" Secou mais uma lágrima. Eram memórias.
Todos aqueles sonhos eram lembranças apagadas.
Anos da sua vida foram destruídos, Hermione alisou sua barriga sentindo-se tão quebrada que não conseguia respirar, ouvia o barulho da chuva batendo contra a janela do seu apartamento, ouvia o som do ronco de Ronald que dormia, conseguia perceber o vazio dos cômodos e o silêncio tão intenso que lhe fazia temer soltar algum som denunciando seu pranto intenso mesmo que estivesse sentada no sofá da sala de estar.
Era impossível sentir apenas tristeza, existia também a raiva que queria lhe impulsionar a simplesmente subir aqueles degraus e invadir o quarto onde seu "marido" dormia, e Hermione tinha certeza que não o deixaria falar nada e o sentimento de vê-lo morrer agonizando à sua frente seria intenso e verdadeiro, e por causa disso tentou se apegar apenas o sentimento angustiante da mágoa, assim iria evitar que se tornasse uma assassina, pois realmente tinha coragem de fazer Ronald pagar todo aquele sofrimento com a própria vida, no entanto, quando alisou sua barriga novamente conseguiu se controlar.
Ela tinha um filho.
Ela tinha se casado com Draco.
Ela estava grávida dele novamente.
Estava entrando no terceiro mês, e havia passado um mês sonhando com Draco. E naquele momento só desejava sumir para nunca ser encontrada, precisava saber se Draco também tinha recuperado suas memórias, eles precisavam fugir, em suas lembranças pessoas foram tão cruéis que não duvidava que tivessem capacidade de mexer na sua mente uma quarta vez.
Hermione limpou seu rosto tentando recuperar o fôlego, no entanto, era tão difícil tentar segurar o pranto que fazia seu coração doer. Havia perdido tanto tempo sem eles, sem Draco, sem Scorpius, com o casamento e namoro que não conseguiram manter.
Havia perdido tanto…
Engoliu um soluço, no meio daquela escuridão, Hermione só queria desaparecer.
— Hermione?
Ela tomou um susto, contudo, quando olhou para trás seu coração acelerou ao encontrar Draco com sua varinha empunhada e o feitiço lumus iluminando o cômodo, ele estava completamente molhado, contudo, sua expressão denunciava claramente que Draco também havia se lembrado.
Eram duas pessoas quebradas…
— Vamos embora.
Hermione levantou rapidamente, simplesmente colocou seus calçados e rapidamente se aproximou dele, Draco a puxou em direção da porta sem dizer mais nada. Não precisavam de palavras naquele momento, precisavam ir embora antes que fossem encontrados novamente e tivessem que lutar para manter a própria mente intacta."
Hermione abriu os olhos.
A lembrança estava intacta em seus pensamentos, como ela se sentia tão magoada, decepcionada e triste, como suas lágrimas eram tão dolorosas refletindo seu coração quebrado, contudo, quando sentiu o braço forte de Draco apertar sua cintura, ela conseguiu abrir um sorriso deixando a memória recém descoberta de lado, sentia-se iluminada, era impossível conter o sentimento de felicidade que inundava o seu ser, na realidade, não queria, deveria sim sentir todo o sentimento de felicidade que pudesse ter, ela merecia ser feliz e viver em paz. Eles mereciam.
Hermione sentiu um beijo em seu pescoço, ela fechou os olhos se aconchegando no corpo quente de Draco. Se passasse o resto da vida presa naquelas manhãs seria maravilhoso, ainda mais quando seu corpo nu deslizava pela cama encaixando-se ao de Draco com intensidade, deixando-se sentir todas as coisas boas de viver com alguém que realmente amava.
— Bom dia, minha estrela.
— Bom dia, amor.
