“... É foda ser tachado de doido
Vagabundo mas, como tudo deve ser
Foi quando te encontrei
Ouvindo o som e olhando o mar...”
Eu gritava enquanto rasgava minhas roupas. Os meninos a minha volta me olhavam de boca aberta e confusos.
-oque vocês querem de mim???!!! OQUE QUEREM DE MIM?!!!!
Me joguei no chão sentindo uma dor intensa na cabeça e escutando um zunindo muito alto. Parecia mesmo que minha cabeça iria explodir a qualquer momento.
Todos os garotos olhavam uns para os outros sem saber oque fazer.
Tampava meus ouvidos na tentativa de não ouvir aquele barulho que parecia aumentar a cada segundo. Eu gritei para parar com o barulho e sentia que minha garganta ardia de tanto gritar, mas eu nem mesmo escutava minha voz.
Eu estava desesperada, em pânico. Eu chorava em meio aos gritos. Mas me senti cansada, meu corpo estava esgotado. Abaixei a cabeça até encostar no gramado e assim aquele barulho cessou.
Quando tirei as mãos dos ouvidos elas estavam sujas de sangue. Então me dei conta que estava surda e uma voz surgi-o em minha cabeça.
“-entre no labirinto Jessi.” “cruel é bom Jessi.” “você é só mais uma variável dos testes.” “temos planos para você.” “deixe que eles achem que você está louca.”
Em meio a cada frase eu sussurrava “Pare” , “cale a boca” , “saia da minha cabeça”. “Pare por favor, pare”.
Newt finalmente apareceu a minha frente, ele estava com olhos cheio de lagrimas. Senti que ele mexeu em meu cabelo e deve ter visto o sangue em minhas orelhas. Depois ele repousou a cabeça na minha e segurou minha mão. Nossa respiração se misturava. De alguma forma aquilo me acalmou. Ele se deitou ainda com a cabeça encostada na minha e ele fazia um carinho nos meus cabelos.
Depois de um tempo senti meus ouvidos desentupir e voltei a ouvir, mesmo que pouco. Abri os olhos e vi que dos olhos deles escorriam umas lágrimas.
-Newt.
Ele abriu os olhos, estava com o centro franzido. De alguma forma eu focalizava cada pedacinho dele. Newt era bonito, gentil, se preocupava com todos e era meu melhor amigo. Era a pessoa que mais amava. Sim eu o amava.
Pensar nisso fez meus olhos se encher de lagrimas novamente, mas era diferente, eu estava chorando porque eu o amava e não podia viver com ele de uma forma.. Normal.
Ele pegou um lenço e limpo meu rosto, depois limpou o sangue que escorria dos meus ouvidos.
-oque aconteceu Jessi? _Newt.
-eu não... Não sei. Eu, eu ouvia uma barulho muito alto e acho que... Que machucou meu ouvido.
-eu só ouvia seus gritos. Você estava desesperada.
-mas foi real!
-eu acredito. Por isso saio sangue não é? Você me deixou muito preocupado.
-desculpe... Acho que... Eu surtei. Eu queria entender porque essas coisas acontecem. Por que ele se matou?
-não sabemos. Gally o encontrou assim.
-por que? Ele não estava preso? Por que ele ainda estava aqui?
-Alby disse que seria sua decisão se ele seria ou não banido. De alguma forma ele consegui-o escapar do amansador.
Eu me sentia tão esgotada que nem consegui raciocinar direito. Era muita coisa que se passava na minha cabeça e eu não conseguia juntar as peças. Tanta coisa e eu não sabia oque fazer.
-quer se levantar? Eu te levo pra enfermaria. _Newt.
-você fica comigo?
-sim. Vamos?
Ele se levanta e me ajuda a levantar. Alguns garotos ainda estavam por perto e observava a cena. Eu estava envergonhada pelo modo que agi.
Na enfermaria Jeff fez alguns exames rápido e logo nos deixou sozinhos. Eu me deitei na cama sentindo meus olhos pesados e adormeci.
Acordei já era noitinha e Newt ainda estava ali sentado e parecia muito desconfortável na cadeira de madeira.
-desse jeito não vai aguentar trabalhar amanhã.
-ainda bem que só volto a trabalhar quando você estiver bem. _Newt.
-ordens do Alby?
-sim madame. Esta melhor?
-eu não sei. Fico me perguntando se eu devia mesmo estar aqui, as vezes Gally tem razão e...
-não quero ouvir você dizer isso nunca mais.
Ele falou em um tom muito serio e grosso, como nunca falou comigo. Quando abro a boca para responder mas a porta abre e Jeff entra com um olhar serio. Isso tudo tem me irritado muito! Logo atrás dele vem Alby.
