Peter então voltou sorrindo para seu quarto e Tony fez o mesmo. Entrou e fechou a porta, foi para seu criado mudo e colocou o porta retrato ali, sorrindo novamente para a foto.
Depois de esvaziar os bolsos, Tony se preparava para tirar a calça quando recebeu uma ligação. Sem querer parar o que estava fazendo, colocou no viva-voz e continuou a se despir.
— Oi Tony — a voz de sua secretária, Pepper, soou do outro lado da linha.
— O que a gente combinou sobre ligações no meu dia de folga? — Perguntou retoricamente enquanto vestia outra calça.
— Não é seu dia de folga.
— Eu estou em casa e estou folgado, então é sim meu dia de folga.
— Tony, não começa — disse em um tom de aviso. — Liguei pra te lembrar da festa de hoje.
— Não vou — respondeu resoluto.
— Ah vai sim — retrucou firme. — Muitos acionistas importantes vão estar nessa festa e você tem que estar lá. Pode levar seu garoto, se quiser, já que agora você só fica pra cima e pra baixo com ele — foi difícil não perceber o tom rancoroso na voz dela. — Começa às 10, não se atrase — e sem dar tempo de resposta, desligou.
Tony balançou a cabeça e respirou fundo, tentando não se irritar. Desde que terminaram, a relação de Stark e Pepper ficou mais complicada.
Havia muitos anos que ela era sua secretária, seu braço direito, fazia praticamente de tudo pra ele, ambos muito próximos, e essa proximidade toda resultou na mulher se apaixonando por Tony, que decidiu dar uma chance a ela, pensando que como já estava ficando mais velho, era melhor dar uma sossegada e tentar um relacionamento estável, achava que com o tempo o amor viria, o que não aconteceu. Depois de um longo tempo juntos, a relação foi se tornando enfadonha para o bilionário, que achou melhor terminar, mas era bem explícito que Pepper ainda nutria sentimentos por ele, não aceitando muito bem o término.
Desde então a relação profissional deles deu uma abrandada, com a mulher exercendo unicamente o papel de secretária dele, pois era inegável seu talento na área, mas mesmo assim ela ainda se achava no direito de opinar sobre a vida pessoal do mais velho, o que irritava a Tony profundamente.
O homem então terminou de se trocar e foi bater à porta de Peter, logo sendo atendido.
Sua expressão não era das melhores, uma vez que seus planos de ficar em casa relaxando na companhia do garoto que não viu a semana toda estavam arruinados, era inevitável que o mau humor se instalasse em si.
— Vamos sair hoje — disse sem rodeios.
— Onde vamos, senhor Stark? — Questionou e deu passagem para o mais velho entrar em seu quarto, indo direto ao closet.
— Tenho que ir numa festa hoje — disse lá de dentro, revirando os cabides. — Aqui, use isso — separou o terno feito sob medida de Peter, uma camisa branca simples, um colete da mesma cor que o terno e uma gravata. — Esteja pronto às 9:30.
— É uma festa do que, senhor Stark?
— Uma festa das Indústrias Stark — revirou os olhos, como se ele mesmo não fosse o dono da empresa. — Cheia de gente rica e chata vestindo roupas caras — usou um tom amargo na voz, não parecendo nem um pouco contente em ter de comparecer na tal festa.
Peter riu internamente, pois afinal, não seria Tony o maior exemplo de "gente rica vestindo roupas caras"? A única exceção era que ele não é chato, mas mesmo assim o garoto decidiu manter o pensamento para si mesmo apenas, já que o mais velho parecia não estar muito de bom humor.
Sem dizer mais nada, Tony saiu do quarto e voltou para o seu próprio, se fechando lá dentro.
Peter então decidiu dormir, visto que ainda lhe restava algumas horas vagas e foi dormir tarde na noite passada, e não queria que acontecesse nessa festa o mesmo que no leilão. Ajustou o despertador para às 8 da noite e fechou as grossas cortinas, mergulhando o quarto na escuridão antes de se acomodar na cama, se preparando para adormecer.
Exatamente às oito em ponto foi acordado pelo seu celular, e sem demora levantou da cama indo ao banheiro tomar uma ducha rápida para espantar o sono. Após isso vestiu a roupa indicada por Tony, arrumou o cabelo e calçou os sapatos, ficando pronto em poucos minutos.
Enquanto dava os últimos retoques no cabelo, Tony bateu à porta de seu quarto, o chamando para saírem.
O humor de Stark havia melhorado um pouco após dormir por algumas horas, como fizera o garoto, e agora ele ostentava um sorrisinho ao olhar para Peter.
