História Como (não) lidar com uma cunhada - Capítulo Único

— Ele está atrasado! — esbravejou Mikasa, estando sentada ao lado do seu irmão mais novo, Eren. 

— Mikasa, ainda tem quinze minutos para o horário marcado, Levi é muito pontual — respondeu o outro de forma entediada. 

— Não quero saber, ele perdeu pontos comigo! Se a gente fala um horário, é para vir antes, e não depois, caralho! Eu sabia que ele ia dar um bolo na gente. Falei que ele não presta! — O moreno só revirou os olhos para aquela baboseira toda. 

Eren achava aquilo muito ridículo: sua irmã mais velha querer conhecer o seu namorado. Para ela, só podia namorar com a sua autorização. Que ser humano, em pleno século vinte um, tem que pedir a autorização de fulano para poder namorar com cicrano? Tinham voltado a idade média? O namoro tinha que ser na porta? Para Mikasa Jaeger, sim. 

Os irmãos Jaegers só tem um ao outro no mundo. Perderam os pais ainda cedo, e ficaram sobre a tutela de um tio, que assim que Mikasa completou a maioridade, simplesmente sumiu do mapa. Quando ficaram órfãos dos seu pais, Mikasa ativou o modo leoa-mãe para Eren. Quando crianças, ela não deixava ninguém se aproximar do menino, afirmando que ele podia pegar uma gripe, piolho ou verme. 

Para sair de casa, o moreno tinha que estar bem agasalhado, ter tomado as vitaminas, ter passado álcool em gel nas mãos, andar com remédios na bolsa, e estar com o celular carregado, a discagem rápida na tela inicial. Eren era colocado em uma bolha de vidro, feita por Mikasa. 

Na adolescência, as coisas se tornaram piores: o moreno sem querer, esbarrou e derrubou um menino, que logo partiu para violência e, como era uma bombinha, revidou.  Foram parar na diretoria, Mikasa foi chamada na escola e, se fosse uma pessoa normal, teria repreendido o seu irmão, mas não! A Jaeger ameaçou de morte o coitado que bateu no seu filhote, sim, ela tinha levado uma panela de pressão. 

No mesmo dia, Eren foi expulso da escola — graças a Mikasa que quis sair batendo em todo mundo —; ele só queria morrer de vergonha.

O dono das esmeraldinas se sentia sufocado, não podia ter amigos, pois Mikasa espantava a base da vassourada, afirmando que seu irmão tinha que focar nos estudos, caso quisesse ir para uma faculdade de renome e, também, ela tinha medo que seu filhote se envolvesse em um caminho perdido e em coisas proibidas para menores. Então para ela, qualquer pessoa era um meliante. 

Eren foi para faculdade, entretanto, Mikasa fazia questão de deixá-lo, buscá-lo e fazer o seu almoço. Na universidade, o rapaz conheceu Levi Ackerman, um veterano do curso de administração — o mesmo que o Jaeger fazia —; foi preciso muitas doses de coragem e idiotice para o mais novo se aproximar do tampinha ranzinza. 

O moreno padeceu no inferno para conquistar Levi, já que o baixinho era a personificação do rei de lá, na Terra, mas acreditem, foi o tampinha que tomou iniciativa e pediu o Jaeger em namoro. 

Enfim, não seria a fada da limpeza que mora em Levi, que seria o obstáculo do seu relacionamento, mais sim, Mikasa Jaeger. Quando o mais novo anunciou para a sua irmã mais velha que estava namorando há cerca de quatro meses, a morena quase teve um infarto e, Eren a levou para o hospital. Nesse dia, ela saiu xingando todo mundo, e fez uma certa jura de morte para o suposto namorado do seu irmão. 

Foi preciso muito diálogo com a megera indomável  — como o mais novo nomeava a sua irmã —, para que Mikasa aceitasse entre aspas o seu namoro com um certo Ackerman. Todavia, a Jaeger não facilitaria, e mandou Eren marcar um encontro em uma cafeteria, para conversar com ele, e em outras palavras, cometer um assassinato a sangue frio. O moreno já imaginava as perguntas sem noção que sua irmã faria, e sentia pena de Levi — isso se ele não fosse o rei do inferno —; cada caso com seu caso. 

O rapaz foi despertado dos seus pensamentos quando escutou o sininho da cafeteria soar, e viu um certo baixinho emburrado passar por ele, logo abrindo um sorriso, de imediato.

— Levi, aqui! — Acenou para o outro. 

Mikasa manteve os seus olhos fixos no sem vergonha que dizia namorar o seu irmão. Por que ele tinha que ser baixinho? Eren não tinha ninguém mais alto para arrumar, não? Tinha que ser um banquinho? 

