Após a reunião com o patriarca, Aiolos e Saga seguiram de volta para suas dependências em silêncio. Ambos haviam ficado um tanto ansiosos com o fato de que finalmente entraram para um torneio, embora não soubessem ainda com que intuito. Alguma armadura estaria em jogo, ou apenas seria um teste para ver se os treinos haviam evoluído não somente as estratégias de luta, mas também do aperfeiçoamento do cosmo? Eles estavam prestes a descobrir.
Saga estranhou o silêncio e olhou para o amigo, vendo pela expressão de seu rosto o quanto aquilo havia mexido com ele. Em suas conversas particulares ou até mesmo as corriqueiras, Aiolos sempre se mostrou determinado a dar o seu melhor para um dia lutar por uma armadura de ouro. Era seu grande sonho, até porque pretendia ficar mais forte para também ajudar seu único irmão. Voltou a olhar para frente e seguiu sem dizer nada para respeitar o silêncio do outro.
—
Enquanto isso…
Shura, Angel e Giovanni já haviam organizado a casa e agora faziam uma pequena pausa antes de preparar o lanche da tarde. O espanhol pegou um copo de água para beber e olhou pela janela, pensando em Aiolos. Se preocupou com o súbito chamado até o templo do mestre e se perguntou se havia acontecido algo sério. Angel foi o primeiro a reparar na distração do amigo, seguido de Giovanni ao ver que o pisciano olhava para o mais velho.
— Que foi? O que tá olhando? — perguntou incomodado, pois tinha ciúmes do amigo.
Angel olhou para ele e se ajeitou na cadeira de braços cruzados.
— Tô olhando pro Shura… por que? Tá com ciúmes? — sorriu de canto e viu o amigo olhar para o lado, emburrado.
— Ha! Eu, com ciúmes de você? Só que faltava. Só perguntei porque vi você com cara de bobo. — sorriu e o viu se levantar da cadeira e olhar para ele, antes de se aproximar do outro.
Shura colocou o copo na pia para lavar e acabou sentindo o abraço repentino de Angel que o fez olhar curioso.
— Angel…aconteceu algo? — perguntou ao ver o piscianinho fazendo uma cara triste.
— Eu…não sei dizer. — o abraçou e apoiou a cabeça no ombro dele, olhando para Giovanni. — Eu…só tô me sentindo sozinho…— olhou para ele e forçou algumas lágrimas para convencê-lo. — Sinto falta do meu tutor…
Shura corou de leve com a aproximação e escondeu o rosto entre os cachos dele, enquanto fazia carinho.
— Não fique assim. Você não está sozinho aqui. — o afastou e olhou para ele, afastando suas lágrimas com os dedos.
Giovanni olhou para a cena, se perguntando porque ainda estava ali, mas a curiosidade ia além de seus ciúmes. Ele queria ver até onde ia aquilo.
— Promete que sempre vai ficar ao meu lado? — perguntou com um tom de voz um pouco mais alto intencionalmente.
— Prometo, sim. Não se preocupe. Eu vou cuidar de você também.
Angel soltou um sorriso em meio a mais lágrimas e voltou a abraçar o pequeno espanhol. Shura sentiu o coração bater um pouco mais apressado e apertou os olhinhos, não sabendo o que aquilo significava. O loiro apenas olhou para Giovanni com um olhar malicioso e se distanciou, olhando para Shura.
— Gosto muito de você. — disse e se inclinou de leve para beijar a bochecha dele.
Não aguentando mais aquilo, Giovanni se afastou da cadeira a ponto de derrubá-la no chão e saiu apressado para o corredor dos quartos. Em seguida, puderam ouvir a batida da porta.
Angel limpou o rosto, vendo Shura com as bochechinhas rosadas e simplesmente saiu dali para ir espiar o seu amigo italiano. Ao se aproximar da porta, abriu a porta sem devagar e ouviu alguns sons estranhos, que o levou a abrir mais para ver o que estava acontecendo. Ao vê-lo socar a parede algumas vezes, viu as marcas dos punhos impressas nela com o sangue e entrou rápido.
— Gio! — gritou e o viu reagir de imediato, ao bater em seu rosto.
