24 de novembro de 1994
Hogwarts
07:03
Eleanor havia se esquecido temporariamente do nervosismo que a tirou o sono nas últimas semanas. Inclusive, dormiu relativamente bem naquela noite. O medo só a atingiu em cheio novamente quando ela acordou, na manhã seguinte. Se lembrava perfeitamente da última noite, mas tinha controle o suficiente sobre seus sentimentos á ponto de escolher lidar com isso depois; naquele momento, tudo que se passava em sua cabeça era o que a aguardava em algumas horas.
A atmosfera na escola era bem diferente do que se passava dentro dela; todos pareciam positivamente ansiosos, e sorriam para ela, a desejando sorte, quando a viam passando pelos corredores. As aulas seriam interrompidas ao meio-dia, para dar tempo dos estudantes irem até o cercado dos dragões – embora nenhum deles, com a exceção dos amigos mais próximos de Eleanor e de Harry. E Draco Malfoy também sabia, embora ele não se encaixasse em nenhum dos dois grupos.
Eleanor, mesmo tendo seus amigos andando ao seu lado e recebendo apoio de todos que a encontravam pelos corredores, se sentia estranhamente desassociada daquele ambiente. Como se sua alma não estivesse mais ali. Só voltou a ter consciência de que estava andando peloe corredores quando viu uma cena curiosa acontecendo á sua frente: Fred e George Weasley tinham uma grande maleta em seus braços, e abordavam vários alunos perguntando se estavam interessados em apostarem qual dos campeões "viraria picadinho" primeiro. Nenhum dos dois percebeu a presença dela atrás deles.
– Vou te contar, é uma concorrência acirrada. – Fred dramatizou, enquanto tentava convencer um primeiranista á apostar.
– Mas é por isso que também deixamos que aposte em dois participantes. – George acrescentou, em um tom animado.
– Uau, parece interessante. – Eleanor exclamou, fazendo eles se virarem para ela, George fechando a maleta com força e Fred escondendo o pote com galeões até a metade atrás dele. – Como estão as apostas, meninos?
– Eleanor, você por aqui! – Fred disfarçou, sorrindo e cutucando George com o cotovelo.
– Seu cabelo está muito bonito hoje! Fez algo de diferente nele? – George disfarçou também, seguindo a deixa do irmão.
– Deve ser a ameaça de morte iminente. – Eleanor ironizou. – Bem, como estão as apostas? Não me responderam!
– ... bem acirradas, se quer que sejamos sinceros.
– Quem está na liderança? – Os dois se entreolharam. – Sou eu?
–... na verdade, não...
– Quem, então?
– Você não ouviu isso de nós, mas Harry é uma opção bastante falada... – George murmurou. – Não que nós achemos isso.
– Não que o George ache isso. – Fred corrigiu.
– Ok, não entendi o que está acontecendo aqui... – Eleanor alternou os olhares entre os dois meninos.
– O George aqui acha que você é uma boa opção. – Fred disse, olhando George de cara feia.
– Não precisa falar na cara dela também, seu mal amado... – George resmungou, dando uma cotovelada em Fred.
– Ah, não tem problema, George. Eu também apostaria em mim se pudesse. – Ela sorriu, dando de ombros. – Mas você apostou em quem, George?
– Esse vira-casaca aposta no Harry, da própria casa dele! – George exclamou.
– A aposta claramente diz "quem vira picadinho primeiro", e nós dois sabemos que Harry é o único dos quatro que quase é morto todos os anos! – Fred justificou. – Só estou prezando pelo meu dinheiro!
– A aposta é quem morre primeiro ou quem se machuca primeiro? – Eleanor perguntou.
– Quem se machuca primeiro. – Os dois responderam em uníssono.
– Hm... Fred, eu repensaria na sua escolha... – Ela fez careta. – Ou vai ficar devendo dinheiro pro George...
– Quanta autoconfiança. – O ruivo ironizou.
– Mantenha sua aposta, então. – Ela deu de ombros.
– É, Freddie, mantenha a aposta. – George a acompanhou. – Mais dinheiro pra mim, não é? – Olhou para Eleanor e deu uma piscadela exagerada, brincando.
Ela sorriu pra ele e se distanciou, deixando que eles voltassem aos negócios. Seu subconsciente parecia não cansar de lembrá-la do que a aguardava, e sua insegurança nunca atacou tão forte. Como poderia ela, a lufana nascida trouxa, que muito mal tinha vontade de ter qualquer coisa a ver com esse torneio, ser considerada "digna"? Não conseguia se imaginar vencendo algo daquele tipo, sequer conseguia se imaginar sobrevivendo á primeira tarefa.
Sua cabeça se tornou uma bagunça tão intensa e profunda que, sem perceber, ela passou por todas as aulas do dia. Horas, para ela, se passaram como minutos. Em um minuto, ela estava assistindo á aula de História da Magia, com o Professor Binns, e no outro, já estava almoçando no Salão Principal, tentando ignorar Susan á beira de um ataque de nervos.
Na verdade, muito mal sentia fome, mas evitou deixar de comer para que seus amigos não se preocupassem; ou que Cedric a obrigasse a comer como fez no ano passado. Pareciam ter acreditado na desculpa que ela deu pra voltar tão tarde, disse que Madame Pomfrey a manteve na ala hospitalar por algumas horas para ter certeza de que ela iria reagir bem às poções anti-ansiedade e não teria efeitos colaterais muito ruins.