-Jessi que bom que acordou, tenho que conversar com você. .. _Jeff.
-Newt você pode ir jantar e trazer algo pra ela comer? Depois eu falo com você. _Alby.
-hum, esta bem.
Sim isso realmente me irrita. Antes de sair Newt volta olhar para mim com um riso tímido e com um olhar de preocupação. Quando ele sai fechando aporta a atrás de si Jeff começa a falar e eu me sento para prestar mais atenção.
-Jessi eu conversei com Alby sobre os acontecimentos, bem acreditamos que seu emocional esteja abalado. Eu fiz algumas comparações com suas emoções e reações, com oque dizia no último livro que chegou.
Ele faz um pausa e um silêncio paira. Percebo que ele tem algo ruim para falar e não sabe como, Alby também parece não gostar do rumo da conversa.
-fala logo Jeff, você acha que sou louca e que tenho que tomar remédios é isso?
-de loucura todos temos um pouco. _Alby ri amarelo.
-borderlaine Jessi. Desde que chegou você se irrita com facilidade, é agressiva e teve 3 surtos psicóticos em um mês e pouco. Você tem um pouco mais de dificuldade em controlar suas emoções que o normal. _Jeff
-então eu sou louca?
-você vai ficar bem. Mas vai tomar alguns remédios, setralina e acido valproico.
-só isso? E... E esses remédios vai fazer?
-vai te ajudar a controlar seu humor e emoções. _Alby_ tome dois comprimidos ao dia.
-de cada. -Jeff.
Eu sorrio olhando para as caixinhas de remédios que ele me entrega.
-então Gally esta errado sobre mim?
-vamos descobrir isso. _Alby_ você é forte Jessi, vai superar isso. Vou falar com Newt, boa noite.
-Alby, Jeff. Obrigada!
Eles sorriram e saíram. Aproveito para tomar os benditos remédios. .. Seja oque Deus quiser.
Minutos depois Newt aparece com uma vasilha de comida, no momento que sinto o cheiro da comida um dragão toma conta do meu estomago. Fiquei o dia todo sem comer! Devoro a comida sem me importar com as gargalhadas de Newt ao me ver comendo como um ogro.
-para seu trolho! _falo de boca cheia e enfiando mais. _não tem graça.
-será que todas as meninas come igual a você? Pensei que vocês fossem mais delicadas. _Newt.
-é a má convivência com um bando de garotos que come assim.
-eu não!
-verdade, você come como uma menininha!
-hahahhahaha você esta cuspindo arroz em mim!
-aaaiii nojento!
-nunca te ensinaram a não falar de boca cheia?
-na verdade não! Nunca te ensinaram a não reparar nos outros? Porque isso é feio.
-na verdade não. _ele fala me imitando e rindo tímido.
***
Fiquei deitada um tempão tentando dormir, já que havia dormido o dia todo estava sem sono algum. Mas Newt estava adormecido na cadeira, todo torto. Ele passou o dia ao meu lado.
Como não conseguia dormir me levantei e sai da enfermaria, fiquei ali fora sentada olhando as estrelas. Isso sempre me trazia um pouco de paz. A clareira em silêncio com todos dormindo, luz apenas do luar, os barulhos dos grilos e gafanhotos. Claro que as vezes o barulho que vinha do labirinto atrapalhava um pouco, mas tudo era harmonioso.
-não consegue dormir? _Alby.
-dormi o dia todo, estou sem sono nem um. E você?
-não conseguia dormir e vi você aqui.
Ele se senta ao meu lado e paira um silêncio. Com isso algumas coisas começa a passar em minha cabeça, meus últimos sonhos, a voz em minha cabeça. .. Aquilo não era normal.
-Alby, eu preciso te contar uma coisa... Mas não sei exatamente como. Quer dizer eu não sei oque é isso.
-pode tentar falar e eu tento entender. _Alby.
-tá, é.... A poucos dias eu tive um sonho... Bem diferente. Tinha uma mulher, uma mulher que eu obviamente não sei quem era. Ela me contava uma coisa que não faz sentido nem um, parecia que era uma amiga me revelando um segredo. Acho que isso não era importante mas... Como eu posso sonhar com alguém que não conheço? Talvez eu a conheço mas se nossas memórias foram tiradas... Eu não entendo.
-isso é estranho mesmo. Ela não citou nomes ou alguma coisa que você reconheça?
-não. Nada! Depois disso aquela pessoa desfigurada dos sonhos anteriores falava...”Cruel é bom”. Isso significa alguma coisa? No meu sonho tinha essa sigla na parede, mas não faz sentido pra mim.
