25 de agosto de 1994
Copa Mundial de Quadribol
18:37
A animação no ar aumentou de forma tão grande que era quase possivel sentir a tensão que tomava os acampamentos a cada minuto que se passava. Na hora do pôr do sol, o próprio ar de verão parecia estar vibrando de animação, e quando a noite finalmente chegou, o fingimento acabou.
O Ministério pareceu se render ao inevitável e parou de combater os sinais de magia que agora era executada por toda parte.
Vendedores ambulantes aparatavam a cada metro, trazendo bandejas e empurrando carrinhos cheios de mercadorias. Tinha bottoms luminosos (verdes para a Irlanda, vermelhas para a Bulgária) que gritavam os nomes dos jogadores, chapéus verdes cônicos enfeitados com trevos dançantes, echarpes búlgaras com leões bordados que rugiam de verdade, bandeiras dos dois países que tocavam os hinos nacionais quando eram sacudidas, e figurinhas colecionáveis dos jogadores famosos.
– Meu dinheiro nunca foi tão bem gasto... – Cedric cutucou Eleanor com o cotovelo, sorrindo animado. Usava em sua cabeça um chapéu verde e branco e também comprou duas echarpes com as cores da Irlanda; uma para ele e uma para Eleanor, que optou por comprar um enorme bottom declarando sua torcida para a Irlanda.
– Olha! – Eleanor apontou quando eles passaram por um vendedor empurrando um carrinho de coisas que pareciam enormes binóculos, só que cheios de botões.
– Onióculos – O vendedor exclamou. – Você pode rever o lance, passar ele em câmara lenta e ver uma retrospectiva lance a lance, se precisar... uma pechincha, dez galeões cada um.
– Isso é pechincha? – Cedric franziu a testa, assustado com o preço.
– Vou querer três. – Eleanor tirou do bolso a pequena bolsa que carregava seu dinheiro.
– Três? – Cedric a impediu com uma das mãos.
– Sim, oras. Não acha que seu pai iria gostar de um desses? – Ela deu de ombros e entregou o dinheiro para o vendedor. – 30 galeões, sim?
– Isso, senhorita! – Os olhos do vendedor brilharam. – Mas, para a madame, faço por... 25 galeões. O que acha?
– Perfeito. – Ela sorriu e recebeu os três onióculos, entregando um para Cedric.
–... me lembre de te dar um presente caro no Natal. – Ele sorriu, envergonhado.
– Não vou lembrar. – Eleanor riu, e eles continuaram andando até se juntarem ao Sr. Diggory, que conversava com um homem que Eleanor não viu antes.
Usava vestes de Quadribol com listras horizontais amarelas e pretas. Era um homem corpulento e seu nariz era achatado, mas os enormes olhos azuis, os cabelos loiros curtos e a pele rosada o faziam parecer uma versão mais velha da maioria dos meninos com os quais Eleanor estudou no mundo trouxa.
– Aí estão vocês! Ludo, conheça meu filho, Cedric... – Amos puxou Cedric pelo ombro, afobado. – E esta é a amiga dele, Eleanor.
– Prazer em conhecê-lo, Sr. Bagman. – Cedric o cumprimentou, educado. Eleanor ainda se surpreendia com o tanto que ele era educado, mesmo depois de o conhecer por quatro anos.
– Bagman era batedor do Vespas de Wimbourne e foi batedor da Seleção Inglesa de Quadribol! – Amos explicou, sabendo que Eleanor não o conhecia e evitando que ela passasse vergonha.
– Impressionante! – Eleanor sorriu para ele. – É um prazer conhecê-lo.
– Conseguimos os ingressos graças ao Bagman! Devo lhe agradecer de novo, inclusive... – Amos disse, bem humorado.
– Não foi nada, nada mesmo! – Bagman riu, carismático. Ele lembrou á Eleanor do Professor Gilderoy Lockeheart, do segundo ano. – Inclusive, vim aqui para acompanhá-los até o camarote! Vou comentar o jogo, sabem... – Ele mexeu nas próprias vestes, uma certa soberba exalando.
Antes que Amos pudesse responder, eles ouviram um gongo, grave e ensurdecedor, bater em algum lugar além da floresta e, na mesma hora, lanternas verdes e vermelhas se acenderam entre as árvores, iluminando o caminho até o campo.
– Está na hora! – Bagman riu alto e pegou Cedric e Amos pelos ombros, os levando em direção ao caminho que todos os outros seguiam. – Menina, venha!
Todos corriam para a floresta seguindo o caminho iluminado pelas lanternas. Eleanor ouvia a algazarra de milhares de pessoas que se movimentavam à volta deles, gritos, gargalhadas e trechos de canções. A atmosfera de excitação era contagiosa; nem ela, nem Cedric, ela reparou, conseguiam parar de sorrir.
Caminharam pela floresta durante vinte minutos, conversando e brincando em voz alta com Amos e Bagman até que finalmente saíram do outro lado e se viram à sombra de um gigantesco estádio.
– Uau. – Eleanor se deixou ficar boquiaberta ao ver o tamanho do estádio. Não era boa com números, muito menos podia dizer exatamente o tamanho do lugar, mas tinha certeza de que caberiam dois castelos de Hogwarts ali dentro.
– Cabem 100 mil pessoas. – Amos observou. – Há feitiços antitrouxas em cada centímetro. Todas as vezes que os trouxas se aproximam da área, eles se lembram de compromissos urgentes e precisam sair correndo… – Explicou, caminhando até o portão mais próximo, que já estava cercado por uma multidão de bruxos e bruxas aos gritos.
– Lugares de primeira! – A bruxa do Ministério exclamou ao analisar os bilhetes deles, e Eleanor reparou que ela corou quando Bagman lhe lançou uma piscadela. – É só subirem para o andar mais alto... – Ela sussurrou, timidamente.
As escadas de acesso ao estádio foram forradas com tapetes de cor púrpura berrante. Subiram por uma escada mais reservada, que Bagman disse ser "apenas para pessoas importantes como ele" mas Eleanor viu que era apenas a escada de funcionários. O grupo continuou subindo e finalmente chegaram ao topo da escada, onde havia um pequeno camarote, armado no ponto mais alto do estádio e posicionado exatamente entre as duas balizas de ouro.
Umas vinte cadeiras douradas e púrpura tinham sido distribuídas em duas fileiras, e Eleanor ao andar em direção á primeira fileira para se fazer confortável, se assustou com a visão á sua frente, ficando mais uma vez boquiaberta.
Cem mil bruxos iam ocupando os lugares que se encontravam em vários níveis ao redor do longo campo oval. Tudo estava banhado por uma claridade dourada que parecia irradiar do próprio céu, mesmo estando de noite. Ali do alto, o campo parecia feito de veludo.