Fez o máximo de esforço para comer rápido e se levantar antes que seus amigos pudessem a acompanhar; não queria escutar mais ninguém falando com ela como se fosse uma pessoa á beira da morte, como se nunca mais fossem a ver novamente. Como ousavam eles dizer que acreditavam nela quando agiam como se ela não fosse sair daquela tarefa viva? Como ela poderia acreditar em si mesma se ninguém mais acreditava? Ao menos Draco foi sincero ao dizer que ela não teria chances contra o dragão. Mas... se ele realmente acreditou nisso, porquê ficou com ela durante metade da madrugada? Quando poderia estar confortável em sua cama, sem se importar com o que aconteceria á ela? E porquê diabos, diante de uma tarefa daquelas, Draco ainda passava pela sua cabeça como se essa fosse a coisa mais importante no momento?
– Sparks, querida.. – Sprout anunciou sua presença do outro lado de Eleanor, em pé em frente á mesa, parecendo nervosa. Eleanor levantou a cabeça na direção dela, com medo do que ela tinha a dizer. – Os campeões têm que descer aos jardins antes dos outros... precisa se preparar para a primeira tarefa.
Eleanor se engasgou em sua própria comida, largando o garfo em cima do prato, fazendo um grande barulho que chamou a atenção de todos em volta. Todos os alunos da Lufa-lufa (e da Sonserina, que sentavam na mesa atrás deles) a olharam, curiosos. Cedric esticou o braço por cima dos ombros dela e a deu um tapa forte nas costas, a ajudando a respirar direito.
– Tudo bem... vou agora. – Ela se levantou, engolindo em seco e dando às costas antes que seus amigos tivessem a chance de dizer algo.
Sem sucesso. Ernie e Justin começaram á aplaudí-la e, logo, toda a mesa da Lufa-lufa acompanhou. Eleanor teve de forçar um sorriso enquanto andava até a saída do Salão Principal, mas algo em sua cabeça a fez, involuntariamente, procurar o rosto de Draco na multidão. Não foi difícil encontrar a cabeleira platinada dele em meio aos outros alunos, mas o que foi difícil foi entender a expressão no rosto dele. Sorria para ela, aplaudindo junto com os outros, mas seus olhos pareciam ter uma certa tensão, quase como... preocupação?
Quando ela passou em frente á ele, ainda o olhando, Draco balançou a cabeça de forma positiva (e mais encorajadora que conseguiu) lentamente na direção dela. Ele sabia que, no final, ela iria sobreviver e tudo ficaria bem, mas algo dentro dele temia que algo de ruim a acontecesse. Ele nem deveria se importar, porquê diabos estaria preocupado?
O menino se forçou a pensar em tudo de ruim que poderia acontecer á ela, como se testando seus limites, apenas para saber o quão longe sua preocupação por ela iria. Muito mal conseguiu imaginar como se sentiria se um fio de cabelo dela sequer se queimasse com as chamas do dragão.
Nunca se preocupou daquela forma com alguém antes. Não tinha nada a ver com quem ele era. Muito menos o fato de ele ter passado toda a sua noite ao lado dela, para garantir que ela pudesse estar preparada. Uma voz, bem baixa, no fundo de seus pensamentos, dizia claramente o que isso significava, mas seu cérebro escolheu ignorar aquela idéia ridícula. Ele, definitivamente, não estava gostando dela.
Quando ela percebeu que ele sorria pra ela, foi rápida em retribuir o sorriso. Para ele, naquele exato momento, todo o Salão Principal parecia ter ficado em câmera lenta e em preto e branco. A única coisa que parecia estar mais colorida do que nunca, e brilhando como um raio de sol depois de longas semanas de chuvas, tempestades e raios, era o sorriso de Eleanor Sparks.
Mas ele definitivamente não estava gostando dela. Apenas sabia reconhecer e apreciar a beleza que encontra nos lugares.
Ao, finalmente, passar pelas portas do Salão Principal, Eleanor encontrou McGonagall e Harry reunidos ali, esperando por ela e Professora Sprout.
– Eu os levo até lá, Pomona. – Minerva colocou as mãos sob os ombros de Eleanor e Harry, de forma acolhedora e protetora.
– Tem certeza de que não preciso ir? A pobrezinha precisa que alguém a acalme! – Professora Sprout contestou, gesticulando com as mãos, que tremiam bastante.
– Tenho certeza de que se importa muito com sua aluna, Pomona, mas não sei se é a melhor escolha deixar que você a acompanhe nessas condições. – Minerva disse, gentilmente. – Eu cuido deles. Além do mais, os outros professores vão precisar de ajuda para levar os outros alunos para... o local da tarefa. – Harry e Eleanor se entreolharam; pareciam ambos terem se esquecido de que deveriam fingir não saber do que se tratava a tarefa.
Desistindo, a Professora Sprout voltou ao Salão Principal, deixando que McGonagall os levasse sozinha. A própria não parecia ser a mesma, parecia muito mais tensa e nervosa do que o normal; as mãos dela, de vez em quando, apertava os ombros deles, como se tentasse os passar tranquilidade.
– Não entrem em pânico, ok? – Ela quebrou o silêncio desconfortável que eles passaram, na metade do caminho. – Mantenham a calma, temos profissionais treinados á postos, caso as coisas saiam do controle. O principal é que deem o seu melhor e ninguém vai pensar mal de vocês por isso. Entenderam?