— Você ficou muito bonito com esse terno — deixou escapar meio sem querer querendo e contemplou as bochechas do mais novo avermelharem. — Digo, ele lhe caiu muito bem.
— Obrigado, senhor Stark — agradeceu tímido. — O senhor também está muito bem.
Tony usava um conjunto como o seu: terno, camisa, colete e gravata, e o cabelo arrumado no topete costumeiro. Talvez fosse por causa recorrência de vezes em que via o mais velho trajando roupas sociais, mas Peter achava que Tony realmente ficava muito bem num terno, parecia ter nascido para viver dentro deles, os trajes formais só faziam realçar a beleza do mais velho, lhe conferindo um ar sofisticado e sério, e Peter se pegou contemplando isso em silêncio através do espelho do elevador, sem perceber que seu gesto era copiado até sentir a mão de Tony na sua.
— Deixa eu ajeitar essas abotoaduras — o mais velho disse e Peter torceu para que suas palmas não o traíssem e começassem a suar, afinal a proximidade de Stark sempre o deixava um tanto nervoso. — Pronto.
Tony ainda se permitiu segurar as mãos de Peter por alguns milésimos de segundos enquanto seus olhares se cruzavam e ele notava a timidez naquelas íris castanhas.
Desviando o olhar, o Parker lentamente desfez o contato, fitando qualquer canto do elevador que não fosse o bilionário ao seu lado.
Alguns andares depois eles chegavam à garagem.
O trajeto até a festa foi razoavelmente longo, o salão onde ela seria realizada ficava um tanto afastado do centro e o trânsito também não ajudava muito.
Peter se sentiu nervoso ao sair do carro junto do mais velho em frente à entrada, onde havia muitas pessoas, e dentre elas várias eram da imprensa, que não perderam tempo em enchê-los de perguntas e flashes das câmeras.
Os questionamentos vinham de todos os lados, e Tony fazia o que podia para se livrar deles, obtendo algum sucesso graças aos muitos anos de experiência na área.
Colocando a mão na base da coluna de Peter, Tony o guiou para dentro quando conseguiu se livrar dos repórteres, pois era visível o constrangimento do mais jovem, visto que suas bochechas pareciam querer entrar em combustão a qualquer momento de tão vermelhas.
— Vai se acostumando — se inclinou para dizer rente ao ouvido do mais jovem, dando uma risadinha divertida.
— É sempre assim, senhor Stark?
— Geralmente é pior — sorriu mais abertamente com a expressão engraçada que Peter fez. — Vem, vamos pegar uma mesa.
Ambos foram andando pelo salão lotado, Peter olhava em volta as pessoas da alta classe bem vestidas interagindo umas com as outras e algumas dançando ao som da música clássica que tocava. Vez ou outra eram parados por algum conhecido de Tony, e fora apresentado a tanta gente que nem lembrava mais quem era quem, os nomes se embaralhando na sua mente que ainda processava o fato de ter Tony Stark com a mão nas suas costas e com o corpo muito próximo de si no meio de tantos desconhecidos.
Quando finalmente alcançaram uma mesa livre no canto, onde a movimentação de pessoas era mais tranquila, os dois se sentaram e ficaram em um silêncio estranho, só observando em volta.
— Ou vou buscar uma bebida pra gente — Tony falou se levantando, querendo quebrar aquele silêncio incômodo.
Peter assentiu e assistiu o mais velho sair, indo em direção ao bar.
Alguns minutos de ausência do mais velho depois, viu um homem de meia idade e bem vestido se aproximar de sua mesa e se sentar em uma cadeira livre à sua frente.
— Olá — cumprimentou o homem.
— Hum, oi — disse Peter, meio hesitante.
Quando o homem estava prestes a dizer mais alguma coisa, Tony chega na mesa, colocando uma taça na frente de Peter e se sentando ao lado dele, encarando o outro homem.
— Interrompi alguma coisa? — Perguntou alternando o olhar de um para o outro. — Vejo que conheceu meu acompanhante, Peter Parker.
— Sim, e eu estava me perguntando o que um garoto tão agradável estava fazendo com um cara tão chato como você, Tony — disse em tom de brincadeira dando uma piscadela para Peter. — Mas não foi por isso que eu vim, temos negócios a tratar, Tony, e eu nunca consigo uma hora livre sua, então aqui estou eu.
Lançando um olhar de desculpas a Peter, Tony então engatou uma conversa com o outro sobre números, ações, porcentagens e outras coisas relacionadas a empresa, e Peter até tentou fingir que estava entendendo alguma coisa, mas o assunto era tão enfadonho para si que minutos após começarem, Peter já se encontrava totalmente entediado e se perguntando se pegar o celular para se distrair seria muita falta de educação.