De cada lado havia três aros de gol, a quinze metros de altura, do lado oposto ao que estavam, e quase ao nível dos olhos do camarote, havia um gigantesco quadro-negro.
Palavras douradas corriam pelo quadro sem parar como se uma gigantesca mão invisível as escrevesse e em seguida as apagasse. Eleanor logo percebeu que eram anúncios.
Ela só desgrudou os olhos do quadro quando escutou uma comoção ao seu lado: os Weasley tinham entrado no camarote, junto de mais 3 meninos. Eleanor reconheceu um deles: Percy Weasley, era um dos monitores no ano passado e tinha se formado. Percy usava um terno e seus óculos repousavam na ponta de seu nariz. Mas não reconheceu os outros dois.
Ambos tinham o mesmo cabelo ruivo que fazia tão fácil de reconhecê-los como um dos Weasleys, um deles tinha o mesmo físico dos gêmeos, mais baixo e mais forte do que Percy e Ron, que eram compridos e magros. Seu rosto era mais largo e era mais bem-humorado do que Percy, porém tinha uma barba cheia e o rosto tão sardento que quase parecia bronzeado; os braços eram musculosos e em um deles havia uma grande e reluzente marca de queimadura.
O outro rapaz era, de longe, o cara mais descolado que Eleanor já tinha visto na vida. Alto, os cabelos compridos presos em um rabo de cavalo, usava um brinco de argola com um dente afiado pendurado, e suas roupas não estariam deslocadas em um concerto de rock.
Ela, então, se levantou e se sentou em um assento mais no canto para que todos pudessem se sentar naquela fileira.
Cedric ainda não havia se sentado, estava apoiado na grade olhando em volta do estádio. Eleanor não podia ver seu rosto, mas sabia que ele tinha um brilho enorme nos olhos que só acontecia quando ele via algum jogo de quadribol. Tinha certeza de que, depois de que se formasse, se tornaria um ótimo jogador profissional de quadribol. Afinal, era o sonho dele.
– Tem alguém sentado aqui? – George perguntou, apontando para a cadeira vazia ao lado de Eleanor.
– Acho que o Cedric ia sentar aqui mas pode sen... – Antes que ela pudesse responder, Gina se colocou no meio deles e se sentou na cadeira pra qual o irmão apontava.
– Estão torcendo pra Irlanda também? – Ela apontou pro chapéu verde em sua própria cabeça, sorridente. George deu de ombros e se sentou ao lado de Gina.
– Eu e Ced, sim, mas o Sr. Diggory está torcendo pela Bulgária... – Apontou para Amos, que conversava com o Sr. Weasley enquanto usava uma echarpe vermelha e preta.
– Ron também está, não para de falar do Krum... – Gina riu. – É um onióculos? – Apontou para o objeto nas mãos de Eleanor.
– Acho que é esse o nome... – Eleanor franziu a testa para suas mãos. – Não sei como vou usar... com todos esses botões.
– Posso ver se consigo? – A ruiva estendeu as mãos, e Eleanor a entregou, dando de ombros. – Vejamos... – Ela colocou o onióculos em seu rosto e começou a mexer nos botões nas laterais.
Eleanor olhou em volta e viu que Cedric continuava no mesmo lugar, ainda admirando o estádio. Fred e George estavam sentados nas cadeiras ao lado de Gina, Fred pintando o rosto de George de forma desajeitada, um dando risada da cara do outro.
– Entrou na minha boca! – George fez careta, enquanto Fred perdia o ar em meio ás risadas.
– Tente você pintar com o próprio dedo! – Fred suspirou, sacudindo a mão lambuzada de tinta verde, e ao ver Eleanor, seus olhos se arregalaram. – ELEANOR! Você está aqui!
– Estou...? – Eleanor arqueou uma sobrancelha pra ele.
– E então? O que diz? – Ele inclinou a cabeça pro lado, levantando as sobrancelhas.
– O quê?
– Ele está pedindo pra você ajudar eles com as pinturas. – Gina disse, ainda mexendo no onióculos. – Eu diria pra você ajudar antes que eles morram intoxicados com a tinta.
– Eu ajudo. – Eleanor se levantou, sorrindo e tirando o pote de tinta das mãos de Fred. – Fred... arrume um lenço pra limpar sua mão...
– Tenho um lenço bem aqui!
– Tem? – Eleanor o olhou com a testa franzida, e voltou ao normal quando o viu limpando as mãos na própria calça. – Ah, sua calça é o lenço... entendi.
– Quer algo melhor que isso? – Ele sorriu.
– E ainda combinou com a roupa do time! – George acrescentou.
– Espera aí! – Fred ficou sério. – Como você sabe que eu sou o Fred?
Eleanor fez careta.
– Porque é o seu nome?
– Não, não. Mas como você sabe nos diferenciar?
– Eu só... sei?
– Aposto que chuta. – George cruzou os braços.
– Se eu chutasse, não acertaria sempre...
– É um desafio? – Ele arqueou a sobrancelha.
– Acham que podem me enganar?
– Achamos. – Fred sorriu de lado. – Nem nossa mãe sabe nos diferenciar. Conseguimos te confundir também.
– Ok, então. – Eleanor estendeu as duas mãos na direção deles. – Vamos apostar.
Eles se entreolharam, confusos, mas deram de ombros e apertaram as mãos dela.
– Agora que acabamos com esse assunto... – Ela se virou para George. – O que diabos aconteceu com o seu rosto? – Reparou na tinta verde e na tinta branca que escorriam pelo seu rosto.
– Era pra ser as cores da Irlanda... – George sussurrou.
– Céus...
– É difícil pintar com os dedos!! – Fred parecia quase ofendido.
– É claro, você colocou metade do dedo na tinta! – Eleanor deixou uma risada escapar, tirando a própria varinha do bolso de trás de sua calça. – Limpar. – Apontou a varinha para o rosto de George e a tinta evaporou de seu rosto em alguns segundos.
– A artista aqui é você... – Fred deu de ombros e se sentou ao lado do irmão, sorrindo de lado e de braços cruzados.
– Ok, George.. fecha os olhos. – Ela colocou a ponta do dedo médio na tinta braca e segurou no maxilar de George, para ter apoio.
– Fechando... – George obedeceu e ela começou a traçar o contorno da bandeira no rosto dele.
Todos os anos que ela passou na arquibancada da Lufa-lufa pareciam estar servindo pra algo, ela pensou. Depois de desenhar texugos nos rostos dos colegas de casa, um quadrado colorido era como escrever o próprio nome: a coisa mais fácil do mundo.
– Acabei. – Eleanor se afastou do rosto de George, que abriu os olhos lentamente e se virou para Fred.
– O que acha? – Ele perguntou para o irmão.
– O que eu acho é que eu quero que faça em mim também! – Fred exclamou. – Ficou ótimo! Como você consegue e eu não consegui?