— Boa tarde — saudou Levi se sentando de frente para os irmãos.

— Péssima tarde — disse Mikasa, de maneira fria.

— Hum. 

Notando que o clima poderia ficar mais tenso, Eren tratou logo de pronunciar. 

— Como está Levi? Como está as coisas no seu trabalho? — perguntou. 

— O mesmo de sempre — falou. Com os seus braços esticados sobre a mesa, o Jaeger foi pegando nas mãos do namorado e brincando com os dedos do outro. Era um dos poucos contatos afetuosos que Levi se sentia bem em público.

— QUE PORRA É ESSA? O SEU PORTEIRO DE GAIOLA, QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA FICAR ASSIM COM MEU IRMÃO? ELE É UM RAPAZ DE FAMÍLIA E NÃO ESSAS QUENGAS QUE VOCÊ ESTÁ ACOSTUMADO A PEGAR NA RUA! — Os dois olharam para uma Mikasa que estava muito enraivecida.  

— Mikasa! Que escândalo é esse? Menos, a gente está em um lugar público, sua chata… — Teve a sua frase interrompida. 

— Fica na sua aí, Eren. Quero trocar umas ideias com esse porteiro de maquete. 

A Jaeger olhou para Levi de modo feroz, mas o Ackerman nem sequer se sentiu abalado ou estremecido. Já tinha visto muita gente bater o peito e dizer que é valentão, e que tudo se revolve em uma boa briga, mas no fundo, não passam de uma criança medrosa querendo atenção. 

— Eren, você me disse que a sua irmã mais velha tinha um gênio muito forte e que estaria me ameaçado de vida a cada cinco minutos, mas a única coisa que eu vejo: é uma pirralha mimada que não sabe perder. 

— O que você disse, nanico? — A fúria crescia nos olhos da mais velha. 

Era hoje que seu irmão ficaria viúvo, órfão e com uma irmã na cadeia, pois ela ia cometer um delito ali mesmo.

— Garçom! Me traga três copos de café sem açúcar e uma fatia de bolo! — falou Eren, chamando a atenção dos dois para si. Ele estava nervoso e tinha que fazer algo antes que eles dois se matassem. 

— Ué, para minha defesa, estou com fome — disse.

— Tsc. 

[...] 

O moreno das orbes esmeraldinas sabia que sua irmã faria perguntas bem constrangedoras, mas ele sempre se surpreendia com que saía da boca de Mikasa.

— O que você faz na vida? — Mikasa perguntou para Levi. 

— Atualmente, estou concluindo a faculdade de administração e trabalho meio período em uma empresa — disse de maneira simples. 

— Já usou drogas? Ou usa? Fuma? Bebe bebida alcoólica? 

Eren só queria cavar a sua cabeça em um buraco pela delicadeza sutil da morena. 

— Mikasa! Isso é coisa que se pergunte? — A repreendeu.

— Come a tua comida, deixa que eu me resolvo com esse baixinho. 

O Jaeger bufou. Levi revirou as suas orbes acinzentadas com tudo aquilo.

— Tsc. Para todas as suas perguntas, não! 

— Vou fingir que acredito. Tem Aids ou alguma doença sexualmente transmissível? 

Levi que no momento bebia o seu café, arqueou a sua sobrancelha enquanto Eren tinha se engasgado com o bolo. 

— Não morre, desgraça! — A mais velha bateu nas costas do irmão mais novo que, logo se desintalou com o bolo.

— Tudo bem, Eren? — perguntou Levi, preocupado. 

— Sim… — O dono das esmeraldinas foi logo bebendo o seu café.

— Mikasa, se você quisesse saber da minha vida, era só perguntar pro Eren. E sim, estou limpo, caso não acredite, posso enviar os meus últimos exames por e-mail. 

O Ackerman cruzou os braços, enquanto Mikasa bufou de raiva. 

— Não. Vai que ele esconda alguma coisa. Pois bem. Levi, você tem filhos? 

— Não!

— Acho bom mesmo, não quero o meu irmão apanhando de alguma vagabunda que  você pegou e deixou com filho para criar. 

O moreno olhou abismado para tudo aquilo, era cada uma que ele tinha aturar.

— Mikasa, eu nunca fiquei com uma mulher, somente com homens e jamais aconteceria de eu ter um filho — ditou seriamente.

— Ah, então seu salva-vidas de aquário, se você engravidasse o meu irmão, o deixaria com um filho sozinho no mundo e, daria um jeito de comprar cigarro? — Levi que não tinha uma expressão na sua face, logo ficou incrédulo com aquela pergunta — muito — sem noção.