Hermione suspirou sentindo-se em paz e recebendo as carícias de Draco, sim, ela poderia realmente viver naquele momento para sempre, contudo, as batidas na porta fizeram com que ela soltasse uma risada. Scorpius ensinou a irmã a bater na porta todas as manhãs e Madeline conseguiu aprender isso em poucos dias, de alguma forma não os culpava, fazia apenas quinze dias que estavam morando naquela casa nova.
Havia passado um mês desde que chegaram, e na mesma semana, Draco decidiu comprar a casa que estava a venda há duas quadras daquelas de seus pais, Hermione aceitou a ideia, eles iriam ter que começar a viver como uma família e ter um lar o mais rápido possível seria o indicado. Ela também encarava tudo aquilo como férias, sabia que em algum momento teria que procurar algo para ganhar dinheiro, mas não estava preocupada com aquilo naquele momento, Draco deu a proposta de viverem uns meses se dedicando apenas aos filhos, Hermione também concordou.
Tinha tantas coisas que não sabia sobre eles, mesmo que diariamente fosse um aprendizado, Hermione tentava não se abalar quando percebia que outras pessoas criaram Scorpius, mesmo que agradecesse Harry e Gina por cuidar dele, não significava que não se sentisse triste por perder seu crescimento, e por mais que ficasse uma parte aliviada por Madeline ter sido criado pelo pai, não conseguia se conformar que Pansy ocupou o lugar de mãe durante seis anos a ponto de Madeline perguntar sobre ela todos os dias e a cada pergunta inocente Hermione queria chorar.
— Papai, mamãe, levanta.
Algo positivo, Scorpius a chamava de mãe com tanta facilidade que Hermione só conseguia sentir um pouco de felicidade.
— Estamos indo. — Draco respondeu, então deu-lhe um beijo antes de buscar o pijama no chão do quarto, após se vestir, ele saiu do cômodo primeiro levantando as duas crianças para a sala de estar, Missy já havia preparado o café da manhã naquela hora.
Hermione sabia que naquele dia teria um final de semana com seus pais, a ideia de passearam em família a fez lhe sentir animada por finalmente criar memórias com seus filhos, memórias com Draco que deveriam ficar intocadas. Ela continuou encarando o teto até seus olhos se fecharem novamente.
" Hermione sorriu ao ver Draco andando confuso entre as prateleiras do mercado trouxa, mesmo tendo que viver entre eles durante aqueles meses, Draco ainda estava confuso sobre como tudo funcionava, o importante era que ele queria realmente aprender a viver na sociedade trouxa. Depois que fugiu de casa, Hermione não pensou em mais nada, só segurou na mão dele e desapareceram, desde então estavam vivendo confortavelmente bem naqueles meses de gestação, sabia que assim que Madeline nascesse teria que se organizar para ir buscar Scorpius.
Eles só estavam pacientes exatamente por causa do seu estado atual, não teria como enfrentar um trio doente grávida, não arriscaria a vida da sua filha, então teria que engolir qualquer rancor que sentia, e tentar viver relativamente bem com Draco, o que não era difícil, talvez o mais complicado fosse lidar com as lembranças, com os momentos apagados, com a realidade que sua vida foi alterada tantas vezes que chegava a ser chocante e sufocante.
Como sua mente ainda estava intacta?
Como não havia enlouquecido?
Como sua mente aguentou tantos feitiços?
Eles eram feitiços fracos ou ela se recusa a esquecer sua história com Draco?
Hermione observou Draco escolhendo algo para beber quando sentiu a primeira pontada que a fez gemer e se segurar numa prateleira. Soube no exato momento que sua bolsa tinha se rompido, Madeline estava chegando.
— Draco?
Ela observou o olhar assustado quando entendeu a situação, para Hermione aconteceu muito rápido, mas com Draco ela chegou ao hospital e as dores faziam sua mente ficar vazia devida a sensação angustiante não durou muito, e então logo o som do choro da sua filha encheu seu coração de amor.
Madeline Granger Malfoy.
Sua primeira filha.
