"Ela não deveria se sentir tão triste.
Contudo, era difícil aceitar que o garoto que gostava desde que começou a estudar em Hogwarts tinha se envolvido com outra garota.
Por que era tão doloroso gostar de forma platônica?
Há alguns dias pegou Ronald e Lilá aos beijos. Pensou que poderia superar tudo o que viu e sentia, passando uma borracha em seus sentimentos, fingindo que não havia passado tanto tempo gostando dele apenas para que continuasse sendo sua melhor amiga e fizesse seu belo papel que significava apoiá-lo em suas escolhas.
No entanto, não negava que se afastou dele desde que assumiu um romance com Lilá. Não conseguia ficar ao lado dele e agir como se não estivesse magoada, então se dedicar a ajudar Harry e passar mais tempo estudando foi seu refúgio. Entretanto, quando se sentia mal ela acabava saindo do seu dormitório e indo para a Torre de Astronomia, aquele era um lugar que poderia chorar em paz. Foi o que achava quando uma semana depois encontrou quem não queria naquele mesmo lugar.
Hermione nunca tinha visto Draco chorar, ele estava do outro lado da sala, sentado e observando a paisagem além de Hogwarts, quando seus olhos azuis acinzentados foram em sua direção pensou que iria insultá-la, contudo, ele não disse nada. E nem ela.
Hermione apenas se sentou do lado oposto na mesma posição que ele, observando a paisagem escura, observando o céu nublado e a lua cheia. Conseguiu ignorar que Draco estava no mesmo cômodo que ela quando chorou novamente ao se lembrar do seu dia horrível, de como Ronald estava feliz ao lado de Lilá e que havia ganhado um anel.
Ele havia dado um anel para Lilá.
Aquilo foi pior que um beijo."
Hermione abriu os olhos quando seu despertador trouxa tocou. Ela se sentou na cama e, após desligá-lo, passou a mão por seus cabelos soltos com sua mente presa naquele sonho. Não era a primeira vez que o teve, mesmo assim nunca pareceu tão nítido em sua memória como naquele instante, e por mais que tentasse forçar sua mente para se lembrar do que aconteceu em seguida ou ordens dos acontecimentos do seu passado, ela não conseguia. E aquilo mais uma vez a perturbou.
Hermione despertou de seus pensamentos quando a coruja pousou no parapeito da janela, mesmo sem ânimo para se levantar, jogou o lençol para o lado calçando suas pantufas quando se aproximou pegando a carta amarrada na perna da ave, Hermione alisou sua cabeça antes que ela batesse as asas e voasse novamente para o céu.
Ela encostou na janela aberta olhando para o lado de fora da avenida que nunca parava quieta. Sabia que era uma carta de Ronald, e naquele momento ela poderia se sentir desanimada só por ouvir notícias dele. Temia o momento que ele voltaria para casa e fosse tocar novamente no assunto sobre filhos.
Hermione se encheu de coragem abrindo a carta:
"Olá, amor.
Tenho uma notícia maravilhosa: logo irei me aposentar.
Bom, quando eu voltar para casa iremos poder construir nossa sonhada família, ainda não sei o dia certo, mas garanto que será uma surpresa.
Beijos, até mais.
Ronald."
Ela deveria estar feliz, certo?
Sabia que sim no exato momento que a carta de Ronald foi diretamente para o lixo quando ela seguiu em direção ao banheiro sendo dominada pelo receio e a ansiedade absurda do exato momento que Ronald entrasse por aquela porta.
Hermione tentava entender onde foi que seu casamento ficou tão chato, previsível e sem emoção. Claramente, ela se lembrava que concordou com ele de irem morar na França, pois achou certo. Passou tanto tempo chorando por ele que quando Ronald disse que a amava ela se sentiu feliz.
Feliz?
Hermione tinha dúvidas se essa era a palavra certa para o que sentiu naquele momento, contudo, ela achou que fosse o que deveria fazer. Parecia certo eles estarem juntos, parecia ser normal que ela terminasse com o seu melhor amigo, parecia natural que no final ela pudesse ser feliz ao lado dele como desejou a partir do quarto ano de Hogwarts quando começava entender seus sentimentos. Então, por qual motivo ela estava se perguntando naquele momento se havia feito a escolha certa há dez anos?
Ligou o chuveiro quando começou a analisar os anos que estava com ele. Quando se mudaram para a França, Hermione rapidamente conseguiu um trabalho no Ministério Francês, e Ronald foi contratado pelo time da Bulgária e em poucos meses depois de chegarem, ele começou a viajar. E mesmo com ele longe, Hermione ainda se casou com ele dois anos depois, pois achou certo.
Então de fato, eles nunca realmente moraram juntos. Ronald passava praticamente o ano inteiro fora, quando ia para lá ficava um mês ou dois, e Hermione se sentia estranha na sua presença. Se acostumou a ficar tanto tempo sozinha que tê-lo por perto não a deixava feliz e sim a incomodava.
Então, por qual motivo ainda estava casada?
