Ana olhou para o relógio pela quinta vez e encarou os ponteiros marcando exatos 17:32. Ela odiava chuva na mesma intensidade que Manu repudiava o calor. Resmungou um palavrão em seu bom português e escutou uma voz muito bem conhecida por ela vindo de trás de si.
- Não entendi mas tenho certeza que preferiria ficar sem saber o que isso significa.- Neuer disse, a abraçando.
- Pelo visto já me conhece suficientemente bem.- Ana Tereza riu.
- Desculpe pela demora. Munique fica um caos com chuva, vá se acostumando.
O local combinado para se encontrarem, depois da inesquecível Nova Iorque, havia sido Munique. Mais especificamente, o alemão a instruíra de o encontrar no Jardim Inglês da cidade. Resumindo, ela teve de encarar o atraso de Manuel, seus tênis cheios de grama molhada, o casaco encharcado, um guarda-chuva quebrado e, de quebra, a fome.
- É bom me levar para comer algo muito bom ou se arrependerá de ter me encontrado.- ela disse apontando o dedo indicador para o rosto do alemão.
- Eu fiz até um roteiro.- ele a respondeu, tirando um papel do bolso de suas calças jeans. A chuva havia dado uma pequena trégua.
Aquilo fez a tenista soltar uma gargalhada muito alta. Era incrível como Manu sempre a surpreendia apenas sendo ele mesmo.
- Você é demais, sabia?
- Eu só gosto de estar preparado. Como sou o anfitrião da vez, preferi deixar nossa programação pronta. E vê se chega ao menos até a final porque contei com isso.- Manuel disse arrancando, mais uma vez, um sorriso divertido dela.
- E mais uma vez você mais confiante do que eu.
- Agora vamos comer ou o programado vai se atrasar.
Neuer a guiou até seu carro e seguiu o caminho tão conhecido por ele. Havia decidido a levar a uma pequena lanchonete que costumava ir com seus pais quando ainda era pequeno, logo no início de sua chegada à cidade bávara. Por serem ambos atletas conhecidos, que já tiveram seus rostos estampados juntos em sites e revistas de fofoca, ele preferia evitar, pelo menos quando pudesse, locais muito públicos e conhecidos. O local não era tão longe do jardim que estavam, o que foi estratégico. Em menos de cinco minutos, ele já estacionava e os dois adentravam juntos no estabelecimento.
Os funcionários da pequena Regenbogen Market já estavam devidamente familiarizados com o goleiro, o que fez com que tudo ali parece mais normal do que estavam acostumados. Ana Tereza, mais uma vez, ficara encantada com o fato de Manu ter escolhido um lugar tão acolhedor para levá-la. Ela reparava, como se tudo passasse em câmera lenta, ele fazendo os pedidos para a garçonete. Havia deixado a barba por fazer, a pedido dela. A pele branca dele brilhava devido algumas gotículas de chuva que insistiam em pingar de seus cabelos loiros, que antes devidamente penteados, agora se encontravam caídos em sua testa completamente molhados. Ele estava vestido por completo com a marca de seu principal patrocinador: conjunto de moletom cinza e tênis azuis, da Adidas.
‘’Você vai amar o hambúrguer daqui’’, foi a frase que ela escutou dele que a fez acordar de seu transe momentâneo.
- Se for para sair da sair da dieta que seja juntos, não é mesmo?- a brasileira o respondeu, e ele concordou com um aceno de cabeça.
Manuel puxou para si a mão esquerda dela que repousava na mesa, fazendo com que ela direcionasse seu olhar diretamente para o oceano anil dos olhos dele. Como não se afogar naquela imensidão azul?
- É tão bom estar com você novamente. Senti sua falta, Ana.
- Eu também, Manu. Não via hora de estarmos juntos.- ela o respondeu, sincera. Por algum milagre, ainda desconhecido, Ana Tereza se sentia bem o suficiente para ser completamente honesta com Neuer, ela simplesmente não conseguia dizer algo contrário olhando para as expressões tão inocentes e carinhosas que recebia do goleiro.