– Foi o que você disse... a artista sou eu. – Eleanor jogou os cabelos, brincando.
– Artista... então, quero que faça um trevo de quatro folhas. – Ele arqueou as sobrancelhas.
– Mais um desafio?
– Talvez.
– 10 galeões se você conseguir. – George propôs.
– Aposto. – Eleanor sorriu de lado. – Mas sem dinheiro.
Eles se entreolharam novamente mas deram de ombros, aceitando. Eleanor finalizou um trevo perfeito no rosto de Fred por volta de 10 minutos depois.
– Caramba, Eleanor! – George arregalou os olhos pro rosto de Fred. – Ainda bem que não apostamos dinheiro...
– Eu sei disso. – Ela riu ao ver os dois se encarando, avaliando as pinturas nos rostos um do outro, e viu que Ron observava de longe, com uma das mãos pousando em sua bochecha. – Ei, Ron, quer uma pintura também?
– É... não precisa. – Ron deu de ombros.
– Certeza? Eu posso fazer uma bandeira pequena.
– Ah, se for pequena... – Ele fez careta e se sentou mais perto de onde ela estava. – Acho que sim. Mas não faça com as cores da Irlanda.
Fred e George resmungaram atrás de Eleanor.
– 5 galeões se você pintar com as cores da Irlanda. – George a cutucou com o cotovelo.
– Não vai me comprar tão fácil assim, Weasley. – Ela negou com a cabeça e limpou as próprias mãos com o feitiço de limpar, pegando as tintas com as cores da Bulgária da bolsa que eles trouxeram.
– Então, 5 galeões se fizer um 'K' de Krum no rosto dele. – Sussurrou.
– Qual é a da sua mania de apostar dinheiro? – Eleanor fez careta pra ele. – Eu faço. Mas só porque é engraçado, não quero dinheiro.
Ron pareceu não ter percebido o enorme K em tinta vermelha em seu rosto, e nenhum de seus irmãos ou amigos pareceu querer o contar. Todos apenas riam de lado quando olhavam pra ele.
– Eleanor, consegui entender como usa isso! – Gina estendeu o onióculos pra ela. – Coloque no rosto!
Eleanor obedeceu, e procurou por algo no estádio para observar. Viu uma criança se pendurando nas grades alguns andares abaixo.
– E agora? – Perguntou, ainda focando na criança.
– Esse botão volta... – Demonstrou, e Eleanor viu as ações do menino se reverterem. – ... e esse, câmera lenta.
Passou mais alguns minutos mostrando as funções dos botões, e então foi se sentar ao lado de Cedric, que finalmente havia parado de admirar o estádio e se sentou no último assento da fileira.
– Superou suas expectativas? – Ela o perguntou, se ajeitando na cadeira.
– Uau... – Foi tudo que ele pôde dizer, sorrindo como uma criança. – Como deve ser trabalhar com isso? Viajar pra jogar... imagine só.
– É a sua cara. – Ela se encostou no assento. – Aposto que consegue. É um dos melhores da escola.
– Mas na escola é diferente... oi, pai. – Cedric sorriu para Amos, que se sentou atrás deles.
– Desculpem deixar vocês sozinhos... precisei esperar o Ministro chegar. – Apontou para Cornélio Fudge, quem Eleanor já conhecia e viu uma vez no ano passado, no dia da "execução" de Bicuço.
O Ministro apertava a mão de Harry animadamente e apontava para ele enquanto falava com um homem que Eleanor descobriu ser o Ministro Búlgaro. Imaginou como Harry deve se sentir ao ver todas essas pessoas comentando sobre sua cicatriz e seu passado; algumas pessoas adorariam a atenção, mas Harry não parecia ser uma delas.
Enquanto os observava, Cedric a cutucou rapidamente, a assustando e fazendo-a se virar para ele bruscamente.
– Não olhe agora, mas Lucius Malfoy acabou de entrar aqui... – Ele sussurrou, olhando para a entrada do camarote de cara feia.
Eleanor travou. Olhou para Cedric com os olhos arregalados e, disfarçando, se virou na direção aonde ele olhava e viu Lucius conversando com o Ministro, acompanhado de Draco e uma mulher que ela presumiu ser sua esposa e mãe de Draco.
– Preciso ir cumprimentar os Malfoy também... – Amos se levantou com esforço do assento onde estava, sem perceber os cochichos entre Eleanor e Cedric. – Querem vir comigo pra eu apresentar vocês?
– Vamos ficar aqui, pai. – Cedric forçou um sorriso, e quando Amos se afastou, voltou a sussurrar para Eleanor. – Rápido, arrume algo pra colocarmos nas cadeiras.
– O quê?
– Pra eles acharem que estão ocupadas e não sentarem!
Eleanor pegou a própria mochila e entregou para Cedric, que a jogou para a cadeira de trás, aonde o pai estava sentado alguns segundos antes. Ele, no desespero, pegou a bolsa de tintas dos Weasley e colocou na cadeira ao lado da mochila de Eleanor.
– Pelo menos não vão sentar atrás de nós... – Ele sussurrou e cruzou os braços, se virando para a frente quando viu que eles se aproximavam.
Eleanor se deixou escorregar na cadeira, na esperança de que não a vissem, e ficou olhando para o quadro-negro que ainda mostrava as propagandas.
Ouviu, atrás deles, as bolsas sendo jogadas ao chão. A esposa de Lucius murmurou algo para o marido mas Eleanor não soube entender o que era.
– Não tem ninguém sentado. – Lucius respondeu á esposa. – Bolsas não guardam lugar.
Eleanor olhou para Cedric de soslaio e viu que ele revirava os olhos violentamente.
– Cedric! – Amos gritou e Cedric se encolheu, esperando que ele não o visse ali. – Ced! Eleanor, chame ele!
Eles automaticamente sentiram os olhares dos Malfoy atrás deles e se entreolharam, sérios.
– Sim, pai? – Cedric se ajeitou na cadeira e olhou para o pai.
– Venha aqui, rápido! – Chamou o filho com as mãos.
– El... eu já volto. – Ele se levantou correndo, esperando que pudesse voltar na mesma velocidade.
Eleanor continuou olhando para a frente, e escutou Lucius entrar numa conversa baixa com sua esposa, mas ainda sentia que alguém atrás dela a olhava. Começou a sacudir a perna de nervoso e olhar em volta, fingindo estar distraída.
– Eleanor! – Fred se sentou no lugar de Cedric, segurando uma pequena caixa em suas mãos. – Podemos te oferecer um doce?
– Fred, não... – George se sentou na cadeira do outro lado de Eleanor. – Pelo menos avise que é um experimento.
– Certo, devo admitir que é um caramelo incha-língua... – Fred arqueou as sobrancelhas. – Mas são uma delícia e você nos ajudaria a testar os produtos da Gemialidades Weasley...