Hermione chorou tanto quando a segurou em seus braços, ela era um presente que não esperava, sentia tanta conexão com aquele pequeno ser humano que só desejava protegê-la. Sim, ela estava feliz.
E ficou ainda mais quando notou que ela tinha puxado os olhos esverdeados de sua mãe e os seus cabelos castanhos, havia vencido a genética Malfoy, aquilo foi motivo de comemoração por sua parte e risos de Draco, ele só sabia mimar a filha enquanto podia, Hermione estava tão contente com aquela nova rotina de criar um bebê que baixou sua guarda.
Então, como um furacão, aquelas três pessoas invadiram sua casa, Hermione não conseguiu lutar enquanto corria com Madeline no colo tentando protegê-las dos feitiços aleatórios, Draco estava duelando contra três pessoas que querendo ou não, eram habilidosas.
Quando Draco foi atingido por Pansy e ficou inconsciente no chão daquela calçada fria, Hermione não conseguiu ir embora, não conseguiu deixá-lo, sabia que deveria, mas a angústia de se separar dele a fez grudar os pés, e com lágrimas nos olhos observou Pansy apagar as memórias do seu marido.
— Então, Granger, vai me entregar essa criança ou vou ter que atingi-la? — Pansy perguntou se aproximando.
— Não se aproxime.
— Eu juro que irei criá-la do jeito Parkinson, não se preocupe com isso, ela viverá perto do Draco, mas você não, então, vai se entregar ou quer que eu a mate?
Hermione chegou a duvidar se Pansy teria coragem, contudo, ela olhou para Narcisa e Ronald, eles estavam bem dispostos e algo dentro de si fez ter certeza que um deles teria coragem de realizar aquela ameaça. E ela até tentou pensar num plano, poderia entregar e duelar, mas não adiantaria no final ficaria sem as duas pessoas que amava.
— Não se preocupe, querida, iremos para a França. — a voz de Ronald a pegou desprevenida quando sua mente era dominada pela escuridão."
— Você está com uma expressão tristonha para alguém que deveria estar se divertindo. — Mônica disse sentando-se ao lado da filha em um dos estabelecimentos que tinha no parque de diversões.
Hermione observava ao longe Draco brincando com Scorpius e Madeline, sabia que deveria está participando naquele momento especial e único, contudo, aquele cochilo trouxe mais uma lembrança tão dolorosa que destruiu todo o seu bom humor e fez com que a tristeza marcasse mais presença dentro do seu coração.
— Eu lembrei de quando levaram a Madeline. — Hermione respondeu deslizando seu dedo pela mesa de plástico. — É doloroso se lembrar disso mãe, de como tiraram meu direito de ser mãe, de como tiraram de mim o homem que eu amo, e por quê? Por puro egoísmo?
Ela engoliu em seco segurando as lágrimas, sabia que Draco tinha percebido que não estava bem, e os olhares dele em sua direção era nítido perceber a preocupação, Draco sabia que havia acontecido algo, contudo, naquele momento estava se dedicando aos filhos e Hermione o agradecia por proporção alegrias para eles dois.
Mônica segurou a mão de sua filha, ela olhou para o marido indicando Draco com a cabeça, Wendell pareceu entender, mudou sua rota em direção de Draco deixando elas duas sozinhas.
