Capítulo 17:
No primeiro encontro, distúrbios fazem parte
Faltavam duas horas para que o primeiro dia de torneios fosse desfeito. E no meio dessas duas horas, Hana encontrou-se com Jiyeon enquanto recolhia as caixas para sua turma.
— Ah, você ainda está aqui — sorriu ao se aproximar da garota, que parecia perdida, ou apenas procurando algo. — Achei que tivesse ido embora.
Jiyeon a encarou um pouco séria antes de se pronunciar.
— Não, eu... Resolvi ficar.
Então, os olhos desta duplicaram de tamanho quando notou a presença se aproximando de Hana. A garota, até então, não havia notado o demônio atrás de si.
— Hana — ele a chamou de repente, fazendo com que o coração palpitasse pelo susto. Pareceu não se importar com a presença da outra bem ao seu encalço. — Está demorando demais com essas caixas, Doyoung está me enchendo o saco.
— Ah, me desculpe, eu...
Foi um curto momento para que sua fala se cessasse com o avanço repentino de Jiyeon sobre Taeyong, no qual segurou sua mão e encarou seu olhos duvidosos.
— Taeyong...
— O que você está fazendo aqui? — perguntou, ríspido. Hana continuou fitando a cena que lhe intrigava.
— Eu... Bem... Vim por vir. Queria ver como você estava.
— Já viu. — continuou sua grosseria, segurando o pulso de Hana logo em seguida. — Agora se me der licença.
Já foi puxando a garota pelo braço, mas Jiyeon foi até ele novamente. Hana sentia-se um peixe fora d’água.
— Você poderia, ao menos, falar comigo seriamente?
Então o corpo virou-se para o dela, com os olhos escuros a fitando com desdém. Hana não sabia se ficava ali ou se poderia simplesmente deixa-los a sós e ir embora entregar as caixas à Doyoung. Preferiu a segunda opção.
— Bem... Vou deixar vocês a sós...
E já ia se afastando delicadamente, mas a mão de Taeyong agarrou a seu braço repentinamente, fazendo com que seu corpo fosse de encontro ao dele, onde o rosto esquentou com o movimento repentino.
— Tenho namorada agora. Não posso falar com outras garotas seriamente.
E se o coração de Hana bateu disparado apenas com a falsa menção? Sim, com toda certeza, absoluta.
Jiyeon a encarou como um lobo encara sua cria. Havia um pouco de sentimentalismo no olhar transmitido à ela.
— Não diga besteiras, Taeyong, você...
— Hana! — era Chittaphon aproximando-se aos poucos, sem notar a presença da outra garota no mesmo ambiente. — Estava te... — e quando notou, ficou um pouco mais sério. — Ah, Jiyeon. Oi.
Ela acenou calmamente, voltando os olhos para Taeyong.
— Enfim... Me desculpe, Taeyong. — já foi logo retirando um papel de dentro da bolsa, cujo nome Hana não conseguia enxergar. — Vou me casar essa semana. Espero que consiga ir.
Os olhos de Chittaphon arregalaram-se, e Hana sentiu que Taeyong havia ficado surpreso, embora não tivesse demonstrado abertamente.
— Meus... Parabéns... — Chittaphon disse, surpreso demais para conseguir pronunciar algo. Jiyeon agradeceu-lhe com o olhar.
— Não tenho interesse. — Chittaphon o encarou com o cenho franzido.
— Ei, Taeyong... — murmurou, notando em seguida, os olhos cabisbaixos da garota ao seu lado.
— Tudo bem, eu não esperava uma resposta amigável. — então, olhou para Hana. — Cuide bem do seu namorado, caso contrário, ainda posso roubá-lo de você. — piscou o olho.
O rosto de Hana ardeu em vermelhidão.
— N-Não é nada disso! Eu e ele não... — a boca foi tampada pela mão gigante de Taeyong.
Jiyeon sorriu, olhando agora para Chittaphon para entregar-lhe um aceno breve e poder virar de costas para ir embora.
Hana soltou-se do aperto de Taeyong no minuto seguinte.
— Por que você foi tão rude com ela? — perguntou, afastando-se um pouco para equilibrar as caixas na mão.
O demônio soltou um tsc rápido.
— Coisas que não te interessam.
— A vitória do primeiro dia do festival vai para a equipe vermelha! — gritou a voz do diretor pelo rádio falante.