Os dois assentiram, mas nenhum deles teve forças para falar algo em voz alta.
Ela os conduziu até onde os dragões estavam, que era uma pequena arena á margem da Floresta Proibida. Armaram também uma grande barraca, para tampar a visão de quem chegava, evitando que vissem o que havia dentro das jaulas.
– Devem ambos entrar aí, com os outros campeões... – McGonagall disse, com a voz um pouco mais trêmula do que o normal. – Bagman está lá dentro, ele irá explicar como... proceder... boa sorte, vocês dois.
– Obrigada. – Eleanor assentiu com a cabeça.
– Obrigado... – Harry murmurou, junto com ela, mas não olhou na direção de McGonagall. Sua voz parecia distante e sem emoção.
Os dois se entreolharam uma última vez, e juntos, entraram na barraca. Fleur Delacour já estava ali, e acenou, nervosa, para Eleanor, quando a viu. Não parecia a mesma menina composta de sempre; parecia um tanto suada e pálida. Krum estava andando de um lado para o outro, mais emburrado do que o normal e, ao ver os dois entrando, inclinou a cabeça na direção deles, em um breve cumprimento.
– Vocês estão aí! Que bom! – Ludo Bagman exclamou, alegremente. – Vamos lá, entrem! – Os puxou pelos braços, como se estivesse prestes á explodir de animação.
Bagman parecia muito desfalcado ao lado dos campeões; enquanto todos estavam pálidos e sérios, ele sorria animadamente, com as vestes antigas do seu tempo de jogador de Quadribol.
– Bem, agora que estamos todos aqui... peço que troquem de roupa, e coloquem estes uniformes! – Apontou para os uniformes separados em cima de uma mesa de madeira. Um era azul claro com branco, outro era vermelho com dourado, outro era vermelho com marrom, e o último, amarelo com preto. Sem sequer precisarem perguntar quais eram os seus, os campeões retiraram os seus respectivos uniformes e entraram nas tendas particulares para se trocarem.
As roupas ficaram particularmente largas em Eleanor, ainda mais contando com o fato de que continham uma capa para que ela usasse por cima. Ao sair da tenda, todos os outros estavam vestidos, enquanto Harry estava encostado no canto da cabana, parecendo conversar com alguém.
Os gritos dos alunos ecoavam do lado de fora, assim como os rugidos dos dragões. Toda vez que escutava um deles rugir, Eleanor se encolhia involuntariamente, tentando repassar o feitiço ensinado por Cedric. "Preciso focar apenas no feitiço", ela pensava.
Eleanor, sem perceber, parou ao lado de Krum, que também observava Harry falando com a tenda. Os dois se entreolharam, tentando entender o que ele fazia, mas a pergunta logo foi respondida: Hermione entrou, pela fenda, afobada e dando um abraço em Harry. Naquele mesmo segundo, um flash os cegou, anunciando a chegada de Rita Skeeter na cabana.
– Ah, o amor juvenil! – Ela sorriu, adentrando a cabana. Eleanor revirou os olhos violentamente ao ouvir a voz dela, enquanto Hermione e Harry a encaravam, assustados. – Ah, que... emocionante! – Ela disse, e sua pena mágica anotava suas palavras em um pergaminho, flutuando atrás dela.
Krum e Eleanor se aproximaram, ambos de braços cruzados, encarando Rita de cara feia. Entretanto, Krum era o único que, de fato, parecia ameaçador.
– Se o pior de tudo acontecer hoje... vocês podem até sair na primeira página! – Ela disse, sorrindo de forma asquerosa, e então, se virou para Eleanor. – Principalmente você, bonitinha... a rejeitada do triângulo amoroso! Posso até ver a matéria circulando por aí! – Gesticulou, animada.
– Não tem nada parra fazer aqui! – Krum sibilou, atrás dela, e Rita automaticamente parou de sorrir, se virando para ele. – Essa barrraca é parra campeões. E amigos. – Ele olhou para Hermione por um breve segundo, e Eleanor jurou ter o visto sorrir. Nunca o viu sorrir antes.
– Ah... – Rita parecia sem graça, rindo para aliviar a tensão na barraca. – Não tem problema! Já... conseguíamos o que queríamos... – Ela sorriu, gesticulando para o fotógrafo, que tirou uma foto de Krum e uma de Eleanor, e ambos andaram até a saída. Mas nunca saíram da barraca, já que Dumbledore entrou nela, acompanhado de Karkaroff, Filch, Madame Maxime e o Sr. Crouch.
– Bom dia, campeões! – O diretor sorriu para os quatro. – Juntem-se aqui, por favor...
Eleanor, Fleur, Harry e Krum se juntaram em volta de Dumbledore, mas ele não pareceu que Hermione também estava ali. A menina segurou com força no braço de Harry, e lançou um sorriso fraco para Eleanor, que retribuiu.
– Vocês esperaram, imaginaram, e finalmente, chegou... o momento do qual apenas vocês quatro poderão desfrutar... – Ele iniciou seu discurso, mas ao olhar para os rostos de cada um, ele notou a presença de Hermione ao lado dele. Teve que a olhar duas vezes, para ter certeza de que havia a visto mesmo. – O que está fazendo aqui, srta. Granger?
