Meu celular vibrava e eu só queria continuar dormindo. Mas quando vi que não iria parar, peguei ele que estava no criado mudo, ao lado de minha cama.
— Alô? — digo com minha voz um pouco rouca.
— Está dormindo ainda? — reconheço a voz de minha amiga — Vamos! Levante e venha até minha casa!
— À tarde eu vou.
— Já está de tarde, Lee Saeko.
Afasto o telefone de meu ouvido, e a tela clareira, me dando a visão das horas, que marcava meio dia e meia.
— Mas ainda estou com sono.
— Ficou acordada até tarde ontem, não é? Muito suspeito o Hyunjin ter demorado para voltar para minha casa buscar o Changbin e o Jeongin.
— Eu não tenho nada a ver com isso.
— Não tem, néh? Mas enfim, vem logo! Estou esperando.
— Tá! Calma! Já vou.
Me levanto, com meu corpo cansado. Isso é horrível, não importa quantas horas eu durmo , acordo cansada do mesmo jeito. Faço minhas higienes matinais e logo abro as janelas do meu quarto, deixando que a luz domine o lugar. Desço as escadas e vejo meus pais na cozinha, fazendo pastéis para comer.
— Boa tarde, dorminhoca — disse meu pai, assim que entro na cozinha.
— Boa tarde.
Me sento em uma das cadeiras, e fico observando minha mãe molhando os dedos na água e logo alisando levemente o pastel.
— Montserrat está me chamando para ir na casa dela — disse com desdém.
— Você não está com cara de quem quer ir — disse meu pai, logo pegando o pastel para frita-lo.
— Estou meio cansada. Mas eu posso ir?
Minha mãe parou o que estava fazendo e foi lavar as mãos, logo as enxugando no guardanapo.
— Come primeiro. Depois você vai.
Concordei, e assim almoçamos à mesa. Terminei meu segundo pastel e fiquei esperando a comida abaixar antes de ir. Assim que chego na casa, começo a procura-la, mas não a encontro em lugar nenhum, então decido ir até a piscina, onde ela poderia estar. E assim, eu a vejo, deitada em cadeira, com um óculos de sol, e um biquíni preto diferente do que me mostrou ontem.
— Cheguei.
Ela ergueu a cabeça para me olhar, levantando os óculos, e então logo voltou a posição que estava antes de mim chegar.
— Vai no meu quarto e pega aquele biquíni que eu te mostrei ontem.
Ando até ela e me sento em uma cadeira ao seu lado.
— Você é muito mandona. Eu não vou vestir biquíni nenhum.
— Ah, tudo bem então, desculpa. Não vou falar mais nada. Vou tomar sol sozinha — Me respondeu sem paciência.
Reviro os olhos.
Me deito na cadeira branca, e pego meu celular. Fiquei conferindo para ver se tinha alguma mensagem de Hyunjin, mas não. Comecei a ficar meio triste por isso, nem pelo menos um "bom dia".
Olho para Montserrat e reflito sobre uma coisa, os pais dela nunca estão em casa, parece que ela vive sozinha, que não tem ninguém mandando nela. Sinto vontade de perguntar, mas tinha receio por tocar em alguma ferida dela.
— Montserrat, porque seus pais nunca estão em casa?
Ela ficou em silêncio, mas logo começou a falar.
— Eles não ligam muito para mim.
— Ah... — não sabia o que falar para conforta-la.
— Mas tudo bem, não me importo muito.
O celular de Montserrat começou a tocar e ela logo o pegou e atendeu a ligação. Fiquei alguns segundos olhando para o nada, e não prestando atenção sobre o que ela falava ao telefone. Montserrat desligou e me olhou animada.
— Felix está chamando a gente para irmos ao parque, e ele vai chamar os meninos também.
Isso significa que Hyunjin vai estar lá. Okay, Saeko, não sorria igual uma idiota, Montserrat vai perceber.
— Você ficou bem animada, não é?
Droga!
Minha amiga se trocou, colocando uma roupa folgada, mas muito bonita. Eu apenas arrumei meu cabelo. Estava vestindo uma calça jeans e uma uma blusinha de manga marrom com algumas listras pretas.
Felix logo buzinou e fomos até o carro, onde ele nos esperava.
— Vocês demoraram, hein — comentou ele.
— Foi a Montserrat que ficou se arrumando como se fosse para uma festa.
Rapidamente, senti um medo tão grande de ele dizer "claro que foi", já insinuando que sou a pessoa mais feia que ele conheceu, e mesmo que eu fique um dia inteiro me arrumando, continuaria sendo horrível.
Novamente minha baixa autoestima e inseguranças estão dominando minha mente.
