade, para que eu pudesse ver seu rosto bonito e seus olhos brilhantes de lágrimas, ele desviava o olhar do meu, hesitante, enquanto mordia o lábio inferior com um tanto de força, toquei seu queixo, erguendo seu rosto para que nossos olhares se encontrassem e sorri sem mostrar os dentes.

-Você é lindo como você é, seus olhos, seu nariz, sua boca, seu corpo, seu cabelo… Você é perfeito como é e sempre será. -Com dificuldade consegui ver seus lábios se curvando num sorriso. -Mas sua beleza vai além da aparência. Você é lindo por tudo o que você é, por ser forte e inteligente, pelo seu gênio e sua paciência… -Abracei seu corpo, sentindo-o afundar o rosto contra o meu peito. -Esqueça o que aquelas pessoas escreveram, esqueça o que o gerente disse, por favor, e ouça apenas às pessoas que te amam e se importam com você. E eu te amo tanto, mas tanto, Min Yoongi... -Apertei-o mais contra meu corpo e ele fez o mesmo, me abraçando como se sua vida dependesse disso. -Eu não me apaixonei só porque você é bonito, eu me apaixonei por sua forma de pensar, pelo seu mal-humor, por sua ousadia, pela forma como você enfrenta o que for para conquistar seu lugar no mundo, pelo seu jeitinho preguiçoso e pela forma como você se importa com o bem de todos, eu me apaixonei porque você é você.

Não sei dizer quanto tempo ficamos assim, abraçados um ao outro, com ele ainda soluçando pelo choro recente, que havia diminuído, enquanto eu acariciava suas costas suavemente e continuava a sussurrar o quanto eu o amava e o quanto ele era maravilhoso, e ele é, ele sempre foi e sempre será, não importa quantos anos se passem, ele sempre será a pessoa mais incrível que eu já pude conhecer.

-Me desculpe… -Ele disse baixinho depois de um longo tempo, o qual eu cheguei a pensar que ele havia dormido. -Me desculpe por ter preocupado a você e aos outros…

-A culpa não é sua. -Afaguei seus cabelos, resvalando os dedos pelos fios levemente ressecados pela recente mudança de cor, mas sempre tão lindos quanto seu dono. -Não se sinta culpado pelas atitudes erradas de outras pessoas, elas é quem devem se sentir mal e não você, hm?

Mesmo com seu rosto afundado em meu peito, senti seu sorriso aumentar enquanto ele assentia com a cabeça diversas vezes. Sorri junto, sentindo finalmente algum alívio em meu peito, por saber que Yoongi se sentia melhor, mesmo que um pouco, e logo seus lábios foram até minha bochecha, deixando um pequeno selar.

-Obrigada por estar aqui comigo, Namjoon. -Disse num tom pacífico, despido de sua costumeira armadura de frieza e sarcasmo, ali era só o tímido e sensível Min Yoongi.

-Obrigada por me permitir estar com você, meu amor. -Me abaixei para conseguir alcançar sua boca e deixar um beijo ali, para logo depois me levantar, tomando cuidado para não bater a cabeça na parte de cima da beliche. -Vem colocar um casaco, tá muito frio lá fora.

-Hm? E o que tem lá fora? -Ainda que estivesse escuro, eu sabia que ele iria olhar em minha direção e tombar a cabeça para o lado, com os olhos brilhando e o nariz vermelho pelo choro anterior.

-Restaurantes, ué. -Respondi simples, me inclinando para segurar sua mão e ajudá-lo a se levantar e, agora mais de perto, eu podia confirmar seu semblante confuso. -É melhor do que ser intoxicado com a minha comida. Vamos, pode escolher o que quiser, eu pago.

E todo o clima de tristeza se dissipou como fumaça no momento em que Yoongi deu seu lindo sorriso, indo em direção ao guarda-roupa que dividia com Jin, em busca de um casaco, e acendendo a luz no caminho. Sorri, meu peito finalmente mais leve por saber que aquele baixinho estaria bem agora, claro que eu sabia que minhas palavras não seriam o bastante para salvá-lo de todos os comentários de ódio do mundo, que não seriam o suficiente para recuperar sua auto-estima, e muito menos para impedir o gerente de continuar a falar aquelas merdas para mais alguém.

Mas pelo menos por hora eu posso sentir o alívio que seu sorriso sincero proporciona, ao saber que minhas palavras trouxeram um pouco de paz ao seu interior. A felicidade de Yoongi é a única coisa que me importa, e o resto a gente resolve amanhã.