Eleanor suspirou, aliviada por eles estarem ali e ela não estar mais sozinha sob os olhares dos Malfoy.
– O que seria Gemialidades Weasley?
– Nossa futura loja de logros, é claro. – George sorriu. – Pense na Zonko's... só que melhor.
– Nunca fui na Zonko's... – Eleanor franziu a testa, sem graça.
– Sabia que não éramos compatíveis... – Fred balançou a cabeça negativamente, cruzando os braços.
– Como nunca foi? Nós vemos seus amigos da Lufa-lufa lá direto! – George comentou.
– Nunca me interessei... mas talvez vá na loja de vocês. – Ela sorriu de lado. – Mas vou precisar de um desconto... vocês sabem, eu que fiz essas pinturas no rosto de vocês.
Eles se entreolharam e riram.
– É assim que podemos te comprar, então? – George arqueou uma sobrancelha.
– Então você tem um preço, afinal... interessante. – Fred brincou.
– Vocês dois. – A voz de Draco soou atrás deles. – Podem dar em cima dela depois? O jogo está começando.
Eleanor virou para trás com uma careta em seu rosto, e Draco desviou o olhar do dela, contorcendo o rosto.
Bagman tinha a própria varinha apontada para sua garganta, e então, abafando o falatório que agora enchia o estádio lotado, sua voz ecoou em cada canto das arquibancadas.
– Senhoras e senhores… bem-vindos! Bem-vindos à final da quadricentésima vigésima segunda Copa Mundial de Quadribol!
Os espectadores gritaram e bateram palmas. Milhares de bandeiras se agitaram. O grande quadro-negro apagou a mensagem "Feijõezinhos de todos os sabores Beto Botts - um risco á cada mordida!" e passou a mostrar:
BULGÁRIA: ZERO
IRLANDA: ZERO
– E agora, sem mais delongas, os mascotes da Bulgária!
O lado direito das arquibancadas, que era uma massa compacta e vermelha, berrou manifestando sua aprovação. Fred e George se levantaram e foram até as grades, querendo ver melhor o mascote.
Eleanor fez o mesmo, mas algo a prendeu em sua cadeira; a cabeça de serpente da varinha de Lucius. Ela se virou para trás, sentindo suas pernas tremerem, e viu que ele a encarava de perto.
– Divirta-se bastante, criança. – Ele sibilou. – Enquanto ainda pode. – Sorriu de lado, malicioso, e retirou a sua varinha bruscamente.
Eleanor se levantou num pulo e sem querer, pois ainda olhava assustada para Lucius, esbarrou em Cedric, que havia acabado de voltar do lado do seu pai e encarava Lucius de cara feia.
– O que ele falou pra você? – Cedric sussurrou, pegando Eleanor pelos ombros e a puxando para longe.
– Nada. – Eleanor respirou fundo, tentando fingir que nada havia acontecido. Não queria tirar o ânimo de Cedric em relação ao jogo e também não queria ficar se sentindo mal quando deveria estar se divertindo. – Qual... qual o mascote dos Búlgaros?
– São as Veelas. – Ele respondeu, tampando os ouvidos. – Por isso não estou olhando.
– Veelas? – Eleanor franziu a testa e olhou para o estádio.
Eram mulheres, e não apenas mulheres; eram mulheres lindas. Deslizavam delicadamente pelo gramado, e todos os homens assistindo pareciam estar vidrados nelas. Cedric desviava o olhar e conversava, ainda tampando os ouvidos, com Gina, que o explicava com gestos como usar o onióculos.
Uma música começou a tocar e elas fizeram uma coreografia simples, mas que pareceu cativar todos os homens que assistiam: Eleanor olhou para o lado e viu Harry em pé. Ele tinha uma das pernas passada por cima da borda do camarote. Ao lado dele, Ron estava paralisado numa posição que dava a impressão de que ia saltar de um trampolim. No canto do camarote, George e Fred pareciam paralisados e seguravam um ao outro pelos casacos que usavam.
Quando a música acabou, gritos indignados começaram a encher o estádio. Não queriam que as Veelas se retirassem.
– E agora... – exclamou Bagman. – ...por favor, levantem as varinhas bem alto… para receber os mascotes do time da Irlanda!
No instante seguinte, algo que lembrava um imenso cometa verde e dourado entrou velozmente no estádio. Deu uma volta completa, depois se dividiu em dois cometas menores, que aceleraram em direção às duas balizas em cada extremo do estádio. De repente, um arco-íris atravessou o céu do campo unindo as duas esferas.
A multidão fazia "aaaaah" e "ooooh". Depois o arco-íris foi se dissolvendo e as esferas se aproximaram e se juntaram: tinham formado um grande trevo, que subiu em direção ao céu e ficou flutuando sobre as arquibancadas, deixando cair uma espécie de chuva dourada.
– Ai! – Eleanor exclamou, de dor, quando o trevo sobrevoou o camarote e percebeu que a "chuva dourada" era, na verdade, uma chuva de moedas de ouro. Uma moeda a acertou bem no olho.
– MANEIRO! – Ron gritou, se ajoelhando no chão e catando algumas moedas que caíam.
– Crianças! – Amos chamou, fazendo Eleanor e Cedric se virarem na direção dele. – Ali! – Apontou para cima, na direção do trevo.
Eleanor apertou os olhos para ver melhor o que ele apontava, e percebeu que na realidade ele era composto de milhares de homenzinhos barbudos de colete vermelho, cada qual carregando uma minúscula luz verde.
– Leprechauns! – Cedric exclamou, sorrindo, em meio ao tumulto dos espectadores, muitos dos quais disputavam o ouro e procuravam por todo o lado em volta e por baixo das cadeiras.
Eleanor olhou em volta e viu que quase todos catavam as moedas do chão, menos os Malfoy, que os olhavam com uma cara que parecia ser de nojo. Menos Draco, que olhava na direção de Eleanor com um olhar vazio, como se estivesse distraído. Ao perceber que ela o olhava, ele olhou pro outro lado e cruzou os braços.
Os trevos se dissolveram e os Leprechauns foram descendo no lado do campo oposto ao das Veela, e se sentaram de pernas cruzadas para assistir à partida.
– E agora, senhoras e senhores, vamos dar as boas-vindas… ao time nacional de Quadribol da Bulgária!! – Bagman continuou seu discurso. – Apresentando, por ordem de entrada… Dimitrov!
Um vulto vermelho montado em uma vassoura, que voava tão veloz que parecia um borrão, disparou pelo campo sob o aplausos eufóricos dos torcedores da Bulgária.
– Ivanova! – Um segundo jogador de vermelho passou zunindo. – Zografi! Levski! Vulchanov! Volkov! Eeeeeeeee… Krum!