Em seguida, a gritaria de Doyoung e suas amigas indo na direção do trio.
— Conseguimos! — o garoto gritou rente ao ouvido de Hana. Depois, parou para ajuda-la com as caixas. — Já estou voltando para o dormitório.
— Certo, estou indo logo atrás de você — ela disse, sorrindo.
Então, como se já não fosse o bastante a gritaria da sua turma, logo lhe veio algo pior. Pois, em seguida, notou o homem alto e com postura rígida caminhando até eles, mais precisamente encarando Taeyong.
Então, ela percebeu. Era o pai dele.
— Parece que você não arrumou nenhuma confusão, Lee.
Hana ficou quieta, parada. Não havia nada que pudesse fazer naquele momento.
Os olhos escuros do pai a encararam. Ele parecia o demônio negro parte dois.
— Acho que outros estudantes falam com você além do seu irmão. — o garoto ficou quieto. Nem se parecia com ele. Chittaphon virou-se para falar com o pai e quebrar o clima aterrorizador.
— Amanhã teremos o dia livre — disse calmo. — Acho que vou para a casa do senhor.
— Certo. — respondeu curto. Sem dúvidas, ele se parecia muito com o filho. Encarou Taeyong novamente. — E você, não se meta em problemas novamente. Entendeu?
Naquele momento, antes que Taeyong sequer pudesse responder, Hana tomou a frente, ainda com a caixa cheia de objetos estranhos em mãos. A coragem que nunca havia tido veio a tona, por algum motivo que ela desconhecia.
— Ele não vai mais te dar nenhum problema, senhor! — o garoto a encarou surpreso, sem entender nada. — Está tirando as melhores notas da turma e, além disso, ele... — o rosto esquentou. — Ele é...
Ele é...?
O que exatamente?
— Não causarei nenhum problema. — respondeu ele, notando a timidez da garota ao seu lado.
Quando o pai foi embora, segundos depois, ele sequer olhou para Hana. Virou-se de costas rapidamente e apenas lhe disse:
— Obrigado.
E naquele momento, havia mais um motivo para que seu coração palpitasse perto do demônio.
Na manhã seguinte, Hana viu o que nunca achou que veria: o cabelo preto de Lee Taeyong.
E o quão bonito ele parecia ficar com a cor natural.
— Hana! — Nayoung correu ao seu encalço, bem onde todos os alunos estavam; no corredor, parados de frente para o mural de fotos tiradas durante o primeiro dia do festival. — Você viu, não viu?
Nayoung estava vermelha dos pés à cabeça, com os fios curtos bagunçados pela corrida em busca da amiga.
— O que?
— Lee Taeyong e seu cabelo escuro. Ele está tão...
— Ah, eu vi! — Siyeon mascava um chiclete quando juntou-se à dupla. — Por que será que ele tirou o vermelho? Eu achava tão bonito...
Hana pronunciou-se em seguida.
— Deve ser difícil ficar com uma só cor de cabelo por tanto tempo. Sabe, a tinta desgasta e tudo mais.
Siyeon soltou uma gargalhada alta.
— Falando assim até parece que você já pintou o cabelo.
Bom, vontade não faltava.
Nayoung olhou para a foto de Taeyong durante a corrida. Sorriu boba.
— Acho que vou comprar essa foto — já foi logo apontando. Hana engoliu em seco, como se algo naquela frase a incomodasse. — Sabe, pendurar no meu quarto e tudo mais.
Siyeon a cutucou com o cotovelo e sorriu.
— Eu não sabia que tinha uma amiga tão pervertida.
Nayoung ficou ainda mais vermelha.
— Eu não sou...
A voz de Chittaphon atrás delas.
— Acho que vou comprar uma foto sua, Hana — sorriu para ela. Siyeon e Nayoung já foram logo se afastando com olhares de malícia para a amiga.
— Ah, é... — não sabia o que dizer. — Eu nem tirei muitas fotos nem nada...
Taeyong e seu cabelo natural surgiram logo em seguida, fazendo com que a garota perdesse total equilíbrio sobre sua mente fantasiosa.
— Não me lembro de ter autorizado minhas fotos para serem compradas por estranhos — murmurou, poucos antes de notar o olhar de Hana sobre si. — O que você está olhando? Vai me desenhar?
Ela desviou os olhos para o chão, percebendo então, que sequer sabia esconder seus olhares para ele.