— Isso é muito chato né?
Peter foi desperto de seus pensamentos por uma garota que se sentou na outra mesa, muito próxima da sua.
— Sou Ellen — disse estendendo sua mão para o garoto, que não tardou a apertar —, e o viciado em trabalho ali é o meu pai — revirou os olhos indicando com a cabeça o homem que conversava com Tony.
— Sou Peter.
— Eu sei — disse sorrindo. — Então, você está mesmo com o Stark?
— Ah, hum, sim… — respondeu meio hesitante, sem entender em qual sentido ela perguntava. — Quer dizer, eu estou morando com ele, então…
— Não! Sério?! — A garota parecia meio espantada. — Sério que você mora com Tony Stark? Como isso aconteceu? Você não é filho dele, é?
— Não, é… complicado… — disse sem saber como explicar, nem se devia explicar alguma coisa, afinal, podia ser uma repórter disfarçada atrás de algum furo de Tony, mas se bem que ela não aparentava ter idade para ser uma repórter formada, parecia ter mais ou menos sua idade.
Enquanto Peter se distraía em meio a tentar explicar sua situação sem ser realmente revelador, não percebeu a atenção de Tony em si e principalmente o olhar torto em direção a garota, que agora tinha puxado a cadeira para mais perto do Parker e ria abertamente de algo que ele havia dito, colocando a mão sobre seu joelho casualmente no processo.
Mas infelizmente para Stark, ele não podia apenas ficar prestando atenção no que os dois jovens conversavam, uma vez que o pai da garota não o deixava em paz com seus assuntos de trabalho.
— Vem, eu quero dançar.
Tony involuntária e imediatamente se virou ao ouvir a voz da garota, a tempo de ver ela tomando Peter pelas mãos e o puxando para o canto onde os casais dançavam.
Tudo o que Peter pôde fazer foi dirigir um olhar assustado à Tony enquanto era casualmente arrastado para dançar, desejando internamente que não cometesse nenhuma gafe, como pisar nos pés da garota, por exemplo.
Tentando esconder sua expressão de desagrado, Tony pegou sua taça e deu um generoso gole, sentindo a bebida alcoólica descer quente por sua garganta, tentando se distrair da cena de Peter com uma mão na cintura da moça que fazia questão de se manter o mais próxima possível.
O bilionário quase revirou os olhos quando teve sua atenção mais uma vez chamada pelo pai da ladra de acompanhantes. Será que ele não se tocava de que o assunto era extremamente chato para a ocasião e que Tony não estava nem um pouco interessado? Bem, tendo percebido ou não, ele desatou a falar, enquanto Tony virava taça após taça dos mais variados tipos de bebidas até começar a se sentir mais aéreo.
— Ah, sim, sim, muito interessante — falou quando já não conseguia mais aguentar tanta falação. — Terminamos a conversa outro dia, agora eu tenho que procurar o meu garoto.
Levantando da mesa Tony teve que parar alguns segundos para se orientar. Se concentrou e andou com alguma dificuldade até o bar, sempre olhando em volta a procura de Peter, já que não o vira há um bom tempo, desde que ele havia saído da mesa junto a garota.
Quando chegou no bar achou melhor se sentar um pouco, pois se sentia um tanto tonto. Pediu mais uma bebida e se virou para o salão, seu olhar correndo o local com mais calma agora, finalmente encontrando quem procurava. Peter e Ellen estavam sentados em uma mesa mais afastada conversando animadamente, parecendo muito felizes com o assunto, e Tony não pôde evitar a expressão de total desagrado em seu rosto.
Enquanto Tony se enchia de mais álcool no balcão do bar, Peter conversava com Ellen, a garota era tão extrovertida que nunca deixava o assunto morrer, sempre encontrando um novo tópico interessante, e quando percebeu já se passaram horas de conversa fiada, tendo a impressão de que já conhecia a garota há anos.
— Acho que o Stark quer me matar — sussurrou Ellen em tom de brincadeira se inclinando para perto de Peter.
— O quê? Por quê?
— Olha o jeito que ele está olhando pra gente.
Peter então discretamente dirigiu seu olhar para onde ela havia indicado, encontrando Tony sentado olhando fixamente para os dois com uma expressão facial de dar medo.
— Ele está de mau humor hoje porque não queria vir — Peter supôs, dando de ombros.
— Acho que não é isso — disse com um tom pensativo. — Deixa eu testar uma coisa…
Foi o que ela disse antes de se inclinar para muito perto de Peter, colocando uma mão na coxa dele, fazendo questão de que Stark visse cada movimento seu, e sussurrou no ouvido do garoto:
— Olha a cara dele agora.