Eleanor teve a impressão de ficar temporariamente surda quando Bagman anunciou o último jogador. Até mesmo os torcedores da Irlanda gritaram e bateram palmas quando Krum sobrevoou as arquibancadas.
– É ELE! HARRY, É ELE! – Escutou Ron gritando e o viu sacudindo Harry pelos ombros, eufórico.
Viktor Krum era moreno, o maxilar definido, de cabeça raspada, sobrancelhas muito espessas e negras, e mesmo com as vestes do time, era possível ver que ele tinha o corpo bombado. Nunca iria pensar que tivesse apenas dezoito anos se Cedric não tivesse dito.
– E agora vamos saudar… o time nacional de Quadribol da Irlanda! – berrou Bagman. – Apresentando… Connolly! Ryan! Troy! Mullet! Moran! Quigley! Eeeeeee… Lynch!
Sete borrões entraram velozes no campo; Eleanor mexeu em alguns botões em seu onióculos e reduziu a velocidade da imagem o suficiente para ler “Firebolt” em cada uma das vassouras, e ver os nomes, bordados em prata, nas costas dos jogadores.
– E conosco, das terras distantes do Egito, o nosso juiz, o famoso presidente da Associação Internacional de Quadribol, Hassan Mostafa!
Um bruxo nanico, completamente careca, mas com um bigode que compensava sua falta de cabelo na cabeça, entrou em campo usando vestes de ouro puro para combinar com o estádio. A luz batia em suas vestes e refletiam feixes de luz que eram quase capazes de cegar alguém.
Um apito de prata saía por baixo dos bigodes e ele segurava, de um lado, uma grande caixa de madeira e, do outro, sua vassoura.
Eleanor ajustou a velocidade do seu onióculo para a velocidade normal, e observou com atenção enquando Mostafa abria a caixa com um pontapé; quatro bolas se projetaram no ar, a goles vermelha, os dois balaços pretos e, só por um breve instante antes que ele desaparecesse de vista, o pequeno pomo de ouro.
Com um silvo forte e curto do apito, Mostafa saiu pelos ares, acompanhando as bolas.
– E começa a partida! – berrou Bagman. – É Muíler! Troy! Moran! Dimirrov! De volta a Muíler! Troy! Levski! Moran!
Eleanor não sabia o que esperava quando se tratava do jogo, mas certamente não era aquilo: nunca viu um jogo como aquele antes. Se em Hogwarts, já ficava tensa com os jogos, era como se a adrenalina que corria pelas suas veias tivesse dobrado.
A velocidade com a qual eles jogavam era incrível; os artilheiros jogavam a bola um para o outro tão depressa que Bagman mal tinha tempo de identificá-los.
– GOL DE TROY! – berrou Bagman, e o estádio estremeceu com o rugido dos aplausos e vivas. – Dez a zero para a Irlanda.
– ISSO! – Cedric gritou, e Eleanor gritou, aos pulos, agitando os braços no ar, enquanto Troy dava uma volta no campo para comemorar o gol.
Ela entendia o suficiente de Quadribol e leu o livro que Cedric a enviou o bastante para saber que os artilheiros irlandeses eram fantásticos. Eles se espalhavam pelo campo em harmonia, parecendo que liam o que passava pelas mentes uns dos outros, pela maneira com que se posicionavam. Em dez minutos, a Irlanda marcou mais duas vezes, elevando sua vantagem para trinta a zero e provocando uma onda de gritos e aplausos dos torcedores.
A partida se tornou ainda mais rápida, porém mais violenta. Os batedores búlgaros, atiravam os balaços com força nos artilheiros irlandeses e estavam começando a impedi-los de executar alguns dos seus melhores movimentos. Foram obrigados a dispersar duas vezes, até que Ivanova conseguiu passar por eles, driblar o goleiro Ryan, e marcar o primeiro gol da Bulgária.
– Dedos nos ouvidos! – berrou o Sr. Weasley, quando as Veela começaram a dançar comemorando o lance, e todos os meninos e homens no camarote fizeram isso. Passados alguns minutos, eles abriram os olhos com cuidado, quando as Veela haviam parado de dançar e a Bulgária tinha recuperado a posse da goles.
Todos os cem mil bruxos presentes no estádio prenderam a respiração quando os dois apanhadores, Krum e Lynch, mergulharam no meio dos artilheiros, tão velozes que pareciam ter pulado sem paraquedas de um avião.
Eleanor tentou acompanhar a descida deles com o onióculos, procurando pelo pomo.
– Eles vão colidir! – Cedric berrou, sua voz ficando rouca.
No último segundo, Krum empinou sua vassoura e se afastou em círculos. Lynch, no entanto, bateu no chão com um baque que pareceu ser ouvido em todo o estádio. Um enorme resmungo de preocupação subiu dos lugares ocupados pelos irlandeses.
– Alguém viu o pomo? – Eleanor olhou em volta, confusa, tentando voltar o lance em seu onióculos mas estava afobada demais para mexer nos botões certos.
– Eu não vi nada. – Harry também tinha o seu próprio onióculos em seu rosto.
– Não tinha nada! – Cedric parecia querer pular do camarote de tão revoltado. – Foi um truque do Krum!
– Tempo! – berrou Bagman. – Os medibruxos vão entrar em campo para examinar Aidan Lynch...
Enquanto Krum sobrevoou as arquibancadas, Eleanor pôde escutar as vaias vindo dos torcedores da Irlanda.
– Dá pra ver o truque! – Harry exclamou, ainda com seu onióculos na altura dos olhos. – É só apertar o botão de lance por lance...
Eleanor e Cedric fizeram o mesmo que ele, assistindo a Krum e Lynch mergulhando outra vez em câmara lenta. “Finta de Wronski” leu Eleanor na legenda púrpura que passou pelas lentes.
Viu o rosto de Krum se contorcer lentamente, concentrando-se, quando o apanhador se recuperou do mergulho no último instante, ao mesmo tempo que Lynch se estatelava e entendeu o que Cedric havia dito; Krum não vira pomo algum, estava só obrigando Lynch a imitá-lo.
Jamais vira alguém voar daquele jeito; Krum nem parecia estar usando uma vassoura, deslocava-se com tanta facilidade pelos ares que parecia voar como um pássaro.
Admirada, ela voltou a ajustar o onióculo na posição normal e procurou por Krum no estádio. O jogador voava em círculos bem acima de Lynch, que agora estava sendo reanimado pelos medibruxos com algumas xícaras de poção. Apertou um botão pra ver o rosto de Krum ainda mais de perto e viu seus olhos escuros correndo para cá e para lá por todo o campo, trinta metros abaixo. Estava claro que estava usando o tempo em que Lynch era reanimado para procurar o pomo.