— Ah! — ela lembrou-se de algo, bem no instante em que Doyoung começou a conversar com Siyeon. — Podemos sair hoje, não acha? — a pergunta foi feita diretamente para as amigas.
— Desculpe, Hana... — Nayoung arrumou os óculos. — Preciso estudar para a prova do cursinho.
Em seguida, foi Doyoung e Siyeon.
— E eu preciso... Bem... Nós temos um encontro! — o garoto confessou, agarrando-se ao ombro da garota que ainda mascava o chiclete.
Desde quando vocês dois...
Olhou para Chittaphon, sua última esperança, que já estava com a mão sobre a nuca, constrangido.
— Vou para a casa do meu pai, me desculpe.
Os olhos pousaram sobre Taeyong, mas ela logo os tirou.
Não, sem chance!
No dia seguinte, mais precisamente às oito da manhã, batidas frequentes se instalaram na porta do seu quarto. Ela levantou rapidamente, ponderando se o dormitório não estava pegando fogo ou algo do tipo.
— O que foi?
Ao abrir a porta, lá estava a nova cabeleira escura, vestido com roupas da mesma cor dos fios, onde o moletom que usava parecia bastante quente. E do lado de fora a chuva despencava.
— O que você quer? — ela perguntou, usando, por ironia, um casaco rosa.
— Está dois minutos atrasada. — disse, curto. Ela entortou os olhos. — Que seja. Vamos indo.
— Do que está falando? — os olhos denunciavam que estava perdida. — Ir para onde? E está chovendo.
— Sair, o que mais seria?
O coração acelerou.
— S-Sair...?
— É. Por acaso está ficando ruim do juízo?
Ela não entendeu nada, mas foi obrigada a pegar seu guarda-chuva e sair naquele dia nublado e chuviscado pelas ruas da cidade. O vento frio começou a balançar seus fios quando já estava saindo do dormitório.
— Por que isso tão de repente? — perguntou à ele, quando já estavam próximos à estação de ônibus.
— Você queria sair, não é? — ele virou-se para ele, quase que atrapalhando sua visão do caminho. — Então só pare de reclamar.
O que é isso... De repente?
Quando chegaram ao cinema — o que durou cerca de meia hora no ônibus sem nenhuma palavra trocada — a garota já pôs seus olhos sobre o filme de romance estampado no cartaz.
— Ah, quero assistir esse! — apontou para o papel. O garoto soltou um tsc e já foi caminhando até a cabine para comprar as entradas.
O que? Não pode ser... Não me diga que ele realmente vai comprar.
Os olhos dela estavam brilhando, até que visse a mulher da cabine apontado para a direção oposta de onde se passaria seu filme.
— Hã? — ela aproximou-se dele. — Mas o que eu quero ver fica do outro lado...
— É só ir ver.
Esse maldito demônio sádico!
No fim, ela assistiu ao filme romântico sozinha, em uma sala onde metade das bancas estava ocupada por casais.
Bem, não que ela quisesse estar acompanhada por ele, não, longe de si. Não queria a presença dele naquele momento, bem quando o casal principal se beijou. Puts, não, realmente não queria.
Aquele maldito sádico!
Quando o filme acabou, ela o encontrou sentado nas cadeiras da recepção.
— Você demorou. — ele disse. Os braços estavam cruzados sobre o moletom. Levantou-se quando ela se aproximou. — Bom, já te trouxe para sair. Agora estou voltando.
O que? Era isso? Ver filmes separados e acabou? Fim?
— Ei, ei, vamos até o aquário! — ouviu uma mulher dizer à outra próximo de si. Ela rapidamente segurou a mão de Taeyong, com o rosto vermelho e o coração palpitando.
— T-Taeyong, eu quero ir ao aquário! — disse-lhe, nervosa. Ele não olhou para ela.
— Então vá sozinha — respondeu, já se dirigindo a saída.
Ela inflou as bochechas. Qual era o sentido desse encontro?
— Não tem sentido ir sozinha!
Ele virou-se para ela repentinamente.
— Tá, chega. Vamos. Só cala a boca.
Aquele não poderia ser o mesmo demônio que ela havia encontrado desde o primeiro dia no dormitório. Não poderia ser aquele mesmo cara que tanto a atormentava. Se aquele era Lee Taeyong, de fato, ela gostaria que um raio caísse sobre sua cabeça.