– Desculpe... eu já... – Ela o olhou, envergonhada, soltando o braço de Harry aos poucos. – ... estou indo... – Disse, por último, se virando e saindo da barraca com pressa.
– Bartô, quer fazer as honras? – Dumbledore gesticulou com as mãos na direção de Crouch, que segurava um saquinho preto com detalhes em prata em suas mãos. – Apenas os campeões, formem um círculo em volta de mim. Srta. Delacour e Sr. Krum, deste lado, e Srta. Sparks e Sr. Potter, deste... assim, isso. – Ele posicionou os quatro, parecendo suar um pouco.
Dumbledore parou no meio de Harry e Eleanor, pousando as duas mãos nos ombros deles, também procurando os tranquilizar, mas Eleanor estava concentrada demais no saquinho nas mãos de Crouch para se sentir agradecida ao diretor.
– Srta. Delacour, por favor. – Crouch estendeu o saquinho para Fleur.
Ela enfiou a mão trêmula ali dentro e, parecendo ter sido queimada por algo, retirou, pelo rabo, uma minúscula figura de um dragão. Tinha o número "2" pendurado em uma pequena placa em volta de seu pescoço. Eleanor observou bem a expressão no rosto de Fleur, e a loira não pareceu nem um pouco surpresa, o que apenas confirmou o que Harry havia dito: ambos Krum e Fleur haviam sido informados sobre os dragões. O dragão em suas mãos era verde e abanava as asas de forma ameaçadora, com as escamas lisas.
– O Dragão Verde-Galês. – Crouch explicou, e Fleur lançou um olhar preocupado para Maxime, que sorriu docilmente para ela. – Sr. Krum... – Andou até Viktor, que não hesitou em colocar a mão dentro do saquinho e puxar a primeira coisa que sua mão tocou.
Era um dragão de tonalidade vinho, que parecia ter espinhos no topo de sua cabeça. Tinha também uma espécie de "franja" dourada em volta de seu focinho, que soprava para o ar nuvens de fogo, e o número "3" pendurado em seu pescoço.
– O Meteoro-Chinês Vermelho... – Crouch disse, e Krum não teve qualquer mudança na expressão. Karkaroff parecia estar convencido de sua vitória, pois sorria para si mesmo, com os dentes amarelados. – Srta. Sparks...
Eleanor engoliu em seco e olhou de soslaio para Harry, que parecia tão nervoso quanto ela. Pensou "quanto mais cedo eu começar, mais cedo eu termino" e, aproveitando o pico de coragem, enfiou a mão no saquinho, tateando por alguns segundos até sentir um vapor quente ultrapassar as luvas que já usava. Estendeu os dedos e puxou, pelo rabo, um dragão de tonalidada azul prateado. Seria encantado se ela não soubesse que aquele, talvez, pudesse ser o último rosto que visse antes de morrer.
O pescoço do dragão em suas mãos era majesticamente comprido, e as asas pareciam ser barbatanas de tão detalhadas que eram. Até mesmo as patas tinham esse mesmo detalhe, e tinha chifres longos. Ao encontrar o olhar de Eleanor, o pequeno dragão soltou fumaça pelo nariz, a fazendo perder as forças nas pernas por alguns segundos. Tinha o número "1" pendurado em seu pescoço.
– O Focinho-Curto Sueco. – Crouch disse, andando até Harry. – Só falta você, Sr. Potter.
– O Rabo-Córneo Húngaro. – Harry murmurou, pálido á ponto de parecer que iria desmaiar á qualquer instante.
– O que disse? – Crouch o perguntou, e Harry se calou instantaneamente, disfarçando e colocando a mão dentro do saquinho.
De dentro, retirou um dragão que mais parecia um lagarto. Tinha espinhos por todo seu corpo, e tinha uma tonalidade esbranquiçada, com os olhos vermelhos.
– O Rabo-Córneo Húngaro. – Crouch disse, por último, e Eleanor reparou que Harry havia dito a mesma coisa. Ele sabia quais seriam os dragões? Teria alguma diferença entre eles? E teria ela pego o pior?
Tentou olhar para Harry e fazê-lo perceber que ela o olhava, para tentar ler em seu rosto o que ele pensava, mas ele estava tenso demais encarando a miniatura em suas mãos.
– Finalmente, estas miniaturas representam quatro dragões de verdade. – Crouch explicou. – E cada um deles está encarregado de proteger um ovo de ouro. O objetivo de vocês é simples: pegar o ovo. Isso é tudo, pois cada ovo contém uma pista, e sem essa pista, não poderão seguir para a prova seguinte.
Eleanor engoliu em seco, repassando o plano em sua mente: faíscas vermelhas primeiro, era o feitiço mais fácil e ela já sabia. Caso não funcionasse... teria que recorrer ao feitiço do cachorro de pedra. Esperava não ter que fazer isso.
– Cada número indica a ordem em que irão enfrentar seus dragões. Assim, a Srta. Sparks será a primeira.
– Muito bem, boa sorte, campeões. – Dumbledore andou até o meio do círculo. – Srta. Sparks, ao som do canhão, a senhorita va--
Ele foi interrompido por um estrondo alto; Filch havia acionado o canhão antes do tempo, fazendo com que a barraca se mexesse e todos se abaixassem, se protegendo. A multidão do lado de fora interpretou aquilo como um sinal de que os jogos estavam prestes á começar, então todos começaram a gritar mais ainda.