Afrodite caiu no chão e apertou os olhos com a dor que sentiu na área atingida. Sentiu em seguida o peso do corpo sobre ele e seu pescoço apertado. Abriu os olhos devagar, sentindo ser sufocado e desta vez, chorou de verdade.
Giovanni olhou agora ele com uma raiva que o fez despertar novamente as memórias mais obscuras em sua mente.
"Onde eu estou…por que eu não consigo…" — pensou com a visão embaçada pelo sangue que escorria de sua cabeça. Olhou para a imagem do velho tutor transando com um menino um pouco mais velho do que ele, ao mesmo tempo que entornava uma garrafa de bebida.
— Não!
"Eu gosto de você…" — olhou para Angel, vendo o sorriso malicioso, enquanto abraçava seu amigo.
Balançou a cabeça para os lados.
"Seu merdinha! Você não serve pra nada! Merdinha!"
— Gio… pa…re. — sentiu a visão ficar turva e o ar de seus pulmões faltar cada vez mais.
Giovanni ouviu, ora a risada do velho, ora de Angel, vendo no rosto deles olhares diferentes, embora o propósito fosse o mesmo. Odiava se sentir humilhado.
Sua cabeça estava a mil e seu autocontrole havia lhe abandonado, levando-o a reagir como um animal selvagem que não media esforços para se defender da pior forma possível, mesmo que isso custasse até a própria vida.
Em seguida, sentiu uma pancada na cabeça e o peso de seu corpo pendeu para o lado. Sua audição ficou momentaneamente comprometida e olhou para a cena de Angel tentando ser reanimado ao permanecer imóvel no chão.
Sentiu a boca salivar, ainda inerte e logo viu os outros pequenos cercarem para olhar a cena. Sua audição retornou e pode ouvir gritos, choros… lamentos.
Com lágrimas nos olhos, Shura começou a lhe xingar em sua terra nativa. Esbravejou, amaldiçoando sua existência por ter arrancado a vida de seu amigo. Voltou a olhar para Angel que permanecia de olhos fechados e sentiu seu peito apertar. Aquele era o fim? Como poderia ter feito aquilo com a única pessoa que gostava naquele lugar? Por mais que houvesse brigas, sempre estavam juntos.
Aiolia e Milo olhavam a cena em prantos, mesmo não entendendo nada do que estava acontecendo. Camus olhou para o corpo com uma certa tristeza no olhar e lembrou de ver o seu tutor da mesma forma naquele dia em que tentou o levar com ele. Se abraçou em seguida no escorpiano e deixou uma lágrima cair.
Aldebaran chorava sozinho, pois já havia tido contato com a morte uma vez e sabia o que aquilo significava. Shaka olhou para Angel e lembrou das poucas vezes que tiveram interação. Abaixou a cabecinha um tanto triste por sempre vê-lo alegre e agora o viu ali estirado, apesar de aparentar estar apenas dormindo. O brasileiro se aproximou do pequeno monge e o abraçou, já soluçando.
— Ele morreu… ele matou ele… — apontou para o italiano. — Shura… chama a polícia! — soluçou.
Shaka se afastou do amiguinho e se colocou do lado de Angel, sentando sobre as panturrilhas. Olhou para o rosto sereno de Angel e tocou a mãozinha em sua testa.
— Shaka vai pedir para Buda que o guie e faça uma boa passagem. — afastou a mãozinha e ficou em silêncio, permanecendo ao lado dele.
Aiolos abriu a porta, estranhando não ver ninguém na sala e logo ouviu alguns chorinhos vindo de dentro da casa. Saga entrou logo depois e olhou para ele.
— O que tá acontecendo?
Aiolos se apressou e entrou no quarto, vendo Giovanni estirado no chão com a cabeça cortada pelo vaso quebrado que estava ao seu lado; Angel a uma certa distância dele, mas parecendo inconsciente; Shura de pé entre os dois, enquanto gritava com o pequeno italiano; o trio chorando a alguns metros dele; Aldebaran a poucos metros dele e Shaka ao lado de Angel, de olhos fechados.