A conclusão óbvia quando desligava o chuveiro e se enrolava na toalha foi que ela se acomodou. Estava contente em morar sozinha, estava contente em poder mergulhar no trabalho metade do tempo apenas para fugir da própria realidade, ter alguns passeios escassos com seus amigos franceses, visitar seus pais quando sentia saudades de casa.
E se dar conta disso era frustrante.
Ela passou tanto tempo presa num casamento, pois realmente não vivia como uma mulher casada. Ironicamente, ela era fiel. Nunca teve nenhum amante, nunca pensou em se envolver com outras pessoas e parecia que o seu desejo sexual foi aniquilado nesse tempo que vivia sozinha, fazia mais de seis meses desde que Ronald foi visitá-la, e Hermione teve algumas noites, contudo, ela se sentiu incomodada, imaginou estar transando obrigatoriamente.
Contudo, como chegar no seu marido depois de meses sem vê-lo e dizer que não queria sexo?
Ronald não entenderia e começaria a brigar com ela. Outro motivo, eles não brigavam, Hermione não tinha nada para falar contra ele.
Pegou sua saia preta e uma camisa social branca quando soltou um riso amargo por perceber que não sabia nada sobre Ronald. As únicas coisas que sabia eram situações que aprendeu quando estudavam juntos, quando ele disse que diminuiu sua carga alimentar, ela se surpreendeu, e percebeu que não havia percebido como ele parou de comer tanto. Outra situação foi quando descobriu que ele não bebia mais café e que havia aniquilado metade do açúcar por causa dos jogos.
Eram detalhes que ele não comentava nas cartas, e eram detalhes que ela nem se importou em prestar atenção, pois sempre esquecia fazendo ele repetir a mesma história várias vezes. De alguma forma, Ronald parecia feliz, ele vivia sempre feliz, afirmando que tinha conseguido tudo o que queria e que não havia motivos para ficar preocupado ou irritado. Ele sabia exatamente onde ela estava e as pessoas que conhecia, e amava o fato de seus pais morarem na Austrália, desistindo de vez de voltarem para Londres.
Se ele estava feliz, ela também deveria estar, certo?
Hermione após se vestir, calçou seus saltos e caminhou em direção ao banheiro para arrumar seus cabelos e passar um batom. E mesmo que estivesse agindo de maneira automática quando se movimentava pelo seu quarto sua mente vagava novamente para seu marido e de como diversos franceses achavam incrível o fato de estarem juntos. E de como as pessoas de Londres não se surpreenderam por isso, ela acabar com um dos seus melhores amigos parecia ser o único caminho que poderia traçar.
Naquele momento se lembrou de Harry, fazia dois meses que trocou cartas com ele. Morar em outro país acabou afastando seus amigos e Hermione sentia falta de conversar com Harry, mesmo que às vezes se sentisse triste por ele nunca tê-la visitado, Hermione também engolia aquele sentimento quando percebia que ela também não havia ido nenhuma vez visitar seus amigos. Então, não poderia cobrar nada.
Hermione vivia no piloto automático.
Trabalhar era o seu único foco, o seu único estável.
Teria que pensar em algo para cortar aquela ideia de Ronald querer ser pai. Outra novidade, ela se lembrava que quando era adolescente e que estava sofrendo com o seu coração partido, ela desejava se casar e ter filhos com ele. Não conseguia observar o que a fez mudar de ideia.
Hermione suspirou vendo sua imagem no espelho, ela estava bonita, saiu do banheiro pegando seu blazer e o vestindo, sua bolsa e a pasta em cima da sua mesa, então aparatou. Ela surgiu em frente da Casa de Chá Ladurée, o ponto que usava para chegar na Paris trouxa, e logo observou Draco sentado no banco de madeira em frente ao estabelecimento com um copo de chá em mãos.
O dia amanheceu quente para a França. Mesmo que tivesse que usar agasalhos, ela se acostumou com o frio na maior parte do tempo, mesmo que estivesse na época do verão. Ela observou o terno cinza que Draco usava e só se lembrou que na noite anterior o observou em uma roupa casual pela primeira vez, e conscientemente o achou bonito vestido nelas.
Não demorou para que os olhos azuis acinzentados dele fossem em sua direção a obrigando se aproximar. Desde que soube que teriam que trabalhar juntos, Hermione não sentiu repulsa ou ódio por estar ao lado de um homem que passou sua infância e adolescência a tratando como se fosse um lixo. Sinceramente, ela se deu conta que não se importava como Draco foi para ela no seu passado, o que de alguma forma achou até engraçado quando nunca havia parado para perdoá-lo.
Então, por que se sentia como se já tivesse o perdoado?
Se achou uma pessoa bem evoluída quando parava na sua frente sendo recebida por um sorriso simples e que de alguma forma fez o coração dela acelerar.
— Bom dia.
— Bom dia. — Draco falou pegando ao seu lado uma caixa onde havia um copo. — Eu comprei esse para você, não sabia qual era seu favorito, então comprei o mesmo que o meu.
— Ah! Obrigada. — Hermione agradeceu, ela retirou o copo de caixa de papelão jogando no lixo ao lado do banco. Assim que abriu sentiu o aroma, sorriu. — Uau! Belo chute, chá de hibisco é meu favorito.
