Acordei mais cedo que o comum, ainda não havia sol, o que deixava meu quarto completamente escuro. Abri a janela na tentativa de que a mínima claridade ao lado de fora entrasse, fui até a cozinha comer algo e após a sala assistir TV. O noticiário alertava as pessoas para que não saíssem durante a noite, principalmente sozinhas.
Como se fosse fazer a menor diferença estarem sozinhas ou não.
Lembranças da noite anterior habitavam minha cabeça, os pensamentos que me invadiram enquanto vagava pelas ruas. Fico feliz que Jaína não tenha saído ontem, pois Hoseok estava presente em quase todos os cantos em que eu ia. Se ele descobrir que andamos juntos na outra noite — eu estando como assassino —, com toda certeza aprontará algo.
O sol começou adentrar a sala de minha casa, o tédio de não saber o que fazer no domingo todo era enlouquecedor. Logo me lembrei de que agora tenho uma amiga e que poderia passar o domingo entediante com ela.
Sai de casa pulando o cercado que separavam o pátio de minha casa do dela, toquei a campainha da porta duas vezes, mas nada de alguém abrir. Se essa casa pegasse fogo agora, os dois morreriam dormindo lá dentro. Contornei a casa parando abaixo da janela do quarto de Jaína, ela parecia estar trancada. Não seria difícil, para mim, subir pela parede, mas como a árvore do lado facilitaria muito decidi que a usaria.
Destranquei a janela e adentrei o cômodo, Jaína dormia calmamente em meio aos cobertores brancos e rosa claro. Parecia até uma garota angelical, como se houvesse a possibilidade de existir anjos como ela. E ao terminar meu pensamento irônico me encontro sorrindo novamente.
Passeei meus olhos pelo quarto os parando em frente a uma estante branca de livros, ela era decorada com adesivos sombrios que formavam uma borda em todo seu contorno. Em cima dela havia figures action que pareciam ser de vários animes.
Abri a porta de vidro do cômodo branco retirando dele um caderno, abri-o lendo poucas das várias linhas escritas. Era um caderno que contava tudo o que aconteceu desde que cheguei aqui, ela estava narrando sua vida naquelas folhas brancas pautadas. O guardei no lugar em que estava assim que ouvi um barulho atrás de mim, a garota coçava os olhos sentada na cama. Seu olhar pousou sobre a janela por um momento e após circundou-se pelo quarto até que chegasse a mim, que já estava sentado na beira da cama.
Ela se cobriu enquanto dava um grito, creio que foi o maior susto que já dei à ela.
— Se eu estivesse em casa dormindo, tenho certeza de que você teria me acordado.
— Para de sorrir desse jeito, você está me assustando.
— Isso foi ofensivo — reclamei— você deveria pedir para alguém cortar a árvore que há ao lado de sua janela.
— Por quê?
— Porque ela foi de grande ajuda para entrar na sua casa pela janela, já pensou se fosse outra pessoa?
— Você entrou na minha casa pela janela!? — falou incrédula e eu sorri — Mas ela não estava trancada?
— Estava. Vim devolver sua visita. O que sugere para fazermos?
— Eu sugiro que você saia pela janela e vá para casa antes que Taehyung comece a te perturbar.
— É muito feio expulsar uma visita e, eu não me importo em ter de suportar o seu irmão.
— Certo, faça o que quiser — disse levantando-se — mas saia do meu quarto para que eu possa me trocar.
— Claro.
Saí de seu quarto e desci em direção da sala para esperar ela, mas meus passos cessaram ao meio do caminho quando Taehyung sentou-se no sofá e encarou-me. Continuei meus passos assim que ele desviou o olhar para a TV e a ligou.
— Bom dia — falei sentando no sofá ao lado.
— Bom dia — disse seco — como você entrou? A porta estava trancada até agora a pouco.
— Pela janela do quarto da sua irmã — me desajeitei sobre o sofá como alguém de casa.
— Como assim pela janela do quarto dela!? — irritou-se.