Lynch se levantou, sob ruidosos vivas dos torcedores de verde, montou a Firebolt e deu impulso para o alto. Eleanor e Cedric sentiam suas gargantas arderem de tanto gritarem.
A reanimação de Lynch parecia ter dado à Irlanda novas esperanças. Quando o som do apito do juíz ecoou pelo estádio, os artilheiros entraram em ação com uma destreza que não se comparava a nada que os torcedores tivessem visto até aquele momento.
Depois de quinze minutos de velocidade e fúria, a Irlanda acumulou mais dez gols. Agora lideravam por cento e trinta pontos a dez e a partida estava começando a ficar mais desleal.
Eleanor se afastou de Cedric, que estava mais próximo do canto, e foi pro lado de Hermione e Gina, que estavam no meio do camarote, tendo uma visão mais ampla do estádio.
Quando Mullet disparou em direção às balizas, segurando a goles embaixo do braço, o goleiro búlgaro, Zograf, correu ao encontro da jogadora.
O que aconteceu foi tão rápido que elas não perceberam, mas ouviram um grito de raiva da torcida irlandesa, e o agudo do apito de Mostafa informou que alguém cometeu uma falta.
– E Mostafa repreende o goleiro búlgaro pelo jogo bruto, usou os cotovelos! – Bagman informou aos espectadores que berravam. – E… confirmando, é pênalti a favor da Irlanda.
Os Leprechauns, que haviam levantado vôo, furiosos, como um enxame de marimbondos reluzentes, quando Mullet foi atingida, agora corriam a se juntar formando as palavras "HA! HA! HA!". As Veela, do lado oposto do campo, levantaram-se num salto, sacudiram os cabelos com raiva e começaram a dançar.
Em um reflexo, todos os homens do camarote tamparam os ouvidos e fecharam os olhos, tentando resistir aos poderes delas.
– Olha aquilo! – Gina tinha uma crise de risos e apontava para a direção onde o juíz estava.
– Não consigo ver... – Eleanor cerrou os olhos na direção na qual ela apontou.
– Ali! – Hermione a virou pelos ombros, e Eleanor conseguiu ver a cena:
Hassan Mostafa, o juíz, aterrissou bem diante das Veela e estava agindo estranho. Flexionava os músculos e alisava os bigodes, muito agitado.
– Ora, isso não é admissível! – Bagman repreendeu, por mais que seu tom de voz fosse de quem estava achando muita graça. – Alguém aí dá um tapa nesse juíz assanhado!
Um medibruxo entrou correndo em campo, os dedos enfiados nos ouvidos, e deu um chute nas canelas do juíz. O juiz pareceu voltar ao normal e parecia extremamente constrangido; gritava com as Veela, que tinham parado de dançar e pareciam estar se rebelando.
– A não ser que eu esteja enganado, Mostafa está tentando despachar as mascotes do time da Bulgária! – Comentou Bagman. – Aí está uma coisa que nunca vimos antes… isso vai dar uma confusão…
Os batedores búlgaros, Volkov e Vulchanov, pousaram ao lado de Mostafa e começaram a discutir furiosamente com o juiz, gesticulando em direção aos Leprechauns, que agora formavam alegremente as palavras "HI! HI HI!".
Mostafa, porém, não se deixou intimidar pelos búlgaros, espetou o dedo indicador no ar, dizendo claramente a eles que voltassem ao ar e quando os jogadores se recusaram, ele deu duas breves sopradas no apito.
– Dois pênaltis a favor da Irlanda! – gritou Bagman, e a torcida búlgara urrou de raiva. – E é melhor Volkov e Vulchanov voltarem a montar as vassouras… e lá vão eles…
A partida agora atingira um nível de ferocidade que ultrapassava tudo que os garotos já tinham visto. Os batedores dos dois lados jogavam sem piedade: principalmente Volkov e Vulchanov. Pareciam nem ligar se os seus bastões estavam fazendo contato com balaços ou com gente, quando os giravam violentamente no ar.
Dimitrov disparou um balaço em cima de Moran, que segurava a goles, e quase a derrubou da vassoura.
– Falta! – urraram os torcedores irlandeses em uníssono, todos de pé como uma enorme onda verde.
– Falta! – ecoou a voz de Ludo Bagman, magicamente ampliada.
Os Leprechauns subiram ao ar mais uma vez e agora formaram uma gigantesca mão que fazia um gesto muito grosseiro para as Veela. Ao verem isso, elas se descontrolaram.
Precipitaram-se pelo campo e começaram a atirar bolas de fogo contra os duendes irlandeses.
Observando com o onióculos, Eleanor viu que elas agora não estavam belas como antes. Muito pelo contrário, seus rostos começaram a se alongar para formar cabeças de aves com bicos afiados e asas longas e escamosas se soltaram de seus ombros.
– O QUE HOUVE COM ELAS? – Eleanor tinha os olhos arregalados.
– Está aí a razão pra vocês não se deixarem levar pelas aparências! – Sr. Weasley berrou, olhando pros meninos, que estavam paralisados as observando.
Bruxos do Ministério invadiram o campo para separar as Veela e os Leprechauns, mas sem muito sucesso.
Porém, a batalha no campo não era nada comparada a que estava ocorrendo no ar. Eleanor voltou a atenção aos jogadores enquando a goles voava de mão para mão com uma velocidade incrível.
– GOL DE MORAN!
Mas a gritaria da torcida irlandesa mal conseguia abafar os gritos agudos das Veela, os zunidos que agora vinham das varinhas dos funcionários do Ministério e os berros furiosos dos búlgaros.
A partida recomeçou e agora Levski estava com a posse da goles, então o batedor irlandês levantou com violência o bastão contra um balaço que passava e arremessou-o com toda a força contra Krum, que não se abaixou com suficiente rapidez. O balaço o acertou em cheio, bem no rosto.
Ouviram um lamento ensurdecedor da multidão, o nariz de Krum parecia quebrado, jorrava sangue para todo lado, mas Hassan Mostafa não apitou. Estava distraído pois uma das Veela atirou uma mão cheia de fogo na direção dele e incendiou a cauda de sua vassoura.
Embora estivesse torcendo pela Irlanda, Krum era o jogador mais fascinante em campo, e Eleanor queria que alguém percebesse logo que ele estava machucado.
– Olha o Lynch! – berrou Harry, apontando para o outro lado de estádio.
O apanhador irlandês mergulhou com sua vassoura e Eleanor teve certeza de que aquilo não era mais um truque, era para valer.
– Ele viu o pomo! – Eleanor gritou, afobada. – Ele viu! Olha lá ele correndo!
Metade da multidão parecia ter compreendido o que estava acontecendo, a torcida irlandesa se levantou como uma grande onda verde, animando o apanhador, mas Krum voava na cola dele.