Chegamos ao parque e tinha várias pessoas entrando nos brinquedos. Os meninos ainda não haviam chegado, então para passar o tempo, entramos em algumas lojinhas de bijouterias. Enquanto me olhava no espelho, experimentava uma tiara branc, com uma flor no lado, mas não ficou muito bom, então tirei rapidamente. Olhei para Felix e Montserrat ao meu lado, o garoto colocou uma presilha no seu cabelo, e mesmo ele pondo errado, Felix abriu um sorriso ao observar sua namorada sorrindo para ele toda boba. Logo após, fomos tomar um sorvete, sentados à uma mesa, os dois um do lado do outro e eu sozinha na frente deles. Peguei meu celular para ver às horas, e marcava três e cinquenta da tarde. Os meninos ainda não haviam chegado, e Felix disse que eles afirmaram que viriam, mas depois não soube mais notícias.
Percebi que estava atrapalhando os dois. Toda vez que eles queriam ir em algum brinquedo, eu estava lá no meio, fingindo que estava me divertindo. Antes dos dois entrarem na roda gigante, menti que queria ir no banheiro, mas que eles poderiam ir juntos, sem problema nenhum. Sai de perto deles e comecei meio que andar sem rumo pelo parque, esbarrando nas pessoas. Andei e andei por minutos, procurando por eles. Não sei o porque disso, mas sinto, acho que... preocupação? Isso, eu estava preocupada caso tenha acontecido algo.
Voltei a ficar com meus amigos. E enquanto Felix ia no banheiro, eu disse para minha amiga que queria ir embora, mas ela insistiu que eu ficasse, pois à noite iria ter fogos de artifício. As horas iam se passando, mesmo que para mim parecia ser um ano. Todos estavam começando a se reunir em um determinado lugar do parque. Até que todos começaram a gritar que nem loucos quando um estrondo saiu no céu, me dando um certo susto por mim estar distraída. Olhei para os lados e vi minha amiga e seu namorado hipnotizados nos fogos de artifício.
A noite estava ficando fria, e eu estava com uma blusa fininha, pois não sabia que ficaríamos ali até tarde. Fechei meus olhos, com o corpo um pouco trêmulo, as mãos entrelaçadas ao meu corpo. Respirava fundo, ouvindo a gritaria e os fogos. Me assustei, pois senti alguém me tocando, colocando algo em meus ombros, olhei rapidamente para quem fazia isso, já pronta para correr, sem me importar com quem iria atrapalhar meu caminho. Mas meu interior pareceu ter se acalmado assim que vi Hyunjin olhando para mim, ajeitando sua blusa no meu corpo.
— Sentiu minha falta? — questionou, com aquele lindo sorriso nos lábios, me puxando um pouco para sí, na intenção de me aquecer.
Olhei em seus olhos e assenti devagar.
— Desculpa não ter chegado antes. O Changbin estava muito mal.
Arregalei um pouco os olhos.
— Por quê? O que aconteceu?
Hyunjin olhou para nossos amigos e logo para mim.
— Vem.
Ele segurou minha mão e me puxou, até que nos afastamos o bastante das pessoas, para que o barulho não atrapalhasse a conversa. Nos sentamos na grama, e mesmo já debaixo de uma árvore, ele não soltou minha mão.
— Os pais do Changbin querem que ele faça direito para se tornar um dos melhores advogados de Seul, mas ele quer fazer artes, e quando ele disse isso, os pais dele surtaram, porque... eles são bem surtados, eles são muito, muito loucos. E... o Changbin meio que se revoltou com eles, porque desde criança eles eram assim, tinha que fazer tudo que os pais dele mandavam, e se não fizesse, apanhava, não, ele era espancado pelo pai dele, e sempre quando se irritava com o trabalho, descontava tudo no Changbin, para se sentir melhor.
— E hoje foi um desses dias? — questionei, sentindo um pequeno desconforto, por causa da história.
Hyunjin olhava para frente, e hesitou um pouco de falar.
— Sim... e ele não se defende porque o respeito dele com os pais é MUITO grande, e isso é porque ele foi ensinado assim. Changbin não é que nem eu que bate boca com o pai quando não quer fazer as suas vontades. Mas é porque eu fui criado assim, com muita liberdade. Meu pai nunca me olhou como filho, então nunca o olhei como pai.
Eu queria falar algo, mas eu não consigo aconselhar alguém, meu Deus como eu sou uma merda.
— Agora o Changbin está bem?