Dumbledore, depois de lançar um olhar de reprovação para Filch, guiou Eleanor até a fenda que dava acesso á arena onde ela enfrentaria o Focinho-Curto Sueco. Ela tateou, uma última vez, suas vestes, procurando por sua varinha. Encontrou ela ali, na lateral de sua calça, bem na sua cintura. Respirou fundo e, ao ver o aceno de cabeça de Dumbledore, passou pela fenda.
Seus olhos precisaram de alguns segundos para se acostumarem com a luz do sol novamente, que parecia brilhar especificamente para cegá-la. Os gritos da multidão, antes sem qualquer significado, agora parecia soar como "Sparks! Sparks! Sparks!", e, ao olhar em volta, viu todos os telespectadores gritando o seu sobrenome.
Algo que deveria servir como incentivo, apenas lhe deu vontade de dar meia volta, procurar por uma vassoura e sair correndo. "Não, é tarde demais pra isso..." ela pensou, procurando por seus amigos na multidão. Reconheceu o rosto de Cedric, na primeira fileira, balançando uma bandeira da Lufa-lufa e com o rosto pintado de amarelo e preto. Susan, Hannah, Ernie e Justin estavam logo ao lado dele, igualmente animados.
O resto da multidão parecia estranhamente embaçada, como se tudo fosse parte de um sonho louco. Ao olhar para o outro lado da arena, todos os gritos e rostos pareceram sumir de seus sentidos. Lá estava, o Focinho-Curto Sueco, deitado sobre sua ninhada de ovos, com as asas fechadas, em posição de proteção, os olhos cinzas fixados em cada movimento dela. Por mais que seu corpo estivesse deitado, seu longo pescoço estava esticado, balançando levemente como se seguindo uma dança silenciosa.
Quando voltou á seus sentidos, escutou a voz de Bagman fazendo o comentário do jogo. Antes de qualquer coisa, colocou a mão onde antes sentiu sua varinha, a puxando dali e a empunhando com força em sua mão. Abriu as pernas, as firmando no chão e assumindo uma posição de ataque, e então, olhando em volta, começou a pensar em um plano de ação:
Cedric havia acertado em uma coisa, o local estava repleto de pedras. Na verdade, a arena parecia ser feita nas pedras. Como se tivessem aberto um buraco nas montanhas e colocado arquibancadas em volta dele. O vento que dava início á tarde fez sua capa se balançar junto com ele, e ela sentiu alguns fios de seu cabelo, preso em um rabo de cavalo, se soltarem e ricochetearem seu rosto com a velocidade do vento.
"Ok, então. Não adianta enrolar." Ela pensou, se preparando para dar um passo á frente. "Deus me ajude." Pensou por último, e deu o primeiro passo.
Todos pareceram se calar diante daquilo: a tensão e ansiedade era tão densa que, se pegassem uma faca, era possível cortá-la. Ela, prendendo a respiração, ergueu sua varinha contra o outro canto da arena, longe dela e longe do ninho do dragão.
– Vermillious! – Ela exclamou, fazendo o movimento do feitiço, e uma forte faísca vermelha saiu da ponta de sua varinha, brilhando de forma tão forte que ela teve que semicerrar os olhos para não ficar temporariamente cega. Havia conjurado o feitiço com tanta força que sua varinha estremeceu em suas mãos. O feitiço atingiu a parede da arena como um jato de água, se espalhando como gotas para todos os lados.
Por um segundo, o dragão ergueu uma das asas, parecendo assustado com a luz que havia se feito. Ela quase pensou que havia funcionado, mas ele se virou para ela e soltou um rugido ensurdecedor. Quando o chão estremeceu, ela percebeu que ele vinha engatinhando na direção dela. Em um reflexo, ela correu até a pedra mais próxima e se escondeu atrás dela.
Tudo que pôde ver naquele momento foram as faíscas do fogo que vinha do dragão sobrevoando a cabeça dela, indicando que estavam sendo jogadas diretamente contra a pedra em que ela estava.
– E começa a primeira tarefa! – A voz de Bagman ecoou acima dos gritos da multidão. – A primeira campeã de Hogwarts tentou executar um feitiço de faíscas vermelhas, mas o dragão não pareceu dar muita importância! Quais outros truques ela pode ter escondidos na manga?
"Ah, Bagman... se você soubesse que não tenho nenhum..." ela respondeu, mentalmente. Olhou para os lados, apontou a varinha mais uma vez para o outro lado da arena, e decidiu tentar novamente.
– VERMILLIOUS! – Ela gritou, e sua varinha vibrou novamente, demonstrando a força com a qual ela havia conjurado o feitiço. As faíscas bateram contra a outra parede, e o dragão mudou o foco de seu hálito de fogo, atirando-o contra as faíscas.
Aproveitando o momento de distração dele, Eleanor se levantou e correu até a próxima pedra, que ficava mais perto do ninho, agora desprotegido. Olhou rapidamente para os ovos, identificando o ovo de ouro. Estava localizado exatamente entre o meio dos outros, dificultando seu trabalho; o dragão acharia que ela estava tentando roubar um de seus verdadeiros ovos.
A distração do dragão tendo se acabado, ela escutou ele dar passos largos e estrondosos em volta da arena, aguardando qualquer indicação de onde ela se escondia. O feitiço das faíscas vermelhas não a ajudaria por muito tempo, logo ele aprenderia que as faíscas eram apenas uma distração e não iria ligar mais. Precisava agir rápido.