Dez minutos de trem até o aquário. Não havia ninguém na fila para comprar o ingresso. A garota do caixa já foi logo olhando para Taeyong com segundas intenções.
— Só temos desconto para casais hoje. Você está solteiro, não é?
Não até que Hana entrelaçasse seu braço com o dele.
— Na verdade não! — sorriu para a mulher, que agora fazia uma careta. — Por favor, um ingresso para nós.
O demônio a encarou de soslaio.
— Desde quando somos um casal? — murmurou. Ela puxou um pouco o moletom dele.
— É para ficar mais barato, não tem problema nenhum — murmurou de volta.
Quando finalmente chegaram até a sessão de aquário, Hana parecia uma criança em uma loja de brinquedos, o demônio notou. E ele ficou surpreso com o sorriso angelical que ela exibiu contra os peixes que pareciam flutuar no ambiente azul.
Por um segundo, o coração dele vacilou. Um segundo para que ele tossisse falso e virasse o rosto para o lado.
— O que foi? — ela perguntou, após notar que ele estava de costas.
— Não é nada — respondeu rápido, como se quisesse manter distância.
Hana não entendia como ele conseguia ser tão bipolar como estava sendo.
Foram até o espetáculo das baleias, onde o estádio parecia lotado. Sentaram-se em uma das bancas vazias, onde Taeyong mantinha a mão sobre a bochecha, visivelmente tedioso. E Hana, ao seu lado, sorria boba para o espetáculo.
O telão do beijo focando sobre eles logo em seguida. Hana quis morrer naquele instante.
Não era só em estádios de beisebol que se tinha aquilo? Então por que diabos...?
As pessoas da banca da frente olharam para o telão, claramente esperando o beijo. Taeyong não parecia nenhum pouco interessado, e Hana, bom, naquele momento ela só conseguia se focar em manter o coração menos acelerado.
Mas foi impossível quando sentiu os lábios dele contra a bochecha dela.
Badum.
Algumas pessoas da banca da frente sorriram, e a câmera do beijo mudou para o outro lado do estádio.
O que diabos ele... Por quê?
— Seu coração bateu rápido? — ele a lançou mais um dos seus sorrisos debochados.
Ela queria poder cometer um assassinato ali mesmo, mas estava impedida por câmeras e testemunhas.
— N-Nada disso! — começou a enrolar os dedos para dentro da manga do casaco.
— Visitantes, vamos participar do encontro com o golfinho! — era um dos homens que estavam ao redor do show, gritando abertamente com o microfone pequeno.
Hana até esqueceria aquele momento vergonhoso, mas logo em seguida o alto falante denunciou que sua ideia de ir até o aquário havia sido uma merda.
— O casal jovem da quinta fileira, poderiam participar?
Novamente seus rostos expostos no maldito telão.
O coração dela começou a acelerar de puro nervosismo.
— Hã, eu? — ela começou a suar frio. — E não somos um casal, é só que...
A mão de Taeyong a puxando para que se levantasse.
— Vamos logo — ele disse.
— Por que você vai? Eu não quero ir...
Novamente, o maldito sorriso malicioso dele.
— E é justamente por isso que estou indo.
Realmente, ele é um demônio!
De volta ao aquário — e com todo o constrangimento passado — ela conseguiu respirar um pouco mais aliviada. No momento seguinte, sua vista foi tampada por algo macio sendo encostado contra seu rosto.
Era Taeyong empurrando um polvo lilás de pelúcia contra o rosto dela.
— É seu. — disse, apenas.
Quando ela parou para olhar o prêmio pela participação anterior, ficou um pouco feliz por ter participado. No fim, valeu a pena todo o constrangimento.
— Esse polvo combina com você — ele disse, virando-se de costas até a saída do aquário.
— O que você quer dizer com isso? — ela parecia raivosa quando começou a segui-lo.
Olhou para o relógio pouco antes de sair. Já marcavam cinco da tarde.
— Essa não, vamos nos atrasar para o toque de recolher. — disse para si mesma, com os braços cruzados envolta da pelúcia.
No lado de fora, caia um temporal. E o anúncio do policial a fez querer enfiar a cabeça em um buraco.
— Atenção! — ele gritou quando notou a quantidade de gente do lado de fora a espera do transporte. — Todos os ônibus foram parados devido ao mal tempo!