Como ele conseguia enxergar aonde ia, ninguém fazia idéia. Gotas de sangue voavam pelo ar conforme ele voava, deixando um rastro ensanguentado para trás, mas ele emparelhava com Lynch agora e os dois disparavam em direção ao chão.
– Eles vão bater! – Hermione esganiçou-se.
– Não vão! – berrou Rony, rouco.
– O Lynch vai! – gritou Harry.
E ele tinha razão; pela segunda vez, Lynch bateu no chão com um tremendo impacto e foi imediatamente pisoteado pelas Veela raivosas.
– O pomo, onde é que está o pomo? – berrou Cedric, batendo na grade á sua frente.
– Ele pegou, Krum pegou, terminou o jogo! – Gina gritou.
Krum, com as vestes vermelhas com o sangue que escorrera do seu nariz, voava baixinho e lentamente, com o punho erguido lá no alto, um brilho de ouro na mão.
O placar piscou por cima da multidão:
BULGÁRIA: CENTO E SESSENTA
IRLANDA: CENTO E SETENTA
Mas os torcedores não pareciam ter percebido o que tinha acabado de acontecer. Então, lentamente, todos foram percebendo e o rugido da torcida da Irlanda foi aumentando e explodindo em gritos de alegria.
– VENCE A IRLANDA! – gritou Bagman, que, como os irlandeses, parecia estar espantado com o inesperado desfecho da partida. – KRUM CAPTURA O POMO, MAS A IRLANDA VENCEU. Acho que nenhum de nós esperava isso!
– Para que foi que ele agarrou o pomo? – berrou Rony, ao mesmo tempo em que continuava a pular, aplaudindo. – Ele encerrou a partida quando a Irlanda estava na frente!
– Ele está acabado… – Eleanor observou, voltando a levar o onióculo aos olhos. Era difícil ver o que estava acontecendo lá embaixo, porque os Leprechauns sobrevoavam o campo, felizes e em grande velocidade, mas conseguiu localizar Krum, rodeado por medibruxos.
Parecia mais emburrado que nunca e se recusava a deixar que o limpassem. Seus colegas de time o rodeavam, sacudindo a cabeça, arrasados. Um pouco adiante, os jogadores irlandeses dançavam felizes sob a chuva de ouro que seus mascotes faziam cair. Bandeiras se agitavam pelo estádio, o hino nacional irlandês tocava altíssimo por todo lado, as Veela voltaram á beleza de sempre, mas pareciam desanimadas e infelizes.
– E enquanto o time irlandês dá a volta da vitória, escoltado pelos mascotes, a Taça Mundial de Quadribol está sendo levada para o camarote de honra! – berrou Bagman.
A visão de todos no camarote foi repentinamente ofuscada por uma luz branca, o camarote de honra foi iluminado para que todos os espectadores nas arquibancadas pudessem ver o seu interior.
Apertando os olhos na direção da porta, Eleanor viu dois bruxos ofegantes entrarem no camarote com uma imensa taça de ouro, que foi entregue a Cornélio Fudge.
– Vamos aplaudir com vontade os galantes perdedores, Bulgária! – gritou Bagman.
E pelas escadas entraram os sete jogadores derrotados. A multidão aplaudiu mostrando solidariedade.
Um a um, os búlgaros se acomodaram nas filas de cadeiras do camarote e Bagman chamou-os, nome por nome, para apertarem a mão do seu ministro e depois a de Fudge. Krum, que foi o último da fila, estava com uma aparência medonha. Seus olhos escuros se destacavam em seu rosto sujo de sangue seco. Continuava a segurar o pomo. Quando o nome de Krum foi anunciado, o estádio inteiro lhe deu uma ovação de tremer os tímpanos.
Depois foi a vez do time irlandês. Lynch veio segurado por Moran e Connolly; a segunda colisão parecia tê-lo deixado atordoado e seus olhos pareciam estranhamente fora de foco. Mas ele sorriu com alegria quando Troy e Quigley ergueram a Taça no ar e a multidão embaixo gritou com sua aprovação, e Eleanor já não sentia mais suas mãos de tanto aplaudir.
Finalmente, quando o time irlandês deixou o camarote para dar mais uma volta olímpica montados nas vassouras, Bagman apontou a varinha para a própria garganta e murmurou Quietus.
– Eles vão comentar isso durante anos.. – disse ele, rouco. – Uma reviravolta realmente inesperada, essa… pena que não pudesse ter durado mais…
*****
– Não consigo parar de tremer! – Cedric ainda não tinha parado de sorrir enquanto eles desciam as escadas púrpura. – E eles ficaram pertinho de nós!
– Olha o degrau! – Eleanor o puxou pela manga do casaco antes que ele pisasse em falso e saísse rolando escada abaixo.
Logo eles foram empurrados pela multidão que saía do estádio e regressava aos acampamentos. O ar da noite trazia aos seus ouvidos cantorias desafinadas quando retomavam o caminho iluminado por lanternas.
Os Leprechauns continuavam a sobrevoar a área em alta velocidade, rindo, tagarelando.
Quando finalmente voltaram pra barracas, ninguém estava com vontade de dormir. Cedric e Eleanor conseguiram convencer Amos a deixar que eles tomassem uma última xícara de chá, antes de irem deitar.
Eleanor foi trocar sua roupa enquanto o chá não ficava pronto, e quando se juntou á eles na sala, o Sr. Diggory já tinha ido se deitar.
– El, tome. – Cedric a entregou a caneca, sonolento.
– Seu pai já foi dormir? – Ela se sentou ao lado dele e cruzou as pernas em cima do sofá.
– Foi, estava cansado... acho que nem dormiu antes de virmos pra cá. – Ele sorriu de lado mas logo ficou sério de novo. – Se sente melhor?
Eleanor disfarçou e deu um gole no chá, esperando que fosse ter mais tempo pra dar uma desculpa convincente.
– Sobre o quê? – Ela fingiu não saber do que ele falava.
– Você sabe. – Ele suspirou. – Só preciso saber, fico preocupado... e ele ainda falou com você lá no camarote. O que ele disse?
– Não foi nada... nada demais. – Ela deu de ombros.
– Mas o que ele disse?
– Disse pra eu me divertir enquanto podia. – Revelou. – Foi só uma ameaça vazia, pra me intimidar. Não tenho medo dele.
– Ele é um completo idiota. – Cedric revirou os olhos. – Não me choca o Draco ser igual á ele. A maçã nunca cai muito longe da árvore.
Eleanor sentiu uma sensação estranha, como se seu estômago estivesse se revirando.
– Seus pais te contam alguma coisa sobre... Você Sabe Quem?
– Algumas coisas... por quê?
– É estranho pensar que pessoas como eu eram mortas... sem motivo.
