Me balanço para frente e para trás repetidamente.
Tenho medo de estar parecendo louca, mas a essa altura não consigo dizer que não sou.
Repito o movimento junto com os pensamentos repetidos.
"Você está louca"
"Você está louca"
"Você está louca"
"Não pode comer"
"Não pode comer"
"Não pode comer"
Sufoco um grito.
Arranho meus braços enquanto grossas lágrimas dançam pelo meu rosto.
Poéticas elas, não?
Olho para o lado e vejo minha irmã dormindo sem sentir o cheiro de desespero que cobre o quarto todo.
Como ninguém vê?
Como ninguém sente?
Não posso comer!
Eu quero comer!
Eu quero?
Não quero!!!
Não posso.
Posso?
Não.
Me arranho mais um pouco, sentindo minha pele arder enquanto o vento que vinha do ventilador parecia causar alívio.
Distração.
Distração.
Distração.
Eu preciso me distrair, eu não vou contar as calorias.
Laxante.
Tomei três de uma vez, será que vai fazer efeito?
Por favor, tirem essa impureza de mim.
Esse monte de gordura, essa banha horrorosa, eu não quero, não quero!
Por favor, Deus.
Onde eu estou?
Onde Você está?
Me perdoa, Deus!
Por que faço isso com meu corpo?
Por que eu preciso fazer isso?
Por que eu não posso ser magra?
Eu quero ser!
Preciso ser.
É.
Preciso.
Preciso.
Preciso.
Por quê?
Não sei, mas preciso.
É vital pra mim, como necessito respirar.
Se não sou magra, o que eu sou?
O que resta?
Não.
Amanhã não vou comer, só por causa da minha ousadia em questionar tudo isso.
Não tem o que questionar, estou fazendo o que é melhor pra mim.
Preciso me punir.
Preciso me punir.
Preciso me punir.
Eu não estou com fome, não estou!
A fome é psicológica, foi o que ouvi falar.
É verdade!
Eu posso ficar até quarenta e oito dias sem comer, eu ouvi falar isso também.
Eu gostei de quase ter desmaiado hoje, quer dizer que estou no caminho certo, mas...
Já faz tanto tempo que estou andando; andando não, correndo.
Eu corro e corro, mas não chego a lugar nenhum.
Não tem linha de chegada?
Quando vai ser bom o bastante?
Ainda não é bom o bastante!
Preciso de mais.
Muito mais.
Preciso ver meus ossos.
Preciso ter certeza que estou pura, sem essa gordura toda.
Balanço a cabeça repetidamente enquanto peço para que pare.
"Só para!"
"Só para!"
"Só para!"
Parar o quê?
Me questiono, e então as lágrimas voltam ao espetáculo, me fazendo sentir desespero.
Não tenho respostas!
Passo as mãos pelos cabelos.
Arranco fios.
De novo.
De novo.
De novo.
Nunca chego.
Nunca chego.
Nunca chego!
Não importa o quanto eu corro, nunca está bom o suficiente.
Eu nunca chego.
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