Era só o que me faltava!
— Como vamos voltar agora? — uma mulher perguntou à outra na frente deles. Hana enfiou a palma da mão contra o rosto, irritada.
Quando ela notou, Taeyong já estava caminhando para algum lugar.
— Para onde você vai? Podemos esperar aqui e...
— Hotel.
H-H-Hotel?
O que... Como é?
Bom, pra começo de conversa, havia entendido outra coisa quando o demônio sugeriu a palavra Hotel. Outra coisa mesmo!
O Hotel mais próximo parecia ser o mais caro também, mas não havia muita coisa a ser feita. Era isso ou ficar na rua até sabe-se lá quantas horas. E ela já estava ensopada pela chuva repentina, chegava a espirrar uma hora ou outra.
Auge gripar durante um encontro.
O homem na recepção encarou os dois e franziu o cenho.
— Não podemos hospedar estudantes.
O demônio aproximou-se do balcão, com Hana a distância olhando para o lado de fora na esperança de que avistasse um ônibus.
— Somos universitários. — Hana arregalou os olhos diante da mentira do maior.
— Ei... Vamos voltar — ela murmurou para ele, na esperança de que pudesse sair daquele lugar ainda viva. Ele virou-se lentamente para ela.
— Não há sinal de que a chuva vai parar e não sabemos quando os ônibus e trens vão voltar a circular. — sorriu minimamente. — Além disso, já estamos atrasados mesmo.
Ele deve ter feito isso de propósito!
O recepcionista informou o preço da estadia, embora Hana estivesse mais preocupada em olhar para a rua e ver se o maldito transporte não estava de volta. Sentiu o toque de Taeyong contra seu ombro.
— Vamos logo.
Então, a ficha caiu. Não, isso não!
— Espere, nós não vamos... — já foi entrando no elevador junto com ele, sentindo cada pelo do seu corpo se arrepiar. — Não é?
Os dedos dele tocaram o botão e em seguida virou o rosto contra ela.
— Vamos o que?
Engoliu em seco.
— Sabe, ficar no mesmo quarto...
A resposta a deixou paralisada por alguns segundos.
— Claro que vamos.
Não, não, não!
Calou-se quando as portas se abriram, revelando um corredor estreito. O coração saltava a medida que se aproximavam do quarto destinado. Quarto 12B.
A chave girou e as pernas tremeram. Nervosismo? Sim. Mas talvez possa ser apenas frio, visto que as roupas se encontravam encharcadas por conta das gotas de chuva de minutos atrás.
— Você deveria tomar um banho antes que gripe — ouviu a voz dele e o barulho da porta sendo fechada, enquanto os braços se encolhiam na medida em que apertava a pelúcia contra o peito.
— E-esper... — atchim! O quarto inteiro tilintou o espirro alto.
Taeyong cerrou os olhos, invadindo as mãos contra a pelúcia adormecida nos braços gelados da garota e a jogando contra a cama espaçosa.
— O que eu disse? — ele não parecia zangado, apesar do jeito no qual pronunciara. Enquanto Hana permanecia sem saber se entrava de uma vez por todas no banheiro ou esperava alguma salvação, notou o sorrisinho descarado se estampar no rosto do maior. — Ou será que você quer que eu entre junto?
Olhos se arregalando aos poucos, coração acelerado e bochechas rosadas esquentando-se na medida em que os olhos castanhos se fitam.
Esse desgraçado!
Hana só correu até o banheiro e se escorou na porta, inspirando fundo. Esperava que essa situação acabasse logo, pois estava começando a pensar coisas que não deveria pensar.
Coisas como, por exemplo, se não estava gostando do demônio.
E gostar do mesmo cara que a melhor amiga era a regra número um que jamais devia ser quebrada.
Mas claro, era só um exemplo. Ela não estava apaixonada por ele. Claro que não. Não quando tinha a total certeza de que o amor da sua vida era Chittaphon.
Entretanto, por um simples momento...
— Só preciso de um banho — disse para ela mesma e o nada. — É, não é nada. Não pode ser nada. Não tem como eu estar gostando dele, isso é impossível!
No quarto, o celular de Taeyong começou a vibrar. Atendeu-o após revirar os olhos ao encontrar o nome que se estampava na tela.
— Taeyong? Você está muito atrasado para o toque de recolher. — era Chittaphon e sua preocupação excessiva.
