Não era difícil virar para qualquer pessoa e dizer que Haiji era uma luz e um raio de esperança na vida, pois se tratava da mais pura verdade. Mesmo quando tudo parecia caminhar para o erro e para o caos, ele sempre abria um sorriso gentil e assegurava que tudo ia ficar bem. Foi ele quem ensinou que após a tempestade vez um arco íris, e quando este não vem, este era um grande sorriso. Bastava sorrir para ilustrar todas as cores e brilho de um arco íris não era?
Pra ele sempre parecia funcionar assim. Naquele dia, sentado em um banquinho segurando com a perna levemente estendida para frente, observava a moça diante dele passar gelol em seu joelho, massageando com cuidado como se fosse de vidro. Ele achava engraçado quando ela trabalhava com todo aquele cuidado, exceto quando enquanto fazia tinha uma expressão tão triste.
— Não é como se meu joelho ainda estivesse detonado —ele disse, brincando, mas seu tom de voz não alegrou a moça como sempre fazia, e ele bem podia reparar. Isso não o fez desistir. — Pode passar com mais força. Não está doendo.
O cheiro de cânfora era tudo o que podia sentir, além da sensibilidade da pele gritar pelo gelo do produto. A moça balançou a cabeça com o comentário dele, preocupada e sem conseguir parar de pensar no futuro, no que poderia acontecer se Haiji insistisse em correr mesmo quando não estava completamente recuperado. Ela estalou a língua, aplicando mais do produto. Não ousou olhar pra ele, pois aí não seria o joelho dele que se desmontaria, mas ela por completo.
— Estava doendo mais cedo quando você correu com os meninos —ela lembrou, trazendo a tona a razão de sua preocupação como se fosse uma acusação. Queria que ele adivinhasse, pois talvez assim tomasse mais cuidado com o esforço que exercia na perna. — Você não para pra pensar na possibilidade de... Piorar?
Haiji sabia da preocupação dela desde cedo. Ela era sua enfermeira oficial, como ele gostava de chamar considerando que era estudante de enfermagem. Mas além disso era sua namorada há dois anos, e ele sabia melhor do que ninguém o que era capaz de trazer mágoa até aquele rostinho sempre tão sorridente e cheio de esperança. Ele não a condenava por sentir preocupação, nem por querer cuidar dele... Ele faria o mesmo por ela.
— Eu me alongo bem e sempre corro no ritmo do Príncipe —ele disse, sorrindo, tentando manter aquela conversa o mais leve possível. Não era fácil manter um ritmo tranquilo e confiante quando a moça era meio preocupada demais, porém, as vezes ele conseguia. — O que quer dizer que o percurso que os outros fazem em dezoito minutos...
— Você faz em meia hora -ela completou, dando uma pequena risada ao lembrar de como Príncipe corria, com Haiji sempre o estimulando e bancando um grande coach de mangá. — Mas não vai ser assim pra sempre, vai?
O tom de voz dela foi mais firme agora, e dessa vez ela olhou pra ele. Estava de joelhos no chão, abaixando a calça dele para cobrir o joelho com a enorme cicatriz. Ela deu um beijinho por cima da roupa, o que o fez sorrir mais abertamente. A pergunta dela não o deixou desconfortável, nem pensando demais sobre possíveis problemas que pudessem magoar ainda mais seu joelho.
Haiji estendeu a mão pra ela, para ampará-la enquanto se levantava. Ela sentou bem ao lado dele, tampando a bisnaga de gelol e colocando dentro de uma pochete lateral. Ela sempre corria com ele durante a tarde, mantendo um ritmo de cooper leve até o departamento de enfermagem. Estavam prontos pra sair, mas ela fez questão de massagear o joelho dele antes. Sentada ao seu lado agora, pronta para que eles corressem lado a lado, ela o observou, esperando a resposta de sua pergunta. Ficava ansiosa cada vez que ele sorria, mas daquela vez... Ele sorria como após uma tempestade: era um sorriso brilhante, colorido, apaixonante. Como não poderia confiar nele?
— Nada dura pra sempre —ele explicou, ainda segurando a mão dela. Virou-se um pouco no banquinho para que pudesse demonstrar toda a atenção que ela precisava. — Príncipe logo vai estar no mesmo ritmo que os outros e bem, eu vou acompanhar eles como for. Não quero que você se preocupe com o meu joelho, pois você está cuidando dele, não é?
Ele sempre tentava jogar aquela responsabilidade pra ela, sabendo o quanto ela valorizava o cuidado que prestava a ele naqueles momentos. Ele sempre conseguia o que queria colocando a confiança nela, pois se havia alguém que confiava mais nela do que ele... Ela era mesma. Se considerava muito competente no que dizia respeito a cuidar dele e dos outros meninos e nunca falhou uma vez sequer. Confiava que estava seguindo as orientações dos médicos e que com sua ajuda, Haiji iria cada vez mais longe.
— Você sempre sabe o que dizer pra me fazer calar a boca, não é? —ela rebateu sorrindo de lado diante da manipulação da preocupação dela. — Eu vou continuar dando meu melhor para cuidar do seu joelho e você vai me prometer que não vai extrapolar pode ser?
O sorriso como o arco íris e a fé dele no futuro sempre acabavam acalmando ela. Sabia que devia confiar nele, ter fé e confiança. Ela continuaria se preocupando? Sem dúvidas, mas seria o suporte de que ele precisava até o fim. Não que houvesse um fim, pois o que eles tinham era sim pra sempre.
— Nem sempre eu sei o que dizer —ele a corrigiu a respeito da primeira frase. Agradeceu com um olhar, aproximando o rosto do dela. — Eu prometo, minha enfermeira favorita!
— Quer dizer que tem outras? —ela riu.
Haiji nem precisava saber o que dizer. Seu sorriso se chocou contra o dela, iniciando um beijo que tirava todas as dúvidas e acalmava qualquer tipo de tempestade. Era doce, gentil e mais do que isso: era um conforto. Era uma promessa. Era amor.
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