– Não vamos falar disso agora. – Ele balançou a cabeça. – E além disso, não precisa mais se preocupar. Você Sabe Quem está morto, e o Ministério já tem os nomes dos Comensais fugitivos. E dos que não foram presos.
Eleanor queria o contar sobre Pettigrew, Sirius, e sobre tudo que aconteceu no ano passado, mas prometeu a si mesma que não iria contar um segredo que não pertencia a ela.
– Eu só... – Ela engoliu em seco. – Não acho que seja simples assim. – Respirou fundo e deu um último gole no seu chá.
Os dois lavaram seus copos e foram pro quarto que dividiam. Organizaram suas mochilas e então subiram nos beliches.
Eleanor optou por ficar na cama de baixo, e Cedric não se importou de ficar na parte de cima. Ele a deu um aceno de boa noite de cima da cama e se ajeitou, caindo rapidamente no sono.
Do outro lado do acampamento, Eleanor ainda ouviam muita cantoria e uma batida que ecoava estranhamente. Não sentia sono e ainda pensava no assunto que conversou com Cedric.
Ela nunca quis saber sobre Comensais da Morte, ou sobre qualquer coisa que envolvesse Você Sabe Quem, mas estudando em Hogwarts, era difícil não escutar uma coisa ou outra. Pra ela, não era legal escutar sobre os crimes de alguém que odiava pessoas como ela e como seus pais e queria que todos morressem. E os acontecimentos do ano passado a fizeram entrar em uma situação que ela não deveria ter entrado, e agora... já era passado, não adiantava ficar relembrando e se lamentando.
Se sentia sortuda por poder viver em uma época onde Você Sabe Quem não estivesse em ativa e que podia viver tranquilamente sendo uma nascida trouxa. E com essa reflexão, ela caiu no sono.
Eleanor se viu mais uma vez deitada na maca na ala hospitalar, com uma pessoa sentada ao lado dela. Era o mesmo sonho que vinha tendo á uma semana, a única diferença sendo que a pessoa segurava a mão dela. Ver aquele gesto fez Eleanor sentir uma certa formigação desconhecida em seu estômago, e quando fez o mínimo esforço pra tentar enxergar o rosto da pessoa, conseguiu ver uma parte dele. Mas antes que pudesse analisar os traços, escutou gritos.
Olhou em volta, procurando pela pessoa que gritava seu nome, mas a ala hospitalar estava vazia. Se virou de volta para onde se viu deitada, mas já não tinha ninguém ali também. Os gritos continuavam ecoando em seus ouvidos, e então ela percebeu: os gritos não vinham do sonho.
– Cedric, Eleanor, levantem! É urgente! – A voz de Amos ecoou na cabeça de Eleanor, que se sentiu sendo puxada da ala hospitalar. – Rápido!
Eleanor se levantou no susto e bateu a cabeça na parte de cima da beliche, na mesma hora em que Cedric pulou da cama.
– O que foi? – Cedric se apoiou na cama quando quase perdeu o equilíbrio, ainda sonolento.
Em alguns segundos, Eleanor percebeu que alguma coisa não estava normal. O barulho no acampamento tinha mudado. A cantoria tinha parado. Agora ouvia gritos e passos de milhares de pessoas correndo.
Eleanor se levantou, afobada, e pegou uma muda de roupas para se trocar, mas o Sr. Diggory a parou.
– Não temos tempo! – Ele havia perfido toda as cores do seu rosto, ficando extremamente pálido e aterrorizado. – Peguem uma jaqueta e vamos!
Cedric e Eleanor trocaram olhares aterrorizados, e Eleanor mexeu nas bolsas deles rapidamente, o jogando uma das jaquetas que ele trouxe.
Eles saíram correndo atrás do Sr. Diggory, que tinha sua varinha empunhada e olhava em volta, alerta. Cedric segurava no pulso de Eleanor com uma força considerável, mas não olhava no rosto dela.
Ao sairem da barraca, sob as luzes das poucas fogueiras que ainda ardiam, viram gente correndo para a floresta, fugindo de alguma coisa que avançava pelo acampamento na direção deles, alguma coisa que lançava estranhos lampejos e ruídos que lembravam tiros.
Insultos, risadas e berros se aproximavam, depois uma forte explosão de luz verde, que iluminou todo o ambiente em volta deles.
Um grupo de bruxos que se moviam ao mesmo tempo e apontavam as varinhas para o alto vinha marchando pelo acampamento. Alguns deles seguravam tochas, incendiando as barracas em volta com apenas um toque.
Eleanor apertou os olhos para enxergá-los melhor, mas não pareciam ter rostos. Então, percebeu que tinham as cabeças encapuzadas e os rostos mascarados.
Barracas se fechavam e desabavam à medida que a multidão aumentava. Uma ou duas vezes Eleanor viu um bruxo explodir uma barraca com a varinha para deixar o caminho livre. Outras tantas pegavam fogo. A gritaria ficava cada vez mais ensurdecedora, fazendo os tímpanos de Eleanor vibrarem.
– Pai...? – Cedric arregalou os olhos e puxou Eleanor para mais perto. – Quem são esses?
– Comensais... – A voz de Amos se tornou um sussurro, e ele se virou para eles com os olhos arregalados. – Vão para a floresta e fiquem juntos. Eu vou ajudar o pessoal do Ministério.
– Eu vou com você! – Cedric estufou o peito. – Já fiz 17 anos, posso usar magia pra ajudar!
– E Eleanor? Ela não pode ficar sozinha! – Ele berrou, andando lentamente para trás, se afastando deles.
– Eu vou ficar bem. – Eleanor soltou o pulso das mãos de Cedric. – Vá com ele!
– Espere por nós na floresta, então... vamos te encontrar quando acabarmos. – Amos gritou, correndo na direção do grupo de bruxos, sendo seguido de perto por Cedric, que lançou um último olhar para Eleanor antes de se virar totalmente.
Eleanor pensou em voltar para a barraca para recolher suas coisas, mas um feixe de luz verde explodiu uma das barracas próximas, fazendo ela se assustar e desistir da idéia. Saiu cambaleando em direção á floresta, entrando no meio da multidão que se amontoava.
As lanternas coloridas que antes iluminavam o caminho para o estádio tinham sido apagadas. Vultos escuros andavam sem rumo entre as árvores; crianças choravam, ecoavam gritos ansiosos e vozes cheias de pânico por todos os lados no frio da noite.
Eleanor tentou se desvincilhar da multidão mas alguém a empurrou, mesmo que fosse sem querer, no desespero, mas a fazendo perder o equilíbrio e cair. Mas antes que seu corpo atingisse o chão, sentiu alguém segurando ela pelos braços e a puxando pra longe da multidão, a fumaça das explosões deixou tudo á sua volta embaçado e, ao não reconhecer a pessoa que a puxava, seu instinto a fez começar a gritar pedindo ajuda.
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