— Sério? — ele perguntou surpreso. — Então gostamos do mesmo chá.
Hermione assentiu tomando um gole.
— Vamos trabalhar?
— Por favor, necessito.
Hermione confirmou, sentia aquela necessidade de ocupar sua mente e não se lembrar que Ronald voltaria para casa.
[...]
— O nome dele é Leonard Dubois. — Hermione falou lendo a ficha do seu trabalho do dia. — Ele viu uma manifestação de magia na estação de trem por um grupo de adolescentes. Depois desse ato, ele fugiu e não conseguiram encontrá-lo.
Draco olhou para o portão de ferro do Hospital Psiquiátrico.
— Fugir é uma palavra vaga. — Draco disse rindo. — Aposto que nem deve tá dormindo.
— Também acho. — Hermione murmurou, ela pegou sua varinha abrindo a fechadura do portão. — Temos alguns minutos.
Draco entrou primeiro dentro da propriedade seguido por Hermione que guardou a pasta. Eles seguiram andando por uma estrada de pedra que ficava no meio do jardim que estava com diversas pessoas sentadas em bancos, alguns brigando, outros correndo e alguns conversando.
— Vamos ter que ler o nome no crachá. — Hermione falou olhando para uma garota que passou correndo ao seu lado. — Em dez minutos a gente se encontra aqui novamente.
— Ok!
Draco se separou de Hermione enquanto procurava o homem que se trancou por não conseguir entender o que havia visto em um dia comum da sua vida. Ele não conseguia imaginar como deveria ser difícil achar que estava louco ou ao mesmo tempo que achava ruim o fato de mexer com a mente de alguém. Contudo, era necessário e observando onde estava teve certeza que estaria o ajudando a seguir com a própria vida ao mesmo tempo que protegia o seu mundo.
Draco não demorou para encontrar o homem. Ele tinha mais ou menos sua idade, estava sentado num banco afastado dos outros e encarava um ponto fixamente. Ele olhou ao redor notando que os responsáveis estavam ocupados com uma briga que aconteceu do nada entre dois pacientes, esse foi o tempo que levou para Draco se aproximar e sussurrar:
— Obliviate.
A confusão foi nítida no rosto do homem.
Draco suspirou se afastando, observou Hermione indo em sua direção.
— Quem é você? — um segurança perguntou surgindo atrás de Draco.
— Hum, responsável por um paciente. Já estou indo embora. — respondeu rapidamente andando em direção de Hermione, pegou sua mão a puxando em direção do portão com o segurança o chamando. Assim que passaram pelo portão, ele aparatou.
Draco se assustou quando surgiu no meio de uma rua movimentada, só teve o reflexo de dar passos agitados em direção da calçada puxando Hermione em sua direção, fazendo ela tropeçar na calçada e bater com tudo contra o seu corpo. Draco a segurou pela cintura sentindo seu coração bater forte, girou Hermione para longe da rua movimentada ficando de costas.
E quando percebeu que eles estavam bem desviou seu olhar para ela. Foi quando perdeu o ar de seus pulmões por observá-la com o rosto tão perto do seu. Draco engoliu em seco quando observou seus lábios entreabertos.
— Desculpe. — Hermione disse se afastando para ser empurrada por uma mulher novamente a fazendo bater contra o corpo dele. Ela ouviu a mulher francesa ainda lhe xingar por estar parada no meio de uma rua movimentada.
Contudo, ela ficou ciente do corpo próximo de Draco, as mãos dele em sua cintura mesmo por cima de suas roupas transmitiam um calor que foi difícil não sentir. Não conseguia desviar seus olhos do dele, havia algo que a puxava em sua direção cada segundo que se passava fazendo ela suspirar em antecipação.
Foi apenas segundos que pareceu uma eternidade quando Draco se afastou.
— Bom… — ele olhou ao redor notando as pessoas passando agitadas ao lado dela. Essa falta de atenção fez Hermione arrumar sua postura novamente e voltar a agir normalmente. — Quer adiantar o serviço?
— Claro. — Hermione disse começando a abrir a pasta quando sentiu a mão dele segurar a sua. Levantou seus olhos novamente para os dele sentindo seu coração bater fortemente.
— Vamos almoçar?
— Por mim tudo bem. — Hermione respondeu engolindo em seco.
Não negava que estava confusa com aquelas reações básicas. E por não querer se aprofundar naquele pensamento, ignorou. Mas não poderia mentir para si mesma que por milésimo de segundo desejou que ele a beijasse.
Hermione sorriu para ele confusa enquanto juntos começaram a caminhar pela calçada entrando em um assunto aleatório sobre a comida que queriam. Ela tirou da mente qualquer tipo de sentimento interpretado como uma possível atração, pois ela sabia como funcionava, sentir atração por alguém era algo imediato, era apenas por olhos numa pessoa e sentir aquela sensação de interesse e disposição em querer prolongar as reações físicas do seu corpo.
Contudo, ela achou algo absurdo.
Nunca sentiu atração antes, por que sentiria agora?
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