A interação dos dois fora interrompida pela garçonete que voltava com os pratos deles escolhidos por Manuel. Definitivamente eles teriam passado o pedido deles na frente dos outros clientes, mas ela com certeza não reclamaria, seu estômago clamava por uma boa comida. E era o que, aparentemente, aquela refeição parecia ser. Um hambúrguer artesanal acompanhado de batatas fritas e uma boa caneca de cerveja alemã era tudo que ela podia desejar. ‘’Melhor já ir me acostumando com a cerveja de acompanhamento para tudo’’, ela pensou.
Ele a observava dar sua primeira mordida. Estava ansioso para o feedback de Ana Tereza sobre a escolha dele. Ela, por sua vez, enrolou para dar sua resposta, se divertindo com o olhar ansioso dele para ela.
- Pode ficar tranquilo, Neuer, você não decepcionou.- ela disse, podendo vê-lo soltar o ar que prendia pela boca, relaxando os ombros logo em seguida.
- Que alívio...
Eles terminaram de se alimentar e, depois de discutirem sobre quem ia pagar a conta e decidirem que iam dividir o valor, eles seguiram a lista que ele fizera. O próximo ponto era visitar a sorveteria que ficava a alguns quarteirões da casa de Manuel.
Novamente, o goleiro surpreendera a tenista. Ao começarem a viagem até o destino, ele deu play em uma playlist feita especialmente para as duas semanas que passaria na companhia de Ana Tereza. Mais um ponto para Manuel Neuer: ela ama playlists.
Eles chegaram na sorveteria quando Biking, de Frank Ocean, terminava. Até a sincronia das músicas estava perfeita. Neuer a guiou até os freezers que continham os sabores, a entregando um potinho de plástico para que ela escolhesse os que preferia. Devidamente sentados na mesinha de canto, os dois se olharam enquanto saboreavam a primeira colherada de seus sorvetes.
- Eu quero que você vá à minha partida amanhã.- ele disse a ela, vendo ela esbugalhar seus olhos e quase cuspir tudo que estava em sua boca.
- Mas já, Manu? A imprensa vai cair em cima.- Ana respondeu, torcendo para que ele pensasse que era nisso que ela pensava. Porém, a real preocupação dela era no fato de que aquilo soava muito sério. Mesmo que ele tenha ido às partidas dela em Nova Iorque, para ela ainda era difícil tomar aquele passe. Não queria que, com a mídia especulando um romance entre Ana e Manu, ele também imaginasse que os dois estariam se entregando ao tão temido compromisso.
Ela viu a expressão dele murchar de uma vez. Neuer desmanchou o sorriso que carregava no rosto e enfiou duas grandes colheres de sorvete de chocolate na boca, sujando os lábios como uma criança pequena, o que fez com que Ana não aguentasse segurar o riso, tirando um olhar indignado e confuso dele.
- Você se sujou.- ela disse apontando para a própria boca.
- Não mude de assunto, Ana Tereza.- ele respondeu pegando um guardanapo e limpando a própria boca.
Ana não teve outra reação a não ser ficar séria e largar seu potinho de sorvete na mesa. Respirou fundo tentando racionar rápido e chegar a uma resposta que não pegasse mal.
- Eu só não queria mais especulações desnecessárias, entende?
- Tudo bem, você não é obrigada a acompanhar meus compromissos.- ele ficou um pouco vermelho e ela percebeu que Neuer ficara com raiva.
- Ok, eu vou.- ela desistiu.
- Não precisa, Ana Tereza. Não é como se você fosse minha namorada, não é mesmo?
- Para, Manu. Não é isso...
Ele desviou o olhar dela e ficou observando o lado de fora do estabelecimento. Ana podia ver, através dos olhos dele, o arco-íris que coloria o céu, antes totalmente cheio de nuvens escuras. Não sabia resistir àquele olhar. Torceu para que ele não descobrisse isso.