Taeyong sentou na borda da cama, batendo a ponta dos dedos contra os joelhos.
— Foi mal, estou em uma festa do pijama — o sarcasmo era evidente. Do outro lado, Chittaphon revirou os olhos. — Não vou conseguir voltar hoje.
— Hana também está com você, não é? — os olhos se abriram de repente, mas ele não pareceu muito chocado por terem notado o sumiço repentino da garota. — O que vai fazer se ela se encrencar por isso?
Um sorriso simplista se formou no rosto sereno.
— Eu vou junto, ué.
Ouve-se o suspiro de Chittaphon do outro lado.
— Onde ela está? Queria falar com ela.
— Está no banho, Ten.
Aquilo pareceu bastar para que a conversa se encerrasse.
— Certo, vou enviar um relatório para a inspetora. Até mais.
E a ligação cessou, junto com o resto das provocações do demônio. No instante seguinte, Hana saiu do banheiro, usando as únicas roupas que ainda não estavam molhadas — bendito seja seu poderoso moletom rosa — e encarando o garoto que acabara de se abrir a porta, trazendo consigo uma sacola branca.
— O que é isso? — perguntou relativamente curiosa.
— Tive que comprar no andar de cima. — depois, olhou para ela com desaprovação. — Você só me dá problemas, tsc.
Os olhos cerraram-se.
— Você que teve essa brilhante ideia de encontro logo hoje, um dia chuvoso!
Ela notou o sorriso mínimo dele e a forma como a encarou.
— Então isso é um encontro?
As bochechas coraram novamente, mas ela apenas desviou da pergunta, inclinando-se para pegar o controle remoto quando notou que ele acabara de se sentar na cama.
Ligou a TV. Uma cena de beijo em alguma novela. Desligou no instante seguinte, arrepiando-se.
— D-Deixa pra lá, é melhor não ligar nada por hoje. — quase deixou o controle cair de tamanho nervosismo. Virou-se até onde se encontrava a sacola e pegou um copo de lámen que borbulhava de quente.
— Isso deve ter sido caro — olhou para o demônio quando se sentou na cadeira com o copo em mãos e os hashi de madeira na outra. Taeyong não a encarou. — Prometo te pagar depois...
— Não precisa. — a cortou, pegando o controle e ligando a TV para que Hana sentisse o estômago embrulhar com a cena nada infantil que passava na tela.
— Você poderia colocar em outro canal?
Ele desviou os olhos até ela, não se importando com a cena travessa do televisor.
— Por quê? Esse tipo de coisa te deixa com vergonha?
Eu juro que ainda jogo esse negócio na cara dele!
— Claro que não!
O sorrisinho dele logo em seguida.
— Você está vermelha, Hana-ssi?
Até aquele momento Hana já havia pedido que um raio caísse sobre sua cabeça três vezes. Aquela era a quarta.
— Não estou nem aí! Veja se você quiser.
Evitou olhar para a TV, mas os sons não a apoiavam muito. Ignorou o televisor e se focou apenas na comida, até que sentiu o alívio quando ouviu o intervalo. Olhou para Taeyong no instante seguinte, observando os fios naturais.
— O que aconteceu com seu cabelo? — perguntou curiosa, sentindo o abafado quente do lámen invadir seu rosto.
Ele não pareceu muito disposto a responder, mas ainda assim, a olhou.
— Por que a pergunta? Gostava mais de mim quando tinha cabelo vermelho?
Na verdade você fica bonito com qualquer cor.
PARA DE PENSAR ISSO!
— N-não é isso, é só que... Eu fiquei surpresa.
Terminou de comer, deixando o copo e o par de hashi sobre o criado mudo próximo a cama e a cadeira na qual estava sentada.
— Enjoei do vermelho, simples.
Claro que sim, ele é sempre curto.
Então, ela notou que ele já estava deitado na cama, o que significava que provavelmente dormiria ali. E o que também significava que...
— Você vai dormir aí? — perguntou relutante, não recebendo o olhar dele.
— Sim.
Por que ele não pode falar um pouco mais?
— Mas... E eu?
— Durma no chão, se quiser.
Esse maldito demônio desgraçado!
— Ou então durma comigo, só não faça muito barulho de madrugada.
Bochechas apimentadas, estômago revirado e barriga repleta de um mar de borboletas.