-como essa sigla estava escrita?
-assim.
Então eu desenhei com um graveto na terra, “C.R.U.E.L”.
-isso... Isso vem escrito em algumas caixas com alimentos. Acredito que seja o logotipo de quem nos colocou aqui. Você já viu isso antes? _eu nego com a cabeça. _então nada faz sentido mesmo. Não sei porque você sonha com isso, talvez seja memorias de sua vida antes de vir... Mas eles nunca deixam memorias a ninguém...
-tudo parece ser diferente pra mim. Eu fui a única que demorei uma semana pra lembrar o nome, a única que venci Gally, a única assa...
-para. Não fique se jugando assim. Você não é uma pessoa ruim Jessi.
-como sabe?
-porque Newt sabe. Ele te ama e ele sempre esta certo sobre as coisas. Eu acredito nele e ele em você.
-ele te disse isso?
-que acredita em você? Disse varias vezes!
-não. Que ... Que me ama...
-ah. -ele sorri tímido_ olha eu vou deitar porque já estou falando de mais.
-não vai me responder?
-não preciso. Boa noite.
Ele então me deixa sozinha com meus pensamentos... Pensamentos em Newt.
Quando desisti de esperar o sono vir voltei para cama na enfermaria. Newt ainda dormia torto na cadeira. Sem querer comecei a sorrir vendo ele daquele jeito. Eu nunca vi um anjo, mas ele aparenta um. Um rosto tão sereno, bonito, amável... Amável. .. Deixo meus pensamentos de lado e acabo me inclinando e beijando a bochecha dele. Assim ele abre os olhos se espreguiçando e sinto meu rosto queimar de vergonha, mas ele parece não se incomodar
-ainda não dormiu? _Newt.
-deite na cama Newt, vai ficar com dor no corpo todo.
-não mesmo! Não se preocupe comigo...
-deita na cama Newt!
Ele me olha com o centro franzido, nós dois somos teimosos mas sempre só um pode vencer.
-não! _Newt.
-por que não? Eu já dormi o dia todo não estou com sono mesmo.
-mas você tem que ficar deitada...
-então deita comigo.
Quando as palavras saem da minha boca sem pensar, acabo sentindo meu coração palpitar.
Meu deus, eu acabei de chamar ele pra deitar comigo? Isso.... Ele pode pensar mal e....
-tá. _ele fala desviando o olhar do meu, vejo que seu rosto esta vermelho.
Andamos e nos deitamos ao que pareceu em câmera lenta e no automático . Estávamos deitados um de frente pro outro mas estava apertado já que a cama é pequena. Eu não conseguia olhar nos olhos dele e sentia que precisava fazer alguma coisa. Então eu suspirei... E me virei.
Engoli seco. Meus olhos olhavam para todos os cantos. Eu estava muito nervosa. Não sabia se me arrependia de ter chamado ele pra cá ou se me contentava com isso.
Então senti ele se mexer e se encaixar ao meu corpo. Seu braço repousou sobre meu corpo, eu respirava devagar e sentia cada segundo do seu toque. Puxei meu cabelo pra cima pra não incomodar o rosto dele, assim senti sua respiração em minha nuca me fazendo arrepiar.
Aquilo era uma sensação nova para mim. E muito boa. Me permiti sorrir e aproveitar essas sensações.
***
Eu ainda não sei dizer se tudo esta normal, na verdade tenho medo de dizer isso e acontecer algo ruim novamente. Mas algumas coisas novas começou a fazer parte de minha rotina, coisas como rezar, tomar remédios e dormir com Newt quando dava.
Nós nunca falamos sobre isso apenas deitávamos juntos como se já tivéssemos dado essa liberdade um para o outro. Talvez seja isso mesmo, afinal, ele é a pessoa que mais confia em mim e a pessoa em quem eu mais confio.
***
Um mês e dezenove dias na clareira.
Acho que aquela voz que disse que era para deixa todos acreditar que eu sou louca, queria mesmo que isso acontecesse.
Naquele dia eu estava me sentindo meio vazia e inútil. Não tinha nada para fazer como socorrista e nada pra fazer na clareira toda. Nada em que podia ajudar. E isso fez com que pensamentos ruins invadisse minha mente.
Eu já estava um pouco chateada com Newt porque ele tinha me ignorado o dia todo. Talvez seja minha TPM. Mas eu estava me sentindo um lixo!
Bem quando agente acha que um lixo é melhor que agente. Porque um lixo não fica reclamando com ninguém. Sim eu estava péssima aquele dia!
Tinha tomado meus remédios certinho e percebi uma melhora mas... Não aquele dia... Não hoje.