— O que aconteceu aqui?! Shura! Giovanni! — se aproximou. — Angel…
— Chama a polícia, tio… ele matou o Angel! Chama agora! — disse Aldebaran ao esfregar os olhinhos.
Saga olhou a confusão e se aproximou de Angel para ver como estava. Olhou para o rosto angelical, que já estava um pouco pálido e se inclinou para ver se ele estava respirando. Ao ver que não via qualquer sinal de vida, o puxou para seu colo e olhou para Aiolos. Sentiu os olhos marejados.
— Olos, ele…
— Não…. — se aproximou e olhou para ele. — A gente tem que reanimar ele! Eu vi nos filmes, que eles costumam fazer isso! Vamos, Saga! — o puxou e o viu olhar para baixo choroso.
— Olos… eu acho que é tarde…
— Não pode ser! Ele não pode nos deixar! Não pode!!! — o colocou no chão e juntou as mãos sobre o peito do menor e pressionou algumas vezes, fazendo respiração boca a boca.
Os pequenos olharam para a cena ainda mais tristes por ver o desespero de Aiolos e se abraçaram ainda chorosos. Shaka puxou a camisa de Saga e o viu olhando para ele.
— Angel fica triste se amigos também ficarem, ao fazer passagem.
Saga abaixou a cabeça e deixou mais algumas lágrimas caírem.
— Shaka vai rezar por todos. — se afastou e saiu do quarto.
Aiolos já havia feito algumas tentativas sem resultado e soltou o chorou inconformado.
— Se eu soubesse…eu não teria saído. — fungou.
Giovanni olhou desacreditado do que havia feito e se arrastou até ele. Ao se aproximar, sentiu o cabelo ser puxado e apertou os olhos.
— Fica longe dele, assassino! — gritou Shura ao tentar afastar o italiano.
Aiolos o afastou ao segurá-lo e logo o viu cair em prantos agarrado ao seu peito.
— Por que você fez isso? Por que? Ele era nosso amigo… — disse com a voz embargada do choro.
Giovanni tocou o rosto de Afrodite e sentiu uma revolta tomar conta de seu ser, por ter se deixado levar pelas lembranças que, volta e meia, o faziam perder o controle.
— Acorda! Você não se renderia a isso! Você sempre disse que era forte… — deixou algumas lágrimas caírem sobre o rosto do mais novo. — Acorda! — balançou seus ombros e logo passou a esbofetear seu rosto algumas vezes.
— Giovanni! Já chega! — Saga disse ao alterar o tom de voz.
— Cala a boca!! Você não tem o direito de me dizer nada! Você bateu na gente! Ou pensa que eu esqueci? — gritou e ofegou, voltando a olhar para Angel.
Em seguida, apertou os punhos, sentindo algo despertando dentro de si e os fechou, batendo contra o peito do pisciano. Bateu uma, duas, três vezes… na última tentativa, foi afastado por Saga e logo caiu de joelhos ao ver a cena.
Angel puxou o ar fortemente e tossiu algumas vezes, rolando pro lado para vomitar o que tinha na barriga. Se sentou devagar, passando a manga da roupa na boca e olhou em volta, vendo que estavam chorando.
— O que aconteceu? — disse e sentiu o peso do italiano sobre seu corpo ao lhe abraçar forte.
— Me perdoa! Por favor! Eu sei que não mereço, mas me perdoa… — chorou alto, enquanto soluçava e logo sentiu a mão do pisciano em suas costas.
— O que você fez? Por que todos estão chorando? — perguntou baixo e o viu se afastar com o rosto avermelhado.
— Eu…eu tentei fazer mal a você…
Shura se desvencilhou dos braços de Aiolos e puxou Giovanni de cima para abraçar o amigo.
— Angel… eu pensei…eu pensei que…ia perder você.
Angel o abraçou e olhou para baixo.
Por que eu não consigo me lembrar de nada, depois que ele… — tocou o pescoço, sentindo um pouco dolorido e ficou em silêncio.
Olhando atônito para a cena, Aiolos se levantou para tirar os pequenos dali e viu Saga olhando para eles sem reação.
— Saga… Saga! — o chamou, fazendo-o despertar de seus pensamentos.
