História Circles - Meanie - Erros e acertos

Um silêncio agradável, porém agoniante, pairava no banheiro ladrilhado e bonito do prédio onde ambos se encontravam.

Wonwoo estava sentado em um pequeno batente de frente a pia, próximo aos mictórios e ao banheiro de emergência caso precisasse colocar, novamente, tudo o que havia comido naquela manhã para fora — com o adicional de que não tinha mais nada no estômago que pudesse sair. Ele havia despertado totalmente do seu desmaio parcial a poucos minutos, assim como também estava mais calmo da crise de pânico, mesmo que suas palmas ainda tremessem visivelmente enquanto segurava a garrafa d'água de Mingyu como se ali, naquele pequeno recipiente térmico que mantinha o líquido geladinho mesmo após horas, fosse a vida do seu bem mais precioso em perigo qual não podia soltar de jeito nenhum; o Kim diria que, observando a situação atual do mais velho, nem mesmo se tivesse outra crise ele deixaria o objeto cair no chão.

O ômega estava encostado na pia, dando um pouco de espaço para que o lúpus respirasse ao mesmo tempo que o vigiava atentamente, também observando o movimento lá fora para que ninguém os interrompesse ali, parecendo saber que seria muito desconfortável para Wonwoo ser visto daquela forma tão vulnerável; principalmente quando não poderia confiar nos alunos da faculdade, que com certeza já estavam falando horrores de como o alfa não conseguia controlar suas próprias emoções como qualquer outro da mesma classe. Mingyu cuidaria daqueles idiotas depois, do mesmo jeito que precisava pensar com cuidado sobre o que poderia fazer para que a professora — também organizadora do evento — desse uma segunda chance ao Jeon sem expor grosseiramente a situação daquele homem.

Wonwoo não merecia ser exposto, e mesmo se merecesse, ele nunca o faria, não quando sabia das consequências que aquilo o traria e de como seria cruel.

Se desencostou da pia e usou-a para molhar o lenço anteriormente em seu bolso, nunca sabia qual seria o momento certo de usá-lo, mas deixava-o guardado na mochila para certas situações e agradeceu por ser paranóico o suficiente com estes casos quando serviu perfeitamente para compressas, caminhando até o Jeon e se agachando a sua frente para que, delicadamente, passasse o pano em seu rosto e nuca. Observou os olhos alheios se fechando em pura satisfação e confiança, inspirando e respirando como indicou anteriormente ao mesmo tempo que parecia temeroso com o trabalho que estava dando.

— Você não precisa-

— Cala a boca — mandou o ômega, e diferente da reação que esperava, Wonwoo riu envergonhado e soprado ainda de olhos fechados, contagiando-o um pouco.

Como podia seu ômega sentir uma satisfação imensa em cuidar daquele alfa?

E porque Wonwoo, mesmo estando com os cabelos bagunçados, os olhos um pouco fundos e sem seus óculos… ainda conseguia ser tão atraente aos seus olhos?

— A quanto tempo isso acontece? — Mingyu questionou, prosseguindo com o lenço no rosto alheio e sentindo-se um pouco intimidado quando o lúpus abriu seus olhos.

— Ensino médio… — o Jeon desviou o olhar do Kim para um ponto aleatório daquele banheiro gigante. Esperava que, pela grande movimentação do prédio graças ao projeto, aquela área estivesse tomada por pessoas também, mas agradeceu pelo engano.

“Eu… tinha amigos” Mingyu observou-o com atenção, silenciosamente aliviado por aqueles orbes de dragão não estarem totalmente sobre ele, já que o alfa a sua frente parecia entender que aquilo o ‘intimidava’, mesmo que nunca tenha dito nada “Mas eu acho que tudo sempre foi muito intenso pra mim”

E o Kim entendia muito bem sobre intensidade e sentimentos a flor da pele, afinal, além de ser o seu caso a alguns anos atrás, tinha alguém muito próximo — mais especificamente da família — que passava pelas mesmas situações que Wonwoo, por mais que não fosse exatamente o mesmo diagnóstico; ansiedade e pânico não eram besteiras como muitos diziam, o medo constante de todas as coisas, o coração acelerado sem motivos aparentes e a sensação de que você pode morrer a qualquer momento, mesmo não estando em uma situação de risco, não é algo fácil para qualquer pessoa que tenha. Era como um veneno muito bem preparado que matava aos poucos independente do que você possa possuir, causando um misto de emoções simplesmente pesadas demais que se tornavam problemas físicos reais.

E aquele conceito parecia até pior quando se tratava do lúpus e o que observou dele nesse pouco tempo.

— Você toma remédios para isso?

— Desde que tive o diagnóstico… eu só não esperava por essa reação hoje — explicou sem graça, finalmente voltando sua atenção para o ômega quando sentiu que este estava mais confortável para aquilo. Mesmo depois de tudo, ele prosseguia respeitando o tempo necessário de Mingyu sobre as pequenas coisas.

Mesmo com o afastamento repentino, a rejeição, a mágoa… Wonwoo não era um lúpus que procurava possuir inimigos, e isso acalmou seu coração, além de acelerá-lo — claro, de um jeito muito bom.

Mal notou quando sua palma passou a tocar suavemente a bochecha alheia, seu corpo se arrepiando apenas ao sentir o calor daquele qual estava destinado uma segunda vez na vida. O lúpus o encarou surpreso, principalmente quando os dedos curtos do ômega se movimentaram sutilmente em uma… carícia.

Mingyu o acariciava. E aquela informação o pegou desprevenido.