Eren que se mantinha quieto, decidiu se pronunciar, pois a sua irmã ainda estava sobre efeitos das fanfics que ela lia. 

— MIKASA! Isso aqui não é uma das suas fanfics de ABO que você lê, sua doida! Levi, me desculpa por ela — pediu Eren, totalmente constrangido. 

— Tsc. Tudo bem, pirralho. Daqui a pouco ela pede a senha do meu cartão de crédito, ou o tamanho das minhas cuecas. — comentou, fazendo o namorado rir com aquilo.

Ela fez uma careta de nojo com o último comentário. 

—  Disso não, me poupe. O seu nanico, qual a sua intenção em namorar com o Eren? 

— As melhores possíveis. Pretendo fazer o seu irmão feliz, Mikasa. — Os olhos do namorado brilharam com aquilo.

— Acho bom. A sua cara mostra que você é um galinha, mas se for trair ou machucar o meu irmão, pode dar adeus a esse mundo. 

Mikasa puxou uma faca que estava em sua bolsa a deixando-a sobre a mesa.  

— Por que você trouxe isso? — Eren perguntou.

O rapaz conhecia o objeto; era do seu tio que tinha dado para a sua irmã, no dia que ela completou dezoito anos, segundo as palavras do seu tio: para proteger você e o seu irmão de qualquer meliante que tentasse algo contra ele. 

O Jaeger olhou para a irmã e ficou com medo de alguém pensar que eles iam assaltar, ou matar, uma pessoa no estabelecimento, por encomenda. 

— Preocupação. — Deu os ombros. O mais irmão novo se sentia mais envergonhado com tudo aquilo. 

Ele ia morrer de vergonha. 

— Agora, vamos uma pergunta e quero que você seja honesto comigo, tampinha. 

Mikasa colocou os seus cotovelos sobre a mesa e apoiou o seu rosto com as palmas de suas mãos, encarando Levi com o seu olhar feroz. Eren sentia o suor escorrer por sua testa, vindo da sua irmã, boa coisa não era.

— Manda logo, estou cansado disso. — Bufou irritado. 

— Você já deflorou o meu irmão? — A sua voz saiu de forma macabra e gélida. 

— QUE?! — O Jaeger caiu da cadeira, literalmente. 

Ele olhou para Levi e implorou que o namorado não desse muita bandeira.

— Deflorar? — Riu de forma sarcástica. — Mais fácil ser o contrário. Na verdade, a gente dormiu juntos, sim. Não somente uma, porém diversas vezes. 

O caçula sentia o ar da morte rondar por eles. Mikasa tinha as suas orbes ônix focadas no baixinho, parecia que ela estava analisando a veracidade de suas palavras, ou pensando nas mil formas de matar ele, sem deixar que descubram onde ela escondeu o corpo. Contudo, a ação de Mikasa os fizeram ficar espantados. 

Ela simplesmente se levantou da cadeira, ficando de pé e estendendo a sua mão para o Ackerman. 

— Bem-vindo a família, você provou ser capaz de cuidar do meu irmãozinho, se mostrou ser uma pessoa sincera e eu gosto disso — falou firmemente.

Eren se perguntou, se a queda que levou da cadeira foi muito forte, pois aquilo ali, não era a sua irmã mais velha. Levi que também se levantou da cadeira, estendeu a sua mão para a morena, selando assim sabe Deus o quê. 

— Farei o máximo que puder para provar que sou digno de sua confiança — disse. 

Mikasa sorriu de forma jocosa para o seu cunhado, pois ele lembrava muito a sua namorada, Annie. Enfim, não disseram mais nada e voltaram a se sentar em suas cadeiras. Para o alívio de Eren, que podia apreciar a companhia das duas pessoas que ele amava, enquanto degustava de uma bela e deliciosa fatia de bolo. Porém estava bom demais para ser verdade. 

— Ah sim, vocês se preveniram, não é mesmo? Eu não quero ser tia tão cedo. E também vocês são novos demais para serem pais, então Levi, segure o que você tem no meio das pernas, e digo o mesmo para você, meu irmão. Não sei se sabem, mas o leite e as fraldas estão o olho da cara… 

O Jaeger pegou um jarro de flores que estava na mesa, e olhou seriamente para Mikasa, que correu pelo estabelecimento para não ser atingida pelo objeto, e ele foi atrás da irmã. Enquanto Levi balançava a sua cabeça em descrença, fingindo que não conhecia aqueles dois, todos que estavam no local, ficavam olhando para eles correndo, com aquele olhar de como se fossem dois idiotas. O Ackerman simplesmente foi embora da cafeteria, antes que sobrasse para ele.