— Olos…
— Cuide deles, por favor. Eu vou cuidar dos pequenos. — o geminiano voltou a olhar para o trio e ficou em silêncio.
—
Horas mais tarde…
O clima na casa era de puro silêncio. Aiolos havia arrumado as camas de forma que os pequenos pudessem ficar juntos. Os acomodou na cama, os cobrindo com os cobertores e ficou de coração partido só de vê-los ainda tristes por terem presenciado algo tão forte. Soltou um longo suspiro e fez carinho em cada um, beijando suas mãozinhas.
De repente, pensou na reunião que teve com patriarca mais cedo e passou a analisar os fatos. Já estava ali faz algum tempo, assim como Saga. Eles eram os mais velhos dentre todos os aspirantes e com o anúncio do torneio, não deixou de pensar em como seria sua vida, se de fato ganhasse uma armadura. Sua responsabilidade iria aumentar e com o tempo, consequentemente veria cada vez menos os pequenos, incluindo seu irmão Aiolia. Se Saga também tiver o mesmo destino, quem olhará por eles quando estiverem longe? Se perguntou e sentiu um vazio em seu peito. Desde que havia chegado no Santuário, seu sonho sempre foi conquistar o maior posto que um cavaleiro poderia ocupar ali, e agora, já não tinha mais certeza.
Soltou um longo suspiro e olhou para eles, enquanto acariciava os cachos do irmão.
— Escutem…eu quero que prestem atenção em uma coisa: — disse e viu, pouco a pouco, os olhares tristes e cansados cruzarem com os seus. — Não importa o que acontecer daqui pra frente. Eu sempre estarei com vocês. Eu darei minha vida, se for preciso, para que cada um de vocês tenha a mesma esperança que a minha. — olhou para cada um deles. — Mesmo que eu esteja longe, eu nunca vou deixar de olhar por vocês. Nunca! — disse e olhou para baixo, controlando as lágrimas ao vê-los chorar baixinho.
— Você vai deixar a gente? — perguntou Milo ao fungar e limpar os olhinhos com a costa da mão.
— Eu não vou, mas vou fazer de tudo para que eu possa conciliar meu sonho e ficar ao máximo ao lado de vocês todos. Vocês são minha família. — disse e recebeu o abraço de todos pequeninos que compartilhavam do mesmo sentimento naquele momento. Dali pra frente, muitas coisas mudariam.
Na casa de Saga…
Shura descascava alguns legumes para preparar uma sopa, enquanto observava o italiano sentado no chão, no canto da sala.
Após tudo se acalmar, resolveu seguir com Saga e os outros para ficar perto de Angel, pois se antes podia confiar no amigo para não deixar que Saga pudesse fazer algum mal a eles, agora não podia confiar em mais ninguém, além dele mesmo. Pensou no momento em que Angel havia dito a ele que se sentia sozinho e isso fez seu coração apertar ainda mais. Ele também havia chegado no mesmo dia que eles e acabou por se afastar ao se apegar em Aiolos. Se sentiu culpado por não ter enxergado que o mais novo poderia ser uma ameaça para qualquer um, devido aos traumas que havia sofrido no passado e que não fazia ideia quais seriam eles.
Terminou de descascar, colocando tudo dentro de uma panela com água e colocou no fogo. Viu a tábua com alguns pedaços de carne cortados e as jogou dentro também, colocando a tampa por cima. Lavou as mãos e passou por ele, vendo-o abraçado aos joelhos ainda com o olhar baixo. Seguiu para o quarto e abriu a porta, vendo Angel dormir no colo de Saga, enquanto o mesmo acariciava seus cachos. O mais velho olhou para ele e acenou com a cabeça.
— Pensei que tinha ido embora… — disse e viu Shura se aproximar e sentar na cama, mantendo os olhos no amigo.
— Eu não vou deixar ele. — voltou seu olhar sério, quase intimidador, para o grego.
— Ele está melhor, agora… — tocou o rostinho e o ouviu suspirar. — Ele ficou cansado, depois do que aconteceu e acabou dormindo.
Shura piscou os olhos, viu a cena e tocou a mão de Saga, o que o fez lhe olhar.