"Primeiro, você faz uma linha reta, descendo. Depois, você vai subir pra esquerda, na diagonal, e, por último, vai reto pra direita." A voz de Cedric ecoou em sua memória.
"...tipo um triângulo invertido, então?" Ela se lembrou, e pôde escutar as risadas deles.
"Você consegue" Cedric dizia.
"Se minha opinião conta de algo, eu acho que você consegue..." A voz de Draco se fez presente, e ela sentiu seu peito se apertar.
Relembrar daquelas palavras pareceu a dar um sopro de adrenalina, e ela se levantou, revelando seu esconderijo, mas antes que o dragão tivesse qualquer reação, ela empunhou sua varinha com força e gritou o encantamento que passou o último dia recitando inúmeras vezes, a apontando para uma pedra próxima do dragão.
– LAPIS CANEM! – Urrou, e uma faísca azul, forte como nunca havia feito, jorrou da ponta de sua varinha, vibrando com a força de suas palavras. O feitiço pareceu atingir a pedra, mas não surtiu efeito. – Merda... – Ela sussurrou, voltando a se esconder atrás da pedra.
Era ridículo ela ter achado que conseguiria. Mal havia feito qualquer progresso na noite passada. Iria morrer ali. Fechou os olhos, encostada contra a pedra, tentando conter as lágrimas de frustração que ameaçavam cair. Um nó se fez em sua garganta, mas vozes familiares soaram na frente dele.
– EL!! – Gritaram, e ela abriu os olhos, vendo que, sem perceber, havia se escondido em frente á arquibancada na qual seus amigos estavam sentados. Cedric acenava para ela freneticamente, já não tão animado quanto antes, agora parecendo mais preocupado. A veia em sua testa saltava de forma que ela conseguia a ver claramente, mesmo de longe. – NÃO SE DESESPERE!! – Ele gritou.
"Você já está desesperado, seu lunático..." ela respondeu, em sua cabeça, mas nada conseguiu sair de sua boca. Ela apenas continuou o encarando, com os olhos arregalados, prestando atenção nos passos que o dragão dava atrás dela.
Pensou, por uma fração de um segundo, que aqueles seriam seus últimos momentos, e talvez, havia sido aquela certeza que havia a dado forças para fazer o que fez á seguir:
Lançando um último olhar para Cedric e para seus amigos, ela se levantou, com a testa franzida em determinação, e, sem pensar duas vezes, ergueu a varinha contra a mesma pedra que havia lançado o feitiço antes.
Olhou para a arquibancada atrás do dragão e encontrou Draco ali. Todos os seus amigos estavam sentados, observando tudo em silêncio, mas ele estava em pé e tinha uma das mãos em sua boca, como se roesse as próprias unhas. Ele pareceu sentir que ela o olhava, pois ele balançou a cabeça freneticamente, como se a encorajando de prosseguir. Entendendo a mensagem dele, ela assentiu com a cabeça, empunhou sua varinha com mais força, e decidiu fazer mais uma tentativa. Uma última tentativa.
– LAPIS CANEM! – Urrou, e o impulso das faíscas que saíram de sua varinha foram tão fortes que ela quase perdeu o equilíbrio de suas pernas, sendo jogada para trás levemente. Seu quadril bateh contra a pedra na qual ela estava escondida antes, mas ela mal percebeu a dor, pois, para sua surpresa, o feitiço havia funcionado.
E não da forma que funcionou na noite anterior: alguns metros á sua frente, ela viu um labrador. Um labrador inteiro. Sem corpo de pedra. Se não estivesse em perigo mortal, sorriria de tão fofa que a criatura era. E, melhor ainda, o dragão parecia ter, finalmente, se distraído. Apesar de estar andando na direção dela, ao pressentir a movimentação e perceber que havia um novo ser ao lado dele, mudou de direção imediatamente.
Eleanor sequer ousou ficar olhando para ver o que aconteceria com o cachorro. Os gritos da multidão a fizeram correr o mais rápido que pôde até chegar á ninhada. Sem pensar duas vezes, ela se inclinou e pegou, com firmeza, o ovo de ouro. Era um pouco mais pesado do que ela imaginou, então escorregou um pouco de seus dedos, mas ela conseguiu o equilibrar e deslizá-lo até a palma da sua mão.
Toda a multidão vibrou, e ela sentiu a adrenalina pulsar em seu sangue. Em frente á ninhada, seus olhos percorreram por todos os rostos como se soubessem exatamente onde queriam chegar, não demorou muito até ela encontrar o olhar de Draco á distância. Ele sorria como ela nunca viu antes, e balançava os braços em comemoração. Pela primeira vez (que ela notou) ele sorria para ela, não de forma sarcástica, ácida, debochada ou fria. Ele sorria para ela.
Se sentia no topo do mundo, como se nada pudesse a derrubar. Ergueu o braço que segurava o ovo de ouro acima de sua cabeça, arrancando mais gritos de comemoração, mas seu olhar era apenas de Draco. Não conseguia desviar o olhar do rosto dele, ou melhor, do sorriso dele. Algo ali parecia tão genuíno, algo que ele nunca foi, em todos esses anos em que eles se conheciam. Quer dizer, não até pouco tempo. Algo nele havia mudado. Ou seria nela a mudança?