- Eu vou, Manu. Vestida de uma camisa número 1 para que especulem bastante sobre nós. Vamos dar trabalho à imprensa da fofoca. Foda-se.- ela disse decidida e ele sorriu sem graça.
Podia ser besteira, mas ele pulava de alegria, internamente, com aquilo que ela falara. Ana Tereza sabia como mexer com ele.
Dessa vez ele a convenceu e ela o deixou pagar a conta. ‘’É só um sorvete’’, Manu dissera. Já do lado de fora, eles pararam em frente ao carro para que ele pudesse pegar sua programação e informa-la qual o próximo destino que ele a apresentaria.
- Agora chegou a hora de você conhecer minha casa.- Neuer disse calmamente, porém Ana se engasgou com a própria saliva.
- Você mora sozinho, não é?- ela o perguntou.
- Relaxa, Ana. Também não estou pronto para apresentá-la para meus pais.- ele disse rindo.- Mas ainda vai ter que conhecer a Claudia, que não me deixa transformar aquela casa em um depósito de comida congelada.
- Cala a boca, Manu.- Ana o respondeu com um tapa fraco no ombro dele.- Vamos logo.
Os dois voltaram ao carro, se dirigindo a algum bairro luxuoso que ela não conseguira gravar o nome. ‘’Existe língua pior que a alemã?’’, pensou.
Dessa vez foram o percurso inteiro em silêncio. Enquanto Neuer prestava atenção no caminho, a brasileira reparava o visual pela janela e balbuciava algumas das músicas que tocavam da tal playlist. Não estava nada mal.
Percebeu que haviam chegado quando Manuel diminuiu a velocidade, reparando que ele já havia aberto o portão com o controle remoto quando se aproximaram da casa. Ela não estava impressionada com tamanho ou beleza do lugar, até porque também tinha um poder aquisitivo considerável, era uma atleta como ele e por isso tinha muitas regalias tanto quanto o goleiro. Mas o que realmente chamou a atenção dela foi a simplicidade que Neuer passou para sua casa. Era um lugar acolhedor, cheio de cores, quadros, plantas e o melhor: possuía diversos cachorros que ele mesmo resgatara da rua.
- Estou com planos de montar uma espécie de instituto para resgate de animais de rua.- ele disse quando percebeu o que prendeu a atenção dela.
Ana mal o escutara, já estava de joelhos no chão recebendo o carinho daqueles anjinhos em forma de cães.
- Eles gostaram de você.- o escutou dizer.
- É recíproco.- disse e se levantou.- vou precisar me limpar depois dessa recaída.
Ele riu e indicou o caminho para o banheiro mais próximo. Quando ela retornou, ele começou a tour pelo seu lar. Passaram pela sala de jantar; cozinha -onde ela conheceu Claudia- sala de TV; sala de jogos; a área externa enorme que abrigava as casinhas dos cachorros, churrasqueira, piscina e uma quadra de tênis que ela elogiou. Por fim, Manuel foi apresentá-la a seu quarto.
Ele parecia ansioso, o que a divertia. Gostava de ver o gigante alemão desconsertado. Contudo, gostava ainda mais dele entregue ao desejo de tê-la. Mesmo percebendo que ele tentava segurar seus impulsos e apenas lhe mostrar seu cafofo, Ana começou a fazer o que mais gostava: jogar.
- Esse foi definitivamente meu cômodo favorito, Manu.- ela disse sentando-se na cama dele.
- É mesmo?- ele a perguntou inocente.
- Claro que sim. Porém ainda estou em dúvida sobre uma coisa daqui.
- O quê?- ele enrugou a testa.
- Essa cama é boa mesmo?- a tenista o indagou fingindo, claramente, uma seriedade palpavelmente falsa. Ele riu entendendo.
