Após reunirem os pequenos para o almoço, Aiolos serviu cada um com a ajuda de Saga e diferente das outras vezes que sentava perto do amigo, escolheu ficar entre Milo e Aiolia.
Tal atitude despertou a atenção do jovem cavaleiro que vez em quando olhava para ele e via o mesmo cruzar o olhar e desviá-lo em seguida. Se perguntou do porquê de tal ato e assim que tivesse a oportunidade esclareceria tudo. Afinal, o que poderia estar preocupando Aiolos?
Camus comia sem vontade, apenas aceitando estar ali para não fazer desfeita com os maiores. Havia acordado triste naquele dia, pois havia sonhado com Jean. Diferente dos outros sonhos que tivera com ele, esse era bom e tão realístico que aos abrir os olhinhos para acordar, olhou para os lados procurando pelo maior, só se dando conta segundos depois ao ver os menores dormindo ao seu lado. Ainda inconformado com a morte de seu tutor, lembrou novamente de uma parte específica do sonho, onde o maior parecia se despedir e prometer que logo estaria de volta. Imediatamente, sentiu as lágrimas se acumularem em seus olhos, largando os talheres no prato e cobriu o rosto.
Os presentes olharam para ele por causa do barulho dos metais em contato com a porcelana e o viram sair da mesa e correr para o quarto.
Aiolos automaticamente olhou para Saga e se levantou.
— Eu já volto.
Os menores se entreolharam, confusos e voltaram a comer com a chamada do maior:
— Comam, ou a comida vai esfriar.
Camus sentou no colchonete de costas para a porta e escondeu o rosto nos joelhos que abraçava com força, controlando o máximo para que ninguém ouvisse seu choro.
Aiolos vendo a cena, encostou a porta e se aproximou devagar, ajoelhando ao lado do ruivo. Encostou os dedos nos fios avermelhados e sentiu o menor esquivar do carinho.
— Me… dessa. Pufavô. — disse baixinho, mas a voz embargada denunciou todo seu estado emocional.
Vendo-o daquela forma, Aiolos ficou em dúvida do que realmente devia fazer. Ao mesmo tempo que não queria forçar contato e fazer sua vontade, não queria deixá-lo sozinho sofrendo. Era ainda muito novinho para sofrer daquela forma e imaginava que devido às circunstâncias, Camus ainda sentia falta daquele homem.
Decidido a tentar uma última aproximação, Aiolos estava prestes a tocar o ombro do ruivinho, quando ouviu a porta se abrir. Afastou a mão do pequeno e olhou, vendo Milo ali.
Preocupado com o que poderia acontecer se o menor o visse ali, Aiolos se levantou rapidamente e foi até o louro, pegando-o pela mãozinha. Fechou a porta, considerando aquilo como um sinal para não insistir com o pequeno e levou o outro sob protestos até a sala.
— Lága! Eu quelu falá cum eie… — disse e fez força para se livrar do maior.
Aiolos respirou fundo e acabou pegando-o no colo para levá-lo para fora.
— Nau! Quelu votá! Dessa! — estendeu os bracinhos até a porta, choramingando.
— Milo, por favor…
Saga novamente olhou para a cena e soltou um suspiro.
Teimoso.
Depois de se afastar da casa, Aiolos sentou sobre um tronco velho de árvore que usavam como um banco improvisado e colocou o menor ao lado dele.
Milo cruzou os braços, fazendo bico e virou a cara para o maior.
— Sai! Num quelu voxê.
Aiolos olhou para ele e abaixou a cabeça. Por mais que tivesse pena de vê-lo daquele jeito, não podia simplesmente deixá-lo naquela hora ao lado de Camus. Ainda mais que os dois viviam brigando ou discutindo.
— Milo, ele queria ficar sozinho. Você sabe o que isso significa?
O menor ficou em silêncio por uns instantes e olhou para o maior com o olhar altivo de sempre. Tal expressão até lembrou Aiolia, o que quase o levou a soltar um sorriso.