— Eu não confio em você, portanto, eu vou ficar aqui para protegê-lo. Pouco me importa se vai permitir ou não, eu vou ficar para o bem de Angel. Não confio em nenhum de vocês dois e depois do que aconteceu, vou passar os dias bem perto para que nada parecido se repita de novo. — apertou a mão dele, enquanto falava e soltou, saindo dali. — Quando o jantar estiver pronto, eu avisarei. — disse antes de sair e bateu a porta.
Saga pensou nas palavras do pequeno e olhou para Angel, um tanto culpado. Se naquela vez tivesse se segurado e apenas os repreendido da maneira certa, não carregaria aquela culpa consigo todos os dias. Pensou no irmão, em seguida e resolveu sair para vê-lo. Embora estivesse tarde, sentia a necessidade de vê-lo naquele momento e só sua presença traria um pouco de acalento ao seu coração, pois não queria envolver Aiolos com suas inquietações.
Após ajeitar Angel na cama e deixar um travesseiro encostado em suas costas, o cobriu e saiu dali para seguir para a cidade.
O pequeno abriu os olhos, logo que Saga saiu e passou a mãozinha pelo lençol, pensativo. Havia escutado a conversa que tiveram, enquanto fingia dormir e pensou em falar com Shura para esclarecer que Saga não havia feito nada demais, pois eles procuraram por aquilo. Rolou para o lado, abraçando o travesseiro que continha o cheiro de Saga e o apertou, fechando os olhos.
Ouviu o barulho da porta e voltou seu olhar, pensando que seria Saga, mas ao ver Shura, voltou a deitar a cabeça novamente no travesseiro um pouco desanimado.
— Oi… vim ver como estava. Eu vi ele sair e fiquei preocupado.
— Não precisa se preocupar. — respondeu baixo. — Ele é a única pessoa que quero perto, nesse momento. — disse e viu o outro se aproximar.
— A única? Você ainda confia nele, depois daquele dia? — perguntou incrédulo e o viu se sentar na cama.
— Sim! Ele é a única pessoa que realmente se importa comigo aqui. — disse e viu o amigo lhe olhar num misto de braveza e decepção.
— Como pode dizer isso? Isso é sério mesmo? Os meninos adoram você, assim como eu e até mesmo aquele paspalho do Giovanni. Você é a única pessoa que ele gosta aqui. Ele me falou isso. — disse e o viu abaixar a cabeça. — Isso sem falar no Aiolos, que sempre cuida tão bem da gente como se fossemos todos irmãos.
— Aiolos… — olhou para ele e franziu o cenho. — Você sempre sendo puxa-saco daquele idiota… por isso, me afastei de todos. Prefiro o Saga. Pelo menos, ele não fica bancando o bonzinho, como aquele lá, que não passa de um falso.
Shura apertou os punhos, irritado. Jamais poderia pensar que o pisciano pudesse pensar tudo aquilo de Aiolos, quando o mais velho se mostra sempre atencioso e carinhoso com todos.
— Como pode dizer essas coisas dele? — perguntou, alterado. — Você sabe bem que ele faz bem mais do que Saga fez e faz por nós todos! Por que você é tão injusto?
— Eu não gosto dele, apenas isso! — respondeu um pouco ofegante com as bochechas avermelhadas da tensão.
— Não gosta, porque é um bobo, ciumento! — disse e sentiu a bochecha esquentar com tapa que recebeu. — tocou a mão nela e se levantou. — Como pode me bater, quando eu sou o único a realmente estar ao seu lado, agora?! — falou magoado. — Eu deveria deixar você com ele aqui sozinho. Talvez, assim, você enxergue que ele não é isso tudo que você pensa.
— Sim! Faça isso e leve o Giovanni com você! Eu não me importo com nenhum de vocês!
Shura sentiu os olhos marejados e antes que pudesse mostrar suas lágrimas para ele, saiu do quarto batendo a porta.
Angel viu ele sair e se deitou, puxando o travesseiro. Fechou os olhos, soltando algumas lágrimas e pensou se de fato estava sendo injusto com todos à custa do carinho que sentia por Saga.