A expressão de Draco mudou em uma fração de um segundo; uma hora, ele sorria e comemorava, na outra, ele tinha os olhos arregalados e toda a cor de seu rosto parecia ter sumido, enquanto apontava para o outro lado da arena. Junto com ele, todos os gritos de comemoração se tornaram gritos de aviso, e Eleanor olhou na mesma hora.
O dragão não parecia mais estar interessado no cachorro, e veio deslizando na velocidade da luz de volta á ninhada. Eleanor se virou á tempo de ter uma reação, puxou a varinha e a apontou em direção ao dragão.
– Protego! – Ela urrou. Havia aprendido esse feitiço com Cedric, durante as aulas de autodefesa, mas naquele momento, pareceu se esquecer de que os feitiços simples não funcionam com dragões. Era tarde demais. Tudo que pôde fazer depois disso foi erguer o antebraço contra seu rosto, para evitar que as chamas fizessem muito dano.
Mesmo que usasse uma roupa especial contra queimadura de dragão, o fogo pareceu forte o suficiente para ultrapassar as camadas e queimar sua pele. A dor foi tanta, e tão instantânea, que ela mal percebeu que havia sido arremessada para longe com a força de que as chamas haviam sido lançadas. Só percebeu o que havia acontecido quando estava rolando abaixo das pedras, com inúmeros furos em sua roupa e pele exposta.
Tomou impulso de se levantar antes que chegasse até o fundo das pedras, olhou em volta e viu os domadores de dragão entrando na arena (provavelmente uns 12) lançando o mesmo feitiço contra o dragão. Como se nada tivesse acontecido, ele caiu no chão, adormecido.
Só quando a adrenalina passou, foi quando Eleanor passou á sentir a queimação em todo o lado esquerdo do seu corpo. A roupa parecia estar grudada em sua pele, com vários rasgos da sua queda contra as pedras. Toda a multidão estava em silêncio, tentando saber o que aconteceria com ela, enquanto os domadores corriam em direção á ela.
Seu corpo doía, mas ela ainda reconheceu um dos domadores de dragão como um dos irmãos Weasley. Não se lembrava o exato nome dele no momento, mas sabia que era Bill ou Charlie. Os domadores a guiaram para fora da arena, a rodeando e a bombardeando de perguntas sobre como se sentia.
Não sabia para onde a levaram, só percebeu que chegou quando Madame Pomfrey veio correndo em sua direção, os olhos dando a impressão de que iriam saltar de seu rosto.
– Por MERLIN, o que houve com você?!? – Ela exclamou, a pegando pelo braço sem machucados e a guiando até uma das macas. – Deixe-me ver seu rosto, querida... como conseguiu estes machucados?
– Saí rolando pelas pedras... – Eleanor gemeu, tentando controlar a dor que sentia.
– Como está sua visão? Consegue me enxergar claramente?
– Consigo... porquê não conseguiria?
– Ah, tive medo de ter prejudicado sua visão na queda... – A mulher suspirou, aliviada. – Esses cortes no seu rosto são fáceis de resolver, mal vão deixar cicatrizes!
Não sabia como estava o estado de seu rosto, mas por algum motivo, se imaginou com cicatrizes iguais a do Professor Lupin. Pensando bem, sentia muita falta dele... deveria mandar uma carta para ele depois disso? Não, não... não iria querer incomodar...
– E as queimaduras? – Ela perguntou, temendo a resposta.
– Ah, as queimaduras... – Madame Pomfrey gaguejou. – Bem, elas irão sumir também, mas vão demorar um pouco mais... por serem de criaturas mágicas. São quase como... os lobisomens. Exceto que, um dia, elas somem. – Dirigiu o olhar ao corte rente á raíz do cabelo de Eleanor, que ela achou que foi feita por um Professor Lupin transformado, mas na verdade foi apenas um resultado do impacto dela contra uma pedra gigante.
Eleanor assentiu, em silêncio, e deixou que ela trabalhasse sua mágica. Para retirar as roupas de suas queimaduras, foi dolorido, mas ela resistiu como nunca. Já havia falhado o suficiente quando se deixou ser queimada pelo dragão depois da tarefa ter sido completa, não queria se envergonhar mais.
– Não sei o que deu nessa escola ultimamente... – Madame Pomfrey reclamava, mais para si mesma do que para Eleanor, enquanto usava sua varinha para curar o máximo que podia dos ferimentos dela. – Basiliscos, dementadores, agora dragões... querem me matar do coração!
Eleanor olhou em volta, procurando por algo que pudesse lhe dar alguma indicação de como seu rosto estava, em relação aos machucados. Sentia sua pele ser repuxada em algumas partes do rosto, sabendo que ali havia pelo menos um corte. "Só espero que cicatrize a tempo de eu não precisar contar nada pros meus pais..."
Antes mesmo de encontrar algo, três figuras entraram correndo na barraca, e ela rapidamente os reconheceu: Cedric, Susan e Hannah. Cedric parecia ter perdido toda a circulação de seu sangue, estava mais pálido do que nunca; Hannah tinha as mãos trêmulas e seu queixo também tremia, enquanto sua testa suava um pouco, mas Susan, de longe, era a mais descontrolada dos três. Esta tinha o rosto completamente molhado de lágrimas, com uma enorme gota se formando na ponta de seu queixo, seus olhos estavam avermelhados e o cabelo completamente bagunçado. Parecia ter acabado de ver alguém morrer. O que, de certa forma, quase foi verdade.