— Uhum, mai eu quelia ficá péto deli. Eli é sato, mai num góto di vê tisti. Num góto! — desviou o olhar e fechou os olhos, emburrado.
Aiolos segurou o riso e o abraçou de lado, acariciando o braço dele.
— Sei que não. Apesar de brigar com a grande maioria aqui, você já mostrou ter um bom coração. E também sei que muitas de suas brigas com Camus, são por conta de não saber como se aproximar dele.
Milo abriu os olhos e inclinou a cabeça, olhando pra ele.
— Bestela! Num quelu sê amigo daqueie idota!
Aiolos sorriu e passou as mãos pelos cachos dourados.
— Está bem. Não está mais aqui quem falou.
Milo soltou um suspiro e olhou para um ponto qualquer, pensando no que o maior havia dito.
Eu quelu memo sê amigo deie, mai eli mi odeia.
—
Depois de retirar os pratos e copos da mesa com a ajuda de Angel, Saga começou a lavar a louça, estranhando a demora de Aiolos.
Shura limpava a mesa em cima do banco comprido, observando o italiano levar Aiolia para o sofá. Soltou um sorriso discreto e lembrou de quando o viu pela primeira vez. O menor havia mudado um pouco, não muito, mas tinha esperanças de que um dia pudesse confiar a ponto de não se preocupar com os atos do canceriano.
Aiolia sentou no sofá e olhou para o maior, receoso. Encolheu, puxando a almofada para si e olhou para a porta na esperança de ver o maior.
— Por que treme, baixinho?
Aiolia subiu a almofada para o rosto e deixou só os olhos descobertos. Já conhecia bem o jeito do italiano e lembrou dos beliscões que levou na tentativa de fazê-lo brincar com ele.
— Nada. Quelu meu imão. — falou abafado por causa da almofada que cobria sua boca.
O maior sorriu de canto e fechou os olhos, pronto para soltar mais uma das suas.
— Ele deve tá por aí com Milo. Sabe… — aproximou do menor — Eu ouvi falar que ele gosta mais dele do que de você. — sussurrou e viu Shura notar o comportamento estranho dele.
Aiolia sentiu um baque com aquelas palavras e fez beiço, sentindo os olhos marejarem.
— Nau... Nau é vedadi! – fungou e começou a chorar baixinho.
O outro sorriu, tendo seu objetivo quase concluído e finalizou:
— Não? Então por que ele não levou você junto? Acho que ele prefere o outro, porque não é um bebê chorão como você… — soltou um riso e sentiu uma mão sobre o ombro.
Aiolia derramou algumas lágrimas e escondeu o rosto na almofada antes de ver o outro garoto se aproximar.
Shura encarou o italianinho de perto, o que fez com que Angel visse no que iria dar. O louro olhou para Saga receoso e voltou a olhar os dois, vendo ambos irem até o quarto. Voltou o olhar para Saga e puxou a camisa dele.
— Eu tô com sono.
Saga fechou a torneira e olhou pra ele.
— Pode dormir, se quiser. Treinaremos daqui algumas horas.
Angel assentiu e deixou o pano de copa na mesa, saindo dali rapidamente até o quarto. Ao abrir a porta, viu Shura por cima do outro, enquanto o outro tentava desviar dos socos e acertando alguns no espanhol.
— O que? — entrou rapidamente e fechou a porta — Que pensam que estão fazendo?
Shura olhou para Angel e acabou levando um golpe no rosto, deixando-o atordoado. O louro correu até eles e antes que o italiano pudesse bater novamente (agora que Shura não estava mais sobre si), grudou em suas costas, impedindo-o de continuar.
— Para! Seu...bruto. — disse e apertou o pescoço dele, mas logo soltou, pois levou uma mordida no braço — Ai! — caiu pra trás.
Shura viu a cena e antes que o outro pudesse atacá-lo novamente, soltou o pé contra as partes íntimas do italiano e o viu cair no chão gemendo de dor.
Angel olhou para as marcas de dente em seu braço e olhou para Shura que se aproximou.