A viu dar duas batidinhas na cama, então foi se sentar ao seu lado. Neuer queria entrar no jogo dela. A tensão já estava quase se materializando ali no meio deles.
- Eu também tenho uma dúvida.- ele sussurrou se aproximando dos lábios dela.
- Qual?
- Quem fica por cima?
Ana Tereza não aguentou segurar a gargalhada, mas se conteve, deslizando para mais acima da cama. O puxou, pela gola, com as duas mãos; e colou sua boca na dele. Neuer podia se sentir mais duro à medida que explorava mais a boca dela. A sentiu tentando retirar sua blusa, então ele se pôs de joelhos na cama, tirando-a. Ana pôde ver, devido a calça de moletom, o volume que ele já possuía na região pélvica.
Ambos se ajudaram a retirar as peças de roupas que vestiam, voltando se deitar já totalmente nus. Manuel raspou seu membro na entrada dela, se sentindo pulsar cada vez mais. Manuel Neuer e Ana Tereza se comunicavam somente com suas almas, palavras já não eram mais necessárias quando os dois se deitavam juntos.
Manu, num segundo de consciência, pegou um preservativo no criado mudo ao lado da cama, se vestindo em seguida. Com um olhar, ele a demonstrou que daquela vez queria que fosse diferente, Neuer queria que tudo fosse lento, que eles aproveitassem cada pedacinho um do outro com calma e carinho.
Ele finalmente a penetrou, vendo ela fechar seus olhos por alguns segundos. Ao abrir, Ana se deparou com o olhar azul que ela tanto desejava. Daquela vez não havia necessidade de preliminares, nem de fogo, muito menos de pressa. Ali eles eram somente um, sentindo flutuar-se, como se tudo se passasse o mais devagar e proveitoso possível.
Manuel beijava Ana como se sua vida dependesse daquilo; sua boca, seu pescoço, seu colo, seus seios. Ela se sentia totalmente entregue a ele e não pensava em contrariar aquilo. Ele colou suas testas, enquanto tentava segurar seu orgasmo o máximo que conseguisse.
Ana Tereza deu o último sinal que ele precisava para relaxar e se deixar chegar ao ápice: ela se contorceu, contraindo-se entorno do membro dele. Manu se entregou a ela em um sonoro gemido.
Ele então se deitou ao lado dela. Não soube dizer por quanto tempo ficou naquela posição, somente saiu de transe quando ouviu o telefone dela tocar.
- Alô?- a ouviu atender e se levantou indo ao banheiro jogar o preservativo fora e limpar-se. Encarou seu reflexo no espelho, sorrindo ao ver o quanto estava vermelho e com os cabelos bagunçados. Resolveu lavar o rosto.
Ao voltar para o quarto, já viu Ana devidamente vestida, somente esperando por ele.
- Preciso ir.- ela o informou, fazendo um biquinho triste.
Neuer a sorriu um ‘’tudo bem’’, vestindo-se logo em seguida.
Ele a pegou pela mão, conduzindo-a de volta a seu carro. Dessa vez, apesar do mesmo silêncio, Manuel foi o caminho todo com a mão repousada na coxa dela. A serenidade no olhar de ambos, e o sorrisinho que não escapava de seus lábios, os estregava.
Ele parou em frente ao hotel que ela se hospedava com a equipe dela, fazendo um carinho onde sua mão estava. Ana o olhou, aproximando sua boca na dele, e o deu um beijo terno.
There’s nothing holdin’ me back, de Shawn Mendes, tocava ao fundo e Manu só queria a dizer para prestar atenção na música. Mas, ao invés disso, ele apenas continuou a olhar.
- Te vejo no jogo, goleiro.- Ana disse.- já vou preparar minha camisa número 1.
- Vou esperar ansiosamente, tenista.
- Se ganhar, a festa de comemoração é comigo.- ela disse piscando o olho direito. Abriu a porta do carro, e ele a viu entrar no hotel. A noite seria longa.
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