— Por que você sempre tem que ser assim? Não pode ser simpático pelo menos uma vez?
— Como o meu irmão?
Silêncio.
Silêncio este que duraram alguns segundos, junto com o rosto dele a encarando. Parecia desconfortável.
— Eu não quis dizer isso. — argumentou, abraçando os próprios joelhos cobertos pela calça. — É só que... Tenho impressão de que você é um cara legal, às vezes.
— Impressão sua.
Hana só queria que ele falasse mais com ela, mesmo que a companhia dele a perturbasse tanto. Foi naquele momento que ela percebeu que algo estava errado com ela.
A vontade que tinha de que ele se abrisse para ela, de que a contasse sobre tudo que acontecia com ele, de que ficasse mais próximo dela, de que...
Gostasse dela.
— É por causa do seu pai?
A televisão foi desligada, assim como a expressão dele que pareceu não existir mais.
— Vou dormir, até amanhã.
Hana não queria que ele dormisse. Não queria que acabasse ali.
— Taeyong, eu só quero saber se... — percebeu que pronunciara o nome dele. Exatamente o nome dele, e não mais demônio negro. Percebeu, também, que não parecia mais a mesma garota. Parecia intrometida demais. — Me desculpe. Tenha uma boa noite.
Permaneceu sentada, embora a luz do quarto ainda estivesse acesa e soube que ele não levantaria para apaga-la.
Juntos o dia inteiro, e ela poderia confirmar de que os sentimentos que nutria por ele nada mais eram do que ódio e rivalidade. Mas algo pareceu errado nesse meio tempo. Pareceu errado quando a vida dele pareceu se tornar interessante o suficiente para que ela quisesse ouvir a voz dele a noite inteira.
Ouvir a voz dele a noite inteira... Não achou que fosse capaz de pensar isso. Não quando se envolviam Taeyong na mesma frase.
Além disso, o que sentia por Chittaphon... Era real, não era? Não era possível que fosse apenas admiração por ele, não, isso não é...
Sacudiu a cabeça, notando a capacidade de informações que não a fariam dormir aquela noite.
— Vai ficar até quando sentada aí? — ouviu a voz dele e abriu os olhos.
— Não acha que eu vou dormir com você, não é?
— Acho que sim.
Fala sério, ele é tão...
Tão...?
— Acho bom você ficar bem longe de mim! — foi um segundo para que ela desligasse a luz e se envolvesse ao lado dele com cautela, enquanto o estômago embrulhava e a respiração parecia pesada.
Ao contrário do que achou que seria, ele não a perturbou em momento algum.
E quando Hana virou-se para uma posição mais confortável, encontrou o rosto dele e os olhos se encararam, junto com o coração que palpitou.
Ele está muito perto. Ele está muito perto. Ele está muito perto.
— Eu vou... — ela começou, aparentemente perdida o suficiente para não saber o que dizer. — Dormir em outro lugar e...
E a mão dele agarrando a dela antes que esta se levantasse.
E os olhos encarando-se calmamente, sem qualquer tipo de malicia ou provocação.
E o coração apertando como se fosse ter uma parada cardíaca.
Eu não gosto dele. Eu não gosto dele. Eu não gosto dele.
Engoliu em seco, nervosa e pálida.
Só pode ser brincadeira, eu não gosto dele...
Eis que os lábios dele tocam os dela de repente, ainda segurando o pulso dela. E ao contrário de antes, ela não relutou e ele não ficou com os olhos abertos, como sempre ficava. Agora, os olhos dele estavam fechados, como se naquele momento, se importasse com o beijo.
Já não sabia se o coração batia acelerado ou não, pois foi ali que permitiu que o toque se estendesse, sentindo cada segundo como se fosse único. As línguas uniram-se até que a mão dela pressionasse contra a nuca dele, esperando que o beijo fosse mais profundo e caloroso.
Cruzou as pernas ao sentir algo estranho latejar dentro de si e afastou-se em um sobressalto, com a respiração acelerada e o peito que subia e descia rapidamente, como uma fera assustada.
— E-E-Eu vou no banheiro!
E ali mesmo ela se enfiou, com a mão sobre a boca e a sensação quente percorrendo seu corpo.
Não estou apaixonada por ele. Não estou...
Acendeu a luz e olhou-se no espelho, observando cada centímetro do seu rosto extremamente quente e vermelho.
Estou apaixonada por ele.
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