Clarkson Schreave aparentava ser um homem arrogante e exigente.
Vez por outra arqueava a sobrancelha enquanto analisava minha ficha calmamente. Sentada, eu apenas o observava se mover por toda a sala com a ficha em mãos.
- De acordo com sua mãe, você se tornou rebelde após a morte do seu pai. – Disse sem tirar os olhos da ficha – E, vejamos... Ela diz que encontrou drogas no seu quarto.
Ele me olhou sem um pingo de surpresa no olhar. Talvez já tivesse acostumado, uma vez que trabalha com jovens extremamente rebeldes.
- É o suficiente. – Deixou os papéis sobre a mesa e continuo me analisando enquanto caminhava ao redor da mesa. Aquilo me irritava. – Senhorita Singer, a descrição da sua pessoa naquela ficha não me impressionou nada, e sabe porquê? Porque trabalho com jovens que são talvez três vezes mais insolentes que você. Alguns já chegaram a ser presos, mas nenhum jamais cometeu crimes aqui dentro.
Ele parou imediatamente de caminhar e me encarou com o olhar mais sério que já vi na vida.
- Porque a partir do momento que você se torna estudante do Brook Hill Academy toda a sua rebeldia vai sendo aos poucos substituída pela disciplina. E não é só isso, aqui você vai passar parte da sua adolescência, quando sair já vai estar madura o suficiente para seguir sua vida com responsabilidade. Enfim, vamos às regras: Nada de telefone celular nos dias de semana.
O quê? Como vou falar com meu namorado? Isso é um absurdo!
- Regra de número dois: Atrasos de mais de quinze minutos são contados como advertência, três advertências levam à duas aulas extras por semana. Mais de cinco advertências causarão cinco aulas extras por semana. Mais de sete advertências levam à cinco aulas extras por semana, proibição do uso do aparelho celular até no fim de semana e serviço comunitário na própria escola. Em um caso extremo, que jamais aconteceu em toda a história do Brook Hill Academy, o aluno é expulso. Horário de lazer das quatro a seis horas da tarde em caso de advertência você perde esse direito. Deve usar seu uniforme durante todo o dia, retirando-o apenas para pôr roupa de dormir. E é proibido andar pela escola com roupa de dormir.
Até uma prisão deve ser menos rigorosa do que a merd4 dessa escola!
- Você dividirá o dormitório com outras duas garotas. Há um horário em que todas as luzes se apagam e todos os inspetores checam os quartos frequentemente, quando a luz do seu quarto apagar significa que você já deve estar deitada e dormindo, para ser mais específico às oito da noite. Os inspetores acordarão todos os alunos às cinco e meia da manhã, o café é realizado as seis e vinte coletivamente. A primeira aula acontece às sete. Qualquer dúvida pergunte a um monitor ou inspetor. A segunda aula acontece às oito e meia, a terceira às dez e então terá um intervalo de trinta minutos para preparar-se para o almoço que acontece às dez e meia e finaliza às onze e vinte. Das onze e vinte às doze e meia você pode descansar ou fazer algum dever. Às doze e quarenta e cinco acontece a quarta aula, à quinta às duas e quinze e vai até as quatro que é o horário de lazer. A noite é livre para caminharem pelas dependências da escola ou fazerem deveres o jantar acontece às seis e meia da noite. Não é permitido qualquer estudante do sexo oposto em dormitórios femininos ou masculinos, isso vale inclusive para monitores. Sair das dependências da escola sem permissão não é permitido em hipótese alguma. Muito menos namorar nas dependências da escola. Caso descumpra algumas das duas últimas regras citadas levará uma advertência que vale por cinco. Os horários serão repassados à senhorita por alguma colega sua de dormitório, ou caso não consiga se enturmar tão cedo peça a algum monitor. Está de acordo com as regras, Senhorita Singer?
- Não. – Respondi imediatamente
-Ótimo! – Ele diz com esboçando um sorriso debochado em seus lábios. – Boa sorte, Senhorita Singer.
- Eu não sei onde fica meu dormitório...
- Com certeza há alguém lá fora para lhe levar até lá.
Assenti já me encaminhando para a saída daquele escritório.
Encaminhando-me para longe daquele ser insuportável de nome Clarkson Schreave e automaticamente solto um suspiro de alívio por isso.
Não consigo entender como minha mãe diz que isso é para o meu bem... Esse colégio é um inferno. Que tipo de mãe ou pai que quer fazer o bem ao seu filho o envia para um lugar como este?
- Senhorita Singer, me acompanhe. – Uma garota loira de olhos azuis me olha de soslaio enquanto caminha rapidamente para uma direção desconhecida por mim. Eu a sigo. – Perdão por não me apresentar corretamente, é que estou atrasada dois minutos para aula de aritmética... Tenho mais treze ou levo advertência, apenas caminhe rápido por favor.
Apressados o passo, estávamos praticamente correndo pelo corredor vazio, e eu observava a grande quantidade de salas que havia naquele local.
- Bom, eu sou a Lucy, uma das monitoras daqui. Meu dormitório é ao lado do seu e qualquer dúvida não ouse pensar em não me consultar, okay?
- Tudo bem.
Enquanto falávamos continuávamos correndo até avistarmos uma porta de madeira com uma placa de número 03.
- Bom, é aqui. Boa sorte... – Ela me olhou esperando que eu continuasse sua frase com meu nome, e assim fiz.
- America.
- Boa sorte, America! Eu realmente preciso ir.
Assenti e ela retomou sua corrida em uma direção oposta à qual eu estava.
Adentrei o quarto rezando para que nenhuma das garotas estivesse ali naquele momento... Eu realmente precisava ficar sozinha por um tempo.
Um sorriso instantâneo surgiu em meus lábios ao ver o ambiente vazio. Talvez estivessem na aula de aritmética que a tal Lucy falou que iria. Minhas malas estavam abandonadas em um dos cantos do dormitório, imaginei ser o lado em que eu ficaria.
O quarto era grande para apenas três pessoas, tinham três camas, três armários azuis, uma escrivaninha e três criados-mudos. Não deixei de observar o banheiro que havia ali. Tinha até banheira!
Organizei minhas coisas, retirando algumas roupas que eu nem sabia se poderia algum dia voltar a usar da mala. Eu ainda não tinha um uniforme e também não tinha mais nada para fazer, então apenas sentei-me na cama, bem macia por sinal, e comecei a pensar na vida.
...
- A Natalie é insuportável! – alguém dizia retirando-me dos meus pensamentos – que tipo de pessoa humilha a outra simplesmente pela cor do cabelo?
- Não sei como o Maxon a suporta. – Outra voz feminina ecoou pelo ambiente. Imagino que nenhuma notou minha presença ali.
- E o pior é que... – A garota de cabelos marrons parou imediatamente de falar ao me ver. – Hey, você deve ser a novata.
- Sim, sou eu. – Respondi com um meio sorriso. Eu precisava parecer simpática, talvez boas amizades deixassem aquele local menos infernal.
- Como se chama? – Dessa vez uma garota de cabelos loiros e olhos castanhos me analisava.
- Sou America... Singer... America Singer.
- Bom, America, eu sou Marlee e essa é a Celeste. Vamos ser suas companheiras de dormitório.
- Antes de tudo há uma regra básica de convivência: Odeie a Natalie Luca. – A tal Celeste diz com um semblante sério. Marlee dá um beliscão nela que reclama baixo.
- Quem é Natalie Luca?
- No jantar você verá. Vamos, vamos, não podemos nos atrasar! Seu uniforme deve estar chegando.
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