E quando chegou a noite, minhas emoções tomaram conta de mim... De minhas atitudes.
Ninguém sabia oque era aquilo. Um tipo de aviãozinho voava na clareira e nele tinha alguma coisa pendurada. Todos ficaram olhando aquilo sem entender ou admirados por ser a primeira vez que vimos algo assim. Apesar de sabermos que era parte de quem nos colocou ali.
Em certo momento aquele aviãozinho deixou algo em cima dos muros e se foi.
-mas que plong é aquilo?
-oque será que deixou lá?
-eles não acha que alguém vai subir lá né?
-teve um cara que subiu uma vez e espatifou no chão quando caiu.
-se é loko!
Os garotos falavam e falavam. E aquilo me intrigava.
Mas em um momento algo surgiu dentro de mim. Oque aquele aviãozinho deixou lá começou a se mexer. Ele se levantou e todos perceberão que era um...
-um cachorro???
-mas que mertilha! Por que eles colocariam um cachorro lá em cima?
Eu comecei a andar e Minho se aproximou dizendo coisas que eu não escutava. Só tentava decifrar aquilo... Tentava entender meu sentidos.
E de repente algo surgiu em minha mente. Um cachorro.
-Susi.
-oque? _Minho.
A adrenalina corre pelo meu corpo, sinto um impulso no meu corpo.... E corro em direção ao muro. Minho grita e tenta me impedir, mas sinto uma necessidade de pegar aquele animal indefeso. Chuto suas partes baixas dando tempo suficiente para eu alcançar os muros e escalar pelas eras e cipós que cercam grande parte do muro.
Por anos elas foram nascendo e se entrelaçando o suficiente para que possa se escalar. Me agarro e começo a escalar o muro. Em certo ponto escuto Alby gritar e Newt se desesperar.
Ele estava em choque, ele chorava enquanto gritava. Sabia que muitos deles já estavam achando que minha loucura podia me levar a morte. Mas eu precisava salvar aquele cachorro.
Senti as eras serem puxadas pra baixo. Gally subia. Subia muito rápido e seu olhar me dizia que ele não tinha intenção de me ajudar.
-ou você desse por livre e espontânea vontade ou eu vou te puxar a força. _Gally gritou.
-acho que tenho uma vantagem Gally.
-qual?
-eu estou em cima!
Então volto a me concentrar no muro, estava já pra a cima da metade quando escutei Gally caindo. Isso me apavorou, sabia que ele tinha se machucado pois gritava de dor. Devia ter quebrado alguma coisa pelos seus gritos.
Eu respirei fundo varias vezes e continuei.
Quando cheguei lá em cima o cachorro correu pro lado oposto de mim, havia espaço suficiente para correr envolta dele. Antes disso eu olhei pra baixo, Newt estava com as mãos na cabeça em sinal de preocupação. Isso me fez sorrir e eu corri.
Em certo momento o cachorro parou e se arrepiou, eu não entendi o porque. Talvez ele estivesse com medo de mim. Já tínhamos corrido vários metros e senti minha respiração ofegante.
O espaço era de um metro. Um metro que dividia a clareira do labirinto. Do lado da clareira vi que já estava no rumo da floresta e então ouvi um barulho... Um barulho de metal batendo e arrastando contra a parede.
Foram segundos... Olhei para o cachorro que parecia estar pronto para atacar... Olhei para o labirinto.... E uma espécie de calda de metal me atacou.... Na tentativa de desviar cai do muro.
Cai certa de dois metros e me agarrei em um cipó. Senti meu pulso deslocar com o impacto e minhas mãos queimar a medida que escorregava. A baixo escutei todos gritando.
Meus olhos se encheu de lágrimas pela dor, mas não iria desistir. Voltei a escalar usando uma mão e os pés. Demorei muito mais que antes. Quando cheguei na beira do muro não ouvi o barulho de metal. Olhei para dentro do labirinto e não via nada. Me levantei e vi que o cachorro voltou a correr, logo os barulhos de metal voltarão a ecoar.
-CORRE JESSI!!! _Newt.
Olhei para baixo e um bicho escalava muito rápido. Eu apenas corri.
Meus olhos vacilavam entre o cachorro a frente, o bicho no labirinto e a clareira. O lago estava próximo, seria minha queda estratégia.
Os barulhos ficavam cada vez mais altos e me faziam correr mais rápido, talvez pelo desespero ou era adrenalina.
Finalmente eu alcancei o cachorro que mesmo correndo o peguei e segurei entre meus braços.
O bicho se aproximava a medida que chegava ao rumo do lago.
Tomei um ultimo fôlego no momento que vi um calda de metal surgir...3segundos de coragem... E me joguei.
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