Nenhum deles disse nada no início, apenas correram até a maca onde Eleanor estava sentada e, um de cada vez, a abraçaram mais forte do que nunca.
– Eu sabia que você ia conseguir... – Cedric sorriu, mas seus lábios ainda estavam brancos e a veia em sua testa começava a sumir mais uma vez.
– Eu também sabia! – Susan assentiu freneticamente.
– Ela estava muito tranquila. – Hannah concordou com a amiga, mas deu uma piscadela para Eleanor.
– Não estava... – Eleanor segurou o riso.
– NÃO ESTAVA MESMO! – Susan exclamou, deixando mais lágrimas escaparem. – Esta tarefa foi ridícula! Perigosa demais!
Susan sempre fora uma menina mais assustada do que o normal; morria de medo de qualquer coisa que pudesse afetar sua saúde de alguma forma, e no início, Eleanor e Hannah se irritavam bastante. Porém, um dia, no segundo ano, Susan as contou, durante a madrugada, sobre como toda sua família foi morta por Comensais da Morte, apenas por não concordarem com seu modo de pensar. A única família que ela teve depois da Guerra Bruxa era sua tia, Amelia, com quem ela morava desde que se entendia por gente. Depois disso, Eleanor nunca mais se irritou com a preocupação excessiva dela, pois sabia que era seu trauma se manifestando, e que ela apenas tinha medo de perder seus amigos como perdeu toda sua família.
– Eu estou bem agora, não estou? – Eleanor perguntou. Se sentia mais tranquila agora que tinha acabado, e isso a dava mais confiança de que, talvez, realmente pudesse sobreviver ao Torneio. Talvez, até mesmo, de chegar na final. Nenhum de seus amigos respondeu, os três apenas olhavam pro rosto dela com olhares tristes. – Meu rosto está tão ruim assim?
– Foi mal. – Hannah desviou o olhar, olhando para o teto da barraca.
– Madame Pomfrey disse que não vai deixar cicatrizes, nem nada do tipo. – Ela acrescentou, para os tranquilizar.
– Mesmo se deixasse, continuaria sendo uma das meninas mais bonitas da escola! – Susan afirmou, e Eleanor riu fraco.
– E umas cicatrizes iguais a do Professor Lupin cairiam bem em você, te deixariam com cara de rebelde. – Hannah brincou. – Se bem que você ficaria bonita até com as cicatrizes do Moody.
Os quatro riram, e o clima na barraca não estava mais tão pesado. Depois disso, ficaram em silêncio enquanto escutavam a narração de Bagman da tentativa de Fleur, para pegar o ovo de ouro.
– Ah, quase! – Ele exclamou, animado. – Quase mesmo!
– Como acham que fui? Minha pontuação, eu digo... – Ela perguntou, quebrando o silêncio.
– Não sei... você não fez muitas coisas erradas. – Cedric deu de ombros. – Como teve a idéia das faíscas vermelhas? – Perguntou, e ela engoliu em seco.
– Er... Flitwick nos ensinou no início do ano letivo... apenas me lembrei... – Mentiu, e ele pareceu acreditar. Geralmente, não gostava de mentir e era péssima nisso, mas agora, parecia estar pegando o jeito da coisa.
Alguns minutos depois, ouviram a multidão explodir em aplausos mais uma vez, indicando que Fleur havia sido bem sucedida também. Ocorreu uma pausa, enquanto ela se retirava da arena, logo depois, mais palmas, indicando a vez de Krum.
– E aí vem o Sr. Krum! – Bagman ecoou pela barraca.
Os quatro continuaram em silêncio, seguindo o coro da multidão. Quando gritavam "Aaaaaah" sabiam que havia feito alguma coisa certa, e quando gritavam "Oooooh", algo inesperado havia acontecido.
– Muito ousado! – Bagman berrou, e o urro do Meteoro-Chinês Vermelho fez o chão abaixo deles estremecer, a multidão em silêncio enquanto observavam. – Que sangue-frio ele está demonstrando... e... SIM! Ele apanhou o ovo!
Os aplausos romperam o ar gélido, como se quebrassem uma vidraça, Krum havia terminado a tarefa e o último seria Harry. Eleanor esperava que ele fosse bem já que, sem ele, ela não saberia o que a esperava.
Harry foi o mais rápido dos campeões a pegar o ovo: Cedric, Hannah e Susan correram para o lado de fora para verem o que ele havia feito, e voltaram contando tudo para Eleanor.
– Ele usou um feitiço convocatório para pegar a vassoura! – Hannah exclamou, surpresa.
– Como não pensamos nisso, El? Você é ótima voando! – Cedric parecia extasiado.
Logo, os três tiveram de se retirar pois os domadores levaram Harry até a barraca onde Eleanor estava, e Madame Pomfrey exigiu que eles deixassem os dois descansarem.
Ao entrar na enfermaria e ver o estado de Eleanor, Harry parou, surpreso.
– Já estive pior. – Ela o assegurou. – Bom trabalho lá fora.
– Você também. – Ele assentiu, enquanto Madame Pomfrey o sentava na maca ao lado da de Eleanor.
– Ah, e Harry?
– Sim?
– Diga ao Fred que ele deve dinheiro ao George. – Ela disse, sorrindo de lado e ignorando o olhar confuso que Harry a lançou.
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