— Querida, eu afirmo que não sei como se sente, desde do momento que recebemos aquela carta admito que sempre me preocupei com você vivendo em um mundo que eu não conhecia completamente, passou por tantas coisas desde de sua infância, lutou ao lado do seu melhor amigo contra um homem perigoso, teve que apagar as memórias do seus pais para que pudesse seguir seu caminho sabendo que estaríamos seguros. — Mônica falou firmemente. — E então descobriu que dez anos da sua vida foi perseguida por pessoas horríveis, que teve sua vida alterada e sua mente apagava tantas vezes que perdeu o sentido lutarem tanto para mantê-la longe do Draco. Eu entendo que ainda esteja sofrendo com essas lembranças, eu entendo que seja horrível saber que perdeu anos da vida do seus filhos que não serão recuperados…
— Exatamente! — Hermione interrompeu deixando suas lágrimas descerem. — Eu perdi tudo, não acompanhei nada, a primeira vez que falaram, a primeira vez que andaram, a primeira vez que aprontaram, eu perdi tudo mãe, tudo. Não me restou nada…
— Restou sim, Hermione! — Mônica disse firme enxugando as lágrimas do rosto da filha. — Olhe para mim, eu sei que é doloroso lidar com tudo isso, eu sei que é triste e angustiante saber que sua mente foi invadida incontáveis vezes, mas tem algo tão incrível que você não percebeu, meu bem.
— O que seria, mãe? — Hermione engoliu um soluço.
— Vocês sempre se reencontraram.
Hermione parou de chorar encarando sua mãe em choque com aquela frase.
— Hermione, cinco vezes, vocês tiveram suas memórias apagadas cinco vezes, se fosse uma situação normal, o que teria acontecido ter a mente mexida tantas vezes?
— A pessoa ficaria com sequelas ou enlouqueceria.
— Acha mesmo que foram só feitiços fracos que fizeram vocês voltarem a se lembrar?
Hermione deu de ombros.
— Talvez, eles usaram dois feitiços conosco, não sei quais foram úteis ou se a junção foi boa.
— E todas as vezes que se vocês se encontravam, o que acontecia?
— A gente ficava, cada vez foi mais rápido, a última a gente ficou no mesmo dia que se encontrou. — Hermione explicou quando se lembrava de todas as vezes que ela se encontrava com Draco.
— Oh, meu bem! Vocês se amam tanto que se apaixonaram novamente, novamente e novamente, o sentimento nunca foi esquecido, por mais que sua mente fosse apagada, seu coração sabia a quem pertencia, e vocês lutaram?
— Sim, todas as vezes.
— Duvidou daquelas memórias em algum momento?
— Não, nenhuma vez.
— O que você fez?
— Eu fiquei com ele.
— O amor de vocês foi testado cinco vezes, Hermione. Esqueça as memórias ruins, foque apenas no detalhe que em nenhum momento vocês duvidaram, em nenhum momento achou que o fato de terem uma história foi algo ruim, vocês confiaram em todo aquele sentimento e lutaram todas as vezes para ficarem juntos.
Hermione olhou para Draco que estava lhe observando de longe enquanto seu pai também brincava com os netos. A expressão dele era de preocupação, tentava entender o que estava acontecendo com ela, mas mesmo assim sorria para Scorpius quando dizia e mostrava um brinquedo para ele.
— Isso é tão romântico. — Mônica suspirou ao seu lado.
Hermione olhou para a mãe confusa.
— Romântico?
— Sim, querida. Nenhum feitiço foi capaz de apagar o amor de vocês.
Hermione sorriu para Draco sabendo que sua mãe tinha razão, ela limpou seu rosto, tinha que manter sua mente no fato de que ela estava com ele, haviam vencido, poderiam passar o resto da vida vivendo em paz, no final, eles conseguiram.
Ela se levantou, sua mãe soltou uma risada quando saiu correndo pelo parque desviando das pessoas, Hermione não deu espaço para que Draco perguntasse nada, apenas se jogou nos braços dele beijando-o.
Draco sorriu quando seus lábios se separaram, ele alisou seu rosto delicadamente, observou seus olhos e todos os detalhes de sua face tentando encontrar algo que pudesse lhe dizer o que estava errado.
— Você está bem?
— Sim, amor. Eu estou bem.
— Tem certeza?
— Sim, eu quero criar novas memórias, não precisamos sofrer mais com o passado.
Draco sorriu a abraçando pela cintura.
— Bom, tenho uma memória que eu quero recriar.
Hermione olhou para ele curiosa.
— Aceita se casar comigo, Hermione Granger?
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