O encostar era sutil, quase como uma mistura de amor e receio, parecia que o Kim gostaria de estar mais perto, talvez abraçá-lo ou beijá-lo como naquela noite, porém tinha barreiras e mais barreiras rondando o seu próprio desejo ao ponto dos reflexos não deixarem aquilo acontecer. Ele não tinha medo nem repulsa pela situação, não, Wonwoo conseguia ver ali que o problema nunca fora ele e seus “defeitos”...

O ômega tinha pavor da situação entre eles, do destino, de uma união estável. Então… o que aconteceu no passado alheio fora algo relacionado a isso?

Eles eram tão parecidos assim ao ponto de odiarem mudanças juntos?

— Apenas… me deixe saber que precisa de ajuda quando estiver em situações como essa — o tom suave mexeu com todos os sentimentos do lúpus, estes quais jurou de pés juntos a si mesmo que havia superado, que não passava de um erro e que a culpa era dele —, não tinha como prever nada disso e, se ainda estiver com dúvidas, a culpa não é e nunca foi sua, nós não conseguimos controlar nossas emoções e nosso coração, idiota são aqueles estúpidos lá fora que acham isso uma besteira

Mingyu não obteve uma resposta verbal como gostaria, mas Wonwoo encostou um pouco mais seu rosto sob o acariciar alheio, e aquilo para si já era, indiretamente, o que o ômega precisava saber para respirar mais aliviado e bastava; sorriu um pouquinho, feliz por suas palavras terem abraçado aquele homem que precisava tanto delas, ao mesmo tempo que agradeceu, silenciosamente, por estar perto naquele momento. Ficaram daquele jeito por um tempo, mas não durou muito conforme o mais alto se afastou para molhar o lenço com objetivo de dar mais uma compressa e evitar que a pressão alheia caísse novamente, e enquanto cumpria seu pequeno objetivo, a porta do banheiro se abriu rapidamente e tanto Soonyoung quanto um Jihoon enfaixado entraram no local.

— Wonu! Você está bem?! — O ômega com cheirinho de biscoitos foi rapidamente abraçar o amigo, este que se assustou por não enxergar absolutamente nada, mas retribuiu o gesto carinhoso do mais baixo do jeitinho que conseguia.

O Kim observou aquela cena com atenção, além de acompanhar Soonyoung se juntar ao abraço de ambos e soltar um alto suspiro de alívio, parecendo poder respirar agora que sabia sobre o estado do amigo; ficou surpreso, o lúpus mais velho não era muito de amizades e geralmente rejeitava ficar próximo de muitos alfas — como fora o caso de Seungcheol, que passou bons meses atrás deste e o máximo que conseguiu foi ser cumprimentado com um “Opa” uma única vez pelos corredores —, principalmente quando estes queriam estar próximos de Jihoon ou fazer algum tipo de amizade com este também. Se Wonwoo podia ficar perto deste e ser um grande amigo do Kwon ao mesmo tempo, ele definitivamente era um bom alfa.

Poderia, um dia, também estar mais presente na vida do outro? Voltar atrás da sua decisão de se afastarem?

— Eu estou melhor… mas ainda preciso respirar — desesperados com a fala alheia, o casal soltou rapidamente o lúpus e, ao notarem a brincadeira, deram beliscões leves neste e fizeram-no rir — mas é sério, eu estou melhor… Mingyu me vigiou o tempo inteiro

— Mas o mérito de se acalmar foi todo seu — o mais alto acrescentou informações no assunto, sorrindo ladino de modo sutil e modesto.

— Obrigado por cuidar dele, Gyu~ — Jihoon pediu, com um sorriso adorável em seu rosto, juntando as mãos em frente ao peito como um sinal de gratidão.

— É verdade, muito obrigado… nós ficamos preocupados — Soonyoung quem agradeceu desta vez.

O Kim limitou-se por sorrir para ambos em resposta, se erguendo suavemente e tendo o braço segurado por Wonwoo em um movimento preciso, porém, lento e delicado; como um reflexo, Mingyu facilmente puxaria o braço de volta e perguntaria se aquele alfa estava louco em causar um susto daqueles em si, mas… o lúpus sempre fora diferente, e encará-lo naquele momento deixou com que toda a brutalidade dos seus atos e sentimentos desaparecessem. Tinha breve noção de que o outro parecia não enxergar nada além de borrões, mas, ao mesmo tempo, seus orbes de dragão desprovidos de óculos encaravam certeiramente os seus, e isso o causou novas sensações, como se o homem soubesse exatamente para onde olhar:

— Obrigado, Mingyu…

Você não precisa agradecer, é o que companheiros fazem, seu ômega gritou para responder, mas o Kim não permitiu que aquilo ocorresse, não quando sabia para que rumo aquele tipo de sentimentos e sensações iam… mas e se o rumo do lúpus fosse diferente? E se ele realmente pudesse dar a si o que precisava?

— Pense com carinho no que eu te disse mais cedo, certo? — Em outras palavras, na percepção apurada do alfa, Mingyu queria dizer um simples “não precisa agradecer, apenas me deixe saber que está bem”, sem soar exatamente naquele tom e usar as palavras. E, sinceramente, o mais novo não precisava, Wonwoo entenderia mesmo se fosse em códigos.

Por isso, soltou o braço do ômega e deixou-o seguir seu caminho com um pequeno sorriso em seu rosto, mostrando que entendeu tudo:

— Inclusive, apareçam na Coffee's and Flower's quando puderem, quem sabe pode ter desconto nos bolinhos~

— Bolinho… — Soonyoung murmurou para si mesmo, como se já pudesse sentir o sabor dos doces em sua boca e causando uma risadinha soprada no ômega robusto, este que deu uma última checada em Wonwoo antes de desaparecer pela porta daquele banheiro ladrilhado.

E por algum motivo… o círculo parecia estar ganhando uma nova volta.