Shura limpou os olhos e foi ver a sopa, permanecendo em silêncio. Giovanni ouviu o amigo fungar e olhou para ele, vendo ele secar o rosto algumas vezes. Levantou do chão, seguindo para onde estava e tocou seu ombro de leve.
— Shura…
O espanhol colocou a tampa de volta na panela e olhou para baixo, tentando conter o que sentia. Sua vontade de sair dali era grande, mas por mais que Angel não o quisesse ali, ele permaneceria pelo bem dele.
— O que quer? — perguntou baixo e fungou.
— Eu quero falar com você. Será que pode, ao menos, olhar para mim? — perguntou e viu o mais velho balançar a cabeça para os lados.
— Eu não quero falar com você. Pelo menos, não agora. Espero que respeite isso. — disse e não ouviu nada, além dos passos do italiano ao se afastar dali.
Ficou ali por mais alguns segundos e saiu da casa para respirar um pouco. Assim que sentou para tentar se distrair um pouco, ouviu uma conversa e logo reconheceu as duas vozes que discutiam sobre algo que não conseguiu ouvir. Ao se aproximar, espiou do canto da casa e viu Aiolos e Saga conversando no espaço que havia entre as duas casas. Voltou a se esconder e ficou ali ouvindo a conversa.
— Saga…eu não estou louco… eu sei o que eu senti. Você também sentiu, eu pude perceber…
Shura piscou os olhos notando o silêncio entre eles e voltou a espiar. Saga segurou o rosto por uns instantes e jogou o cabelo para trás, soltando um longo suspiro.
— O que sugere? Que a gente reporte ao patriarca sobre o acontecido? O que ele vai fazer, quando souber que o italiano fez pro Angel e a consequência do seu ato, lhe fez despertar o cosmo? Precisamos pensar, Olos. Todos eles estão sob a nossa responsabilidade. Se ele ficar sabendo de algo assim, é capaz da gente perder a oportunidade de participar do torneio.
Aiolos olhou para ele desacreditado e se aproximou, indignado.
— É com isso que você se preocupa? Com a droga de um torneio que a gente nem sabe se vai valer algo? É isso mesmo, Saga? — olhou para ele seriamente.
— Sim, antes de pensar em ajudar alguém, eu tenho que me ajudar primeiro. Se eu continuar sendo um aspirante de nada, vou viver pra ser o que falta para essas crianças. Eu não almejo ser babá de ninguém, Aiolos… eu quero mais do que isso. Eu quero poder! — disse e viu o amigo se afastar com um olhar de decepção e se virar de costas pra ele. Soltou um suspiro e deu um passo, colocando uma mão sobre o ombro dele. — Aiolos…
— Você não era assim… — fungou. — Você mudou tanto… por que? — disse em meio às lágrimas e sentiu seu corpo ser virado.
Saga olhou para ele e limpou suas lágrimas, enquanto segurava seu rosto. Aiolos olhou para ele, um tanto fragilizado por tantos motivos que acabou desabando em seu peito. O mais velho o abraçou, ouvindo seu choro e acariciou os cachos, arrependido de ter dito aquelas coisas, ainda que tudo fosse uma verdade para ele. Voltou a afastar seu rosto e beijou sua testa.
— Não chore mais…eu apenas estou nervoso, depois de tudo que houve… eu me importo, sim, com os pequenos. Vamos esquecer disso, tá bem? — olhou para ele e o viu assentir.
— Tudo bem. — se afastou e olhou para ele. — Amanhã, nos falamos. Cuide bem do Angel. Ele precisa de você. — disse e saiu dali para retornar para a casa onde estavam os menores.
— Até. — esperou ele sair e deu alguns passos, até sentir ser observado por alguém. Se apressou, para o surpreender e assim que se apoiou na casa para olhar para a entrada dela, não viu nada.
Coçou a cabeça, achando que estava sendo paranóico demais e seguiu para a cidade, como era o seu plano.
Shura espiou do outro lado da casa e o viu caminhar em direção a estradinha que levava a cidade. Pensou se seria uma boa ideia o seguir para descobrir onde ele iria, já que havia notado as repentinas saídas do mais velho e depois do que tinha ouvido dele, o deixou ainda mais desconfiado.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.