Quando Peter olhou sua expressão havia piorado e ele apertava fortemente o copo entre os dedos.
O jovem Parker sentiu um calafrio passar por sua espinha, nunca antes havia visto o Stark parecendo tão perto de cometer um crime de ódio, nem mesmo quando ele estava irritado com Flash, quando este lhe batera.
— Ah! Como eu pensei — Ellen disse numa voz animada, voltando a se sentar direito na cadeira.
— O que foi isso? — Questionou desentendido.
— Você ainda não sacou? Garoto você é lerdo — disse rindo. — Bem, se você não percebeu ainda, não sou eu que vou contar. Agora acho melhor você ir levar o Stark pra casa, antes que ele venha atrás de mim — deu uma piscadela para Peter e riu se despedindo com um aceno de mão.
Peter franziu o cenho depois chacoalhou a cabeça, era melhor nem tentar entender o que ela quis dizer. Se levantou e seguiu até onde Tony estava, notando que ele já estava um tanto alterado por conta do álcool.
— Senhor Stark, acho melhor a gente ir pra casa.
— Mas já? Por que, o papo não estava bom? — Usou um tom debochado para então virar o restante do conteúdo do copo garganta abaixo.
— Já está tarde e o senhor bebeu demais, senhor Stark, vamos — insistiu e Tony deu de ombros levantando do banco mas quase caindo no processo. — Eu vou chamar o Happy.
O motorista não demorou a chegar e logo os dois amparavam o bilionário até a saída, onde ainda haviam alguns repórteres ávidos para tirar alguma coisa de um Tony Stark bêbado.
— Senhor Stark, pode nos contar sobre sua repentina relação com o jovem Peter Parker? — Um dos repórteres perguntou e Tony deu uma risadinha antes de responder.
— Ele é o Robin do meu Batman — riu mais abertamente.
Vendo que o mais velho não falaria coisa com coisa, Happy dispensou a imprensa, finalmente alcançando o carro, onde, com alguma dificuldade, colocaram o Stark no banco de trás.
Peter se acomodou ao lado de Tony, e logo o carro era posto em movimento. Seguiram alguns minutos em total silêncio, até que de repente um som explodiu das caixas de som do veículo: Tony havia colocado uma música extremamente alto para tocar, e pra piorar ainda começou a cantar junto.
— "Whiskey, gin and brandy
With a glass I'm pretty handy
I'm trying to walk a straight line
On sour mash and cheap wine
So join me for a drink boys
We're gonna make a big noise" [1]
— Você já está fazendo um grande barulho, senhor Stark — Peter disse alto para se sobressair ao som do carro.
O mais velho apenas ignorou, continuando a cantar surpreendente bem para alguém alcoolizado. Bem, não era um exemplo de afinação, mas ao menos acertava a letra.
Peter apenas riu do entusiasmo do mais velho enquanto Happy balançava a cabeça em negação, baixando o volume da música.
Tony não pareceu se importar muito com isso, só se aproximou o máximo possível de Peter no banco e sussurrou em seu ouvido uma perte da música, destoando totalmente do original, mas fazendo soar um tanto… sensual, mesmo que um tanto fora de contexto no momento.
— Come on all the boys
Make a noise. [2]
Peter sentiu sua pele arrepiar com o hálito quente contra sua orelha e a frase dita naquela entonação. Então subitamente, antes que pudesse questionar qualquer coisa, Tony unicamente deitou a cabeça contra a sua, parando até mesmo com a agitação causada pela música. A playlist continuou tocando, muito mais baixa, graças à Happy, mas Tony já não ligava para qual música tocava, estava mais preocupado em apreciar a proximidade de Peter.
— Eu não gostei quando ela estava assim com você hoje — disse meio enrolado, parecendo mais falar consigo mesmo do que com Peter.
— Quem? Assim como? — Perguntou curioso.
— Aquela menina chata e grudenta — reclamou. — Ela ficava muito perto de você — falou em um tom mais baixo seguido de um longo bocejo.
— E por que não gostou, senhor Stark? — Peter realmente não sabia por que isso desagradava o mais velho, e gostaria que ele lhe esclarecesse isso.
— Porque eu gosto de você — seu tom foi muito baixo, mas o suficiente para Peter ouvir.
Antes que pudesse perguntar sobre o que isso significava, percebeu que Tony adormecera encostado contra si, portanto resolveu guardar suas indagações para si mesmo, talvez algum outro dia, se tivesse coragem, confrontasse o homem sobre.
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