— Você está bem? — estendeu a mão.
O pequeno assentiu e levantou, ignorando a mão estendida, indo até o outro.
— Por que age assim conosco? Por que é tão mal com Olia e Milo? Por que faz questão de machucar o Shura e a mim? O que fizemos pra você? Por que não percebe que não somos como aquele velho que fazia mal a você? Nem sequer sabemos o seu nome de tanto desprezo que sente! — disse e viu o mesmo olhar surpreso para ele.
Ao ver o italiano desviar o olhar, Angel respirou fundo e se virou, saindo pela porta. Shura fez o mesmo e deu uma última olhada, vendo pelo olhar do garoto o quanto havia ficado mexido com as palavras do sueco.
Angel continuou caminhando, até que sentiu seu braço ser segurado e olhou para trás, vendo Camus em sua frente.
— Camus? O que foi? — perguntou e olhou para olhos avermelhados do choro.
— Peciso qui me azude… disse e olhou para Shura, como se o mesmo estivesse atrapalhando.
O espanhol percebeu o clima e continuou, indo até a sala. Angel viu Shura sumir de sua vista e voltou a olhar para o ruivo que aguardava a resposta.
— Ajudo. Do que precisa?
—
Meia hora depois…
Ao ver o irmão voltar com Milo, Aiolia olhou para ele e foi para o quarto emburrado. O louro olhou para os lados, procurando por Camus e soltou da mão do maior para procurar pelo amigo. Assim que entrou no quarto onde estava Aiolia, viu o mesmo chorando e foi até ele.
— O qui foi?
Aiolia se virou para Milo, enfurecido, e acertou as unhas no rosto do outro, vendo-o cair de bunda sem reação.
— Ti odeo! Sai daqui! Sai! — gritou.
Milo sentiu o rosto arder e levantou, saindo dali chateado.
O qui eu fiz pa eli? — se perguntou e entrou no outro quarto, vendo que estava vazio. Ao voltar para sala, parou na frente de Shura e viu os olhos pequenos se arregalarem.
— Mas… o que é isso?
— Cadê o Camu?
— Ele… saiu… — disse, enquanto olhava as marcas dos arranhões.
— Tá! — disse e saiu correndo pela porta.
Aiolos se aproximou da geladeira e pegou a garrafa de água, vendo que estava sendo observado. Bebeu alguns goles e respirou, olhando para baixo. Sabia que mais cedo ou mais tarde Saga viria falar com ele e não estava errado.
— Olos… eu preciso falar com você. — disse, enquanto comia uma fruta, sentando à mesa.
Aiolos olhou para ele e terminou de tomar o restante da água. Largou o frasco sobre a pia e assentiu.
— Venha... Vamos conversar lá fora. — disse e passou por ele.
O mais velho o acompanhou com o olhar e levantou sem seguida, seguindo-o até o velho tronco de árvore.
Aiolos retirou a faixa vermelha da cabeça e desatou o nó, enquanto o aguardava ali. Pensou em algumas possíveis razões para seu amigo ter se afastado e em nenhuma delas, conseguia entender o porquê de não ter falado sobre. Por mais que fossem especulações, estava profundamente chateado, mas ouviria ele primeiro, antes de tomar qualquer decisão.
— Por que se afastou de mim?
O mais novo olhou para ele e depois voltou o olhar para o chão, cabisbaixo.
— Você se afastou primeiro e sei que tem um motivo por trás disso. Não tente me enganar.
Saga juntou as mãos, pensando sobre seu motivo e decidido a não esconder mais nada de seu amigo, resolveu contar:
— Olos, eu peço desculpas por me afastar, mas tive um grande motivo pra isso. Já faz algum tempo que quero lhe contar, mas…
— Shaga! Shaga!
O garoto olhou em direção ao ruivo e viu o mesmo na companhia de Angel. Aiolos também olhou curioso e por um instante, esqueceu do que estavam falando.
— Sim?