— Não fique bravo, pois eu não tenho culpa que ninguém veio abrir a porta quando toquei a campainha.
— E o que ela está fazendo?
— Disse para eu sair de seu quarto que queria se trocar.
Taehyung apenas me ignorou ali e voltou a olhar para a TV, parecia concentrado no segundo noticiário da manhã que novamente falava sobre o ocorrido na noite anterior. Ele definitivamente não gosta de mim ou quer gostar e algo o impede, o jeito dele agir não me diz nada com clareza e se eu quiser saber algo precisarei chamar sua atenção. Não poderia perder a chance de falar a sós com ele então deitei no sofá e coloquei uma de minhas pernas para o lado batendo com o pé em sua lateral.
— Está tentando chamar minha atenção? — perguntou ainda olhando para a TV.
— Estou.
— Jaína faz a mesma coisa quando a ignoro, esse barulho do pé batendo tira minha concentração.
— É mesmo? — ri de seu comentário enquanto continuava a bater o pé no sofá.
— Será que você poderia parar de chacoalhar esse seu pé?
— Não — respondi rindo sínico.
— Por que quer chamar minha atenção? — desta vez encarou-me.
— Para lhe falar que independente do que você faça, eu estarei mais perto do que possa imaginar.
— O que quer dizer com isso?
— Que eu consigo tudo aquilo que quiser mesmo que para alcançar meus objetivos tenha de cometer penalidades — soltei mais um riso a fim de provocá-lo — e isso inclui sua irmã.
— Espero que esteja ciente que se fizer algo a minha irmã estará morto.
— Não se preocupe, não é minha intenção fazer mal a ela. Quero protege-la não machucá-la.
Taehyung sorriu e logo desviou seu olhar para as escadas, lugar onde pude ver Jaína descendo, ela trajava uma calça jeans e um moletom preto.
— Na frente da TV de novo? — perguntou a Taehyung.
— Espera me deixa escutar — respondeu aumentando o volume da TV. Jaína pulou para o lado do irmão para olhar.
“— ... parece que a polícia conseguiu encontrar uma pista deixada supostamente pelo delinquente que cometeu o homicídio, até onde sabemos é um colar de bronze com um símbolo. Fiquem atentos para mais detalhes.”
As palavras da repórter repetiam-se em minha mente, levei minha mão discretamente até o pescoço não encontrando meu colar, o colar dos sobreviventes da prisão de Camboja. Como pude deixa-lo cair!? Preciso recuperá-lo o quanto antes!
— Não é errado a polícia deixar essas informações escaparem? — perguntou Jaína.
— Há um novo policial na cidade, talvez ele tenha deixado vazar pela sua falta de eficiência.
— Um novo policial?
— Sim, ele se chama Hoseok.
Hoseok? O que aquele idiota está fazendo? Bem, agora ao menos tenho certeza de que não será difícil recuperar meu colar. A única preocupação que tenho é que Hoseok esteja em mais uma daquelas missões em que ele costuma se meter. Isso causaria um caos nesta cidade assim como causou em todas as que ele passou.
— Mas Hoseok não é o nome daquele que mora logo ali? — perguntou Jaína.
— Sim — Taehyung respondeu.
— Ele é policial? — perguntou incrédula.
Acho que tenho algo ainda maior para me preocupar, Jaína certamente não acha que Hoseok seja alguém comum, muito menos policial.
— É sim.
— Você acha que ele parece um? — perguntei a Jaína, precisava me fazer de inocente para que Taehyung não aumente suas suspeitas sobre mim.
— Não — encarou-me, o que de certa forma me preocupou — policiais têm o olhar brilhante e com vida, não obscuros.
— Você acha? — perguntou o irmão da garota que assentiu — Quando conversei com ele, não me pareceu ser alguém estranho.
As palavras de Taehyung só aumentaram minha preocupação, pois se Hoseok está encenando bem quer dizer que a missão dele é pior do que o imaginável.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.