— Não. Ele não está bem. Mas agora eu não posso fazer mais nada para ajudar. Quando o pai dele o espancou, eles saíram e deixaram o Changbin em casa, e com a ausência dos pais lá, ele me ligou, e eu fui e fiquei por horas, até que os pais dele chegaram e quando me viram... Acho que piorei as coisas...
Disse Hyunjin, abaixando a cabeça.
— Eles ficaram com mais raiva e me expulsaram da casa. Gritaram comigo, e eu gritei também. Mas... assim que eu saí... Eu pude ouvir eles gritarem com o Changbin, e provavelmente... piorei as coisas.
Hyunjin olhou em minha direção.
— Não foi culpa sua. Você queria ajudar, e ajudou bastante, você ao lado do Changbin, mostrando que se importa com ele, já o suficiente. Ele sabe que você o ama.
— Sim, mas eu queria poder ajudar mais. — Suspirou fundo. — Mas e você? Como está?
— Eu estou bem.
— Estava com saudade — confessou, logo puxando meu braço e o abraçando, apoiando sua cabeça no meu ombro, sorrindo sem mostrar os dentes.
Apoiei minha cabeça na dele.
— Estou com fome — disse o garoto, depois de alguns segundos em silêncio.
— Vamos comer! — ele se desgruda do meu braço, para me olhar — Soube que tem um lugar que vende um lamen delicioso.
— Então vamos lá.
Assenti e andamos pelas ruas de mãos dadas, em direção ao restaurante não muito chique que estávamos indo. Nos sentamos à uma mesa assim que chegamos e logo nos servimos, trocando assuntos aleatório. Mas o assunto que eu realmente queria falar, era o de ontem. Estávamos mesmo juntos? Isso me desperta uma enorme insegurança. Sei que sou muito substituível, e que Hyunjin pode achar alguém melhor do que eu em segundos, mas eu não queria que ele fizesse isso comigo, não depois de eu já ter me declarado, que é uma coisa contrangedora.
Abaixei um pouco a cabeça e fingi que estava tudo bem entre mim e meus pensamentos, até que Hyunjin me chamou, e quando percebi, ele segurava Hashi com um pouco de Lamen próximo ao meus lábios. Olhei para os lados, sentindo minhas bochechas esquentarem, e eu queria rir daquela situação. Abro a boca e como. O garoto sorri, e eu o retribui constrangida.
— Você é muito fofa!
Ele começou a gargalhar, percebendo o quanto estava envergonhada.
Assim que terminamos de comer, Hyunjin pagou a conta e foi no banheiro do restaurante. Enquanto isso, fiquei sentada na mesa. Escutei algo vibrar, e logo vejo que o garoto tinha deixado o celular comigo. Olho para ver quem era, e vejo o nome de Changbin na tela. Pensei em atender, mas talvez não fosse uma boa idéia. Parou. Segundos depois continuou, ainda era Changbin. Atende, Saeko! Peguei o celular na mão, mas a ligação foi encerrada antes de mim aceitar. Deixei o aparelho na mesa, meio receosa, pois deveria ser algo importante relacionado ao o que aconteceu com ele.
— Vamos? — questionou Hyunjin, já ao meu lado.
Assenti e assim fomos para fora.
— Changbin estava ligando.
O garoto pareceu me olhar surpreso.
— Que estranho... geralmente quando os pais do Changbin brigam com ele, eles pega o celular, para que o Changbin não se comunique com ninguém.
— Liga de volta.
— Vou ligar.
Hyunjin pega seu celular e em seguida bufa.
— O que foi?
— Estou com cinco porcento de bateria.
— Você trouxe um carregador? — O garoto nega.
Ele me fita com um certo receio.
— Se importa de irmos lá em casa carregar?
Hesito em responder.
— Ah... não...
Andamos até sua casa, com um silêncio entre nós. Quando chegamos, Hyunjin logo foi procurar um carregador, conectando em seguida em seu celular. Me sentei no sofá. Esperei um tempo, enquanto o garoto tentava ligar para o amigo. Hyunjin apareceu na sala, logo se sentando ao meu lado.
— Ele está bem?
— Ele não atendeu... — consegui ver a preocupação estampada em seus olhos.
O silêncio voltou por um tempo, até que Hyunjin decide falar algo.
— Saeko... Eu gosto mesmo de você. Por favor, não duvide disso.
Chegamos um pouco perto um do outro, na intenção de colarmos nossos lábios , mas o celular de Hyunjin tocou novamente, e ele logo foi correndo atender. O segui até a cozinha, onde carregava o telefone.
— Eii! — disse Hyunjin ao telefone, muito preocupado.
— Hyunjin...
Consegui ouvir a voz de Changbin através da ligação, ele estava chorando muito.
— Hyunjin, por favor me ajuda.
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