— Leva eu no cimitélo? Quelu dessá essas fôles pu meu pai Zean.
Saga olhou para ele e depois para Aiolos que logo tocou seu ombro em sinal de concordância.
— Vá... Depois conversamos. — se levantou e olhou para Angel.
— E você vem comigo. — estendeu a mão a ele, mas o louro se aproximou de Saga, abraçando seu braço.
— Não! Quero ir junto.
Saga olhou para Aiolos e depois para Angel, trazendo-o para frente dele.
— Angel, eu sei que quer muito vir por causa do Camus, mas ele precisa desse tempo a sós, porque é algo muito particular. Você consegue me entender?
Angel baixou o olhar e assentiu.
— Está bem. — puxou o braço e saiu dali, ignorando Aiolos.
Aiolos olhou para o menor e suspirou.
— Ele é muito apegado em você… enfim, até depois. — disse e acenou, partindo dali para sua ala.
Saga olhou para Camus e viu os bracinhos marcados de espinhos.
— Me deixe ajudar com isso… — disse e pegou as flores, colocando-as sobre o tronco — Antes de tudo, é preciso tirar os espinhos, ou poderá se machucar assim. — apontou para os braços dele.
— Nau ipota. É pela meu papai Zean. Eli vai ficá feiz. — sorriu.
Saga abriu um sorriso e assentiu.
— Tenho certeza que sim, mas antes… vou lhe ensinar como se tira esses espinhos.
—
Assim que cruzou a porta, Angel foi puxado pelo italiano até seu quarto e fechou a porta. O louro arregalou os olhos, surpreso da atitude do outro e viu o outro andar de um lado para o outro, bagunçando seus próprios cabelos.
— O que… houve?
Sem pensar, o outro o empurrou contra a porta e o encarou.
— Você tem razão. Não sobre tudo, mas tem.
— Hã?
— O que me disse… eu não parei de pensar. Você tem razão, mas não sobre tudo.
Angel cruzou os braços e olhou seriamente.
— É? Mas é o que parece… — disse e revirou os olhos para o lado.
— Não. Na verdade, não. Eu não odeio vocês. — olhou para baixo e passou as mãos pelos fios brancos — É… eu go-gosto…
Angel soltou os braços e franziu o cenho.
— Que?
— Giovanni. — disse e deu um selinho, puxando o outro para sair do caminho e saiu pela porta correndo.
Angel tocou as mãos sobre os lábios, corado e sentou no chão.
Gosta…
—
Depois de passar um bom tempo procurando por Camus, Milo soube através de Aiolos que o ruivo havia saído com Saga até o cemitério.
Como havia explorado o santuário de norte a sul, no meio tempo que estava ali, não demorou muito tempo para encontrar a estrada que levava até lá.
Camus estava ajoelhado sobre a sepultura, olhando para a lápide que continha o nome de seu tutor. Distribuiu as flores em um arco e tocou sobre a pedra, fechando os olhinhos marejados.
— Eu pometo sê bozinho i cumpi com a pomessa. Vô sê o cavaelo qui mi disse… eu julo po Atena.
Milo caminhava devagar entre as sepulturas, tentando achar Camus ou Saga. Pensava na fala que havia decorado para dizer assim que o visse e parou, ao vê-lo debruçado sobre uma lápide.
Assei…
Milo apertou o passo e acabou sendo interceptado por Saga.
— O que faz aqui?
Milo puxou o braço com força e olhou para ele seriamente.
— Vê meu amigo… — respondeu e continuou o caminho, parando em frente a outra sepultura e pegando uma única flor, já que havia um buquê delas ali.
O louro continuou caminhando e se ajoelhou próximo do ruivo, tocando uma mão sobre suas costas.
Camus se virou no mesmo instante e Milo pôde finalmente tocá-lo sem receber um golpe de resposta.
— Sito muto. — disse e estendeu a flor após enxugar as lágrimas.
Camus segurou a flor e acabou abraçando-o forte, deixando mais algumas lágrimas caírem.
— Bigadu… Mio.
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